Elle - Portugal - Edição 381 (2020-06 & 2920-07)

(Antfer) #1
ELLE PT 37

sta pode ser uma maneira estra-
nha de começar este texto, mas
está a ver o filme Um Elétrico
Chamado Desejo? Pois bem,
na película, Marlon Brandon
interpreta o papel de um homem que
mantém uma relação bastante abusiva
com a sua esposa Kim Hunter, e que se
desenrola da mesma infeliz forma como
tantos outros do género: ele trata-a
mal, ele pede desculpa, ela desculpa,
fica tudo bem. Pois bem, este tipo de
relacionamento é bastante semelhante
ao que o ser humano tem com a Terra:
tratamo-la mal e tiramos-lhe tudo que
podemos, depois lá numa descarga de
consciência, reciclamos umas garrafas
de vidro, e pronto, dívida saldada.
O grande problema desta linha de
raciocínio é que, na verdade, as coisas
não funcionam assim, e tal como no
final da película em cima mencionada
(SPOILER ALERT) também a nossa
relação com o planeta pode estar em risco.
Essa confirmação – ou se preferir,
essa reconfirmação – chegou no final de

2019, mais concretamente em dezem-
bro, quando o relatório anual da Agência
Europeia do Ambiente foi publicado.
No estudo, estava presente que das 30
metas que a UE desejava alcançar até
2030, apenas duas estavam perspeti-
vadas que seriam alcançadas. O cenário
foi tudo menos bonito, e por isso, Hans
Bruyninckx, diretor executivo da AEA,
reagiu lançando o alerta: «O ambiente da
Europa está num ponto de viragem. Nos
próximos dez anos, temos uma estreita
janela de oportunidade para ampliar as
medidas destinadas a proteger a natu-
reza, reduzir o impacto das alterações
climáticas e diminuir radicalmente o
consumo de recursos naturais». Esta
realidade a que Bruynickx se referiu,

já todos nos cansámos de ouvir (mesmo
que entre por um ouvido e saia por
outro), dita por diversos especialistas
que já nem nos lembramos o nome, e
que afirmam repetidamente que fugir
ao aquecimento global é impossível,
mas que, no entanto, reduzir os seus
impactos é ainda exequível. Claro que a
gratificação por uma mudança de com-
portamento nunca vai ser imediata,
no entanto, recentemente, aconteceu
algo que nos conseguiu mostrar (infe-
lizmente pelos piores motivos) que a
natureza ainda se consegue regenerar:
a chegada e a propagação da Covid-19
pelo mundo inteiro.
Com a paragem mundial das socie-
dades, que se viram (em grande parte
dos casos) “presas” em casa numa qua-
rentena imensa, o planeta teve (pela
primeira vez em décadas) espaço para
respirar fundo. Os níveis de CO2 exis-
tentes na atmosfera reduziram de uma
forma drástica (com uma estimativa
que ronda os 9,6 milhões de tonela-
das). A diminuição do ruído sísmico

THE WAY


WE WERE


E


Há muito que se fala de sustentabilidadenomundodamoda,
mas pode este tornar-se o momento certo para fazer com
que os velhos hábitos fiquem para trás e a indústria renasça
mais amiga do ambiente? Por Vítor Rodrigues Machado
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