Elle - Portugal - Edição 381 (2020-06 & 2920-07)

(Antfer) #1

58 ELLE PT


CORTESIA WATER.ORG (2)

ELLEGREEN


AT O R

MATT DAMON
É também produtor, argumentista
e cofundador da Water.ORG, Matt
Damon é um verdadeiro homem
renascentista do século XXI. Há
quinze anos atrás, dedicou-se
à tarefa de combater a falta de
saneamento e o acesso a água
potável e, desde então, nunca
mais parou. Sem mais demoras,
que entre Matt Damon.

ELLE: O que o fez criar esta ONG?
Matt Damon: Quando fiz uma
pesquisa sobre os assuntos mais
problemáticos do mundo, percebi
que as questões de acesso a água
potável e a saneamento básico eram
a solução para muitos problemas.
Enquanto filmava na África
subsariana, passei uma temporada
com algumas famílias de uma vila da
Zâmbia, e assistir às suas lutas diárias
inspirou-me a ajudar e a tentar
resolver esses problemas através do
meu trabalho na Water.ORG.
Quais são os seus principais objetivos
e projetos atuais?
Atualmente a nossa ONG conseguiu

ajudar mais de 25 milhões de pessoas
dando-lhes acesso a água potável e
a saneamento básico, e não fazemos
intenção de parar. O nosso objetivo é
continuar a aumentar o financiamento
para estas duas questões, para que
mais pessoas carenciadas possam ter
este problema fundamental resolvido
e para que, assim, o mundo se possa
aproximar do seu objetivo global de
dar acesso a todos (água e saneamento
básico) até 2030.
Qual foi a situação mais difícil que
testemunhou enquanto ativista
ambiental?
Há cerca de seis anos atrás estive
no Haiti. Lá conheci uma jovem
rapariga de 13 anos que passava
cerca de três a quatro horas por dia
a coletar água para levar para a sua
família, porque não tinham acesso a
ela em casa. As crianças como ela não
deviam ter de suportar a carga deste
tipo de tarefas. Elas deviam estar a
brincar na escola, e não a carregar
pesados recipientes de água trazidos
de rios ou de lagos.
... E a que o deixou com mais esperança?
Então, essa mesma jovem agora tem
acesso a água. Ao longo dos primeiros

anos na Water.ORG, conseguimos
que a sua família tivesse acesso a água
em casa. Quando lhe perguntei o que
ela faz agora, que não tem de perder
horas a ir buscar água, todos os dias,
ela respondeu “Vou brincar”. Esse foi
um momento impactante para mim.
Na sua perspectiva, como é que a
forma de debater temas ambientas,
mudou ao longo dos últimos anos?
Acho que o mundo está finalmente
a acordar. Ainda temos muito
trabalho pela frente para fazer, mas
falar de coisas como acesso a água e
a saneamento básico para as pessoas
que vivem no limiar da pobreza
faz com que iniciemos conversas
importantes com os líderes mundiais
sobre como alcançar a grande meta
do desenvolvimento sustentável.
Até porque, está provado, esse
objetivo só se consegue concretizar
se existir acesso universal a água
e a saneamento. De acordo com o
último relatório, o mundo está no
caminho certo para lá chegar. Vai
custar cerca de 114 biliões de dólares
por ano, entre agora e 2030, para que
isso seja uma realidade. Um valor
que é três vezes superior ao que se
está atualmente a gastar. É aqui que
entra a Water.ORG. Nós temos uma
forma de resolver o problema da
falta de fundos. Através do acesso a
financiamento, podemos empoderar
milhões de pessoas carenciadas com
água e saneamento.
Se fosse o “Presidente do Planeta
Terra” que leis criaria ou a que artigos
optaria por dar mais ênfase para
tornar o mundo num melhor lugar
para todos vivermos?
Acho que, para se fechar o ciclo da
pobreza nas populações do mundo
inteiro, é preciso começar pelo acesso
a água. Sem ela, ninguém consegue
sobreviver. Por isso, se eu fosse
“Presidente do Planeta Terra” fazia
com que todos terem acesso a água
fosse a grande prioridade.
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