lhe puxarem a cauda, diz, com um tom alegre, as
asas batem. Impressas nas asas dos aviões estão as
palavras “Hope for Peace”.
NÃO É POSSÍVEL VOLTAR ATRÁS e reparar a discri-
minação sofrida por Shoso Kawamoto e outros
sobreviventes. Satoshi Tashiro, director do Instituto
de Investigação em Biologia e Medicina da Radiação
da Universidade de Hiroxima, está decidido a evitar
este tipo de discriminação no futuro. O Instituto
pretende melhorar o diálogo entre os órgãos de
comunicação e os cientistas para que o público não
se deixe afectar por medos injustificados. O que
aconteceu aos hibakusha, afirma, também acontece
aos que viviam junto da central nuclear de Cherno-
byl e ao reactor avariado japonês de Fukuxima.
O Funairi Mutsumien Nursing Home aloja cer-
ca de cem sobreviventes da bomba. O mais novo,
actualmente com 74 anos, estava no útero da mãe
aquando da explosão. A mais velha é Tsurue Ame-
nomori, de 103 anos. Quando a bomba explodiu,
ela estava a 1,5 quilómetros do marco zero, tratan-
do dos pais acamados. Tem queimaduras no ros-
to, na mão e na perna. Hoje é uma mulher alegre
e orgulha-se de subir as escadas do lar onde vive.
É uma das utentes preferidas dos funcionários.
Estes sobreviventes encontram-se a cargo do
Departamento de Apoio a Sobreviventes da Bom-
ba Atómica, que conta com 32 funcionários diri-
gidos por Takeshi Yahata, filho de um hibakusha.
O seu avô tratou da eliminação de cadáveres após
o bombardeamento. Agora, o departamento de
Takeshi ajuda os sobreviventes vivos com cuida-
dos de saúde, serviços sociais, apoio psicológico e
ajudas de custo para despesas de lares e funerais.
A história de Hiroxima continua a ser polémi-
ca ainda hoje. Uma nova exposição no museu
evocativo demorou 16 anos até ser aprovada,
em parte devido a discussões entre os membros
da comissão organizadora, diz Shuichi Kato, vi-
ce-director do museu. Alguns queriam mostrar
fotografias chocantes dos horrores da guerra
nuclear, enquanto outros defendiam uma abor-
dagem mais contida, com medo de traumatizar
os visitantes. Numa visita recente, aliás, vi duas
pessoas desmaiarem.