Um dos temas debatidos foi a escolha da ima-
gem que deveria receber os visitantes no museu.
O dilema ficou resolvido quando Tetsunobu Fujii,
filho de uma sobrevivente, viu uma fotografia de
uma menina na Internet, com a mão ligada e o
rosto ferido e ensanguentado. Ele achou que era
a sua mãe, Yukiko Fujii. O museu confirmou que
era ela, na altura com 10 anos. A comissão esco-
lheu, unanimemente, a fotografia para a entrada
da exposição. Outra fotografia sua, com 20 anos,
está afixada à saída. (Morreu aos 42 anos.) São
imagens icónicas, impossíveis de esquecer.
MUITOS SOBREVIVENTES ainda têm sequelas psi-
cológicas. Emiko Okada tinha 8 anos quando a
bomba foi lançada. Nessa manhã, a sua irmã de 12
anos, Mieko Nakasako, anunciou que ia sair. O seu
destino ficava a um quilómetro do marco zero. Per-
gunto a Emiko se a irmã morreu na explosão.
“A minha irmã mais velha está desaparecida”,
responde com simplicidade.
“Desaparecida?”, repito. Interrogo-me o que
significará isso passados 75 anos.
“Ainda não voltou para casa.” Há qualquer coi-
sa de fantasmagórico na palavra “ainda”, como se
Emiko Okada estivesse quase à espera que Mieko
lhe aparecesse de repente à porta.
Emiko Okada não ficou órfã, mas é quase como
se assim fosse. Os pais andaram desesperada-
mente à procura da filha mais velha, abandonan-
do Emiko, que ficou a viver nas ruas, dormindo
num abrigo contra bombardeamentos aéreos,
comendo aquilo que conseguia encontrar ou rou-
bar – um tomate deitado no lixo, um figo caído. Só
anos mais tarde é que a mãe a acolheu.
“Os meus pais enlouqueceram de dor com a per-
da da filha”, diz. Conta que, quando a mãe foi cre-
mada, pedaços de vidro que tinham voado como
projécteis nesse dia de Agosto reapareceram entre
as cinzas, bem como fragmentos de osso.
Em Hiroxima, os jovens reconciliam-se com o
passado da cidade à sua própria maneira. Kanade
Nakahara, de 18 anos, estudou o bombardeamen-
to na escola e, em Março de 2019, fez uma visita de
estudo a Pearl Harbor. Está determinada a traba-
lhar em prol da paz.