National Geographic - Portugal - Edição 231 (2020-06)

(Antfer) #1

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de alimentação. Durante meses, macho e fêmea
revezam-se na busca de alimento para as crias
que crescem. Por volta de Setembro, ambos têm
de ir pescar juntos para satisfazer bocas cada vez
mais esfaimadas, deixando as crias em creches.
Os jovens aprendem a agrupar-se, nem sempre
da forma mais ordenada. Alguns aninham-se jun-
tos, outros correm e atiram-se contra a pilha.
Por vezes, progenitores solitários fi cam para
trás e vigiam as creches. Stefan vê um adulto com
duas crias. Embora apenas uma lhe pertença, a
ave alimenta ambas. Será acidental? Talvez não.
Os pinguins-imperador adultos realizam fre-
quentemente o ritual de levantar o seu marsúpio,
uma prega de pele com penas, para mostrarem os
seus recém-nascidos aos outros. Não está prova-
do, mas Stefan acha possível que os pais adoptem
este comportamento para formarem laços estrei-
tos, tornando-se guardiões das crias dos outros e
entreajudando-se nos cuidados paternais.
Perto do fi nal do ano, as crias estão quase tão
altas como os progenitores, mas não estão fora de
perigo. Antes de o gelo marinho derreter, terão de
mudar a sua penugem cinzenta para penas adultas
impermeáveis, caso contrário afogar-se-ão. Isto
aconteceu em 2016 na colónia de Halley, quando
uma tempestade partiu o gelo antes de Outubro e
as crias ainda estavam na idade da creche. Desde
então, o gelo não tem sido sufi cientemente está-
vel para suportar adultos, levando a um fracasso
reprodutor quase total. Essa colónia (que já foi a
segunda maior da Antárctida) encontra-se agora
praticamente abandonada. A tempestade coinci-
diu com o episódio de El Niño mais forte dos úl-
timos 60 anos, o tipo de padrão de clima extremo
que deverá ser mais frequente no futuro.
Estão a ser feitos censos de pinguins através de
imagens recolhidas por satélite para avaliar em
que medida as aves têm sido afectadas pelas re-
centes alterações na perda do gelo marinho junto
da Antárctida. É provável que os resultados lan-
cem o alarme relativamente ao futuro da espécie.

DE REGRESSO À BAÍA DE ATKA, o gelo marinho
começa a derreter em fi nais de Dezembro, mais cedo
do que previsto, e Stefan Christmann vê adultos e
juvenis na muda de pena a treparem para locais
seguros na área mais alta da plataforma de gelo –
uma secção de gelo terrestre mais espessa – usando
como rampa uma pilha de neve criada pelo vento.
Um mês mais tarde, ele vê os últimos juvenis
saltarem para o mar, pulando de vários metros de
altura a partir da plataforma. “É espectacular”, diz.

De seguida, os casais de pinguins permanecem
juntos, imitando os movimentos um do outro. Os
laços estreitos criados entre eles asseguram a so-
brevivência da cria – a única nesta estação. Certo
dia, Stefan repara num casal que observa uma bola
de neve cuidadosamente equilibrada sobre as pa-
tas da fêmea. Supõe que se trate de um casal inex-
periente a treinar a técnica para equilibrar o ovo.
Em fi nais de Maio, surgem os primeiros ovos:
um por fêmea. A postura exige esforço e, por isso,
a fêmea esfomeada entrega, cuidadosamente, o
ovo ao seu parceiro e prepara-se para partir. O ca-
sal testará a força dos laços que o unem enquanto
as fêmeas regressam ao mar para se alimentarem.
Para os machos que fi caram, o Inverno aproxi-
ma-se. Com ventos de 160 quilómetros por hora
e temperaturas cada vez mais baixas, as aves
juntam-se para partilharem calor corporal. Esta
cooperação mantém os progenitores e os seus
preciosos ovos vivos, conservando igualmente as
reservas corporais dos machos. Não há então ali-
mento disponível e eles perderão quase metade
do peso antes do regresso das fêmeas. Nos dias
mais frios, os pinguins fi cam em silêncio, pou-
pando o máximo de energia possível. Tudo o que
Stefan Christmann ouve é o som fantasmagórico
das suas patas arranhando o gelo.
Ao longo do Inverno de seis meses, Stefan e
mais onze pessoas são os únicos seres humanos
nesta zona da Antárctida, agrupando-se num pe-
queno posto de investigação alemão implantado
na plataforma de gelo por cima da baía de Atka.
Em qualquer momento, excepto quando há tem-
pestades mais severas e os seres humanos fi cam
recolhidos no interior, basta uma viagem de moto
de neve pela escarpa íngreme para chegar ao gelo
marinho e aos pinguins.
Em fi nais de Julho, a noite polar chega ao fi m e
o Sol não tarda a saudar as novas vozes da colónia.
Se as progenitoras não regressarem a tempo com
alimento para as crias, estas obterão a primeira
refeição dos seus progenitores – um leite viscoso
proveniente do seu esófago. No entanto, depois
de suportarem o Inverno, nem todos os machos
são bem-sucedidos. Stefan vê um a pegar numa
cria congelada morta, equilibrando-a sobre as
patas. “Ele pegou na cria e encaminhou-se para a
colónia, comportando-se como se tudo estivesse
normal. Foi de partir o coração”, diz o fotógrafo.
As fêmeas regressam precisamente quando os
parceiros esfomeados mais precisam delas. Os ca-
sais reforçam os seus laços. As progenitoras vêem
as crias pela primeira vez e assumem os deveres

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