LIDERANÇAPOLÍTICA 71
era uma assassina”, contou ela mais tarde. Co-
meçava assim um calvário de várias horas.
Os agitadores regaram-na com gasolina. Ficou
a cheirar a urina e a lixívia. Pontapeada, espanca-
da com paus e apedrejada, a presidente da câma-
ra foi arrastada, descalça, até um local onde um
homem de 20 anos, Limberth Guzmán Vásquez,
morrera em confrontos entre os apoiantes de es-
querda do presidente destituído e os seus adver-
sários de direita. Os manifestantes anti-Morales
acusaram Patricia Arce de financiar e apoiar os
esquerdistas envolvidos nos actos de violência
que tiraram a vida ao jovem. “Achei que iam ma-
tar-me, pegar-me fogo”, contou ela.
Um homem despejou-lhe tinta vermelha por
cima. Uma mulher cortou o cabelo cor de mel de
Patricia Arce, que lhe dava pela cintura. “Senti-
-me como se estivessem a arrancar-me o escal-
pe.” Alguns indivíduos na multidão ameaçaram
que iram matar os dois filhos dela. Outras dis-
seram-lhe para se demitir e denunciar o antigo
presidente Morales, que fora declarado vence-
dor das eleições, apesar das alegações de fraude.
Depois de perder o apoio das forças armadas e
da polícia, Morales demitiu-se.
Circularam vídeos pelas redes sociais de Patri-
cia Arce aflita, mas desafiadora, rodeada por ma-
nifestantes mascarados. “Não vou calar-me!”, dis-
se. “E se eles quiserem matar-me, então que me
matem!” Por fim, pessoas que ela não conhecia
transportaram-na numa moto e entregaram-na à
polícia para que a protegesse.