National Geographic - Portugal - Edição 231 (2020-06)

(Antfer) #1
LIDERANÇA POLÍTICA 77

Não há mulheres no governo, nem noutros ní-
veis mais elevados da política iraquiana, e Noora
al-Bajjari acredita que não existe apoio mútuo
entre as parlamentares femininas do Iraque.
“Tenho de falar com franqueza”, declara. “Nós,
mulheres, não nos suportamos umas às outras
nem a nós próprias. Existe um elemento de inve-
ja, egoísmo e competição.”
Se as 84 deputadas se aliassem, formariam um
bloco significativo no Parlamento de 329 depu-
tados, diz Hanaa Edwar. Até 2018, todas as ten-
tativas para formar um grupo feminino no Par-
lamento fracassaram. Hanaa é co-fundadora de
vários grupos, incluindo a Associação Al-Amal,
fundada em 1992, e a Rede de Mulheres do Ira-
que, que reúne mais de noventa organizações
femininas. Enquanto activista, esforça-se por
modificar as atitudes e comportamentos do Par-
lamento, organizando seminários de formação
para deputados do sexo masculino e feminino,
tendo por temas a capacitação política e as ques-
tões de emancipação feminina.
“Não estamos a confrontar ninguém. Estamos
a tentar criar um canal de cooperação, até com
aqueles que se opõem às questões que levanta-
mos”, afirma. E os resultados são palpáveis: “Al-
gumas dessas pessoas eram religiosas e muda-
ram as suas ideias”, acrescenta. “Mas o problema
não se limita a gerar mudança. São as vozes que
se erguem contra a mudança. É um grupo muito
pequeno, mas muito agressivo e... tenta abafar a
voz dos outros.”
Hanaa Edwar refere-se a pessoas como os par-
lamentares conservadores que, em 2014, apoia-
ram uma proposta de lei conhecida como Jaafa-
ri. Entre os 254 artigos havia uma disposição
destinada a legalizar o casamento para raparigas
de apenas 9 anos e outra onde se declarava que
um marido não tinha de sustentar financeira-
mente a mulher se ela fosse demasiado nova ou
demasiado velha para o satisfazer sexualmente.
Os activistas dos direitos das mulheres actua-
ram como força motriz de oposição à proposta de
lei e conseguiram retirá-la da agenda parlamen-
tar, bem como derrotar tentativas subsequentes,
a mais recente das quais em 2017, no sentido de
aprovar legislação semelhante.
“Mobilizámos a opinião pública contra ela”,
conta Hanaa Edwar. “Fiquei muito feliz por ver
que não foram apenas as nossas vozes, mas...
as vozes da opinião pública do Iraque que se
ergueram contra esta proposta de legislação.
Foi um momento muito feliz.”

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