O Estado de São Paulo (2020-06-04)

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O ESTADO DE S. PAULO QUINTA-FEIRA, 4 DE JUNHO DE 2020 Internacional A


ESTOCOLMO


O responsável pela estratégia
da Suécia no combate ao coro-
navírus admitiu ontem que o
país deveria ter adotado me-
didas mais contundentes de
isolamento social para con-
ter a pandemia. Em resposta
às crescentes críticas sobre a
posição do país, o arquiteto
da resposta oficial de Estocol-
mo, com base em ações volun-
tárias dos cidadãos, admitiu
que uma abordagem mais du-
ra poderia ter evitado o eleva-
do número de mortes regis-
trado no país.
“Sim, acho que poderíamos
ter feito mais do que fizemos na
Suécia”, disse Anders Tegnell,
epidemiologista chefe da Agên-
cia de Saúde Pública sueca, à rá-
dio Sveriges. “Se encontrásse-
mos a mesma doença, sabendo
exatamente o que sabemos ho-
je, acho que acabaríamos fazen-
do algo entre o que a Suécia fez e
o que o restante do mundo fez.”
Em números absolutos, a Sué-
cia tem menos mortos pela co-
vid-19 do que países como Rei-
no Unido, Espanha e Itália – epi-
centros da doença na Europa.
Mas a taxa de mortalidade per
capita sueca é a oitava maior do
planeta.
Em uma entrevista ao Esta-
dão em 8 de maio, Tegnell sus-


tentou que 25% da população
em Estocolmo estava imuniza-
da e rebateu críticas ao modelo
adotado no país. “Já temos algo
como 25% por cento da popula-
ção imune, o que significa que
atravessamos boa parte do ca-
minho”, disse Tegnell na oca-
sião.
Mas, considerando apenas a
semana entre os dias 26 de maio
e 2 de junho, o país teve a maior
taxa de mortalidade per capita
do mundo: 5,29 mortes por mi-
lhão. No mesmo período, o Bra-
sil teve 4,34 mortes por milhão,
segundo o site Our World In Da-
ta, que compila dados sobre a
pandemia.
O comentário de Tegnell foi
feito após meses de críticas a ou-

tros países europeus que adota-
ram lockdowns: até este mo-
mento, o governo sueco, de cen-
tro-esquerda, insistia que sua
abordagem era economicamen-
te mais sustentável.
A insistência causou uma
série de questionamentos inter-
nos e críticas internacionais,
isolando a Suécia no bloco euro-
peu. Ontem mais tarde, em
uma entrevista coletiva, o epide-
miologista deu um passo atrás
em sua declaração e disse que
continua a acreditar que a estra-
tégia sueca é boa, “mas há sem-
pre melhorias que podem ser
feitas”.
No ápice da pandemia, a Sué-
cia foi um dos poucos países em
que cafés e restaurantes fica-
ram abertos, escolas para alu-
nos com menos de 16 anos fun-
cionaram e onde amigos e pa-
rentes ainda podiam se reunir.
As fronteiras continuaram
abertas para visitantes euro-
peus e o isolamento social era
voluntário, apostando na coo-
peração do público. As estatísti-
cas suecas mostram a fraqueza
do plano: o país apresenta qua-
se quatro vezes o total de mor-
tos somado dos outros países
nórdicos.
Enquanto os mortos por co-
vid-19 no território sueco che-
gam a 4.468, com 38.589 casos
confirmados, Noruega e Dina-

marca, que adotaram medidas
de isolamento, têm números
bastante inferiores: 8.455 infec-
tados e 237 mortes, e 11.934 in-
fectados e 580 mortes, respecti-
vamente.
Ambos os países começaram
a retomar gradualmente suas
atividades e anunciaram, há
pouco mais de uma semana, a
reabertura de suas fronteiras.
Mas o acesso à Suécia continua-
rá suspenso.
Na segunda-feira, o primei-
ro-ministro Stefan Lofven dis-
se que criará uma comissão pa-
ra investigar a resposta do go-
verno à pandemia. Ele não res-
pondeu aos pedidos de comen-
tários feitos pela agência Reu-
ters, mas sua ministra de Saúde

e Assuntos Sociais, Lena Hallen-
gren, disse por escrito que a Sué-
cia “sempre esteve preparada
para introduzir medidas mais
abrangentes recomendadas pe-
las autoridades de saúde”.
Segundo Tegnell, como qua-
se todos os países europeus ade-
riram ao confinamento total, é
difícil saber quais medidas po-
deriam ter sido mais eficazes na
Suécia. Até o momento, a opi-
nião pública no país vinha apoi-
ando as diretrizes oficiais, mas
políticos e diplomatas ouvidos
pelo Financial Times apontam
para uma mudança de opinião
motivada principalmente pelo
isolamento sueco, frente ao fe-
chamento das fronteiras pelos
vizinhos. Outros aspectos que

geram insatisfação são o grande
número de mortos em casas de
repouso e a baixa testagem para
a covid-19 no país. Na semana
passada, apenas um terço da me-
ta de 100 mil exames semanais
foi atingido.

Exemplo para Bolsonaro. O
país escandinavo foi citado por
diversas vezes pelo presidente
Jair Bolsonaro como exemplo
no combate ao novo coronaví-
rus por não ter decretado o lock-
down. Para o epidemiologista
chefe da Suécia, agora que os
países estão retirando as medi-
das uma por uma, será possível
entender o que de fato funcio-
nou e “o que poderíamos ter fei-
to além do fechamento total”.

Suécia reconhece


erro em não ter


adotado lockdown


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Por que a política pesa tanto na Bolsa. Pág. B4 }


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“Sim, acho que poderíamos
ter feito mais do que
fizemos na Suécia. Se
encontrássemos a mesma
doença, sabendo
exatamente o que
sabemos hoje, acho que
acabaríamos fazendo
algo entre o que a Suécia
fez e o que o restante do
mundo fez.”
Anders Tegnell
EPIDEMIOLOGISTA CHEFE DA AGÊNCIA
DE SAÚDE PÚBLICA SUECA

Pela primeira vez, país admite que deveria ter aplicado medidas


mais restritivas para conter a pandemia do novo coronavírus


Ameaça. Moradores de Estocolmo aproveitam o dia ensolarado, apesar da pandemia
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