O Estado de São Paulo (2020-06-04)

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A18 QUINTA-FEIRA, 4 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Esportes

Ciro Campos


Longe da área técnica e do gra-
mado, o técnico do Palmeiras,
Vanderlei Luxemburgo, man-
tém contato com os jogadores
só por videoconferência. E foi
graças à essa tecnologia que o
treinador concedeu entrevista
ao Estadão ontem para comen-
tar sobre o período de quarente-
na em São Paulo e a expectativa
de retorno dos jogos no Brasil.
Para o treinador, o futebol só
deveria voltar a ser praticado
com autorização dos órgãos de
saúde. Além disso, Luxembur-
go acredita que a volta à pratica
tinha de ser unificada em todo o
País, para evitar vantagens para
os clubes que já retomaram os
treinamentos no campo. Ele en-
tra na polêmica que toma con-
ta dos EUA e se espalha pelo
mundo sobre racismo e diz
que no futebol, sua área, há
muitas provocações e que elas
deveriam ser deixadas de lado.


lComo tem sido trabalhar a
distância? Já se acostumou?
Temos de nos adaptar às coi-
sas, é uma realidade. O treina-
mento virtual tem sido bom.
Demos um programa para eles
treinarem durante essa parali-
sação, para todos se manterem
em atividade. Os jogadores


treinam forte, três vezes por
semana. Só que está se tornan-
do cansativo. Estão cansados
de ficar em casa treinando em
uma sala, na varanda. Agora,
tem de começar a mudar.

lTeme que os seus jogadores
tenham perdas técnicas?
Eles estão treinando forte. Li-
beramos para contratarem per-
sonal trainer, mas orientados
pelo nosso pessoal da prepara-
ção física. O futebol não pode
estar fora da pandemia. A pan-
demia faz parte de uma totali-
dade. Então, não pode um Esta-
do liberar o futebol e o outro,
não. Temos competições que
exigem diversas situações dife-
rentes e a condição física é pri-
mordial. Tem de tratar a pan-
demia de uma maneira geral
para todos, mas aqui no Brasil
cada Estado toma sua decisão
de acordo com seus interesses.
Tem clubes treinando já há
bastante tempo e nós estamos
respeitando os órgãos de saú-
de. Acho que foi equivocada a
liberação para alguns clubes

do País treinarem e outros
não. Acho que isso não é legal.

lVocê acha que o futebol pode
voltar mais por pressão política
do que por questões de saúde?
Não quero entrar na parte po-
lítica. O futebol tem de voltar
dentro daquilo que for feito pa-
ra a sociedade. Liberou para a
sociedade, libera o futebol.
Não pode ser diferente. Não
deixamos de ser cidadãos por
sermos profissionais de fute-
bol. Não podemos ser tratados
de outra forma. O erro é este.

lO Palmeiras sempre se posicio-
nou contrário ao retorno. Como
se formou esse consenso?
Coerência. O Palmeiras sem-
pre foi contestado, mas apre-
sentou um equilíbrio com to-
dos os seus setores para enten-
der o momento. O presidente
(Mauricio Galiotte) sempre fa-
lou que o Palmeiras vai voltar
quando os órgãos de saúde au-
torizarem. Nós estamos prepa-
rados, mas só vamos voltar
quando liberarem.

lSente que quem já começou a
treinar estará em vantagem?
Você treinar em uma varanda
de dez metros e em um campo
é muito diferente. Acho que
vai fazer uma diferença, sim.

lOs jogos no Brasil vão ser com
portões fechados. Acha que isso
tira a força dos mandantes?
A torcida é importante. Digo
sempre que é o centroavante
da equipe. Quando vou jogar
contra um adversário que é

muito forte com seus torcedo-
res, eu aviso meus jogadores:
“Vamos ter de ganhar da torci-
da e deles”. Vamos ter de fazer
um trabalho para colocarmos
o torcedor do Palmeiras em
campo com a gente de alguma
maneira. Estou pensando nis-
so, mas ainda não posso falar.

lOs jogadores do Palmeiras
aceitaram a redução salarial. Ne-
gociar esse tipo de tema é muito
diferente hoje em dia?
O perfil desse grupo é muito
bom. Tenho 68 anos e 54 de fu-
tebol. Quando você fala que
vai ajudar os funcionários, aca-
bou. Os caras vão lá e colabo-
ram. Todos os meses com-
pram cesta básica. Os jogado-

res estão muito comprometi-
dos com o Palmeiras. Eles que-
rem conquistar alguma coisa.

lVários atletas se manifestaram
contra o racismo dias atrás. Você
acha importante atletas e entida-
des se posicionarem?
Essa questão aflorou muito
nos Estados Unidos. É uma dis-
cussão bem doida para se che-
gar ao consenso. O que houve
lá (o norte-americano George
Floyd foi morto pelo policial
Derek Chauvin durante uma
abordagem) foi brutal, foi uma
covardia. Eu discuto muito no
futebol, que é a minha área.
Acho que os atos de racismo
no futebol são provocados e
eu achava que deveriam ser

deixados de lado. Dão muito
prestígio, muito moral à manei-
ra como se trata o racismo no
futebol. Aquilo, sim, que o cara
fez (nos Estados Unidos) é ra-
cismo puro. Mas no futebol o
cara brincar com o outro, go-
zar o outro para desestabilizar
o camarada, e dizer que aquilo
ali é ato de racismo, não sei.
Mas é uma discussão longa.

lHá 20 anos você dirigia a sele-
ção brasileira. Gostaria de voltar
e ter outra chance?
Minha preocupação é hoje com
o Palmeiras, fazer o Palmeiras
vitorioso e ganhar. Sou um pro-
fissional preparado para o que
acontecer no futebol. O meu fo-
co agora é o Palmeiras.

Pedrinho e Antony devem ir para a Europa sem ‘despedidas’


Raul Vitor
ESPECIAL PARA O ESTADO


Pedrinho, do Corinthians, e An-
tony, do São Paulo, não devem
mais jogar por seus respectivos
clubes. As jovens promessas de-
fenderiam suas equipes antes
de partirem para Europa, mas,
por causa da suspensão do fute-
bol brasileiro em decorrência
da pandemia do novo coronaví-
rus, o adeus, provavelmente, se-
rá longe das quatro linhas.
O Estadão relembra a trajetó-
ria dos dois atletas revelados
nas categorias de base de seus
times. A negociação de ambos
amenizará os débitos dos clu-
bes. Pedrinho foi vendido ao
Benfica por ¤ 20 milhões (R$
105 milhões). Já Antony vai pa-
ra o Ajax, em um negócio que
poderá render cerca de ¤ 29 mi-
lhões (R$ 130 milhões) aos co-
fres do São Paulo. Os dois, no
entanto, devem atuar juntos pe-
la seleção brasileira olímpica.


Pedrinho. O jogador chegou
ao Corinthians em 2013, com 15
anos, e se destacou três anos
mais tarde, em 2016, na Copa


São Paulo. O jovem meia-ata-
cante chamou atenção por sua
velocidade e dribles desconcer-
tantes, que também foram evi-
denciados na edição de 2017 do
torneio de juniores, no qual o
Corinthians foi campeão.
Um dos destaques daquela
Copinha, Pedrinho ganhou
chance na equipe titular de Fá-
bio Carille, então treinador do
Corinthians. Habilidoso, foi ins-
crito no Campeonato Paulista
como peça de reposição e fez
sua estreia no dia 19 de março
de 2017, contra a Ferroviária.

Não demorou para que a torci-
da do Corinthians criasse laços
afetivos pelo garoto. O primei-
ro gol foi quatro meses após sua
estreia, em partida válida pela
Copa Sul-Americana, contra o
Patriotas. Demorou. Pedrinho
aproveitou um lançamento de
Cássio para encobrir o goleiro.
Dali em diante, a jovem pro-
messa alternou entre os titula-
res e o banco de reservas. As
boas atuações em clássicos e
partidas decisivas logo chama-
ram a atenção do mercado euro-
peu. Em sua passagem pela equi-

pe principal, Pedrinho dispu-
tou 134 jogos e marcou 16 gols.
Foram quatro títulos conquista-
dos: três Campeonatos Paulis-
tas (2017, 2018 e 2019) e um
Campeonato Brasileiro (2018).
Ele usa a camisa 10 do time.

Antony. O atacante cresceu no
São Paulo – é atleta do clube des-
de 2011 e, ao longo de sua evolu-
ção, participou de conquistas
importantes da base de Cotia.
Em 2018, por exemplo, ele foi
protagonista do título da Copa
do Brasil Sub-20, o que já havia
lhe assegurado uma vaga no
elenco principal do São Paulo,
no fim da temporada de 2018.
Após a saída do técnico Diego
Aguirre, o ex-treinador da base
André Jardine assumiu o São
Paulo. Foi sob seu comando
que Antony estreou no dia 15 de
novembro, contra o Grêmio.
Contudo, voltou à base para
disputar a Copa São Paulo, em


  1. O clube do Morumbi,
    após quase dez anos de jejum,
    conquistou o torneio de junio-
    res e o jovem promissor atacan-
    te foi eleito o craque da competi-
    ção, com quatro gols e seis assis-
    tências, em nove partidas.
    Após o título, Antony voltou
    ao elenco principal, fez uma be-
    la campanha no Paulistão e mar-
    cou seu primeiro gol como pro-
    fissional, diante do São Caeta-
    no. As boas atuações no Cam-
    peonato Brasileiro também lo-
    go chamaram a atenção do mer-
    cado europeu. Com a camisa do
    São Paulo, Antony marcou seis
    gols em 49 partidas.


ENTREVISTA


PORTO PERDE NA VOLTA
DO FUTEBOL EM PORTUGAL

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


NO ALVINEGRO NO TRICOLOR

FALA, PROFESSOR

Vanderlei Luxemburgo, técnico do Palmeiras


‘Não pode um lugar


liberar o futebol


e o outro, não’


] Após 87 dias de paralisação, o Cam-
peonato Português recomeçou com
uma surpresa. O líder Porto visitou o
Famalicão e perdeu por 2 a 1, deixan-

do a briga pelo título ainda mais acir-
rada. Agora, o Porto segue com 60
pontos, um a mais do que o Benfica,
que pode assumir a liderança hoje,
quando recebe o Tondela, às 15h
(horário de Brasília). Com a vitória, o
Famalicão subiu para a 5ª posição.

JOSE COELHO/EFE

Paralisação tira chance


de os garotos ainda


jogarem por Corinthians


e São Paulo. Eles partem


para Benfica e Ajax


ALEXANDRE LOUREIRO / CBF-9/1/

Juntos na seleção. Pedrinho e Antony vão jogar na Europa, mas devem continuar se encontrando da seleção olímpica

49 jogos
Antony disputou com a camisa
do São Paulo. Ele estreou em
15 de novembro de 2018, em
partida contra o Grêmio

6 gols
tem o atacante pelo clube

134 jogos
Pedrinho disputou com a
camisa do Corinthians. Ele
conquistou quatro títulos: três
Paulistas e um Brasileirão

16 gols
tem o jogador pelo clube

Vanderlei Luxemburgo
TÉCNICO DO PALMEIRAS

‘No futebol, o cara
brincar com o outro
para desestabilizar é
racismo? Não sei. É
uma longa discussão’

AMANDA PEROBELLI/REUTERS-10/3/

Luxemburgo. Treinador prepara Palmeiras para retomar as atividades após parada

Técnico vê injustiça e


diz que equipes que já


voltaram a treinar terão
vantagem em relação aos


outros times do Brasil

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