O Estado de São Paulo (2020-06-04)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:B-1:20200604:B1 QUINTA-FEIRA, 4 DE JUNHO DE 2020 INCLUI CLASSIFICADOS O ESTADO DE S. PAULO


E&N


Com melhora de cenário internacional,


Tesouro faz nova captação de US$ 3,5 bi


ECONOMIA & NEGÓCIOS


WASHINGTON COSTA/MINISTÉRIO DA ECONOMIA–18/5/

Juros. Custo
da operação
ficou maior
pela covid-

Adriana Fernandes / BRASÍLIA


O governo brasileiro aprovei-
tou a melhora no cenário in-
ternacional para fazer ontem
uma captação externa de US$
3,5 bilhões de títulos da dívi-
da externa, com bônus de 5
anos e 10 anos de prazo de
vencimento, de acordo com
dados do Tesouro Nacional.
A operação teve demanda de
até US$ 18 bilhões pelos pa-
péis e animou a área econômi-
ca, que viu nisso um sinal de
interesse de investidores pe-
los títulos soberanos do País.
Foi a primeira emissão do Bra-
sil depois que a pandemia da co-
vid-19 foi decretada pela Organi-
zação Mundial de Saúde (OMS)



  • que aumentou a aversão ao ris-
    co global. O governo foi ao mer-
    cado internacional num momen-
    to em que vários países já estão
    saindo do isolamento social,
    com reação positiva nos merca-
    dos (mais informações nesta pági-
    na). O custo da operação, no en-
    tanto, ficou um pouco maior por
    causa do prêmio de risco na fase
    pós-covid-19.
    O bônus de 5 anos com venci-
    mento em 2025 foi vendido com
    taxa de retorno de 3% ao ano. Já
    o bônus de 10 anos foi emitido
    com taxa de retorno ao investi-
    dor de 4% ao ano, mais alta do
    que papel com mesmo prazo
    vendido em novembro do ano
    passado (a 3,8% ao ano).
    Apesar da demanda elevada
    (US$ 10 bilhões para o bônus de
    10 anos e US$ 8 bilhões para o de
    5 anos), o governo encurtou o
    prazo de vencimento da dívida
    externa. Foi a primeira emissão
    de um papel da dívida externa de
    5 anos desde 2004.
    A opção do Tesouro foi não
    captar num prazo de 30 anos pa-
    ra não “travar” a taxa de juros do
    papel por um prazo tão longo
    num momento ainda de grande


incerteza. Segundo fontes envol-
vidas na operação, fazer um lan-
çamento com apenas o prazo de
10 anos poderia aumentar o cus-
to. É que, quanto maior o prazo,
maior o custo para o Tesouro. O
prêmio de risco teria sido maior,
argumentam.
Os investidores que com-
pram esses papéis da dívida pú-
blica pagam em dólar ou outras
moedas, como euro, e até em
reais. Na data do chamado resga-
te, eles recebem de volta o valor
pago ao governo brasileiro.
Além disso, o Brasil paga juros a
esses investidores, a cada seis
meses ou um ano, dependendo
do contrato.
O lançamento de bônus no

mercado externo funciona co-
mo um leilão: os investidores fa-
zem suas propostas de taxa de
juros e quantidade de títulos que
desejam receber, e o Tesouro
aceita ou não essas ofertas. Os
pedidos são feitos aos bancos
contratados pelo Tesouro para

liderar a operação.

Maior liquidez. Durante a crise
gerada pela pandemia, os ban-
cos centrais e os Tesouros de vá-
rios países fizeram operações de
estímulo monetário, aumentan-
do a liquidez de recursos circu-
lando nos mercados. Isso gerou
um mundo de países mais endivi-
dado, com empresas mais endivi-
dadas e recessão. É de esperar,
portanto, que toda esta injeção
de liquidez aumente a busca por
investimentos mais atrativos,
com rentabilidade maior.
O governo viu na emissão
uma oportunidade de mostrar
que os investidores estrangeiros
continuariam com apetite pelo

Brasil, mesmo num cenário de
incertezas políticas e alastra-
mento da covid-19. Nas últimas
semanas, cresceu a preocupa-
ção dos estrangeiros com o País,
temor que chegou a ser manifes-
tado a integrantes da própria
área econômica do governo.
Nos últimos meses, a saída for-
te de estrangeiros, que vende-
ram papéis do Tesouro da dívida
interna (só em março, a venda
foi de R$ 54,59 bilhões), assus-
tou o governo, mas começa a
apresentar melhora gradual nas
últimas semanas. Ao contrário
dos títulos vendidos no merca-
do doméstico, os bônus lança-
dos no mercado internacional
não têm risco da variação cam-

bial nem de conversibilidade da
moeda.
Para o economista-chefe da
BlueLine Asset, Fabio Akira, o
movimento de captação tem
mais a ver com o interesse dos
investidores globais por ativos
que “ficaram para trás” no rally
das últimas semanas do que algo
mais específico do Brasil. “De-
pois do rally das Bolsas de países
desenvolvidos, os emerging
markets ficaram muito defasa-
dos e a liquidez continua forte”,
afirmou. Na sua avaliação, po-
rém, a “aparente” calmaria po-
lítica local ajuda nesse momen-
to, mas a percepção é de que o
fator externo tem sido prepon-
derante nessa melhora.

Demanda por papéis com prazo de vencimento de 5 e 10 anos chegou a US$ 18 bi, o que, segundo o governo, seria um sinal de interesse


dos investidores estrangeiros por títulos do País; sob impacto dos efeitos da covid-19, juros ficam acima de operação fechada em 2019


Luís Eduardo Leal
Altamiro Silva Junior


Um clima de otimismo mar-
cou ontem o mercado financei-
ro, diante da perspectiva de
reabertura econômica em di-
versos países e, no campo do-
méstico, com a leitura de inves-
tidores de que as tensões políti-
cas poderiam perder força. O
Ibovespa retomou a marca dos
93 mil pontos, enquanto o real,
ajudado pela captação externa
do Tesouro Nacional, foi pelo
segundo dia consecutivo a
moeda com melhor desempe-
nho ante o dólar em uma cesta
de 34 divisas.
O principal índice do merca-
do de ações fechou com alta de
2,15%, aos 93.002 pontos, limi-


tando as perdas no ano a
19,58%. Foi um dia com valori-
zação generalizada dos papéis,
com destaque para setores que
até agora foram “punidos” na
crise: bancos e companhias aé-
reas. Ao mesmo tempo, o dólar
à vista ficou cotado a R$ 5,09,
em baixa de 2,28%.
“Assim como no pior mo-
mento era irracional ter o Ibo-
vespa aos 60 mil pontos, agora
estamos tendo uma recupera-
ção muito rápida, favorecida
pelo fluxo em um contexto de
liquidez global. Perto dos 100
mil pontos estaríamos próxi-
mos ao que seria justo para os
preços, e a progressão tem si-
do nesta direção, mais rápido
que se pensava”, diz Rafael Be-
vilacqua, estrategista-chefe da
Levante.
Ele destaca também que atra-
sado ante outros emergentes
no ajuste anual, como Rússia,
Índia e Turquia, o mercado
acionário brasileiro começou
a mostrar recentemente um rit-
mo de recuperação mais acen-

tuado do que o destes pares.
“Caiu demais aqui, ficou mui-
to barato, e o real foi a moeda
que também mais perdeu”, diz
ele, cenário que ajuda a enten-
der o apetite de investidores.
Todo esse fôlego só foi possí-
vel por conta de movimento si-
milar nas bolsas de Nova York.
Por lá, os investidores se apega-
ram a dados menos negativos
do que o previsto, bem como a
declarações do Fundo Monetá-
rio Internacional ( que defen-
deu que os países prossigam
com estímulos) e do Federal
Reserve (Fed, banco central
dos EUA), que informou que

expandiria o número e o tipo
de entidades elegíveis, em um
programa de empréstimos pa-
ra governos municipais e esta-
duais. Em ambos os casos, o re-
sultado é o mesmo: mais dinhei-
ro circulando, o que levou o

Dow Jones a subir mais de 2%.

Dólar. No caso do dólar, o
anúncio do Tesouro Nacional
de que emitiria novos títulos no
exterior também ajudou a man-
ter as cotações sob controle. Na
avaliação de um diretor de te-
souraria, dois fatores explicam
o fortalecimento do real esta se-
mana. O primeiro é o enfraque-
cimento internacional do dólar
nos últimos dias, em função das
reaberturas bem sucedidas na
Europa e da liquidez abundante
no mercado, por conta dos estí-
mulos dos bancos centrais. O
índice DXY, que mede o com-

portamento da moeda america-
na ante divisas fortes, está nos
menores níveis desde o começo
de março, acumulando queda
de 1% somente esta semana.
O segundo fator é interno: o
menor ruído político, com a ar-
refecida do estresse, ao menos
por ora, entre o Executivo e o
Judiciário e a busca de aliança
do governo no Congresso – mo-
vimento que facilitaria a aprova-
ção de projetos de interesse do
governo.
Ainda assim, no ano o dólar
ainda sobe 27%, com a moeda
brasileira mantendo o pior de-
sempenho internacional.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


l‘Preço justo’

lRemuneração

Bolsonaro veta uso no combate à Covid de R$ 8,6 bi de fundo. Pág. B3}


DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO - 27/6/

Viés. Analistas passaram a ver sinais positivos para a Bolsa

ALÍVIO NO MERCADO

FONTE: BROADCAST INFOGRÁFICO/ESTADÃO

Dólar
EM REAIS

Ibovespa
EM PONTOS

2
JAN
2020

3
FEV

2
MAR

4
MAI

60.

80.

100.

120.

140.

4,

4,

5,

5,

6,


ABR

3
JUN

118.

4,

VARIAÇÃO NO DIA
2,15%
-2,2%

Bolsa

Dólar

93.

5,

Segundo operadores,


movimento reflete


otimismo com reabertura


na Europa e menor


tensão política no Brasil


Dólar volta a cair e


fecha a R$ 5,09; na


Bolsa, alta de 2,15%


“Perto dos 100 mil pontos
estaríamos próximos ao
que seria justo para os
preços, e a progressão tem
sido nesta direção.”
Rafael Bevilacqua
ESTRATEGISTA-CHEFE DA LEVANTE

4% ao ano
foi a taxa de retorno ao investidor
definida no lançamento dos bô-
nus com prazo de 10 anos de ven-
cimento, ante um patamar de
3,8% em operação realizada pelo
Tesouro em novembro passado.
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