O Estado de São Paulo (2020-06-04)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:A-2:20200604:
A2 Espaçoaberto QUINTA-FEIRA, 4 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






Quando os especialistas reco-
mendam o uso de máscaras,
uma distância de pelo menos
1,8m entre as pessoas, lavar as
mãos com frequência e evitar
espaços fechados, o que estão
dizendo na verdade é: tente
minimizar a intensidade da
sua exposição ao vírus.
Uma quantidade pequena


de partículas virais não fará vo-
cê adoecer — o sistema imuno-
lógico as eliminaria antes que
causassem algum estrago.
Mas qual é a intensidade da ex-
posição ao vírus necessária pa-
ra a infecção? Qual seria sua
menor dose efetiva?

http://www.estadao.com.br/e/virus

A


vança no Congresso
Nacional um projeto
de lei para combater
fake news. Claro que todo
mundo é contra a mentira e a
favor da verdade, mas equa-
cionar essa matéria por meio
de um diploma legal pode não
ser tão simples. Ao contrário,
pode nos desviar para um des-
filadeiro traiçoeiro, de cami-
nhos minados. Basta ver que,
enquanto se discute o projeto
de lei, a CPMI das Fake News
pega fogo. Em outro prédio
ali perto, no Supremo Tribu-
nal Federal (STF), o inquéri-
to sobre as mesmas fake news,
as mesmíssimas, faz a tempe-
ratura subir ainda mais. Ago-
ra as investigações chegam
perto do tal “gabinete do
ódio”, um suposto órgão semi-
clandestino que, sob coman-
do de gente próxima ao presi-
dente da República, espalha
calúnias contra desafetos do
bolsonarismo.
Nesse ambiente inflamável,
o debate do projeto de lei não
flui. O texto não para de so-
frer alterações. As votações
são adiadas e remarcadas. Pa-
ra complicar, tudo está de per-
nas para o ar – tudo, principal-
mente os argumentos. Defen-
sores históricos das liberda-
des democráticas são acusa-
dos de censores, em mais uma
saraivada de ofensas odiosas.
Do outro lado, os milicientos
do fascismo animalesco –
aqueles mesmos que difamam
artistas, professores, cientis-
tas e jornalistas, os mesmos
que idolatram a ditadura mili-
tar, os mesmos que se fanta-
siam de Ku Klux Klan do cerra-
do e carregam tochas em ri-
tuais noturnos para pedir o fe-
chamento do STF – invocam
para si a “liberdade de expres-
são”. Carregam faixas com os
dizeres “fake news não é cri-
me” – como se todo mundo
aqui não soubesse que, mais
do que crime, são um verda-
deiro festival de tipos penais.
Os milicientos invocam
em vão o nome da liberdade
para pleitear impunidade.
Querem atentar à vontade
contra a República e a Consti-
tuição. Na novilíngua que

adotaram, “liberdade” quer
dizer impunidade para eles,
assim como a “democracia”
deles quer dizer ditadura pa-
ra todos os demais.
Com berros irracionais des-
se tipo, negociar um diploma
legal se converte numa role-
ta-russa. O processo legislati-
vo pede racionalidade e pru-
dência. Nenhuma boa deci-
são brotará da correria. Por is-
so os mais sensatos vêm reco-
mendando que, se há alguém
bem-intencionado por trás
do projeto de lei, esse alguém
deveria conter o passo, dialo-
gar com a universidade e ava-
liar com responsabilidade co-
mo é que pode funcionar – e
se pode funcionar – uma lei
contra a mentira. A matéria
pede calma. Se o Direito posi-
tivo servisse para banir as in-
verdades deste mundo, a
Constituição federal poderia

resumir-se a um único artigo,
“é proibido mentir”, e tudo
estaria resolvido.
Acontece, nós sabemos,
que nada estaria resolvido.
Um artigo nesses termos,
além de cômico, seria vazio,
cairia na ineficácia absoluta.
O que é a mentira? O que é
“mentir”? A resposta não ca-
be dentro dos domínios da
técnica legislativa. Não por
acaso, um dos gargalos do pro-
jeto das fake news acabou sen-
do precisamente a impossibili-
dade de definir um tipo espe-
cífico de mentira: a “desinfor-
mação”. O ímpeto legiferante
(ou legifobético) não capta o
sentido da palavra “desinfor-
mação” e sem captá-lo não
consegue caminhar.
A pesquisadora Claire
Wardle, líder e fundadora do
projeto First Draft, ajuda-nos
a entender essa palavra. Ela
sintetizou sete categorias,
apenas sete, e com elas classi-
ficou os “conteúdos” que sa-
botam o conhecimento dos fa-
tos. No centro de gravidade

dessas sete categorias Claire
desenhou o conceito de “de-
sinformação”. A partir do pen-
samento dela, mas indo um
pouco além, podemos traçar
a definição que nos interessa
e nos falta: a “desinformação”
constitui uma novíssima mo-
dalidade de mentira industria-
lizada (fabricada em redes
complexas de trabalho organi-
zado), envolvendo recursos
de monta e equipamentos ul-
tramodernos, com foco nas re-
des sociais e com a intenção
(dolo) de violar direitos das
outras pessoas para obter van-
tagens (indevidas) políticas
ou econômicas.
Usurpando as plataformas
sociais, a indústria da desin-
formação (que inclui as fake
news, mas não se resume a
elas) tem alcance incompara-
velmente superior ao da im-
prensa. Essa forma contempo-
rânea de mentira massiva e
poderosa infecta como um ví-
rus os organismos da demo-
cracia. A desinformação indus-
trializada – cada vez mais a
serviço quase que exclusivo
das falanges de extrema direi-
ta – corrói os meios legítimos
de que dispomos para regis-
trar aquilo que Hannah
Arendt definiu como “verda-
de factual”.
Como se vê, não precisa-
mos de uma resposta definiti-
va sobre a natureza da menti-
ra ou da verdade na Filosofia
para entender o estrago causa-
do pela desinformação. Bas-
ta-nos entender o valor da ver-
dade dos fatos, essa pequena
forma de verdade cotidiana,
simples, que todos percebe-
mos. Onde vigora a desinfor-
mação, a sociedade perde a ca-
pacidade coletiva de consta-
tar e nomear os fatos – e quan-
do essa capacidade se dissol-
ve, a política fica inviável e a
democracia, impossível.
O problema é grave, mas
uma lei improvisada não vai
resolvê-lo. Antes de legiferar,
deveríamos pensar mais, deba-
ter mais, informar mais.

]
JORNALISTA, PROFESSOR
DA ECA-USP

Cães podem ficar doentes. É
necessário prevenir com vaci-
nas e roupas quentinhas.

http://www.estadao.com.br/e/pets

COVID-


Quanto fomos expostos ao vírus?


As marchas que partem do
Barclays e percorrem o bair-
ro injetaram nova energia
no grupo, com vizinhos ba-
tendo palmas nas janelas.

http://www.estadao.com.br/e/brooklyn

l“Eles precisam de pessoas infectadas para testar. Nada ‘melhor’ que
um país onde há recorde atrás de recorde de mortes e infecções.”
DANIELA GRACIOLI

l“Orgulho de quem luta pelo Brasil: cientistas que trabalham incansa-
velmente para achar a cura, enquanto o presidente faz manifestações.”
VIVYANE MACHADO

l“Essa é a vantagem de ter um presidente que exerce grande influên-
cia nos países desenvolvidos.”
VALMIR MELO

l“Como aqui é o novo epicentro da covid-19, seja bem-vinda vacina!
Que dê tudo certo!”
FLÁVIO SARTORELLO

INTERAÇÕES

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

O lutador de UFC manifes-
tou-se nas redes sociais con-
tra o ódio e a ganância. Publi-
cação não menciona atos
antirracistas nos EUA.

http://www.estadao.com.br/e/anderson

Espaço Aberto


O


produto interno bruto
(PIB) do Brasil caiu
1,5% no primeiro tri-
mestre de 2020, relativamen-
te ao último trimestre de



  1. Essa queda veio do im-
    pacto da covid-19 na econo-
    mia, desde a segunda quinze-
    na de março último. Como,
    em números redondos, cada
    trimestre tem seis quinzenas,
    bastou esse impacto em ape-
    nas uma, a última, para levar
    a esse mau resultado do PIB,
    que deverá ser bem mais forte
    no trimestre corrente, o se-
    gundo, todo ele afetado. Isso
    é confirmado por indicadores
    de produção, emprego e de-
    semprego, que já alcançaram
    o mês de abril e mostraram
    péssimos resultados.
    Tal perspectiva também sus-
    tenta previsões correntes de
    que o PIB poderá chegar no
    fim do ano a uma queda anual
    superior a 6%. Na melhor das
    hipóteses, o início da recupe-
    ração só viria no terceiro tri-
    mestre, mas dependendo da
    evolução dos efeitos da covid-
    19, sujeita a muitas incertezas
    Com números próximos de
    mil mortes por dia, conforme
    dados em média móvel de se-
    te dias publicados ontem pelo
    jornal Financial Times, o Bra-
    sil e os Estados Unidos são os
    países que hoje apresentam
    maior número de falecimen-
    tos. Mas esse número não é re-
    corde, pois este se verificou
    há cerca de um mês, quando
    os Estados Unidos alcança-
    ram 2 mil mortes por dia. Le-
    vando em conta o número de
    mortes por milhão de habitan-
    tes, no Brasil está perto de 5,
    suplantado de perto por Itá-
    lia, Suécia e Reino Unido. No
    passado esse número ficou
    em torno de 20 na Bélgica e
    na Espanha. O do Brasil havia
    se estabilizado nos últimos
    dez dias, mas ontem houve
    um pequeno avanço, não se
    podendo afirmar que o pico
    da doença já tenha sido atingi-
    do. Alcançado ou não, a pers-
    pectiva é de que vamos convi-
    ver com ela por bastante tem-
    po. Por motivos explicados
    no meu último artigo neste es-
    paço, nossa capacidade de en-


frentá-la é frágil.
Preocupado também com a
saúde da economia, de onde
vêm os impostos, tomei posi-
ção por uma liberação contro-
lada e diferenciada por ativi-
dades específicas, por municí-
pios, e com protocolos que
contemplem equipamentos e
serviços de proteção indivi-
dual, distâncias mínimas en-
tre pessoas em locais fora de
casa, e que elas sejam frequen-
temente testadas para saber
se houve contágio ou não. Ve-
jo que se fala muito de respira-
dores e UTIs, mas a testagem
ainda é muito restrita, e é fun-
damental para conter a expan-
são da doença.
Como a economia também
adoeceu, ela precisa de remé-
dios. No plano macroeconô-
mico, podem vir de duas
áreas: a do orçamento do go-
verno, ou fiscal, e a monetária

e creditícia, de competência
do Banco Central (BC). A si-
tuação fiscal do governo já
era grave antes da covid-19 e
os gastos orçamentários en-
volvidos na guerra contra ela
tornaram essa situação ainda
pior, levando a um forte au-
mento da dívida. Mas esse au-
mento precisa ser contido,
pois pode levar a um desastre
se o mercado financeiro relu-
tar em dar crédito adicional
ao governo, ou o fizer a um
custo que complique ainda
mais a situação fiscal. Isso po-
deria levar também a uma cri-
se cambial, que geraria infla-
ção, complicando ainda mais
a situação.
Como a dívida é medida co-
mo proporção do PIB, essa
proporção poderá ser aliviada
se este cair menos ou iniciar
uma recuperação. Como fa-
zer? Em face das enormes difi-
culdades fiscais, a política mo-
netária precisa ser usada com
maior vigor. O governo criou
um enorme pacote creditício,
algo superior a R$ 1 trilhão,

mas de impacto limitado pe-
los bancos, que não estão mui-
to a fim de expandir crédito
em condições de risco amplia-
do. E, salvo poucas exceções,
mantêm a sua velha prática de
cobrar spreads que elevam
muito o custo para o tomador.
Foi por isso que desde mea-
dos do ano passado passei a
sugerir a adoção, pelo BC, de
uma política de aquisição de
títulos privados, como hipote-
cas imobiliárias, debêntures e
créditos do BNDES, para irri-
gar o sistema creditício com
novos recursos para expandir
esses financiamentos, num
procedimento que crescente-
mente vem sendo adotado
por bancos centrais de vários
países, conhecido internacio-
nalmente como quantitative
easing, ou QE, e aqui como
afrouxamento monetário. Hi-
potecas imobiliárias, debêntu-
res e créditos do BNDES co-
bram juros bem mais razoá-
veis, algo como entre 5% e
10% ao ano. (Atenção, escrevi
ao ano!) No Brasil ainda se
praticam taxas que alcançam
5% ou mesmo 10% ao mês,
até mais.
O BC finalmente optou por
esse caminho, mas foi preciso
uma emenda constitucional
para lhe dar poderes para tan-
to. Aprovada no início do mês
passado, trouxe também com-
plicações para o QE, mas não
vi uma atuação do BC no Con-
gresso no sentido de eliminá-
las e imaginei que talvez ele
soubesse superá-las.
Nessa linha, logo depois
veio uma boa notícia, que não
vi na imprensa brasileira: foi
na edição de 8 de maio do ci-
tado jornal, que entrevistou o
presidente do BC, Roberto
Campos Neto, sobre a ado-
ção do QE no Brasil. Ele afir-
mou que também iria com-
prar empréstimos hipotecá-
rios e debêntures, mas não
disse quando.
É a pergunta que fica.

]
ECONOMISTA (UFMG, USP E
HARVARD), PROFESSOR SÊNIOR
DA USP. É CONSULTOR ECONÔMICO
E DE ENSINO SUPERIOR

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)

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Por dentro de um
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]
Roberto Macedo


Tema do dia


Após recorde em maio, espe-
cialistas dizem que tendên-
cia da moeda é de queda.

http://www.estadao.com.br/e/dolar

Forte queda do PIB


agrava saúde da economia


Banco Central vai
comprar empréstimos
hipotecários
e debêntures

O que é


desinformação?


O problema é grave,
mas uma lei
improvisada não
vai resolvê-lo

AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
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    LOCALIDADES E CONDIÇÕES SOB CONSULTA.
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Vacina de Oxford


contra covid-19 será


testada em brasileiros


Dois mil voluntários receberão doses
em SP e RJ; esta é a vacina em estágio
de testes mais avançado no mundo

]
Eugênio Bucci

RAPHAEL ALVES/EFE SPIDER

No estadao.com.br


FRIO

Quais os cuidados
com pets no inverno?

E-INVESTIDOR

Dólar chega perto de
R$ 5. Vai cair mais?
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