O Estado de São Paulo (2020-06-04)

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O ESTADO DE S. PAULO QUINTA-FEIRA, 4 DE JUNHO DE 2020 Economia B3


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Luci Ribeiro / BRASÍLIA


O presidente Jair Bolsonaro
sancionou lei que extingue o
fundo de reservas monetá-
rias formado pelas receitas
do Imposto sobre Operações
Financeiras (IOF), que tem
cerca de R$ 8,6 bilhões, mas
vetou o repasse desses recur-
sos para o combate ao novo
coronavírus nos Estados. A
decisão foi publicada na edi-
ção de ontem do Diário Ofi-
cial da União.
A destinação do dinheiro ti-
nha sido aprovada em maio pe-
lo Congresso Nacional, duran-
te a análise de medida provisó-
ria editada por Bolsonaro que
extinguiu o fundo.
Os itens vetados previam
que neste ano, em vez de ficar
com o Tesouro Nacional, os R$
8,6 bilhões seriam repassados
integralmente aos Estados, Dis-
trito Federal e municípios para
ações de prevenção à propaga-
ção do novo coronavírus.
Segundo o governo, ao fazer
essa mudança, o dispositivo
“inova e veicula matéria diversa
do ato original, em violação aos
princípios da reserva legal e do
poder geral de emenda”. Diz ain-
da que foi criada despesa obriga-
tória ao poder público sem con-
ter o demonstrativo do respecti-
vo impacto orçamentário e fi-
nanceiro no exercício corrente
e nos dois subsequentes, o que
violaria regras constitucionais.
O Banco Central, que era o
responsável pelo fundo, infor-
mou ainda em dezembro, quan-
do a MP foi editada, que a extin-
ção do fundo levaria a uma
transferência dos R$ 8,6 bi-
lhões à conta única da União. A
cifra aparece na exposição de
motivos da MP enviada ao Legis-
lativo na época.
O conteúdo inicial da medida
provisória, que deu origem à lei,
previa que o dinheiro fosse utili-
zado para pagar a dívida pública
federal. Diante da pandemia de
coronavírus, os parlamentares
decidiram mudar a destinação
do recurso para o enfrentamen-
to da doença. Com o veto presi-
dencial, a verba fica, em princí-
pio, sem destinação.
O presidente sancionou ape-
nas a parte da lei que extingue o
fundo, que já estava inativo.
Criado em 1966, o FRM era
abastecido com reservas do Im-
posto sobre Operações Finan-
ceiras (IOF), usadas para inter-
venção nos mercados de câm-


bio e na assistência a bancos e
instituições financeiras.
O fundo estava sem receber
aportes desde 1988, quando
houve uma alteração na legisla-
ção, mas continuou a ser usado
para socorrer instituições. Em
2000, a Lei de Responsabilida-
de Fiscal vedou o uso de dinhei-
ro público para ajudar entida-
des financeiras.
O Tribunal de Contas da
União (TCU) chegou a determi-
nar que o governo buscasse
uma solução para o fundo. Ago-
ra, cabe ao Congresso analisar o
veto presidencial, que poderá

ser mantido ou derrubado. Não
há ainda previsão de quando a
questão será analisada pelos
parlamentares.

‘Surpresa’. Ao ser questiona-
do a sobre o veto, o presidente
da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), disse ter ficado sur-
preso com a decisão de Bolsona-
ro. “A informação que eu tinha
dos deputados era que tinha
ocorrido um acordo, inclusive
para a destinação desses recur-
sos. De fato, surpreendeu o ve-
to do governo em relação a es-
ses R$ 8,6 bilhões. É um direito

do presidente. Cabe ao Parla-
mento chamar uma sessão do
Congresso e decidir pela manu-
tenção ou derrubada do veto”,
disse o deputado.
Durante a tramitação na Câ-
mara e no Senado, o projeto ha-
via sido aprovado com grande
consenso. Entre os deputados,

a votação tinha sido simbólica
(sem o registro de votos no pai-
nel eletrônico), modalidade usa-
da geralmente quando há acor-
do sobre o teor da matéria.
Já no Senado, a aprovação ha-
via sido unânime, com 75 votos
a favor do texto. / COLABOROU CA-
MILA TURTELLI

Adriana Fernandes / BRASÍLIA


Dezessete dos 27 Estados e o
Distrito Federal já assinaram de-
claração de que abrem mão de
ações contra a União para ter
direito ao socorro de R$ 60 bi-
lhões em repasses diretos aos
governadores para o enfrenta-
mento da covid-19.
No caso das prefeituras, 82%
dos 5.570 municípios já assina-
ram a declaração. O balanço é
de terça-feira e tem sido feito
para acompanhar a liberação do
dinheiro.
A lei, aprovada pelo Congres-
so no dia 6 de maio, dá dez dias
após a sua sanção para os Esta-
dos e municípios renunciarem
às ações que foram ajuizadas


contra a União depois de 20 de
março e relacionadas à covid-


  1. Com a crise, houve uma chu-
    va de liminares na Justiça para a
    suspensão de dívida.
    O governo continua tendo co-
    mo previsão a próxima segun-
    da-feira para o pagamento da


primeira parcela, quando será
feita a ordem de transferência.
O dinheiro entra no caixa dos
governos regionais no dia se-
guinte. “Liberando dia 9 (terça-
feira da semana que vem) é uma
data próxima. O que demorou
mesmo foi a sanção”, criticou

ontem o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (DEM-RJ).
A lei demorou para ser sancio-
nada em meio a polêmica em
torno dos vetos do presidente
Jair Bolsonaro ao artigo que tra-
tava do congelamento dos salá-
rios dos servidores da União, Es-
tados e municípios até dezem-
bro de 2021.

Teto de gastos. Para o diretor
da secretaria especial de Fazen-
do Ministério da Economia,
Bruno Funchal, foi de extrema
importância a aprovação da lei
com artigo que proíbe a criação
de despesas obrigatórias de ca-
ráter continuado durante esse
período. Na sua avaliação, a me-
dida dá mais segurança para o
teto de gastos, regra que impe-
de a criação de despesas acima
da inflação.
“É uma contribuição pelo la-
do das despesas, que mais au-
mentou para resolver o proble-
ma atual da pandemia. Isso per-
mite uma melhor alocação de

recursos e prepara para o pós-
crise com controle de despe-
sas”, disse Funchal.
A medida, segundo ele, reduz
o risco de criação de algum tipo
de despesa que não seja compor-
tada dentro do Orçamento da
União, como aconteceu com a
ampliação do Benefício de Pres-
tação Continuada (BPC) pelo
Congresso. Depois da votação,
o mercado reagiu com aumento
de juros, do dólar e do risco
país.
O diretor também destacou
como positivo o artigo que anu-
la aumento de despesas de pes-
soal, cujas parcelas ultrapas-

sem o mandato do atual gover-
nante. Essa regra será perma-
nente e acabará com uma práti-
ca muito comum no País.

Divisão. O auxílio financeiro
de R$ 60 bilhões será dividido
em quatro parcelas iguais ao
longo deste ano. Estados, Distri-
to Federal e municípios deve-
rão aplicar R$ 10 bilhões para
ações de saúde e assistência so-
cial. Desse total, os governado-
res ficam com R$ 7 bilhões. Essa
fatia deve ser usada para o paga-
mento de profissionais que
atuam no Sistema Único de Saú-
de (SUS) e no Sistema Único de
Assistência Social (Suas). A dife-
rença de R$ 3 bilhões fica com
os prefeitos. O dinheiro tam-
bém pode ser usado para o paga-
mento dos profissionais que
atuam no SUS e no Suas e será
distribuído de acordo com a po-
pulação de cada cidade.
Dos R$ 50 bilhões restantes,
Estados e Distrito Federal fi-
cam com R$ 30 bilhões. Os mu-
nicípios dividem a diferença de
R$ 20 bilhões, de acordo com o
tamanho da população./
COLABOROU CAMILA TURTELLI

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


lAções de saúde

Estados abrem mão de ações contra União por socorro


Auxílio pode ter


mais 2 parcelas,


diz presidente


Centrão apoia Super Refis que permite parcelar dívidas com desconto de até 90%. Pág. B5 }


lReação

MARYANNA OLIVEIRA/CÂMARA DOS DEPUTADOS

Pagamento da 1ª parcela


dos R$ 60 bi deve ser


feita dia 8; 17 dos 27


Estados e DF


assinaram o acordo


R$ 10 bi
é o valor que Estados, Distrito
Federal e municípios deverão
aplicar em ações de saúde e
assistência social, sendo que go-
vernadores ficarão com R$ 7 bi

Prazo. Para Rodrigo Maia, sanção do projeto demorou

Julia Lindner / BRASÍLIA

O presidente Jair Bolsonaro afir-
mou que o governo pode autori-
zar pelo menos mais duas parce-
las do auxílio emergencial desti-
nado a trabalhadores informais
durante a pandemia do novo co-
ronavírus. O valor, segundo ele,
ainda está em avaliação, mas de-
ve ser menor do que os R$ 600
das três parcelas anteriores.
“O próprio auxílio emergen-
cial de R$ 600 (...), está quase
certo a quarta e quinta parcela,
de valores menores um pouco,
que está sendo ajustado pelo Mi-
nistério da Economia”, disse
Bolsonaro a apoiadores na noi-
te de terça-feira.
Depois, em conversa com jor-
nalistas, o presidente repetiu
que há duas novas parcelas
“acertadas” com o ministro da
Economia, Paulo Guedes. “Fal-
ta definir aí o montante. E va-
mos esperar que até lá os outros
governadores entendam o que
seja melhor para o seu Estado e
adotem medidas para voltar aí o
povo a trabalhar.”
Bolsonaro também disse que
Guedes quer retomar a propos-
ta da Carteira Verde e Amarela,
que flexibiliza os contratos de
trabalho.
“É uma forma de reaquecer o
emprego no Brasil. A gente não
pode acabar com o auxílio emer-
gencial e não ter algo já de con-
creto na praça para atender mi-
lhões de pessoas, em especial
da informalidade”, justificou o
presidente.

LEOPOLDO SILVA/AG. SENADO–7/5/2020

Bolsonaro veta


uso de R$ 8,6 bi de


fundo contra covid


“É um direito do presidente.
Cabe ao Parlamento decidir
pela manutenção ou
derrubada do veto.”
Rodrigo Maia (DEM-RJ)
PRESIDENTE DA CÂMARA

Destinação dos recursos tinha sido aprovada em maio pelo


Congresso; presidente da Câmara fala em ‘surpresa’ com decisão


Congresso. Recursos iriam integralmente para ações de prevenção à propagação da covid-19
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