O Estado de São Paulo (2020-06-04)

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O ESTADO DE S. PAULO QUINTA-FEIRA, 4 DE JUNHO DE 2020 Economia B9


Negócios

Letícia Ginak


Desde o início da quarentena,
as redes sociais se tornaram o
grande canal de comunicação e
também de vendas de peque-
nos empreendedores. O Face-
book (detentor do WhatsApp e
do Instagram) registrou cresci-
mento de 20 milhões de empre-
sas utilizando ao menos um de


seus aplicativos em todo o mun-
do, passando de 140 milhões pa-
ra 160 milhões na pandemia.
No Brasil, segundo o Sebrae,
29% dos pequenos empresários
passaram a vender pelas redes
sociais, sendo que 8% entraram
em comunidades de interesse
dos clientes para vender mais.
Os dados são reflexo da digita-
lização dos negócios em tem-
pos de pandemia, segunda gran-
de demanda das PMEs na crise,
atrás apenas de como conse-
guir crédito, diz o Sebrae. Uma
pesquisa do Facebook realiza-
da pelo Ipsos mostra que, sepa-
radamente, WhatsApp (92%),
Instagram (89%) e Facebook
(86%) ocupam as primeiras po-
sições em importância para os
negócios atualmente.
No entanto, estar na internet
não é algo simples e pode até ser

novidade para alguns empreen-
dedores. Para facilitar a capaci-
tação em meio digital e propor-
cionar uma inserção estratégi-
ca, Sebrae e Facebook acabam
de firmar um convênio de coo-
peração técnica, por meio do
programa Impulsione com Fa-
cebook, que já capacitou mais
de 80 mil pequenos empreende-
dores desde o ano passado.
Consultores do Sebrae farão
imersão nas plataformas do Fa-
cebook para entender os recur-
sos de marketing digital dos
aplicativos. Assim, quando um
empreendedor se consultar no
Sebrae, os profissionais estarão
aptos para tirar dúvidas e aju-
dar na inserção digital do em-
preendedor. O Sebrae entra
com a sua capilaridade (18 mil
postos em todo o País e média
diária de 220 mil pessoas em li-

ves) e expertise para ajudar o
empreendedor na conversão de
vendas originadas pelos anún-
cios e postagens da empresa.

“As empresas estão migran-
do para esses canais, e muitos
têm dificuldades em entender
as ferramentas. Não conhecem

os mecanismos de buscas”, diz
César Rissete, gerente de com-
petitividade do Sebrae. “A inser-
ção digital deve ser parte da es-
tratégia não só na pandemia,
mas para o futuro da empresa.”
Para Denis Caldeira, diretor
de pequenas e médias empre-
sas do Facebook na América La-
tina, é preciso fazer com que o
empreendedor saiba contar a
sua história. “Uma das princi-
pais dificuldades dos donos de
pequenos negócios é o funil de
venda, ou seja, entender a jorna-
da do seu cliente. Uma vez que
você passa a sua identidade co-
mo negócio, você se conecta
com a audiência. E essas cone-
xões reais são as responsáveis
por gerar vendas.”
Além dos recursos gratuitos
para as PMEs (WhatsApp for
Business, Loja do Instagram,
Lojas do Facebook e Horas Mar-
cadas), o Facebook disponibili-
za uma central de atendimento
para os empreendedores.

Cresce 14% número de empresas em apps do Facebook


ENTREVISTA


Giovana Girardi


O anúncio de uma página intei-
ra nos principais jornais do
País, na semana passada, de en-
tidades do agronegócio, da in-
dústria, da construção civil e
do comércio em apoio ao minis-
tro do Meio Ambiente, Ricardo
Salles, não caiu bem no agrone-
gócio e pode ter tido um efeito
contrário ao desejado.
A opinião é de Marcello Bri-
to, presidente da Associação
Brasileira de Agronegócio (A-
bag), entidade que não assinou
a nota. Com o título “No meio
ambiente, a burocracia tam-
bém devasta”, foi uma respos-
ta a outro anúncio, também de
uma página, publicado dias an-
tes por organizações ambienta-
listas. Elas pediam a saída de
Salles do ministério em razão
de suas falas na reunião minis-
terial do dia 22 de abril.
Na ocasião, Salles declarou
que é preciso aproveitar a
“oportunidade” que o governo
federal ganha com a pandemia
do novo coronavírus (e a cober-
tura da imprensa focada na co-


vid-19) para “ir passando a boia-
da e mudando todo o regramen-
to e simplificando normas”.
Ele também afirmou que era
“hora de unir esforços pra dar
de baciada a simplificação”.
O anúncio em apoio a Salles
recebeu uma enxurrada de
críticas. Empresas representa-
das por algumas das entidades
signatárias, como Avon, Natu-
ra, Beach Park e até Turma da
Mônica disseram não concor-
dar com as declarações. A Asso-
ciação Brasileira da Indústria
de Higiene Pessoal, Perfuma-
ria e Cosméticos (Abihpec)
acabou retirando seu apoio.
Em entrevista, Brito, que tam-
bém é cofacilitador da Coalizão
Brasil Clima, Florestas e Agricul-
tura, disse que a “questão da
desburocratização é pauta há
30 anos”, mas que não deve ser
da forma exposta por Salles.
“Não precisa passar coisas de
baciada. Pega mal para o agro.”

lComo o anúncio de entidades
apoiando o ministro Ricardo Sal-
les caiu no meio do agronegócio?
A questão de desburocratiza-
ção é a pauta há 30 anos. Ago-
ra: é daquela forma? Não. Nós
mudamos a previdência de for-
ma transparente. Não precisa
passar as coisas de baciada. En-
tão pegou mal. Pega mal para o
agro. E veja bem. Não era a mi-
nistra da Agricultura que esta-

va falando, era o ministro do
Meio Ambiente. Tem um pro-
cesso meio maluco nisso aí.
Mas quando se olha a nota, é

basicamente o setor de cons-
trução civil e imobiliário dan-
do apoio. Nacional do agro, de
relevância, tem Aprosoja, Abra-

frigo (dos frigoríficos), Abra-
frutas e SRB (Sociedade Rural
Brasileira). E a Única (produto-
res de cana-de-açúcar).

lE a CNA?
Eu não vou considerar a CNA
(Confederação Nacional da
Agricultura e Pecuária do Bra-
sil)... Porque CNA, CNI (indús-
tria), CNS (serviços) e CNC
(comércio de bens, serviços e
turismo) são confederações to-
cadas com dinheiro de renún-
cia fiscal do governo. Nunca vi
nenhuma dessas confedera-
ções contrárias a qualquer po-
sição de governo ora no poder.

lQual é o impacto?
Acho que o resultado dessa no-
ta foi o contrário do esperado.
Foi ruim para as associações
que se dispuseram a assinar e
para as empresas que fazem
parte dessas associações. Isso
nos relembrou que somos asso-
ciações de defesa do setor no
que tange às leis e às relações
comerciais e sociais. Não cabe
às associações entrarem em
embate político ou em apoio a
esse ou àquele governo. Na
Abag, apoiamos o agronegócio
legal, moderno, contemporâ-
neo, e discutimos com todos
os governos a melhoria deles.
Razão pela qual não assinamos
a nota. Mas acho que o contex-
to geral da representação do

agro sai mais fortalecido.

lEm razão de quem não assinou?
A nota diz mais por quem não
assinou. A assinatura da SRB
provocou um racha. A Única e
Aprosoja são alinhadíssimas
com esse governo desde o co-
meço. Então não causa surpre-
sa. A Abrafrigo também. Dos
10 produtos em que o Brasil es-
tá entre os top 3 do mundo de
produção e exportação tem só
tem a Única e a Aprosoja assi-
nando a nota. Abiec (das indús-
trias exportadoras) não está lá,
ABPA (proteína animal), Abag,
Cecafé (exportadores de café),
BR-Citrus (exportadores de su-
cos cítricos). Essa guerra de
narrativas é algo tão de propa-
ganda... não deveria mais estar
acontecendo em 2020.

lO sr. se refere também ao
anúncio das ONGs pedindo a saí-
da de Salles? Acho que os dois
lados. É lamentável que o Bra-
sil esteja tão dividido. Está na
hora de as grandes empresas,
de os grandes nomes desse
País, de as grandes associações
sentarem com maturidade,
analisar o quadro e repensar
como estamos tratando nosso
País. Estamos quase nos trans-
formando em um pária interna-
cional. Precisamos identificar
como sair desse buraco que
nós mesmos cavamos.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


‘Não precisa passar as coisas de baciada’


Presidente da Abag diz que


desburocratização é pauta


no agronegócio há anos,


mas que não deve ser feita


como sugeriu ministro


TABA BENEDICTO / ESTADÃO - 02/10/2019

Brasil. ‘Precisamos sair do buraco que cavamos’, diz Brito

Marcello Brito, presidente da Abag


DIEGO PADILHA

Capacitação. Programa do Facebook ficou 100% digital

160 milhões de negócios


em todo o mundo usam


Facebook, WhatsApp ou


Instagram; grupo faz


parceria com o Sebrae

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