O Estado de São Paulo (2020-06-04)

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H2 Especial QUINTA-FEIRA, 4 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


SONIA RACY


DIRETO DA FONTE


Luiz Zanin Oricchio


A Mostra Ecofalante de Cinema
realiza sua 9.ª edição em agosto



  • se a pandemia permitir, é cla-
    ro. Mas, durante a quarentena,
    e lembrando a Semana do Meio
    Ambiente, o evento lança, co-
    mo aperitivo, uma seleção de
    cinco filmes que tratam da ques-
    tão ambiental. Estarão acessí-
    veis, até a terça, dia 9, na plata-
    forma Videocamp
    (www.videocamp.com)
    Os filmes são Ruivaldo, o Ho-
    mem que Salvou a Terra, de Jor-
    ge Bodansky e João Farkas; Ama-
    zônia Sociedade Anônima, de Es-
    têvão Ciavatta, A Grande Mura-
    lha Verde, de Jared P. Scott, O
    Golpe Corporativo, de Fred Pea-
    body, e Ebola: Sobreviventes, de
    Arthur Pratt.
    A mostra inicia com Ruivaldo,
    o Homem que Salvou a Terra.
    Conta a saga do personagem-tí-
    tulo, fazendeiro do Pantanal
    em sua luta para salvar suas ter-
    ras do alagamento causado pe-
    lo assoreamento do Rio Taqua-
    ri, no Mato Grosso do Sul.
    Com imagens belas, porém
    terríveis, o filme mostra o de-
    sastre ambiental que pode des-
    truir o paraíso ecológico do
    Pantanal. No início ficam meio
    em suspenso as causas da tragé-
    dia, afinal provocadas por um
    rio entupido como uma artéria
    doente e que não pode mais cir-
    cular suas águas. Alaga e assim
    transforma em charco tudo o
    que antes era vida em suas mar-
    gens. Mais tarde, liga-se efeito
    à causa e descobre-se que a ori-
    gem do problema reside rio aci-
    ma, na utilização predatória do
    solo pelo agronegócio.
    O outro brasileiro da Mos-
    tra é Amazônia Sociedade Anôni-
    ma, que entra na plataforma às
    17h de sexta-feira, 5. Atenção:
    este fica disponível por apenas
    24 horas. E é filme para não
    perder. Tem como foco a resis-


tência dos indígenas Sawré
Muybu, que promoveram uma
autodemarcação de suas ter-
ras como forma de barrar a in-
vasão dos madeireiros. O tra-
balho dribla um dos proble-
mas recorrentes do cinema
ambiental, a falta de contex-
tualização política. Aqui, pelo
contrário, mostra-se como o
processo de grilagem das ter-

ras se resolve em escritórios
de ar refrigerado, entre senho-
res que falam em milhões em
dólares como se fossem troca-
dos. Isso porque, ao longo do
filme, ouvimos trechos de
uma gravação da Polícia Fede-
ral, que desvenda os mean-
dros da negociação ilegal de
terras no país. O desmatamen-
to é um grande e milionário ne-

gócio – e, por isso, é tão difícil
combatê-lo. Alguns depoimen-
tos, ao vivo, ostentam o cinis-
mo de alguns poderosos grilei-
ros locais. Um deles se desta-
ca, colocando para a câmera a
seguinte questão: “Será que as
futuras gerações gostariam
mesmo que nós preservásse-
mos a floresta amazônica? Se-
ria como defender a preserva-

ção dos dinossauros”. Precisa
comentar?
O Golpe Corporativo, Fred Pea-
body (vencedor do Emmy), co-
produção entre EUA e Canadá,
sugere que a origem da destrui-
ção ambiental deve ser buscada
na distopia política de um mun-
do controlado por corporações
e lobistas. A erosão da democra-
cia, com tipos co-
mo Trump e seu
discípulo Bolso-
naro à frente, só
pode mesmo ter
a destruição do
planeta como
consequência ló-
gica.
Em tempos de covid-19, ga-
nha atualidade Ebola: Sobrevi-
ventes, de Arthur Pratt. O longa
trata da epidemia em países afri-
canos, tendo por foco alguns
personagens de um dos países
atingidos, Sierra Leoa. Em parti-
cular, um menino, uma enfer-

meira e um motorista de ambu-
lância. Filme comovente, po-
rém lúcido, que mostra a explo-
siva interação entre doença e
miséria, coisa que conhecemos
muito bem no Brasil.
A Grande Muralha Verde, de
Jared Scott, com produção exe-
cutiva do brasileiro Fernando
Meirelles (diretor de Cidade de
Deus), mostra o
ambicioso proje-
to de constru-
ção de um “mu-
ro” verde. Oito
mil quilômetros
de árvores, atra-
vessando Sene-
gal, Mali, Nigé-
ria, Níger e Etiópia, para ten-
tar barrar a degradação do so-
lo africano e servir como lega-
do às gerações futuras. Ga-
nhou o prêmio do público co-
mo melhor documentário na
Mostra de Cinema de São Pau-
lo do ano passado.

‘REALIDADE SUPERA


A FICÇÃO SEMPRE’


SÉRIE

Em meio à pandemia da co-
vid-19, Cláudio Torres, da
Conspiração, conta ter um
lado Pollyanna (do livro de
Eleanor H. Porter), que ati-
va seu otimismo. A quarente-
na o fez conviver mais com
a família. “Tenho passado
finais de semana inteiros
com minha mãe”, conta, re-
ferindo-se à atriz Fernanda
Montenegro, isolada no sítio
com a filha, Fernanda Tor-
res, em Petrópolis, no Rio.

A crise sanitária atrapalhou
os planos da produtora, mas
não impediu o trabalho re-
moto a todo vapor. Torres
lança, dia 10, na Netflix, a
série Reality Z. É um remake
“tropicalizado” de Deadset,
de Charlie Brooker (Black
Mirror). Fala de um confina-
mento fictício atingido por
um apocalipse zumbi. Mas o
diretor avisa: “a realidade
supera a ficção sempre”.

Por sorte, a pandemia che-
gou com o Reality Z já quase
finalizado. Retardou o pro-
cesso de dublagem de inglês

e espanhol, atrasando em
um mês o lançamento. “O
trailer foi muito bem recebi-
do, bombou no Twitter. Es-
tou pensando até em voltar
para as redes sociais”.

lO remake usa a fantasia pa-
ra falar da luta pela sobrevi-
vência. Hoje o mundo está con-
finado e atrás de uma vacina.
Superamos a ficção?
A realidade supera a ficção
sempre. Meu gosto pelas
distopias, pelos mundos in-
ventados é porque eu acho
que não existe maneira
mais eterna de você falar
sobre a realidade. Pegue
1984 (George Orwell). Ele
descreve um estado ditato-
rial controlado por três di-
zeres: “guerra é paz”, “liber-
dade é escravidão” e “igno-
rância é força”. O sujeito
escreveu isso no século pas-
sado. Como pode existir algo
tão atual e que descreva o
que vivemos hoje?

lComo vê a cultura no gover-
no Bolsonaro?
Esse governo estabeleceu

uma estranha ligação da pro-
dução cultural com o comunis-
mo. Não consigo compreen-
der. E abandonou a cultura.
Bolsonaro admira o Trump.
Te garanto que não passa pela
cabeça do Trump refrear a
indústria cultural, bilionária.
Mas vamos sobreviver.

lVocê está otimista?
É meu lado Pollyanna. Gover-
no nenhum vai reter a cultu-
ra pra sempre. Ela arruma
uma maneira de existir, está
no DNA. Imagine hoje sem
streaming, sem TV...

lSeu lado Pollyanna diz que a
pandemia deixa algo bom?
Sim! (risos) Ressaltou a impor-
tância da produção cultural,
que hoje nos dá até alívio. E
aumentou o convívio familiar.
Tenho passado finais de sema-
na inteiros com minha mãe,
minha irmã (Fernanda Tor-
res), Andrucha (Wadding-
ton, cunhado e sócio), mi-
nha mulher (Juliana Jabor) e
meu filho (Davi, 19 anos).

lE como está sua mãe?
Ela está virando mestra na tec-
nologia, no digital, dominando
o Iphone, WhatsApp, o Goo-
gle. E nasceu em 1929... Sua
saúde e lucidez nos impressio-
na. \CECÍLIA RAMOS

Colaboração
Cecília Ramos [email protected]
Marcela Paes [email protected]

lFernanda Ralston Sem-
ler, sócia do Botanique em
Campos do Jordão, reabre
hoje o hotel – passou por adap-
tação seguindo orientações
da OMS contra a covid-19.

l Sidewalk, com a Polen,
abre plataforma de doações
em seu site. Além de doar par-
te de suas vendas online.

lA Eldorado doa 400 mil más-
caras de tecido e 33 mil cestas
básicas para carentes em Três
Lagoas (MS). Mais 14 cidades de
MT e SP.

l A Use Jab doa parte das ven-
das de junho para o Projeto
Quebrada Alimentada, do chef
Rodrigo Oliveira, do Mocotó,


  • que distribui marmitas.


To the future


A prevista mudança de pata-
mar dos mercados está acon-
tecendo... antecipadamente.
Ativos reais, cotados em bol-
sa, aceleram de preço impul-
sionados pela gigante liqui-
dez de dinheiro.

Desconfia-se do início nova
bolha pelo mundo.

To the future 2


Coerente com essa anteci-
pação, há investidor se per-
guntando sobre a rapidez
dos BCs, depois da pande-
mia, no necessário “enxuga-
mento” de recursos coloca-
dos à disposição para neu-
tralizar os efeitos econômi-
cos da covid-19.

Dependendo dessa velocida-
de, segundo conhecido ban-
queiro, se dará o tamanho
quer as bolhas atingirão.

Cofrinho


A OAB paulista e a Caixa de
Assistência de Advogados de
SP lançam linhas de crédito
pessoal exclusivas para... ad-
vogados – por meio de parce-
ria com o Bradesco.

Juros? A partir de 1,1% ao
mês e dependendo das garan-
tias dadas pelo credor, pode
ser reduzido a 0,91% ao mês.
Prazos? Variam conforme a
modalidade escolhida – cre-
dito pessoal, veículos, inves-
timentos – e começam com
carência de 60 dias. O acesso
poderá ser via celular.

De gole em gole


A quarentena mudou o con-
sumo de bebidas? Na Am-
bev, o e-commerce e o deli-
very em março tiveram mais
de 600 mil entregas – e subiu
para 1 milhão em abril. O vo-
lume ainda é menor compa-
rado aos canais tradicionais.

É HORA DE DEBATER O


Caderno 2


POLAROID
Para Alexandra Loras, os recentes protestos pela morte de
George Floyd nos Estados Unidos nos fazem perceber que,
além da covid-19, existe outro vírus muito mais antigo a
ser combatido: o racismo. “Os Estados Unidos nasceram
da violência da escravidão e da segregação de outros
povos, portanto, de um pecado original. Foi desenhado por
e para pessoas brancas em bases racistas”, diz. A
ex-consulesa da França em SP – hoje dá palestras sobre
diversidade – acredita que o problema é cultural, sendo
necessária a mobilização também no Brasil. “João Pedro,
de 14 anos, foi baleado por um policial no Rio dias atrás.
Precisamos combater a violência policial contra o
genocídio da juventude negra”.

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AMBIENTE


DENIS NETTO

‘AS FUTURAS
GERAÇÕES QUEREM
MESMO PRESERVAR
A AMAZÔNIA?’

Destruição. Filme ‘A Grande Muralha Verde’, de Jared P. Scott, com produção de Fernando Meirelles, fala da degradação do solo africano

RESPONSABILIDADE
SOCIAL

MAKE WAVES

Na Semana do Meio Ambiente, Mostra Ecofalante de


Cinema antecipa cinco bons longas em plataforma digital


DENISE ANDRADE/ESTADÃO
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