O Estado de São Paulo (2020-06-04)

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H6 Especial QUINTA-FEIRA, 4 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Hairton Ponciano


Uma ponta saliente no para-
choque, espelhos retrovisores
vazados, cordinha no porta-ma-
las, túnel central... Automóveis
têm tantos detalhes que, às ve-
zes, muitos deles parecem que
estão ali sem nenhuma função.
Mas na quase totalidade dos ca-
sos a forma segue a função. To-
das as linhas externas e inter-
nas e os cerca de 5 mil compo-
nentes que dão vida ao automó-
vel estão lá por algum motivo.
Em recente apresentação da
nova picape Fiat Strada, que ain-
da não chegou às lojas, uma das
coisas que chamaram atenção
dos jornalistas foi uma saliên-
cia na parte inferior do para-
choque dianteiro. Mais protube-
rante que o normal, a impres-
são era a de que aquele detalhe
estava “sobrando” no carro.
Mas os engenheiros da empresa
logo esclareceram a questão. A
ponta proeminente está ali para
reduzir possibilidade de lesão
em caso de atropelamento.
Na hipótese de um acidente,
o primeiro ponto de contato en-
tre o carro e a vítima é exatamen-
te essa parte inferior. Com isso,
a tendência é ela subir com o
impacto, e não descer e ficar sob
o veículo (o que poderia trazer
consequências mais graves).
Indo para pontos – digamos –


menos traumáticos, boa parte
dos automóveis tem um túnel
central no chão que sacrifica o
conforto do quinto passageiro


  • exatamente naquela posição
    que ninguém gosta de ficar, no
    meio do banco de trás e longe
    da “janelinha”.
    Em alguns veículos, aquele
    ressalto é um estorvo, de tão al-
    to. Mas ele não faz por mal. Nos
    modelos com motor dianteiro e
    tração traseira, é por ali que atra-
    vessa o eixo (cardã) responsá-
    vel por transferir a força gerada
    lá na dianteira até as rodas de
    trás. Mas, mesmo em modelos
    que não têm tração traseira, o
    túnel está lá. A razão é que esse
    ressalto cumpre a função de
    uma viga em uma casa. Ele atua
    como um reforço na estrutura,
    impedindo que a carroceria so-
    fra torção ao passar por lomba-
    das e valetas, por exemplo.
    Quanto mais rígida a estrutura
    do automóvel, melhor. E isso se
    reflete até na dirigibilidade.
    Além do túnel na parte infe-
    rior do carro, a função de “viga”
    também é feita em alguns auto-
    móveis por uma leve depressão
    na parte central do teto. É o que
    explica, por exemplo, o peque-
    no rebaixo no teto do Fiat Argo.
    Pouca gente se lembra, mas
    um dos destaques do Fiat Tem-
    pra eram os retrovisores com
    suportes vazados. Além do belo
    efeito visual e até inovador para
    o início dos anos 90, os retrovi-
    sores descolados da carroceria


tinham a finalidade de melho-
rar a aerodinâmica, com refle-
xos na redução de consumo e
aumento de desempenho.
Carros vendidos no Brasil

têm uma faixa degradê na parte
superior do para-brisa que nem
sempre está presente em mode-
los europeus e norte-america-
nos. E a razão não é estética (em-

bora essa seja uma finalidade se-
cundária). O motivo principal é
proteger a visão do motorista
da incidência solar, mais forte
por aqui. A Honda informa que

modelos como Civic e HR-V,
por exemplo, têm a faixa escure-
cida no Brasil e em outros paí-
ses, mas não em todos. De acor-
do com a montadora, os mes-
mos modelos comercializados
em países da Europa, Estados
Unidos, México, Canadá e Chi-
na, entre outros, não dispõem
dessa solução.
O Ford Fusion tem um deta-
lhe peculiar no amplo porta-ma-
las: uma cordinha que permite
abertura pelo lado de dentro.
Para saber a finalidade do item,
basta olhar o desenho na peça:
uma pessoa pulando e corren-
do. Assim, o acessório pode ser
a saída para alguma criança que
porventura tenha sido esqueci-
da dentro do carro, ou (o mais
provável) permite a fuga de um
sequestrado que tenha sido co-
locado ali.
E aquela setinha junto do mar-
cador de combustível apontan-
do para um dos lados do carro?
Não sabe a finalidade? Então,
deve ser por isso que você às ve-
zes para do lado errado quando
vai abastecer!

JornaldoCarro


Adriana Del Ré


Em meio a tantas opções de do-
cumentários na Netflix, vale a
pena dar uma atenção especial
ao tocante Secreto e Proibido,
produzido por Ryan Murphy
(criador da série Hollywood,
também disponível no serviço
de streaming) e Jason Blum.
Conta a história de amor e (de
resistência) de Pat Henschel e
Terry Donahue, e de seu longo
relacionamento, que ficou em
segredo por quase 70 anos.
Na década de 1940, a cana-
dense Terry se mudou para os
EUA, para fazer parte da primei-
ra liga feminina de beisebol –
retratada no filme Uma Equipe
Muito Especial, com Tom
Hanks e Geena Davis, de 1992.
Lá, conheceu Pat, e as duas co-
meçaram a namorar. Para o
mundo exterior, no entanto,


passavam-se por grandes ami-
gas, já que lésbicas e gays eram
perseguidos, presos e tinham a
sexualidade exposta nos jor-
nais. Assim, decidiram manter
a relação em segredo e cultiva-
ram uma vida paralela. Para a
família, só decidiram ‘sair do ar-
mário’ mais recentemente.
O diretor Chris Bolan mos-
tra esse processo de descober-
ta dos parentes, com as duas já
na terceira idade. Após a revela-
ção, vem a decisão de oficiali-
zar a união, depois de tantas dé-
cadas. Além de boas persona-
gens, o documentário tem a seu
favor o farto acervo fotográfico
e em película preservado pelas
duas – e que ajuda a reconsti-
tuir essa bela história de amor.

Sem intervalo


A FORMA


SEGUE A


FUNÇÃO


Firmeza. Leve rebaixo no teto de alguns carros, como no
Argo, serve para melhorar a rigidez torcional da carroceria

Se Meu Apartamento
Falasse/The Apartment
(EUA, 1960). Dir. e roteiro (com I.A.L.
Diamond) de Billy Wilder, com Shirley
MacLaine, Jack Lemmon.

Luiz Carlos Merten

O funcionário que sobe na fir-
ma emprestando o aparta-
mento para o chefe encon-
trar a amante. Com tanto mo-
tel dando sopa, a história po-
deria ter perdido o sentido e
o filme, envelhecido, mas é aí
que entra o toque do diretor
Wilder, e ele é eterno. O car-
reirista e a ascensorista. Os-
cars de melhor filme, diretor,
roteiro original, direção de ar-
te e montagem, um clássico.
TEL. CULT, 17H45. P& B, 125 MIN.

Técnica*


Foge! O Ford Fusion vinha com uma cordinha que permite
abertura da tampa do porta-malas pelo lado interno

HONDA/DIVULGAÇÃO

Aerodinâmico. Espelhos retrovisores ‘descolados’ da carroceria no Fiat Tempra serviam
para facilitar a passagem de ar, com reflexo na melhora de consumo e desempenho

SERGIO CASTRO/ESTADÃO

SECRETA


HISTÓRIA


DE AMOR


NA NETFLIX


Eliana Silva de Souza

Turma afinada
A Sessão Fique Em Casa desta
quinta, 4, promovida pelo Teleci-
ne, contará com parceria do
Gloob, com a exibição do filme
Detetives do Prédio Azul 2 – O
Mistério Italiano. A história traz
os famosos detetives mirins Sol,
Pippo e Bento desafiados a viajar
até a Itália para concluir uma
investigação e salvar um grupo
de crianças enganadas pelos
bruxos Mínima e Máximo Buon-
gusto, que se passaram por pro-
dutores de um concurso musi-
cal. O longa poderá ser visto si-
multaneamente no YouTube, no
Telecine Pipoca.

Missões secretas
Chega nesta quinta, 4, às 22h25,
no AXN, a segunda temporada
de Setal Team, que terá a exibi-
ção de dois episódios na sequên-
cia. Criada por Benjamin Cavell,
Ed Redlich, Christopher Chulack,
Sarah Timberman e Carl Be-
verly, a série mostra as missões
especiais de um grupo de elite da
marinha americana. No elenco,
David Boreanaz, Jessica Paré,
Max Thierot e Tony Trucks.

Comemorando o fim
O Smithsonian Channel apresen-
ta, de sexta, 5, a domingo, às
22h, a maratona sobre o Dia D. A
data, comemorada em 6 de ju-
nho, marca o início do desembar-
que das tropas aliadas na Nor-
mandia (França), em 1944, e foi
decisiva para o fim da Segunda
Guerra. E começa na sexta com
o documentário Segredos Ameri-
canos: Desastre do Dia D, que
revela a sucessão de erros e con-
tratempos que resultaram na
morte de quase 700 soldados
americanos semanas antes do
desembarque na Normandia. No
sábado, será exibido Dia D e o
Esquadrão Dambusters, que
mostra, por meio de documen-
tos recentemente revelados, co-
mo um esquadrão da Força Aé-
rea Real Britânica desempenhou
papel fundamental ao confundir
o alto comando alemão quanto à
data e ao local do desembarque
das tropas aliadas. Fechando, no
domingo, Dia da Vitória: Europa
registra os meses que antecede-
ram o desfecho do conflito e as
comemorações do 8 de maio,
data que marca o encerramento
formal da 2ª Guerra Mundial no
continente europeu, há 75 anos.

DESTAQUE
MIRISCH CORPORATION

Elogio
da Liberdade
(Brasil, 2019.) Dir. de Bianca Comparato.

Mais que uma biografia de Ro-
siska Darcy de Oliveira, o docu-
mentário utiliza a figura da escrito-
ra e ativista para retraçar a histó-
ria do movimento feminista no
Brasil. É um filme necessário, e
importante. Para quem só conhe-
ce Bianca Comparato como atriz,
e boa, será uma surpresa. Ela se
revela uma diretora autoral, sensí-
vel e inteligente.
HBO MUNDI, 17H55. COL., 90 MIN.

Filmes na TV


No Estúdio de Mondrian /
Dans L’Atelier de Mondrian
(França, 2010.) Dir. de François Lévy-Kuentz.

Outro documentário, e muito bom.
De forma sucinta, o diretor reconsti-
tui a trajetória intelectual e huma-
na que fez do holandês Piet Mon-
drian um dos grandes artistas da
vanguarda do século passado. Co-
mo ele chegou ao abstracionismo.
E o colorido que faz de seus qua-
dros experiências não apenas vi-
suais, mas também sensoriais
num estilo amplo.
CURTA!, 19 H, COLORIDO, 52 MIN.

FOTOS: FIAT/DIVULGAÇÃO

Ao contrário do que pode parecer, tudo


no automóvel está lá por alguma razão


Proteção. Saliência inferior na frente da nova picape Fiat Strada tem a função de reduzir danos em caso de atropelamento

Túnel. Às vezes, pode atrapalhar o conforto, mas ressalto
tem a mesma função da viga de reforço na construção civil

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