O Estado de São Paulo (2020-06-04)

(Antfer) #1

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A4 QUINTA-FEIRA, 4 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política

»SINAIS
PARTICULARES.
Hamilton Mourão,
vice-presidente da
República

»Help. O apelo de Mourão
foi em videoconferência da
Fiesp para o agronegócio e
o meio ambiente. O tema
era o Conselho da Amazô-
nia Legal. Em seguida, ele
almoçou com Paulo Skaf.

»Xi. A preocupação de
Mourão faz sentido. Quem
acompanha o desenrolar do
tratado de livre-comércio
entre Mercosul e União Eu-
ropeia diz que os últimos
dados sobre o aumento do
desmatamento no Brasil
reacenderam o sinal amare-
lo em relação ao acordo.

»Freezer. Há temor de
que a parceria acabe na gela-
deira. Se isso acontecer, o
Brasil perderá investimento
europeu em um cenário no
qual nem o governo nem o
setor privado nacional te-
rão recursos para fortalecer
a retomada pós-pandemia.

»Ação. O embaixador da
Dinamarca, Nicolai Prytz,
disse à Coluna que os dois
blocos querem ver o trata-
do ratificado, mas ressaltou
que a questão ambiental
continua sendo um dilema:
os europeus cobram dados
objetivos de combate ao
desmatamento.

»Dobro. Para setores da
indústria brasileira, há dois
obstáculos: o lobby agrícola
europeu contra o acordo,
por causa da competitivida-
de do setor no País, e a
pressão de ambientalistas.

»A propósito. A grande re-
percussão dos artigos de
Mourão no Estadão está
fazendo o vice pegar gosto.

»Consultas. O presidente
do TSE, Luís Roberto Barro-
so, deve apresentar nos
próximos dias aos seus pa-
res no tribunal e ao Con-
gresso as informações que
tem colhido com especialis-
tas sobre os impactos da
covid-19 nas eleições muni-
cipais deste ano.

»Não. O Exército se recu-
sa a fornecer ao Instituto
Sou da Paz acesso a docu-
mentos utilizados na elabo-
ração das três portarias que
aumentavam o controle de
munições e a rastreabilida-
de de armas no País.

»Não 2. O instituto solici-
tou, via Lei de Acesso, infor-
mações sobre notas técni-
cas, memorandos, atas e
minutas que embasaram as
portarias, posteriormente
revogadas por Bolsonaro.

»Para lembrar. Como mos-
trou o Estadão, o Coman-
do Logístico do Exército
admitiu ao Ministério Públi-
co Federal ter revogado as
portarias por pressão do
governo e de apoiadores do
presidente Bolsonaro nas
redes sociais.

»Não 3. Questionada pela
Coluna, a comunicação do
Exército chegou a informar
que entregaria os documen-
tos. Mas indeferiu pela ter-
ceira vez o pedido.

»Cuma? A alegação do
Exército: os documentos
“estão sendo utilizados co-
mo fundamento de uma to-
mada de decisão, de um ato
administrativo futuro, que
se materializará após a con-
clusão da reanálise e dos
ajustes”. Para a ONG, a jus-
tificativa não faz sentido.

COM MARIANA HAUBERT E
MARIANNA HOLANDA

H


amilton Mourão pediu aos grandes exportadores
brasileiros ajuda para reverter no exterior o des-
gaste do País na questão do meio ambiente. O vice
gostaria de ver empresários compartilhando “dados que
reflitam a realidade”. Para fornecer subsídios, anunciou a
elaboração pelo governo, em parceria com Estados do
Norte, de um atlas ambiental da Amazônia. A intenção é
escrutinar, com precisão, o que é terra indígena, pecuária,
reservas legais, florestas e plantações. Mourão insiste que
o diabo não é tão feio quanto pintam os ambientalistas.

Governo prepara atlas


ambiental da Amazônia


ALBERTO BOMBIG
TWITTER: @COLUNADOESTADAO
[email protected]
POLITICA.ESTADAO.COM.BR/BLOGS/COLUNA-DO-ESTADAO/

KLEBER SALES/ESTADÃO

Nome do Centrão é
demitido do Banco do

Nordeste. Pág. A


Alexandre Cabral


Planalto teme atos de rua;


‘terroristas’, diz Bolsonaro


Tensão. Novos protestos são convocados e governo receia que cresçam e se tornem


pró-impeachment; presidente chama manifestantes de ‘marginais’; Mourão, de ‘baderneiros’


Julia Lindner
Tânia Monteiro / BRASÍLIA

O Palácio do Planalto teme
que manifestações de rua em
defesa da democracia e con-
tra o governo federal cres-
çam e se tornem atos pró-im-
peachment do presidente
Jair Bolsonaro. Após a escala-
da de tensão dos últimos
dias, Bolsonaro deu ontem
uma espécie de ordem unida
e chamou manifestantes con-
trários a seu governo de “mar-
ginais” e “terroristas”. O ges-
to refletiu a preocupação ex-
pressada por aliados do go-
verno nas redes sociais.
Bolsonaro usou termos du-
ros para se referir a integrantes
de grupos – autointitulados an-
tifascistas – que passaram a pro-
mover atos contra o governo.
Na mesma linha, o vice-presi-
dente Hamilton Mourão tam-
bém classificou os participan-
tes desses protestos como “ba-
derneiros”, em artigo publica-
do ontem no Estadão.
Novos atos estão sendo cha-
mados para o fim de semana
por grupos ligados a torcidas de
futebol, agora engrossados pela
Frente Povo sem Medo, organi-
zação que reúne movimentos
sociais, centrais sindicais e par-
tidos de esquerda. Em São Pau-
lo as manifestações estão agen-
dadas para o início da tarde de
domingo na Avenida Paulista.
O governo estadual proibiu
atos rivais (contra e a favor de
Bolsonaro) simultâneos na ca-
pital. Há manifestações agenda-
das no Rio, Salvador, Belo Hori-
zonte e outras cidades.
Na prática, a principal pauta
dos bolsonaristas, hoje, é a cri-
minalização dos protestos de
rua. Além disso, há na cúpula do
governo a avaliação de que os
fatos recentes que desgastam o
Planalto – principalmente os re-
lacionados a inquéritos que tra-

mitam no Supremo Tribunal Fe-
deral – podem reforçar a defesa
do afastamento do presidente.
As manifestações antirracis-
tas nos Estados Unidos após o
assassinato de George Floyd, se-
gurança negro asfixiado por um
policial branco, também cau-
sam apreensão no Planalto. Foi
ao se referir aos protestos, na
noite de anteontem, que Bolso-
naro defendeu uma “retaguarda
jurídica” para a atuação da polí-
cia nas manifestações no Brasil.
“Começou aqui com os anti-
fas (movimento antifacista) em
campo. O motivo, no meu en-
tender, político, é diferente.
São marginais, no meu enten-
der, terroristas”, afirmou Bolso-
naro. “Têm ameaçado, (no
próximo) domingo, fazer movi-
mentos pelo Brasil (...). Lá (nos
EUA) o racismo é um pouco di-
ferente do Brasil. Está mais na
pele. Então, houve um negro lá
que perdeu a vida. Vendo a ce-
na, a gente lamenta. (...) Agora,
o povo americano tem que en-
tender que, quando se erra, se
paga. Agora, o que está se fazen-
do lá é uma coisa que não gosta-
ria que acontecesse no Brasil.”
Levantamento da empresa
AP Exata mostra que há nas re-
des sociais uma tendência de
crescimento das manifestações
anti-Bolsonaro, com argumen-
tos de defesa da democracia. De
acordo com a pesquisa, recen-
tes mensagens postadas por se-
guidores do presidente indicam
que a mídia e a esquerda bus-
cam estimular os protestos para
derrubar o presidente. Os próxi-
mos atos de rua também devem
incorporar a pauta antirracista.
Na segunda-feira, Bolsonaro
pediu a apoiadores que evitem ir
às ruas no domingo para não ha-
ver confronto com a oposição.
“Não tenho influência, não te-
nho nenhum grupo e nunca con-
voquei ninguém para ir às ruas.
(...) Nós precisamos de uma reta-

guarda jurídica para que nosso
policial possa bem trabalhar,
em se apresentando esse tipo de
movimento, que não tem nada a
ver com democracia.”
O presidente citou depreda-
ções ocorridas em Curitiba e dis-
se ainda que é preciso impedir o
alastramento de movimentos as-
sim. “Não podemos deixar que o
Brasil se transforme no que foi
há pouco tempo o Chile”, insis-
tiu Bolsonaro, numa referência
aos protestos do país vizinho.
Um adolescente foi apreendi-
do ontem em Curitiba, suspeito
de atear fogo na bandeira nacio-
nal hasteada em frente ao Palá-
cio Iguaçu, sede do Executivo
estadual. Ele participou de um
“ato antirracista” na segunda-
feira, que reuniu cerca de mil
pessoas na região central da ca-
pital paranaense. Ele foi o oita-
vo manifestante detido pela po-
lícia. Outras sete pessoas foram
encaminhadas à delegacia no
dia do ato, que ocorreu de for-

ma pacífica. Segundo as investi-
gações, os atos de vandalismo e
depredação foram registrados
na dispersão. Os movimentos
sociais que organizaram ou ade-
riram à manifestação atribuí-
ram os atos de vandalismo e de-
predação a infiltrados.
Mais tarde, no Twitter, Bolso-
naro bateu na mesma tecla, de-
monstrando preocupação com
o confronto. “Quem promove o
caos, queima bandeira nacional
e usa da violência como uma for-
ma de ‘protestar’ é terrorista
sim! Manifestante, contra ou a
favor do governo, é outra coisa.”
Mourão adotou o mesmo
tom. “Aonde querem chegar? A
incendiar as ruas do País, como
em 2013? A ensanguentá-las, co-
mo aconteceu em outros paí-
ses? Isso pode servir para muita
coisa, jamais para defender a de-
mocracia. E o País já aprendeu
quanto custa esse erro.”

Crítica. Líderes de movimen-
tos classificaram as reações de
Bolsonaro e Mourão de autori-
tárias. “As declarações são pró-
prias de figuras políticas que
não sabem viver com o contradi-
tório”, disse o presidente da
União Nacional dos Estudantes
(UNE), Iago Montalvão. “Mani-
festações em defesa da demo-
cracia seguem um direito cons-
titucional. Terrorista deveria
ser considerado quem faz mani-
festação em defesa do AI-5 e da
tortura. As declarações mos-
tram mais um face de um gover-
no autoritário”, afirmou Josué
Rocha, da coordenação nacio-
nal da Frente Povo Sem Medo.
Um dos líderes do movimen-
to Somos Democracia, Danilo
Pássaro criticou o artigo de
Mourão. “Ao contrário do que
diz o vice, são os apoiadores do
governo que expõem seus revól-
veres e armas.” / COLABORARAM
MATHEUS LARA e ANGELO SFAIR,
ESPECIAL PARA O ESTADO

Vinícius Valfré / BRASÍLIA

O jurista Ives Gandra da Silva
Martins afirmou ao Estadão
que sua interpretação sobre o
artigo 142 da Constituição está
sendo distorcida pelos apoiado-
res do presidente Jair Bolsona-
ro e também pelos adversários
do governo. Segundo ele, seu en-
tendimento é o de que “não há,
no artigo, qualquer brecha para

fechamento de Poderes”.
“Quem fala que permite gol-
pe é ignorante em Direito. Tan-
to da situação quanto da oposi-
ção. As Forças Armadas não
têm condição de dar golpe. Se
têm, estão violando a Constitui-
ção e elas não farão nunca isso”,
afirmou o jurista, que atuou co-
mo consultor jurídico dos depu-
tados que escreveram a Consti-
tuição de 1988.

A interpretação de Ives Gan-
dra ao artigo da Constituição é,
contudo, mais flexível do que a
de outros juristas, para os quais
a Carta Magna não permite que
as Forças sejam acionadas se-
quer como poder moderador.
Ao detalhar sua interpreta-
ção, Gandra Martins afirmou
que o artigo foi inserido pelos
deputados constituintes “para
nunca ser utilizado”. Mesmo as-
sim, citou exemplos hipotéti-
cos nos quais as Forças Arma-
das poderiam ser invocadas pa-
ra moderar conflitos.
Um deles, por exemplo, seria
na hipótese de o Supremo Tri-

bunal Federal (STF) mandar
prender o presidente do Sena-
do caso este não quisesse cum-
prir uma lei criada pelos magis-
trados por considerá-la incons-
titucional.
A Ordem dos Advogados do
Brasil (OAB) não considera cor-
reta essa interpretação. “A inter-
venção militar não é possível,
sequer pontualmente”, afir-
mou o presidente da Comissão
Nacional de Estudos Constitu-
cionais da OAB, Marcus Vi-
nícius Furtado Coêlho. “Nos
exemplos citados, as questões
não seriam resolvidas com in-
tervenção militar.”

Alceu Moreira

Não há brecha para golpe em


artigo 142, afirma Ives Gandra


BOMBOU NAS REDES!

lO presidente do Tribunal Supe-
rior Eleitoral (TSE), Luís Roberto
Barroso, marcou para o dia 9 o
julgamento de duas ações que
miram a chapa do presidente
Jair Bolsonaro e seu vice, Hamil-
ton Mourão, no caso envolvendo
o grupo Mulheres Unidas Contra
Bolsonaro, no Facebook.
As ações apontam abuso elei-
toral e pedem a cassação dos
mandatos de Bolsonaro e Mou-
rão por ligação com o ataque
hacker que alterou o nome do
grupo para Mulheres com Bolso-
naro, retirou publicações contrá-
rias ao presidente e incluiu ou-
tras favoráveis à sua campanha. /
PAULO ROBERTO NETTO

“Enquanto existir a mentalidade da malandragem
no País, dificilmente vamos progredir de verdade”,
sobre fraudes no pagamento do auxílio emergencial.

Deputado federal (MDB-RS)

JOÉDSON ALVES / EFE

Crise. Bolsonaro fala com apoiadores na porta do Alvorada; presidente criticou grupos que se autointitulam antifascistas

»CLICK. Damares e Mi-
chelle Bolsonaro (ao cen-
tro) visitaram a ação de
combate à covid-19 Sal-
vando Vidas, do BNDES,
com Gustavo Montezano,
presidente do banco.

REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

TSE julga ações


contra chapa dia 9

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