O Estado de São Paulo (2020-06-05)

(Antfer) #1

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O ESTADO DE S. PAULO SEXTA-FEIRA, 5 DE JUNHO DE 2020 A


Além dos impactos na eco-
nomia e na vida cotidiana, o
isolamento social imposto pela
pandemia poderá ter mais um
efeito colateral importante: uma
queda na procura pela vacinação
de rotina^1. A questão preocupa
especialistas em todo o mundo
e especialmente no Brasil, onde
uma redução na cobertura vaci-
-nal já vinha sendo observada1,2,
mesmo com os esforços dos pro-
-fissionais e das autoridades de
saúde para engajar a população
nas campanhas de imunização.
“Em 2016, tivemos um alerta
de que a cobertura vacinal havia
sido a pior dos últimos anos no
País. Não por acaso, em seguida
tivemos surtos importantes de fe-
bre amarela e, principalmente, de
sarampo”, afirma a médica Bar-
bara Furtado, gerente de Vacinas
da GSK. “No Brasil, temos mais
de 20 enfermidades que podem
ser prevenidas por vacinação. Se
a pandemia causar uma redução
da cobertura vacinal, corremos o
risco de ver a volta de todas essas
doenças quando a quarentena
terminar”, diz Barbara.
A médica lembra que foi por
meio de extensas campanhas de
imunização que se alcançou a
erradicação da varíola do planeta
e o controle da poliomielite, do
sarampo e da rubéola, além de
redução da mortalidade infan-
til em muitos países. As vacinas

Evento
Para debater os desafios en-
volvidos na vacinação no atual
cenário – e suas implicações para
profissionais da saúde, gestores
públicos, pais e mães –, o Estadão,
em parceria com a GSK, promoverá
o webinar “Diálogos Estadão Think


  • Vacinação: um ato de amor em
    tempos de pandemia”.
    Produzido pelo Media Lab
    Estadão, o evento será realizado
    no dia 9 de junho, a partir das 9h,
    com transmissão 100% online. A
    mediação fi cará a cargo da jorna-
    lista Rita Lisauskas.


também são fundamentais para
a prevenção de doenças que vão
da gripe à meningite, reduzindo
seus impactos na saúde pública e
salvando milhões de vidas^3.
“No momento, o sarampo
também preocupa, uma doença
com um grau de transmissibilida-
de muito maior que a covid-19”,
diz Barbara. “Durante a quaren-
tena, é preciso tomar todos os
cuidados de higiene, manter o
distanciamento social e evitar o
transporte público. Mas é funda-
mental vacinar.”
A Organização Mundial da
Saúde (OMS) e a Organização
Pan-Americana de Saúde (Opas)
orientaram os governos a man-
ter a distribuição de vacinas para
outras doenças durante a pan-
demia^4. Relatório publicado em

Este material é produzido pelo Media Lab Estadão com patrocínio da GSK.


  1. UNICEF. Fundo das Nações Unidas para Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/comunicados-deimprensa/da Infância. Declaração da diretora executiveclaracao-da-diretora-executiva-do-unicef-sobre-interrupcaa do UNICEF, Henrietta Fore, sobre a interrupção dos serviços de imunização e saúde báo-imunizacao-saude. Acesso em: 04 jun.20sica devido à pandemia de covid-19. 20 2. SOCIEDADE BRASILEIRA DE
    NEUROCIRURGIA. Vacinação em queda no Brasil preocupa autoridades por rtoridades-por-risco-de-surtos-e-epidemias-de-doencas-fatais/. Acesso em: 4 jun. 2020 3. SOCIisco de surtos e epidemias de doenças fatais. Disponível EDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES. Imem: https://portalsbn.org/portal/vaunização: Tudo o que você sempre quis cinacao-em-queda-saber. Disponível em: https://sbim.no-brasil-preocupa-au-
    org.br/images/books/imunizacao-tudo-o-que-voce-sempre-quis-saber-170810.pdf. Acesso em: 4 jun. 2020 4. ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANpaíses mantenham programas de vacinação durante pandemia de covid-19. Disponível em: https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=6152:opas-pede-que-paises-mantenham-pro-A DA SAÚDE/ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. OPAS pede que
    gramas-de-vacinacao-durante-pandemia-de-covid-19&Itemid=820. Acesso em: 4 jun.2020 5. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Newsroom/Detaidiphtheria, measles and polio as covid-19 disrupts routine vaccination eff orts, warn Gavi, WHO and UNICEF. Disponível em: https://www.who.int/news-room/detail/22-05-2020-at-least-80-million-children-ul. At least 80 million children under one at risk of diseases such as nder-o-
    ne-at-risk-of-diseases-such-as-diphtheria-measles-and-polio-as-covid-19-disrupts-routine-vaccination-eff orts-warn-gavi-who-and-unicef. Acesso em: 4 jun.
    Material dirigido ao público em geral. Por favor, consulte o seu médico. NP-BR-GVX-OGM-200005 - JUN/


APRESENTADO POR

maio pela OMS revelou que os
impactos da pandemia ameaçam
deixar 80 milhões de crianças
menores de 1 ano de idade de 68
países, em que a vacinação está
prejudicada neste momento^5.

“Corremos o risco de ver


de volta diversas doenças”


Médica alerta para o retorno de doenças se queda na cobertura vacinal se mantiver


Esportes

Euros de Pedrinho aliviam Corinthians


João Prata

O Estadão começa hoje uma
série de reportagens sema-
nais sobre a retomada finan-
ceira dos clubes. Sem cotas
de TV e bilheterias e sem uso
de suas arenas, os times pre-
cisam encontrar caminhos
para salvar suas finanças.
A primeira conversa é
com Fábio Wolff, sócio-dire-
tor da Wolff Sports &
Marketing. Ele talvez seja o
profissional que mais fecha
patrocínios, pontuais ou
não, no futebol brasileiro.
Atualmente, tem parcerias
no futebol com Corinthians,
Palmeiras, Santos, Botafogo
e Fluminense, e mantém
contato com praticamente
todos os clubes da Série A.
Wolff vê a pandemia co-
mo um “acelerador de ten-
dências” – os clubes precisa-
ram olhar para a produção
de conteúdo online. Ele ci-
tou como case de sucesso o
documentário Last Dance, de
Michael Jordan, disponível
no Netflix. A partir dele, o
eBay, empresa de comércio
eletrônico, informou que as
vendas de produtos licencia-
dos do Chicago Bulls subi-
ram 5.156%.

lA pandemia vai mudar a ma-
neira de fazer negócios no fute-
bol brasileiro?
Vejo a pandemia como um
acelerador de tendências. A
questão digital, as redes so-
ciais, ela vem sendo trabalha-
da mais por alguns clubes do
que por outros. Alguns esta-
vam mais preparados para
se dedicar às redes sociais e
estão nadando de braçada.

Isso não quer dizer que conse-
guem substituir backdrop, pla-
ca de publicidade no CT, fatura-
mento com jogos ao vivo, com
o digital. Mas a interação pelas
mídias digitais com os torcedo-
res é fundamental para criar no-
vas receitas.

lOs negócios foram muito afeta-
dos nesse momento?
Estamos há três meses em ges-
tão de crise. Temos diversos
contratos com clubes de fute-
bol e federações.

lSua projeção de faturamento
vai ser afetada com os clubes?
Difícil ainda saber porque tem
uma série de variáveis. Não sa-
bemos se todos os campeona-
tos serão realizados neste ano.
O Walter Feldman (secretá-
rio-geral da CBF) disse que o
Brasileirão deverá ser realiza-
do. Da nossa parte tivemos só
uma rescisão até aqui, de uma
empresa que saiu do País. Para
haver rescisão tem de existir
um motivo, um problema na
entrega, a quebra da empresa.

lQuais ações te chamaram a
atenção no período?
Talvez o melhor exemplo
foi o que aconteceu com
os produtos licenciados
do Chicago Bulls. Um
exemplo. Desde que a
Netflix lançou o docu-
mentário do Michael Jor-
dan, a venda de pro-
dutos do Chicago
cresceu mais de

5.000%. É um exemplo de
como trabalhar conteúdo
via streaming e estimular o
e-commerce.

lA saída para evitar a crise
está no online então?
Sim. É uma saída que se vo-
cê for ver está sendo feita
nas mais diversas áreas. As li-
ves de artistas é uma saída
online. A WTorre teve a
ideia de fazer o drive-in (no
Palmeiras), que não é onli-
ne. Foi uma ideia segura pa-
ra gerar receita. O mais im-
portante é fazer algo seg-
mentado e de qualidade. Os
clubes têm essa ferramenta.
Isso é uma tendência. Produ-
zir conteúdo, vender indivi-
dualmente aos torcedores.

lComo vê a administração do
futebol no Brasil?
Se os clubes fossem mais
profissionais, preocupados
com o orçamento, muitos
não continuariam carregan-
do os atuais números. Tem
clube que gasta mais de
80% das receitas com joga-
dores. A conta não vai fe-
char nunca. Tem de mudar.

lO Cruzeiro é o principal
exemplo do que não fazer?
O formato da gestão tem de
ser repensado. Não dá para
gastar mais do que arreca-
da, contratar 40 jogadores,
aí empresta jogador para ou-
tro clube pagando 50% dos
salários. São coisas que che-
gam a dar nervoso na gente.
Não tem como o futebol bra-
sileiro continuar assim.
Tem clube que deve
mais de R$ 600 mi-
lhões. O Cruzeiro
caiu para a Série B.
Ele precisa subir pa-
ra a Série A no próxi-
mo ano porque a re-
ceita de televi-
são mudou.
Se não vol-
tar, terá
problema
e vai se
afundan-
do cada
vez mais.

Crise. Com situação financeira agravada pela paralisação do futebol, dinheiro da venda do meia ao Benfica servirá para equilibrar o caixa


Guilherme Amaro


Em crise provocada pela para-
lisação do futebol por causa
da pandemia do novo corona-
vírus, o Corinthians corta
despesas e aguarda a chegada
de quase R$ 120 milhões nos
próximos dias, referentes à
venda do meia Pedrinho para
o Benfica, de Portugal, para
equilibrar as finanças. O clu-
be reduziu o salário de funcio-
nários e jogadores, além de
ter encerrado contratos de
modalidades que estão para-
das, como o basquete, que te-
ve a temporada finalizada ain-
da no início de maio.
Em contato com o Estadão,
o diretor financeiro do Corin-
thians, Matias Romano Ávila,
admitiu que a situação atual é
“imprevisível”. Por outro lado,
até comemorou o fato de o clu-
be já não contar em seu fluxo de
caixa com o dinheiro de bilhete-
ria, usado para pagar a Arena
em Itaquera – o pagamento das
parcelas está suspenso.
“Estamos enfrentando mui-
tas dificuldades. Acaba sendo
uma situação imprevisível. Não
sabemos quanto tempo mais is-
so vai durar, quando as competi-
ções vão voltar a ocorrer”, disse
o dirigente do Corinthians. “Co-
mo resolver isso? Tem de procu-


rar cortar as despesas, porque
as receitas foram interrompi-
das, mas as despesas conti-
nuam. Se tem um caixa reforça-
do, dá para contornar algumas
situações. O futebol não tem lu-
cro: é receita e é despesa.”
Segundo Ávila, o Corinthians
não demitiu funcionários até o
momento. O clube cortou até
70% dos vencimentos dos cola-
boradores – com piso de R$ 3
mil – e 25% dos jogadores. Tam-
bém encerrou a ajuda de custo a

atletas amadores e de outras
modalidades e aguarda para sa-
ber se haverá competições de
base em 2o2o. Se não tiver, a ten-
dência é de que alguns jovens
jogadores e profissionais das co-
missões técnicas sejam desliga-
dos. “Ainda estamos em fase de
planejamento. O que fizemos
até agora foi para preservar em-
pregos. Mas deixo claro que o
Corinthians não vai ‘queimar’
atletas e comissão técnica.”
O dirigente corintiano con-

versa com o presidente Andrés
Sanchez e até com diretores fi-
nanceiros de outros clubes para
avaliar as medidas. Em compa-
ração a outros times, Matias Ávi-
la cita dois fatores positivos pa-
ra o Corinthians neste momen-
to de crise. O primeiro é que o
cofre alvinegro vai receber nos
próximos dias quase R$ 120 mi-
lhões da venda de Pedrinho pa-
ra o Benfica, acertada em março
por 20 milhões de euros.
O outro alento é que a previ-

são orçamentária alvinegra já
não contava com a renda de bi-
lheteria, porque os valores arre-
cadados são destinados ao paga-
mento de parcelas à Caixa Eco-
nômica Federal. O Corinthians
não faz os depósitos desde ju-
lho passado, em razão de diver-
gência na negociação, que foi pa-
rar na Justiça – o processo está
suspenso a pedido das partes.
Mas a ausência da arrecada-
ção com bilheteria pode dificul-
tar o pagamento do financiamen-

to no futuro. Em quatro jogos co-
mo mandante e com torcida no
Paulistão, o Corinthians teve
renda líquida de quase R$ 3 mi-
lhões. Em uma projeção de qua-
tro partidas em casa por mês, po-
de ter deixado de arrecadar mais
de R$ 10 milhões durante a para-
lisação causada pela pandemia.
O banco cobra R$ 536 milhões
do Corinthians. A proposta do
clube é pagar R$ 6 milhões em
meses com jogos e R$ 2,5 mi-
lhões em meses sem partidas.

‘CONTEÚDO PRÓPRIO


É A SOLUÇÃO INICIAL’


ACERVO PESSOAL/FABIO WOLFF

Jô fica mais perto


de voltar ao clube


]O Benfica perdeu a oportunidade de
assumir a liderança do Português,
ontem, ao só empatar sem gols com o
Tondela, na Luz, em Lisboa, pela 25ª

rodada. A equipe soma os mesmos 60
pontos do rival Porto, mas leva vanta-
gem no confronto direto (duas vitó-
rias). Na saída do estádio, o ônibus foi
atingido por pedras lançadas de um
viaduto, e os jogadores Weigl e Zivko-
vic foram feridos pelos estilhaços.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Parada. Woff
diz que times
foram buscar
soluções

lO Corinthians espera definir a
contratação do atacante Jô, de
33 anos, nos próximos dez dias.
A diretoria e os agentes do joga-
dor se reuniram nas últimas se-
manas, mas ainda existe uma
divergência sobre salário.
Jô atuou as duas últimas tem-
poradas pelo Nagoya Grampus,
do Japão, e buscava a rescisão
de contrato. Ele chegaria para
sua terceira passagem pelo clube
alvinegro, onde participou da con-
quista de dois Campeonatos Pau-
listas (2003 e 2017) e dois Brasi-
leiros (2005 e 2017). /JOÃO PRATA

BENFICA PERDE CHANCE
DE ASSUMIR A LIDERANÇA

ALEX SILVA/ESTADÃO-18/9/

Fechado.
Arena não gera
renda, mas
pagamento da
dívida está
suspenso

F

Fábio Wolff, sócio-diretor da Wolff Sports & Marketing

ENTREVISTA | A retomada econômica do futebol – Capítulo 1

Especialista diz que covid atuou como ‘acelerador’
que ‘obrigou’ times a interagir com os torcedores
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