O Estado de São Paulo (2020-06-05)

(Antfer) #1

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O ESTADO DE S. PAULO SEXTA-FEIRA, 5 DE JUNHO DE 2020 Especial H3


Caderno 2


‘MOMENTO FAZ COM QUE
AS PESSOAS PERGUNTEM
QUAIS SÃO AS COISAS QUE
REALMENTE IMPORTAM’

Geoff Edgers
THE WASHINGTON POST


Como muitos jornalistas dedica-
dos às artes nacionais, Geoff Ed-
gers está preso em casa por cau-
sa do novo coronavírus. Então,
decidiu lançar um programa ao


vivo no Instagram a partir da sua
casa no campo em Concordia,
em Massachusetts.
Todas as terças e sextas-feiras
ele comanda um programa de en-
trevistas de uma hora que intitu-
lou Stuck with Geoff, conversan-
do com qualquer pessoa que
atenda à sua chamada. Até agora,
ele entrevistou a comediante Tif-
fany Haddish, a jornalista de TV
Katie Couric, o locutor esporti-

vo Joe Buck e Bill Nye, “o cara da
ciência”. Recentemente, Edgers
entrevistou o músico, escritor e
entusiasta da bicicleta David Byr-
ne. Abaixo, trechos da conversa:

lÀs vezes, você manifesta uma
maneira diferente de ver o mun-
do. Como está lidando com o que
hoje parece algo surreal, estra-
nho e doloroso?
Estou lidando com isso relativa-

mente bem. Tenho o suficiente
para comer, pagar minhas con-
tas, esse tipo de coisa. Como
muitas pessoas, há momentos
em que acordo pela manhã e
me pergunto: “o que vou fazer
hoje? Por que razão? Por que
me preocupar? Para que isso?
Até onde vai?”. Os contatos vir-
tuais e todas essas conversas
pelo Zoom que faço diariamen-
te não são a mesma coisa.

lVocê tem um projeto de jorna-
lismo chamado Reasons to be
Cheerful e um artigo que você
escreveu, The World is Changing


  • So Can We, em que não há ata-
    ques a políticos nem queixas no
    tocante à economia.
    São soluções do jornalismo,
    em que você enfatiza lugares,
    pessoas, iniciativas que come-
    çaram a resolver problemas de
    maneira que talvez possam ser
    imitadas e copiadas. Não esta-
    mos interessados no bilionário
    dando dinheiro para um hospi-
    tal; essa é uma solução pon-
    tual. É bonito, mas não é uma


solução real. Começamos uma
série agora chamada Now Any-
thing is Possible, que trata espe-
cificamente sobre estar na pan-
demia, momento em que as
pessoas reavaliam seus valo-
res. E muitas das iniciativas
que eram antes pensadas e con-
sideradas retornaram nova-
mente. Talvez possamos devol-
ver as ruas das cidades para as
pessoas, termos menos carros,
porque agora temos quase ze-
ro de poluição proveniente
dos automóveis.

lObviamente muitas pessoas,
nomes famosos e com grande
público, usam esse púlpito com
fins políticos, sejam elas de es-
querda ou direita. Fale da sua
decisão de ficar fora disso.
Tenho meus sentimentos pes-
soais sobre as coisas e minha
própria inclinação política pes-
soal. Mas não levo isso para mi-
nha persona pública ou para o
trabalho que realizo.

lPor quê?
Estamos vendo já o suficiente
de política partidária. Não
acho que isso vá levar a algu-
ma parte. Eu,
pessoalmen-
te, defendo o
fim dos parti-
dos políticos,
ponto final.

lEstamos
observando
bolsões de resistência a algu-
mas diretrizes no caso da pande-
mia. Mas, no geral, é inspirador
como as pessoas vêm respon-
dendo a um bem maior em vez
da ideia de fazer alguma coisa a
curto prazo.
Sim. Isso faz com que elas pa-
rem um pouco e perguntem
quais são as coisas que real-
mente importam. O que de-
vem realmente valorizar. Isso
está ficando aparente para as
pessoas neste momento extre-
mamente difícil. Quero me

lembrar disso e me apegar a es-
sa ideia, e não que as coisas vol-
tem a ser como eram, em to-
dos os aspectos.

lNo seu maravilhoso musical,
American Utopia, que ficou em
cartaz na Broadway até meados
de fevereiro, há uma percepção
comum de que, sendo você, não
poderia ser de outra maneira. Em
seu livro How Music Works, há
uma frase que deixa claro o quão
isolados estamos hoje: “É um
evento social, uma afirmação de
uma comunidade. E é também,
de um modo menos importante,
a rendição do indivíduo isolado
ao sentimento de pertencer a
uma tribo maior”.
É o que eu estava dizendo an-
tes: quando você acorda de ma-
nhã e sabe que não vai ter ne-
nhum tipo de experiência com
um grupo de pessoas, quero di-
zer, algumas pessoas podem es-
tar isoladas com membros da
sua família. Mas há o outro la-
do, quando você se depara
com um grupo de pessoas que
não conhece, que se reúne pa-
ra fins de entretenimento ou
para trabalhar, são pessoas
afastadas e
ocupam gran-
de parte de
nossas vidas.
Assim, na mi-
nha opinião,
estamos lidan-
do da melhor
forma possí-
vel com essas entrevistas e reu-
niões a distância.

lEstá andando de bicicleta?
Não nos últimos dias, mas, sim,
o máximo possível. Estou em
contato com alguns membros
da banda que estão em Manhat-
tan ou no Brooklyn. E faço lon-
gos passeios de bicicleta. Man-
tenho bem a distância, usando
máscaras e todo esse tipo de
coisa. Mas, olha, a sensação é
boa. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA
MARTINO

BYRNE


ENTREVISTA


David Byrne, músico e escritor


Com sua companhia.
No musical ‘American Utopia’

Músico diz se apegar à ideia de que as coisas não voltarão a ser como antes


e que mantém sua rotina de andar de bicicleta, devidamente protegido


E A VIDA NA PANDEMIA


Música*


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MÚSICA

CRIANÇAS

TEATRO

Francis e
Olivia Hime
Dia 6/6. Sábado, 19h.

Eduardo Mossri
em Cartas Libanesas
Texto: José Eduardo
Vendramini.
Dia 7/6. Domingo, 21h30.^12

Teresa Cristina
Dia 5/6. Sexta, 19h.

Ana Luísa
Lacombe
em Faz e Conta Histórias
Dia 6/6. Sábado, 12h.

Gero Camilo
em A Casa Amarela
Dia 5/6. Sexta, 21h30.^12

Renato Teixeira
Dia 7/6. Domingo, 19h.

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DO MESA BRASIL


Há mais de 25 anos o programa funciona como
uma rede de combate à fome e à má distribuição de
alimentos, com parceria entre a sociedade civil, o
empresariado e as instituições sociais.

Levamos alimentos às pessoas atingidas pela crise
do coronavírus: cestas básicas, produtos de higiene
pessoal e limpeza.

Podem doar:
Centrais de abastecimento, produtores,
supermercados atacadistas, padarias, confeitarias,
feiras, indústrias cerealistas, entre outros.

conheça o programa.
saiba como doar:

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e inéditas direto
da casa do artista.

Em Casa


com Sesc


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CINEMA

O Homem da
Cabine
(Dir.: Cristiano Burlan,
Brasil, 2008, 90 min, L)

Mamma Roma
(Dir.: Pasolini, Itália, 1962,
116 min,^14 )

O Pacto de
Adriana
(Dir.: Lissette Orozco,
Chile, 2017, 96 min,^12 )

Historietas
Assombradas -
O Filme
(Dir.: Victor-Hugo
Borges, Brasil, 2017, 90
min, L)

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MATTHEW MURPHY/HUDSON THEATRE
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