O Estado de São Paulo (2020-06-05)

(Antfer) #1

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A4 SEXTA-FEIRA, 5 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política

»SINAIS PARTICULARES.
Ronaldo Caiado,
governador de Goiás

»Agro. “Temos de demons-
trar ao mundo que nossos
produtores rurais estão
comprometidos e obede-
cem legislação ambiental”,
disse o Mourão. “A questão
das barreiras, sejam tarifá-
rias, comerciais ou até, diga-
mos, ambientais, todas colo-
cadas com um único objeti-
vo: reduzir a capacidade e a
penetração que o nosso
agronegócio tem.”

»Já era? “Somos apresen-
tados como vilões do meio
ambiente quando não so-
mos. Temos que reconhe-
cer que houve aumento no
desmatamento na Amazô-
nia”, disse o vice.

»Canais. “Nós temos de
nos aproximar da comuni-
dade internacional, das or-
ganizações ambientais e dei-
xarmos claro o compromis-
so não só do governo brasi-
leiro, mas do Estado brasi-
leiro com a proteção e pre-
servação do seu patrimônio
natural”, disse Mourão.

»Passou... Mourão minimi-
zou as manifestações a fa-
vor de Bolsonaro que ata-
cam as instituições, a demo-
cracia e pregam interven-
ção militar. “Enquanto ficar
no terreno da retórica, fai-
xa, palavra de ordem, como
sempre fica esse tipo de ma-
nifestação, está contida den-
tro dos limites da lei.”

»...um pano. Segundo
Mourão, o grupo da ativista
Sara Winter “não enche um
caminhão”. “No momento
em que partirem para a ba-
derna, dano ao patrimônio
público, agressão aos minis-
tros na rua, em suas resi-
dências, aí as barras da lei
para com esses grupos.”

»Simples. Sobre a tensão
com o STF: “Decisões judi-
ciais a gente cumpre ou con-
testa utilizando os meios
que a Justiça tem”, disse
Mourão. A entrevista está
no blog da Coluna.

»Me diz aí. Pontos mal ex-
plicados pela Secom segun-
do quem conhece o merca-
do de anúncios do Google:
1) Se não há censura ou fil-
tro, quais são os canais de
oposição que recebem re-
cursos? 2) Uma vez que a
empresa fornece relatórios
das veiculações, isso foi fis-
calizado? Se sim, por que
deixou passar site adulto?

»Contexto. CPI mista das
Fake News apontou anún-
cios em canais de “conteú-
do inapropriado”. O gover-
no alega que a distribuição
é feita pelo Google, por algo-
ritmo, já a empresa diz ser
feita também por pessoas.

»Fica... Ronaldo Caiado
ligou para o gabinete de
Eduardo Pazuello. Atendeu
a secretária: “Quem?!”. Ele-
repetiu: “Ronaldo Caiado”.
“Caia... o que?!”. Impacien-
te, ele reagiu: “Governador
de Goiás!”. “De onde?!”
Caiado desistiu. Bateu o te-
lefone e ficou por isso.

»...difícil. O ex-ministro
Mandetta estava justamen-
te com Caiado na hora do
telefonema, que vem sendo
usado no Congresso como
exemplo do “desmanche na
Saúde”. Como a secretaria
do ministro não sabe nem
quem são os governadores?

COM MARIANA HAUBERT E
MARIANNA HOLANDA. COLABO-
ROU ELIANE CANTANHÊDE.

O


vice-presidente Hamilton Mourão entende que o
governo Jair Bolsonaro derrapou na largada do
combate ao desmatamento e, por isso, “perdeu a
narrativa” no meio ambiente. Segundo ele, sem citar o mi-
nistro Ricardo Salles, o Brasil hoje é apresentado interna-
cionalmente como “vilão”. “Fazemos esse mea-culpa, ela
(Operação Verde Brasil na Amazônia) devia ter começado
lá no final do ano passado”, afirmou, em entrevista que
contou com a participação da Coluna. O vice reconhece
que essa imagem ruim atrapalha o agronegócio do País.

Mourão faz mea-culpa e


vê risco ao agronegócio


ALBERTO BOMBIG
TWITTER: @COLUNADOESTADAO
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KLEBER SALES/ESTADÃO

Tribunal vê indícios de
fraude em contratos de

R$ 500 mi. Pág. A


TCU


Governo passa R$ 84 mi do


Bolsa Família para anúncios


Executivo. Planalto transfere recursos do programa social para publicidade institucional


em meio a pandemia e é alvo de críticas de parlamentares; Nordeste é região mais afetada


Camila Turtelli
Felipe Frazão / BRASÍLIA

No momento em que o presi-
dente Jair Bolsonaro é alvo
de protestos e sofre ameaça
de impeachment, o governo
retirou R$ 83,9 milhões que
seriam usados no programa
Bolsa Família para investir
em publicidade de suas
ações. A medida atingiu os re-
cursos previstos para a re-
gião Nordeste do País e cau-
sou críticas no Congresso
por ocorrer durante a pande-
mia do coronavírus, quando
muitas famílias estão sem
fonte de renda. O dinheiro se-
rá destinado à Secretaria de
Comunicação Social da Presi-
dência (Secom) e vai bancar a
propaganda institucional.
A portaria que prevê a transfe-
rência da verba foi publicada on-
tem no Diário Oficial da União
em ato assinado pelo secretário
executivo do Ministério da Eco-
nomia, Waldery Rodrigues. Ape-
sar do corte, o Ministério da Ci-
dadania sustenta que o paga-
mento do benefício está garanti-
do por recursos do auxílio emer-
gencial. Há, no entanto, uma fila
de espera de 433 mil pedidos pa-
ra acesso ao Bolsa Família.
O valor total destinado ao Bol-
sa Família, no ano inteiro, é de
R$ 32,5 bilhões. Técnicos do
Congresso ouvidos pelo Esta-
dão disseram que, como não há
recurso extra, a transferência de
verba para a publicidade de atos
do governo não precisa passar
pelo crivo dos parlamentares.
Para efeito de comparação,
os R$ 83,9 milhões destinados à
Secom dariam para comprar
1.263 respiradores hospitalares


  • ao custo de R$ 66,4 mil cada –
    ou 856.164 mil testes tipo RT-


PCR para detectar a infecção pe-
lo coronavírus em pacientes, ao
preço unitário foi de R$ 98.
A Secom já gastou R$ 17,8 mi-
lhões com propaganda durante
a pandemia do coronavírus, de
abril até hoje. Os recursos são
utilizados para divulgar peças
publicitárias com o mote de
que é preciso “proteger vidas e
empregos”. Depois do fracasso
da campanha “O Brasil não po-
de parar”, vetada por decisão da
Justiça, Bolsonaro e a Secom –
comandada por Fábio Wajngar-
ten – adotaram a frase “Nin-
guém fica para trás”.

Críticas. Parlamentares critica-
ram a transferência dos recur-
sos, principalmente por envol-
ver dinheiro que seria destina-
do à população de baixa renda.
“É importante lembrar que isso
acontece no momento de au-
mento da fila do Bolsa Família,
ao mesmo tempo em que pai-
ram sobre a Secom denúncias
de mau uso de suas verbas para
a propagação de fake news e
mensagens e ódio”, disse a depu-
tada Tabata Amaral (PDT-SP).
O líder do Novo, deputado
Paulo Gamine (RJ), afirmou
que a verba da Secom foi reduzi-
da de R$ 273 milhões para R$ 73
milhões na votação da Lei de Di-
retrizes Orçamentárias para


  1. “Nós reduzimos esse gas-
    to e agora o governo quer re-
    compor esse valor. A que custo?
    Para quê?”, perguntou. Já Perpé-
    tua Almeida (PC do B- AC) clas-
    sificou a ação como criminosa:
    “Tirar R$ 83 milhões da boca de
    famílias pobres para fake news
    é crime”. O deputado Kim Kata-
    guiri (DEM-SP) adotou tom se-
    melhante. “A medida diz muito
    sobre as prioridades de Bolsona-
    ro. Tirar comida da mesa de


quem mais precisa para aumen-
tar a própria popularidade é o
cúmulo da canalhice”, protes-
tou ele.
Em março, o Estadão reve-
lou que a região Nordeste só re-
cebeu 3% dos novos benefícios
concedidos no mês de janeiro,
enquanto o Sudeste e o Sul fo-
ram priorizados nas novas con-
cessões, reunindo 75% dos paga-
mentos no primeiro mês deste
ano. O Tribunal de Contas da
União (TCU) avalia se houve ir-
regularidade.
Questionado sobre a fila de
espera no Bolsa Família, o secre-
tário de Desenvolvimento So-
cial do Ministério da Cidadania,
Sérgio Queiroz, disse não haver
motivo para preocupação.
“Após a entrada em vigor do au-

xílio emergencial, todas as pes-
soas do cadastro único que se
adequaram às exigências da lei
do auxilio foram contempla-
das”, afirmou. Pela regra vigen-
te, no entanto, o benefício será
pago por apenas três meses.
Na prática, a campanha da Se-
com é diferente da produzida pe-
lo Ministério da Saúde para fins
de utilidade pública, com o obje-
tivo de passar orientações sobre
o novo coronavírus. O ministé-
rio já gastou R$ 61 milhões e de-
ve ampliar a despesa com produ-
ção de mais conteúdo.
O dinheiro para bancar a publi-
cidade institucional do governo
Bolsonaro tem saído do orça-
mento de “Enfrentamento da
Emergência de Saúde Nacional”
dos ministérios da Saúde e da Ci-
dadania, os mais envolvidos em
ações diretas para atendimento
à população. A Secom, por sua
vez, centralizou a produção das
peças publicitárias. A campanha
é feita pela agência Calia Y2, sem
que tenha havido uma seleção
interna das propostas de outras
contratadas pelo governo, co-
mo a NBS e a Artplan.
Um relatório produzido pela
Comissão Parlamentar de In-
quérito (CPI) das Fake News
do Congresso apontou, na ter-
ça-feira, que o governo veicu-
lou 2 milhões de anúncios em
canais com conteúdos conside-
rados “inadequados”. A lista in-
clui páginas que disseminam
fake news, propagam jogos de
azar ilegais e até sites porno-
gráficos.
A Secom argumentou que a
escolha de onde os anúncios se-
riam veiculados coube ao Goo-
gle, mas a empresa rebateu e
afirmou ser possível bloquear
veiculação de propaganda insti-
tucional nesse tipo de site.

Bianca Gomes
Pedro Prata

O presidente Jair Bolsonaro
tem enfrentado maior rejeição
nas redes sociais por sua postu-
ra na pandemia do novo corona-

vírus do que pelas crises políti-
cas vividas por seu governo.
Dados do Twitter levantados
pela Diretoria de Análise de Po-
líticas Públicas da Fundação Ge-
tulio Vargas (FGV/Dapp) a pedi-
do do Estadão mostram que o
presidente perdeu capacidade
de atrair novos seguidores des-
de março, quando pediu o fim
do isolamento social. Esse foi
também o momento em que re-
cebeu mais comentários negati-
vos na rede social.
O pronunciamento na televi-

são no dia 24 de março, no qual o
presidente classificou a pande-
mia como “histeria”, foi o mo-
mento em que ele mais ganhou
seguidores (o saldo do dia foi de
32.178) e mobilizou o maior nú-
mero de menções a seu nome:
655.133 comentários. Porém, se-
gundo o estudo, 59% desses co-
mentários foram negativos,
40%, positivos e 1%, neutro.
O discurso na televisão, no en-

tanto, representou um ponto
de virada nas redes sociais do
presidente, de acordo com o es-
tudo. Desde o dia seguinte, ele
passou a apresentar queda signi-
ficativa em seu saldo de novos
seguidores e até 22 de maio não
havia conseguido de recuperar,
chegando a perder seguidores,
de acordo com a análise.
Para o diretor de Análise de
Políticas Públicas da FGV, Mar-
co Aurélio Ruediger, o governo
falhou na avaliação sobre o im-
pacto que a pandemia teria. Is-
so fez com que Bolsonaro per-
desse uma parte do capital po-
lítico de apoio que parte do cen-
tro emprestava para a direita.
“A pandemia turbinou uma cri-
se política que já estava à vista.”

José Luiz Penna

Pandemia faz presidente


perder seguidores, diz FGV


PRONTO, FALEI!

Ministério diz que


pagamento está


garantido


Postura no combate ao
novo coronavírus leva a
uma maior rejeição a
Bolsonaro no Twitter
do que crises políticas

l‘Viciados’
Jair Bolsonaro chamou ontem
quem protesta contra seu gover-
no de “marginal” e “viciado” e
pediu que apoiadores não partici-
pem de atos no domingo.

JOÉDSON ALVES/EFE

Sem máscara. Bolsonaro fala a apoiadores em frente ao Palácio do Alvorada sem proteção, descumprindo decreto do DF

“Democratas, temos de livrar o governo dos fascistas
com os nossos métodos, não com as armas de quem
nos agride”, sobre violência nos atos contra Bolsonaro.

Presidente do PV

lO Ministério da Cidadania infor-
mou, em nota, que o pagamento
do benefício às famílias inscritas
no Bolsa Família está garantido,
mas não esclareceu o motivo da
transferências dos recursos. A
justificativa da pasta é de que a
maior parte dos inscritos no pro-
grama recebeu, em abril, o auxí-
lio emergencial de R$ 600 do go-
verno pago durante a pandemia
do novo coronavírus. Como não
podem acumular benefícios, o
repasse do Bolsa Família para
estas pessoas foi suspenso, o
que, então, teria gerado a “sobra”
de recursos. Ainda há, no entanto,
fila de 430 mil famílias esperan-
do para entrar no programa.

»CLICK. Ministro do Meio
Ambiente, Ricardo Salles
participou de live com
empresários, promovida
pelo Grupo Voto. O tema
foi “desburocratização
para acelerar o Brasil”.

COLUNA DO ESTADÃO
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