O Estado de São Paulo (2020-06-05)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:A-8:20200605:
A8 Política SEXTA-FEIRA, 5 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


O deputado Capitão Augusto
(PL-SP), líder da bancada da
bala, disse ontem que o presi-
dente Jair Bolsonaro deu aval
para a recriação do Ministério
da Segurança Pública. Após
reunião com o presidente, Au-
gusto disse que a ideia é que
Polícia Federal, Polícia Rodo-
viária Federal e penitenciárias
federais continuem subordina-
da ao Ministério da Justiça. A
bancada da bala formalizou a
indicação do ex-deputado Al-
berto Fraga (DEM), amigo de
Bolsonaro, para assumir a pas-
ta, caso seja mesmo criada.

O Ministério Público Federal
(MPF) se manifestou a favor
do arquivamento provisório de
um segundo inquérito sobre o
atentado a faca que o presiden-
te Jair Bolsonaro sofreu em 6
de setembro de 2018 em Juiz
de Fora (MG). Nesta segunda
investigação, é apurado se,
além de Adélio Bispo, outras
pessoas participaram do cri-
me. Para o MPF, Adélio “conce-
beu, planejou e executou sozi-
nho o atentado”. Em junho do
ano passado, depois de encerra-
do o primeiro inquérito, o juiz

Bruno Savino, da Justiça Fede-
ral em Juiz de Fora, absolveu
Adélio, considerando-o inim-
putável por ter problemas psi-
quiátricos. O segundo inquéri-
to prosseguiu, para apurar se
ele agiu ou não sozinho.

O jornalista João Gabriel de Li-
ma estreia amanhã como colu-
nista do Estadão. Sua coluna –
que será um espaço de debate
sobre os principais desafios e
problemas do País – será publi-
cada semanalmente, aos sába-
dos, nas versões impressa e digi-
tal do Estadão.
Segundo o jornalista, que
também é professor, a ideia é
unir o noticiário e a academia. A
partir de pesquisa e apuração
de dados científicos, a coluna
vai oferecer aos leitores a possi-
bilidade de discutir temas que
vão da pandemia do novo coro-
navírus ao urbanismo.
“Soluções concretas para pro-
blemas concretos”, resumiu o
novo colunista, sobre sua pro-


posta para os textos. “Serão me-
nos opiniões minhas, e mais lei-
turas a partir de bases de dados,
mapear os problemas que estão
em jogo”, afirmou.
Professor de jornalismo há
mais de dez anos na Fundação
Armando Alvares Penteado
(Faap), e há cerca de três anos
no Insper, João Gabriel de Lima
está em contato permanente
com algumas das ideias e auto-
res centrais do debate público
brasileiro. Neste ano, ele tam-
bém passa a integrar mais uma
rede acadêmica, desta vez inter-
nacional: fará doutorado em

Ciência Política na Universida-
de de Lisboa, com início previs-
to para setembro.
Sua intenção é selecionar as
melhores teses que circulam
nas redes acadêmicas e propor
discussões na coluna. Ele já deu
início a essa trabalho, em con-
versas com cientistas brasilei-
ros e estrangeiros sobre ques-
tões de política pública no País.
“Minha ideia é aproveitar
que estou nesses lugares para
fazer um jornalismo melhor. O
Brasil tem um debate sobre os
problemas brasileiros que é
bastante sofisticado e, às ve-
zes, isso passa ao largo do noti-
ciário, que está sempre ocupa-
do com o fato de que a gente
tem uma democracia ‘bastante
vibrante’, digamos assim, e
meio turbulenta”, disse.
A partir da coluna, João Ga-
briel também pretende aprofun-
dar os debates, em outros for-
matos. Após a publicação na ver-
são impressa, afirmou, a versão
online pode ganhar novos da-

dos e mais referências dos estu-
dos sobre os temas discutidos,
mantendo assim um diálogo
permanente com analistas e lei-
tores. Entre as ideias em estudo

estão conversas em vídeos e
podcasts, além de interação por
meio das redes sociais.
“A ideia é que seja uma colu-
na que nasce no papel, mas te-

nha uma versão muito forte no
digital”, explicou o jornalista.

Trajetória. Essa versatilidade
para atuar em diferentes forma-
tos é uma marca de João Ga-
briel ao longo de sua carreira no
jornalismo. Em 35 anos, ele pas-
sou por algumas das principais
redações do País. Iniciou sua
trajetória como estagiário no
jornal Folha de S. Paulo, passou
mais de uma década na redação
da revista Veja, foi diretor de re-
dação da Bravo! e diretor de re-
dação e redator-chefe da revis-
ta Época.
João Gabriel está no Estadão
desde 2018 e, no ano passado,
foi um dos coordenadores da
transformação digital que mu-
dou a forma como o jornal pro-
duz e distribui notícias.
Sobre o novo desafio como co-
lunista, disse esperar contri-
buir para a qualidade das discus-
sões. “O debate público é uma
das coisas mais importantes na
democracia. Ficou muito claro,
nesse momento de pandemia,
que a política precisa ser infor-
mada pelo conhecimento para
elevar o nível do debate.”

DIDA SAMPAIO/ESTADAO

Daniel Bramatti


A Comissão Parlamentar Mis-
ta de Inquérito das Fake
News errou ao colocar o jor-
nal paranaense Gazeta do Po-
vo em uma lista de 47 supos-
tos propagadores de notícias
falsas. No fim do dia, consulto-
res legislativos admitiram
que houve equívoco, se retra-
taram e retiraram o periódico
da lista de sites com “conteú-
do inadequado”, segundo o
entendimento da comissão.


“Concluímos que a inclusão
do jornal Gazeta do Povo na cate-
goria ‘canais com comporta-
mento desinformativo’ foi equi-
vocada”, diz o documento divul-
gado ontem à noite, assinado pe-
los consultores legislativos
Cristiano Aguiar Lopes e Daniel
Chamorro Petersen. “Nos retra-
tamos, portanto, de ter atribuí-
do essa classificação no anexo
da informação e promovere-
mos a sua retirada.”
O documento original, feito
por assessores do Congresso e

divulgado anteontem, havia ma-
peado gastos de propaganda do
governo em veículos.
A inclusão do jornal na lista
havia causado surpresa e protes-
tos. “É absolutamente inusita-
do, para dizer o mínimo, a CP-
MI incluir um jornal centená-
rio, com incontáveis contribui-
ções ao Paraná e ao Brasil, entre
os difusores de desinforma-
ção”, afirmou o presidente da
Associação Nacional de Jornais
(ANJ), Marcelo Rech, antes do
anúncio do recuo.

O erro ocorreu no momento
em que o Congresso tenta votar
um projeto para combater fake
news. Segundo especialistas,
uma lei sobre desinformação,
dada a dificuldade de definir o
problema em termos objetivos,
pode restringir a liberdade de
expressão e causar danos ao jor-
nalismo. “Este episódio de-
monstra os riscos de se gravar
em lei um conceito de desinfor-
mação e deixar a cargo do Esta-
do a classificação de uma notí-
cia como falsa”, afirmou o presi-
dente da Associação Brasileira
de Jornalismo Investigativo (A-
braji), Marcelo Träsel.
Além de admitir o equívoco,
os consultores legislativos divul-
garam nota metodológica para
explicar seus critérios. Segundo
eles, foi registrado “comporta-
mento desinformativo” em ca-
nais que reiteradamente contra-
riam consensos científicos, di-
fundem “teorias da conspira-
ção” ou apresentam conteúdos
potencialmente danosos à saú-
de pública. Além disso, foram
marcados “canais nos quais exis-
tem três ou mais matérias ou
conteúdos classificados como
falsos, deturpados ou incorre-
tos” por checadores de fatos.
Os checadores citados pela

comissão – Estadão Verifica,
Comprova, Aos Fatos, Fato ou
Fake, Agência Lupa, E-farsas e
Boatos.org – negaram ter sido
consultados sobre a lista.

Desinformação. O Estadão Ve-
rifica, núcleo de checagem de fa-
tos do Estadão, nunca classifi-
cou a Gazeta do Povo como um
veículo de fake news, e não foi
procurado pela CPMI. O mes-
mo ocorreu com o Comprova,
projeto colaborativo de checa-
gem do qual o Estadão faz par-
te, com 23 outros veículos.
A Agência Lupa informou
que “não é correto afirmar que
foi consultada sobre uma lista
de sites produtores de ‘notícias
falsas’”. Segundo a agência, “as
checagens da Lupa não devem
ser usadas de forma aleatória pa-

ra classificar sites inteiros. Elas
versam sobre conteúdos espe-
cíficos, de forma granular”.
O Aos Fatos afirmou que tam-
bém não foi consultado e que
desconhece a metodologia.
“Aos Fatos vê com preocupação
qualquer tentativa de institucio-
nalizar fiscalização de conteú-
do e não endossa listas de sites
que eventualmente produzam
conteúdo desinformativo.”
“O E-farsas não foi consulta-
do, em nenhum momento, so-
bre algum possível ranking ou lis-
ta de sites propagadores de fake
news e, mesmo que fosse, não
cabe à nossa agência esse tipo de
julgamento”, disse Gilmar Lo-
pes, responsável pelo site. “Cos-
tumamos revelar qual site, perfil
ou publicação originou a notícia
falsa quando encontramos essa
informação, mas isso não torna
o citado uma publicador contu-
maz de desinformação.”
“Não é possível classificar
um site como de fake news com
base apenas em artigos checa-
dos”, disse Edgard Matsuki, res-
ponsável pelo Boatos.org.
“Achamos também perigosa a
classificação de veículos de mí-
dia profissionais como canais
de desinformação.” / COLABOROU
MATHEUS LARA

O procurador-geral da Repúbli-
ca, Augusto Aras, afirmou em
memorial ao Supremo Tribu-
nal Federal que pediu ao minis-
tro Alexandre de Moraes o fa-
tiamento do inquérito das fake
news. Aras solicitou que sejam
abertos processos independen-
tes para os casos que envolve-
rem autoridades com foro pri-
vilegiado. Segundo o procura-
dor-geral, somente 2% da in-
vestigação mira pessoas com a
prerrogativa. O inquérito, de
acordo com Aras, é composto
por mais de 10 mil páginas e
cita “centenas de cidadãos”.

Jornalista João Gabriel de Lima estreia coluna no ‘Estadão’


l‘Centenário’

FAKE NEWS
Para Moro, ter de defender
democracia é ‘anomalia’
O ex-ministro da Justiça Sér-
gio Moro disse ontem conside-
rar uma “anomalia” a necessi-
dade de defender publicamen-
te a democracia no Brasil. Para
ele, esse movimento ocorre
em reação ao “populismo auto-
ritário” do presidente Jair Bol-
sonaro. “A responsabilidade
pela anomalia é do presidente
e não da reação”, afirmou o ex-
juiz ao Estadão, em referência
a atos e manifestos pró-demo-
cracia. “Deveríamos estar dis-
cutindo saúde, educação, segu-
rança, emprego. Não temas da
época da Guerra Fria.”

MANIFESTOS
Nova pasta da Segurança
não teria PF, diz deputado

MINISTÉRIOS

TWITTER-6/9/

ATENTADO CONTRA BOLSONARO


MPF afirma que Adélio Bispo agiu sozinho


e pede arquivamento de segundo inquérito


l Espaço
“O Brasil tem um debate
sobre os problemas
brasileiros que é bastante
sofisticado e, às vezes, isso
passa ao largo do
noticiário.”
João Gabriel de Lima
NOVO COLUNISTA DO ‘ESTADÃO’

SILVANA GARZARO/ESTADÃO-27/3/

‘A política precisa


ser informada pelo


conhecimento para


elevar o nível do debate’,


afirma novo colunista


Colunista. João Gabriel de Lima é jornalista e professor

“É absolutamente inusitado
a CPMI incluir um jornal
centenário, com incontáveis
contribuições ao Paraná e
ao Brasil, entre os difusores
de desinformação.”
Marcelo Rech
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO
NACIONAL DE JORNAIS (ANJ)

Zambelli
se cala

ao depor
na PF
Convocada pe-
lo STF a pres-
tar depoimento
no inquérito
das fake news,
a deputada Car-
la Zambelli
(PSL-SP) disse
ontem que fi-
cou em silêncio
na audiência.
Afirmou que é
perseguida por
apoiar o gover-
no Bolsonaro.

CPI admite erro e


tira jornal de lista


de ‘fake news’


Consultores legislativos reconhecem equívoco e retiram ‘Gazeta do


Povo’ de relação de veículos que espalham ‘conteúdo inadequado’


Aras pede para separar
alvos com foro em ação
O Tribunal Superior Eleitoral
autorizou ontem que partidos
políticos façam convenções
virtuais para oficializar seus
candidatos a prefeito e verea-
dor devido à pandemia do novo
coronavírus. As reuniões de-
vem ser realizadas entre 20 de
julho e 5 de agosto, por meio
de qualquer plataforma online.
A Corte tem mantido as datas
do calendário eleitoral – o pri-
meiro turno está previsto para
4 de outubro –, embora o presi-
dente do TSE, ministro Luís
Roberto Barroso, já admita
adiar a votação para dezembro.

TSE autoriza partidos a
fazer convenção virtual

ELEIÇÕES 2020
Free download pdf