JornalValor--- Página 14 da edição"05/06/2020 1a CAD A" ---- Impressapor ccassiano às 04/06/2020@21:28:
A14|Valor|Sexta-feira, 5 de junhode 2020Especial
Evoluçãodapandemiaetrajetória
noBrasil.PorFrancisco Lopes
Covid-19:
oBrasil
estabiliza
atéagosto?
E
ste artigo avalia a evolu-
ção do panoramainter-
nacionalda covid-19e a
trajetóriade estabiliza-
ção da epidemiano Brasil, análi-
serealizadanodia2dejunho.
1)Panoramainternacional
O Brasil, com maisde 500 mil
casos, mantém o segundo lugar
numalista dos principaispaíses
maisinfectados.Nosso totalcor-
responde a 28% dos EstadosUni-
dos, mas coma diferençaatual
nosRt(de1,051versus1,012)po-
demoschegarao primeirolugar
em cerca de 30 dias. Comopre-
visto, aÍndia deverá tambémsu-
bir para as primeiras posições da
lista,e agora entrouem cenao
Peru que, com propagação forte,
também caminhana mesmadi-
reção. Apenasesses três paísesda
lista,incluindoo Brasil,apresen-
tam velocidades de propagação
(comoindicadas peloRt) supe-
rioresao totalmundial[o Rt é
uma medidade quantaspessoas
são infectadasem médiapor al-
guémcomadoença].
Natabela 1, introduzimostam-
bém uma coluna com oRt defasa-
do em sete dias que nos permite
analisarcomoestáevoluindoopa-
noramainternacional. De um mo-
do geralo que vemos é um movi-
mentodegradualreduçãodavelo-
cidade de propagação,mesmono
caso de alguns paísesde evoluçãoFonte:MacrométricaEstadosUnidos
Brasil
Rússia
Espanha
ReinoUnido
Itália
Índia
França
Alemanha
Peru
Turquia
Mundo1.837,
514,
405,
286,
274,
233,
190,
188,
183,
164,
163,
6.259,1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,Rt Def 7329
210
146
47
83
60
82
67
83
33
84
7.0,
0,
0,
0,
0,
0,
0,
0,
0,
0,
0,
0,106,
29,
4,
27,
38,
33,
5,
28,
8,
4,
4,
374,5,
5,
1,
9,
14,
14,
2,
15,
4,
2,
2,
5,Totalde
casos(mil)Rt1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,População
(milhões)Casos/
População(%)Mortos
(mil)Taxade
letalidade(%)Gráfico2 - Novoscasos
Projeçãoparao Brasil,por dia, em mil (médiade 7 dias)Gráfico4 - Novosóbitos
Brasil,por dia, em mil (média de 7 dias)Gráfico1 - Brasil
Taxade propagação Rt (méidade 7 dias)
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1
4/
mar11/
mar18/
mar25/
mar1/
abr8/
abr15/
abr22/
abr29/
abr6/
mai13/
mai20/
mai27/
maiGráfico3 - Óbitospor caso
Brasil-projeção
0,
0,
0,
0,
0,
0,
0,
0,
0,
4/
mar11/
mar18/
mar25/
mar1/
abr8/
abr15/
abr22/
abr29/
abr6/
mai13/
mai20/
mai27/
maiTabela 2 - Evolução regional
Covid-19,por EstadoBrasil
SãoPaulo
Rio de Janeiro
Ceará
Amazonas
Pará
Maranhão
Pernambuco
Bahia
EspíritoSanto
Paraíba
Outros514.
109.69 8
53.38 8
48.
41.
37.
34.
34.4 50
18.
13.
13.
109.363.
82.
37.
35.
29.
24.
21.
27.
13.
10.00 7
7.82 3
73.1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,
1,-0,
0,
-0,02 9
-0,
-0,00 9
-0,
-0,00 6
-0,
-0,
-0,
-0,
-0,1/jun 24/mai Rt Rt def VabsRt26/
fev12/
mar27/
mar11/
abr26/
abr11/
mai26/
mai10/
jun25/
jun10/
jul25/
jul9/
ago26/
fev12/
mar27/
mar11/
abr26/
abr11/
mai26/
mai10/
jun25/
jun10/
jul25/
jul9/
ago50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
032,21,10,0Tabela1 – Panoramainternacional
Casosde covid-19 em países selecionadosIMPACTOSDO
CORONAVÍRUS
maisrápida, comoBrasil, Rússia e
Índia. O Peru é a exceção, ainda
mostrandoalgumaaceleração.
Se adotarmoscomocritério de
virtual estabilização acondição Rt
menorque um, então a maioria
dos paísesestá enquadrada,asa-
ber Espanha, Reino Unido, Itália,
França, Alemanhae Turquia. Mes-
mo os Estados Unidosjá parecem
próximos da estabilização.Ou se-
ja, nos paísesavançados a pande-
mia estápraticamente controlada,
eoproblema aindapermanece
com alguma gravidade apenas em
economiasemergentes, comoBra-
sil, Índia e Peru (e talvez no futuro
tambémChile,México,Paquistãoe
Bangladesh).
2) EoBrasil,quando esta-
biliza?
Nocasobrasileirotambémpo-
demos notarum movimentode
desaceleraçãolentadesdemea-
dos de abril,como Rt aproxi-
mando-sede1,05(gráfico1).
Nossocenáriomais otimista
estáseconfirmandocomoRt
caindo ao ritmode 0,000691ao
dia nos últimos 40 dias. Isso cor-
respondeaumadesaceleraçãode
2,76 pontos de percentagem nes-
se período. Comessa intensidade
de desaceleração, se partimosde
um Rt no patamar de 1,05, deve-
moschegar àestabilidade em
menos de 80 dias. De fatonossa
projeção atual indica adata ter-
minal de 12 de agosto,com um
pico deaproximadamente 45mil
novos casos por diapor volta de 4
dejulho(gráfico2).
É interessante notarque no mo-mentoda estabilização onúmero
total de casosacumulados ao lon-
go da epidemia será da ordem 2,
milhões,superioraonúmeroatual
dos Estados Unidos queéde1,
milhão. Esses números podem
causar umasurpresainicial, mas
essaepidemiatem mostradoque
nadadeve nos surpreender,eao
longodotempovamosnósacostu-
madocom números que pareciam
surpreendentes.
Eototalde óbitos? Essa proje-
ção é maisdifícil, pois depende
nãoapenasdaevoluçãodototalde
casos,mas também da eficiência
do sistema médico e das terapias
utilizadasassimcomodacondiçãofísicadapopulação.Podemosob-
servarqueataxadeletalidade,que
é a relação entre óbitos e casos, su-
biu até 7% no iniciode maio, mas
está em queda na segunda quinze-
nademaio(gráfico3).
Comoédifícil saberse esse
movimentode quedaaindavai
continuar, nossahipótese con-
servadoraé que o últimovalor
observado, que foi de 5,7%,será
mantido no futuro. Comessa hi-
póteseonumerode óbitosnovos
por dia faz um pico em meados
de julhono patamarde 2.
(gráfico4), com um aumentode
700sobreonúmeroatualde950.
Nessecaso o totalacumuladodeóbitosao finalda epidemia será
próximo a 155 mil, possivelmen-
teumrecordemundial.
Interessatambémavaliarco-
mo está evoluindoaepidemia
emtermosregionais(tabela2).
Podemosver que São Paulo éo
únicocaso de aceleraçãodo coe-
ficientede propagaçãoRt nos úl-
timossete dias,mas aindaman-
tém um dos menoresvaloresda
tabela.Poroutro ladovemosas
maioresdesaceleraçõesem Ba-
hia,RiodeJaneiroePernambuco.
Nos outrosEstados,excluindo
São Paulo, temostambémdesa-
celerações um poucomaistími-
das. Podemosainda notarque sóencontramosRt superiores à mé-
dia nacionalem Paraíba,Para,
Maranhão e na médiados outros
estadosnãoincluídosatabela.
Oquadrodeixaclaroquequal-
queriniciativade relaxamento
dapolíticadedistanciamentoso-
cialdevesergradualecuidadosa,
respeitando as diferençasentre
as posições atuaisdas regiõese
de modoa não interromper o
crucialprocessode reduçãodo
Rtaolongodotempo.Francisco Lafaiete Lopes,PhDpela
UniversidadeHarvard, é sócioda
consultoria Macrométrica e
ex-presidente do BancoCentralMinistério não explica atraso na divulgação de dados
Rafael Bitencourte
Fabio Murakawa
De BrasíliaComnovoatraso na divulga-
ção dos númerosde casosemor-
tes por covid-19,o Ministério da
Saúderealizoumaisumaentre-
vistacoletiva, no Paláciodo Pla-
nalto, de possede números desa-
tualizadosda pandemiano Bra-
sil e sem a presença do ministro
ou seu substitutoimediato, ose-
cretário-executivo.
O secretáriosubstitutode Vi-
gilânciaem Saúde,EduardoMa-
cário, foi questionadosobreo
atrasona divulgaçãodos dados
pelosegundodiaconsecutivo.Os
jornalistasperguntaramse issoteriaocorrido peloregistrodo
número recordede mortes em
umsódia,naúltimaquarta-feira.
Ele, no entanto, desconversoue
alegouque éprecisoconsolidar
informações vindasdas secreta-
riasdesaúdedetodoopaís.
Ontem, o presidente Jair Bolso-
narooficializou anomeaçãode
maisum militar no comando do
MinistériodaSaúde.OcoronelAn-
tônioElcio Franco Filhoassumiu
com titular do cargodesecretário-
executivo do órgão,função que já
vinhaexercendocomoadjunto.
Franco entrou no lugar de
Eduardo Pazuello,hoje ministro
interino da Saúdeque substituiu
o ex-ministro NelsonTeich. A
portariade nomeaçãofoi publi-cadaontemem ediçãoextrado
“DiárioOficialdaUnião”.
No Planalto, técnicos do ministé-
rio anunciaram que foi disponibili-
zadoR$ 1,2 bilhão paraampliaro
atendimentodas unidadesbásicas
desaúdeemtodoopaís.Oobjetivoé
diagnosticarprecocemente as pes-
soas com a covid-19,que apresen-
tam sintomas leves,nas comunida-
des comgrandeconcentraçãoda
populaçãodebaixarenda.
“Esselançamento traz novos
serviços parareforçaraidentifi-
caçãoe oatendimentoprecoce
dos casoslevesda covid”, dissea
diretorasubstituta do Departa-
mento de Saúdeda Famíliado
Ministérioda saúde,LarissaRa-
mos,duranteaentrevista.A iniciativa do ministério pre-
vê a destinação dos recursos para
a manutençãode duasfrentes, o
Centro de Atendimento e o Cen-
tro Comunitáriode Referência
paraenfrentamento da pande-
mia.Oprimeiroestarádisponível
a todos os municípios eosegun-
do somenteàqueles com comu-
nidades em situaçãocrítica,com
riscodeentraremcalamidade.
A ideia é começar a fazer o diag-
nósticoprecocedadoençaemoni-
toraras pessoas com quem o pa-
ciente tevecontato.Os recursos
disponibilizados também vão aju-
daramanterosserviçosdasunida-
des básicas de saúde, garantindo
que os usuários não sejam subme-
tidosao risco de contágiopelo no-vo coronavírus. As unidades bási-
cas já oferecemserviço de rotina
relacionados a saúde criança, pré-
natal,acompanhamento de pa-
cientescom doençascrônicas (co-
modiabetesehipertensão).
Os técnicos do Ministério da Saú-
de afirmaramque pretendem,com
os novosrecursos, não só apoiaros
gestoreslocaisnaorganizaçãodadi-
nâmica dos casos suspeitos, mas ga-
rantir o encaminhamento de casos
graves paraos grandeshospitais
(unidadesdereferência).
Larissa informouque, a depen-
der da situação do município,a
prefeitura poderá receber até R$
100 mil mensais parareforçar o
atendimento na redebásicade
saúdeduranteapandemia.Oatendimento poderá ser am-
pliado com o usode locais dispo-
níveisnas comunidades que po-
dem ser adaptados. “É importante
destacarque essaestratégia vai
possibilitar que os gestores muni-
cipais, dentroda área considerada
crítica, ondenão tem cobertura
nemdeequipedesaúdeàfamíliae
nem unidadebásica de saúde, uti-
lize o equipamento socialque dis-
põe.Podeserumcentrocomunitá-
rio, e ali adaptar para o atendi-
mento", afirmou asecretária subs-
tituta de atenção primária do mi-
nistério,DanielaRibeiro.
Até o encerramentodestaedi-
çãooMinistériodaSaúdenão
havia divulgado um balançodos
casosdecovid-19nopaísontem.