O Estado de São Paulo (2020-06-06)

(Antfer) #1

H2 Especial SÁBADO, 6 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


SONIA RACY


DIRETO DA FONTE


Mariane Morisawa
ESPECIAL PARA O ESTADO
LOS ANGELES


Em 2014, quando Ann Druyan
decidiu retomar a série Cos-
mos, que fez ao lado do marido
Carl Sagan (1934-1996) na dé-
cada de 1980, a razão era que a
ciência tinha avançado um bo-
cado. Mas a descrença em fa-
tos científicos só piorou des-
de então. “A humanidade per-
deu de vista o coração da ciên-
cia: a verdade é o que impor-
ta”, disse a escritora e cientis-
ta em entrevista com a partici-
pação do Estadão, em Los An-
geles. “Não dá para mentir na
sua jornada para Marte, não
tem como enrolar na sua expe-
dição a outros mundos. Não
estamos ouvindo os cientis-
tas. Como inspiramos uma
pessoa a sair da inação com a
ajuda da ciência?”
Assim surgiu Cosmos: Mun-
dos Possíveis, cujos 13 episó-
dios são exibidos a partir do
sábado, 6, às 22h30, no canal
National Geographic. A ideia
era deixar de lado a imagem
do futuro distópico que temos
em mente, graças inclusive a
filmes e séries de televisão.
Mais do que as temporadas
anteriores, Cosmos: Mundos
Possíveis especula sobre o que
vem por aí – tudo baseado na
ciência, claro, e no conheci-
mento sobre o passado. “Nós
nos inspiramos na coragem
dos nossos ancestrais”, afir-
mou Druyan. “Dizemos: pode-
mos fazer isso. Somos capa-
zes. Como Carl dizia, nós so-


mos capazes de grandeza. Nes-
te momento de baixa autoesti-
ma, a série pede que tentemos
alcançar as estrelas. E não co-
mo algo impossível, mas sim
um sonho enraizado na ciên-
cia. Os sonhos são como ma-
pas.”
O astrofísico Neil deGrasse
Tyson, que volta como apre-
sentador em Cosmos: Mundos
Possíveis depois de Cosmos: A
Spacetime Odyssey, acredita
que a humanidade abandonou
sonhos grandiosos como a che-
gada à Lua da Apollo 11. “Quan-
do uma geração estabelece
uma meta nunca antes atingi-
da e consegue alcançá-la, há

um efeito galvanizador na civi-
lização. Desde então, não hou-
ve nenhum objetivo tão auda-
cioso. Aquela não foi uma con-
quista americana, mas de toda
a humanidade. E Cosmos para
mim é como a Lua. Podemos
todos juntar nossa inteligên-
cia e sabedoria e almejar ou-
tros mundos, tendo certeza de
não retrocedermos no arco da
civilização.”
Para Ann Druyan, o impor-
tante é manter a mente aberta.
“Só sei que aonde quer que ex-
ploremos, vamos ficar surpre-
sos, porque a natureza é muito
mais imaginativa e brilhante
que nossas melhores histó-

rias”, disse.
Mantendo sua marca de in-
terdisciplinaridade, os 13 epi-
sódios vão da astrofísica à ar-
queologia, passando pela bio-
logia e outras ciências, para
investigar também um mun-
do possível aqui mesmo na
Terra.
“Falamos tanto de inteligên-
cia extraterrestre e coloniza-
ção de outros planetas”, disse
Braga. “Mas até recentemen-
te não conhecíamos a ‘wood
wide web’ (um sistema de co-
municação entre plantas en-
volvendo raízes, fungos e bac-
térias), algo que estava embai-
xo de nossos pés, simplesmen-

te porque nunca nos interessa-
mos em compreender. Há
muito trabalho a ser feito aqui
mesmo na Terra.”
Até porque os ataques à
ciência não param, com al-
guns defendendo até que a
Terra é plana. “Você está que-
rendo dizer
que eu falhei
no meu traba-
lho?”, disse de-
Grasse Tyson
em tom de
brincadeira.
“As pessoas
estão usando
satélites em órbita para escre-
ver na internet que o mundo é
um plano. Eu acho que pode-
mos melhorar o ensino para
que não achem que a ciência é
algo que você pode aceitar ou
não, como se fosse uma opi-
nião. As verdades científicas
são verdades, quer você quei-

ra ou não.”
Mas para ele não adianta
simplesmente dizer aos des-
crentes na ciência que estão
errados. “A tendência é que
eles batam mais o pé. É preci-
so ser mais estratégico. Por is-
so eu acho que Cosmos é uma
boa maneira,
porque con-
tamos histó-
rias que pu-
xam o espec-
tador. Essa é
uma manei-
ra de comuni-
car sem fazer
pregação, de forma que a pes-
soa se sinta responsável pela
sua mudança de opinião. Te-
mos de dar esperança. Mos-
trar que é possível. E então te-
remos gente empoderada
emocionalmente e intelec-
tualmente para tentar reali-
zar aquele futuro.”

‘NÃO ESTAMOS OUVINDO


OS CIENTISTAS. COMO


AJUDAMOS UMA PESSOA A


SAIR DA INAÇÃO?’


Colaboração
Cecília Ramos [email protected]
Marcela Paes [email protected]

TRAZ DE VOLTA O


CORAÇÃO DA CIÊNCIA


lClaudio Lottenberg deba-
te com o professor de Jiu-jit-
su Pedro Valente a retoma-
da das atividades físicas. Ho-
je, em live no seu perfil do
Instagram.

lO Clube em Casa está pro-
movendo o 1.º Campeonato de
E-Sport para os associados de
15 clubes esportivos paulista-
nos. Ao final das disputas,
parte da premiação será doa-
da para uma instituição.

lRio Mais Brasil, da Turbilhão
e Ulysses Cruz, é exibido hoje


  • com libras e audiodescrição –
    pelo Teatro em Casa para aju-
    dar o Movimento Camaleão.


NATIONAL GEOGRAPHIC

‘COSMOS’


Inspiração.
Temporada se apoia
na ancestralidade

RESPONSABILIDADE


SOCIAL


Série apresentada


pelo astrofísico


Neil deGrasse Tyson


reafirma o poder da


verdade científica


POLAROID
João Suplicy – na quarentena
acompanhado do pai, Eduardo, e da
sua namorada, Ligia Hansen –
aproveita o momento para fazer coisas
que não faria normalmente, como
parcerias virtuais com outros artistas e
músicos, produção de vídeos musicais
por encomenda em datas
comemorativas e tocando em festas
online. “Acredito que parte desse novo
mercado de trabalho online que se
apresenta deve permanecer
pós-pandemia. Além disso, estou
compondo bastante e vou lançar, ainda
em junho, uma nova canção com o
grupo Mato Seco, chamada Filhos da
Quarentena”.

Blog: estadão.com.br/diretodafonte Facebook: facebook.com/SoniaRacyEstadao Instagram: @colunadiretodafonte

Pantaneiro


O livro Pantanal, de João
Farkas, já está na gráfica do
Sesc e será lançado em julho. En-
tusiasta da região preservada, o
fotógrafo também montou o do-
cumentário Ruivaldo o Homem
que Salvou a Terra, dirigido por
ele e Jorge Bodanzky, exibido
até amanhã na plataforma digi-
tal da Mostra Ecofalante.

Fruto da Documenta Pantanal,
iniciativa sua para ajudar o bio-
ma, o longa será exibido na TV
Cultura na próxima semana.

Vem cá...


Em conferência na Bahia, Ma-
rio Sergio Cortella ouvia jo-
vem moradora de quilombo di-
zer que era “neta de escra-
vos”. Após o evento, ele a procu-
rou pra dizer que não havia es-
cravo, mas homens e mulheres
que foram escravizados. “Você
é, então, neta de escravizados”.
O filósofo e escritor conta essa
história em A Diversidade: Apren-
dendo a Ser Humano – que lança
hoje pela Littera.

Unindo forças


Para Todd Chapman o caso
de George Floyd, asfixiado
de maneira chocante por um
policial nos EUA, foi de “abu-
so de direitos humanos e de
violência policial”.

Mas não pode ter “a violência
como resposta”. “Isso é mui-
to ruim. Não se pode comba-
ter violência com mais vio-
lência”, ponderou à coluna o
novo embaixador dos Esta-
dos Unidos no Brasil.

Como exemplo desse tipo de
reação, cita a morte esta se-
mana de David Dorm, poli-
cial americano aposentado,
morto por criminosos.

Unindo 2


Tanto os EUA quanto o Bra-
sil, avalia o diplomata, são
países “multirraciais”, e pre-
cisam unir forças para com-
bater o preconceito.

Como? Melhorando a repre-
sentatividade de suas insti-
tuições. “No meu país, quan-
tos dos nossos senadores
são mulheres? Quantos são
negros, índios, asiáticos?”,
pergunta Chapman, adian-
tando que pretende traba-
lhar para ampliar esse deba-
te com o Brasil.

O embaixador conta que em
conversas com “colegas afro-
americanos e latinos”, tem di-
to que a hora é de saber que
tipo de sociedade queremos.

Noves fora


Chapman embarcou em
Washington para assumir o
cargo em Brasília, dia 29 de
março. Quase não conseguiu
por causa de restrições brasi-
leiras na pandemia. “Elas
eram parecidas com as que
os EUA impôs agora ao Bra-
sil”, compara, acreditando
que a medida cairá em breve.

Caderno 2


Para Marcelo
Bratke, o isolamento
provocado pela
pandemia fez com
que ele se sentisse
ainda mais próximo
dos seres humanos.
O músico está há dois
meses em Campos
do Jordão. “No início,
mergulhei no meu
instrumento, o piano,
mas logo a
inquietude – devida,
provavelmente, a
minha leitura atual de
poemas de Federico
Garcia Lorca –, me
levou a refletir sobre
o estado atual da
vida. Ela é, como o
jazz, um grande
improviso”, explica.
DENISE ANDRADE/ESTADÃO

DENISE ANDRADE/ESTADÃO
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