O Estado de São Paulo (2020-06-06)

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O ESTADO DE S. PAULO SÁBADO, 6 DE JUNHO DE 2020 Especial H3


Danielle Nagase


“É difícil encontrar uma boa des-
culpa para não ter um freezer
Brastemp em casa”, diz a aposti-
la do Curso de Culinária e Con-
gelamento, oferecido pela mar-
ca de refrigeradores no início da
década de 1990. Com aulas pre-
senciais – e direito a diploma de
conclusão –, a ideia, além de en-
sinar aos alunos (a maioria do-
nas de casa) a maneira correta
de congelar carnes, frutas, legu-
mes e verduras, era, obviamen-
te, convencê-los de que se trata-
va de um negócio da China.
Hoje em dia, não restam mais
dúvidas: cabe muita praticida-
de dentro de um freezer (de
qualquer marca). É necessário,
porém, seguir algumas regras
para que os alimentos, de fato,
mantenham-se conservados e
com as características (textura
e sabor) preservadas. Fora que
nem todo alimento passa ileso à
queda acentuada de temperatu-
ra. Nesse caso, até que um cur-
so sobre “como congelar ali-
mentos” não é, como dizem,
“tão anos 1990”.
“Quanto maior a quantidade
de água na composição, pior o
ingrediente se comporta no des-
congelamento”, explica Vivaldo
Silveira Júnior, professor da Fa-
culdade de Engenharia de Ali-
mentos (FEA) da Unicamp. Isso
porque “os cristais de gelo que
se formam no interior do ingre-
diente durante o processo aca-
bam rompendo suas células,
provocando a perda de sucos e
alterações na textura”. Esse tipo
de dano é minimizado em conge-
ladores industriais, cuja capaci-
dade de congelamento é mais
rápida, o que impede a forma-
ção de cristais muito grandes.
Frutas, por exemplo, não des-
congelam bem – tanto o visual
quanto a textura são prejudica-
dos. Nem por isso é má ideia
congelar frutas maduras antes


de perdê-las para o tempo, pelo
contrário. “Se não dá para con-
sumir in natura, use para fazer
sucos, geleias, sorvetes. Toma-
te dá para transformar em pol-
pa, congelar e depois usar para

fazer molho”, indica o nutricio-
nista Dennys Cintra, da Facul-
dade de Ciências Aplicadas
(FCA) da Unicamp.
Vegetais com muita água, co-
mo alface, pepino e rabanete,

para consumir em saladas
cruas, não devem ser congela-
dos. Já cenoura e beterraba,
mesmo ficando mais moles do
que o normal, ainda podem in-
crementar cozidos e sopas (e

vão direto do freezer para a pa-
nela). Alho-poró aguenta me-
lhor o tranco (armazene-o já pi-
cado e porcionado), assim co-
mo a mandioca. Salsinha, cebo-
linha e coentro também. Em
seu livro Cozinha Prática, Rita
Lobo ensina colocar duas colhe-
res (sopa) de ervas picadinhas
em cada uma das cavidades de
uma fôrma de gelo, cobrir com
uma colher (sopa) de água e
congelar. “Saque um ou mais cu-
bos e coloque diretamente em
ensopados e molhos.”

Banho de água quente. Legu-
mes e verduras, como brócolis,
espinafre, vagem, pimentão, po-
dem ser branqueados antes do
congelamento para que suas co-
res se mantenham vivas. A técni-
ca culinária consiste em pré-cozi-
nhar esses alimentos em água fer-
vente (de um a
três minutos)
e, em seguida,
mergulhá-los
em água com
gelo. Seque
bem e leve-os
embalados pa-
ra o freezer.
“É importante lembrar que
todos os vegetais devem ser de-
vidamente higienizados antes
de serem armazenados na gela-
deira ou no freezer, principal-
mente em tempos de coronaví-
rus. Esse hábito, inclusive, pro-
longa a vida útil dos alimentos”,
esclarece Cintra.

Feijão em pote de sorvete. Re-
cipientes de vidro e sacos plásti-
cos descartáveis, além de ideais
para congelar alimentos, ainda
evitam a frustração de abrir um
pote reaproveitado (ou opaco)
e não encontrar aquilo que se
esperava. Bem, etiquetas tam-
bém dão conta do problema e
ajudam a administrar há quan-
to tempo cada ingrediente está
no freezer (basta escrever a da-
ta do congelamento).
A chef Lu Bonometti, que aca-
ba de estrear a linha de congela-
dos da Casa Bonometti – que

inclui lasanhas, quibe de abóbo-
ra, torta de frango, sopas e
cookies –, é craque na organiza-
ção do freezer doméstico. “Te-
nho marido e um filho pequeno
em casa, mas, quando cozinho,
nunca é para três pessoas, no
mínimo para seis. Assim tenho
sempre uma receita congelada
para me salvar num dia corri-
do”, confessa.
É como um jogo de Tetris en-
caixar recipientes de diferentes
formatos no freezer já aperta-
do, mas Lu tem alguns macetes.
“Quando não tenho um pote do
tamanho exato da receita, pos-
so até congelar num outro
maior, mas desenformo em se-
guida e reembalo num saqui-
nho plástico. Assim não ocupo
espaço à toa.”
Outra dica, no caso das recei-
tas de travessas, como lasanha,
quibe assado
e tortas, é divi-
dir em por-
ções já na
montagem,
em vez de
montar tudo
numa assadei-
ra só. “Sem-
pre divido em refratários meno-
res, do tamanho exato da nossa
fome. O que não vamos consu-
mir na hora, tiro do forno um
pouco antes, espero esfriar e
congelo”, conta Lu.
Molhos e sopas podem ser
embalados em sacos com fecha-
mento tipo zip – acomode saqui-
nhos cheios até a metade (não
se esqueça de tirar o ar) numa
assadeira e leve para congelar.
O líquido assumirá a forma da
embalagem, fininha, e caberá
em frestas onde um pote não
caberia. “Uso bastante esse ti-
po de saco, porque os líquidos
se ajustam ao tamanho da emba-
lagem e não sobra espaço para o
ar. É uma forma de evitar aquela
camada de água que se forma na
superfície de comidas congela-
das em potes”, indica a chef Re-
nata Cruz, que aposta numa se-
ção de congelados na sua Rê
Cruz To Go.

BÊ-Á-BÁ DO FREEZER DOMÉSTICO


VEGETAIS COM MUITA


ÁGUA NÃO SE


COMPORTAM BEM NO


DESCONGELAMENTO


Com um bom planejamento de compras e estocagem correta, dá para


ir menos vezes ao mercado, além de economizar tempo e dinheiro


DA COMIDA CONGELADA


O básico
Porções. Antes de congelar,
separe os alimentos em por-
ções do tamanho de sua neces-
sidade. Lembre-se que não
é recomendado congelar
alimentos que já foram
descongelados.
Tamanho. Porções grandes
demais demoram muito para
congelar internamente; conge-
le carnes em peças inteiras
com, no máximo, 2,5 kg e dez
centímetros de espessura. A
mesma regra vale para peixes.
Volume. Ao congelar líquidos
e receitas com caldo, lembre-
se de preencher até ¾ da vasi-
lha ou pote. Todo líquido au-
menta de volume quando
congelado.
Validade. Etiquete saquinhos
e potes para identificar ingre-
dientes e receitas, e saber quan-
do foram congelados. Mesmo
no freezer, os alimentos têm
prazo de validade.
Descongelamento. Especialis-
tas recomendam não desconge-
lar ingredientes e receitas ao
relento, por segurança alimen-
tar. No caso das carnes, o des-
congelamento lento, dentro da
geladeira, minimiza a perda
de suco.
Ar. Sempre que possível, tire
o ar da embalagem – use um
canudinho para puxar o ar com
a boca – antes de fechar e levar
o alimento ao freezer. Essa téc-
nica ajuda a conservar melhor
ingredientes e receitas.


Isso pode, isso não
Arroz. Em seu livro Cozinha
Prática, Rita Lobo dá a dica:
“Use um recipiente para ir jun-
tando as sobrinhas no congela-
dor. No dia que bater aquela
vontade, o arroz está no jeito.”
Feijão. Congele o feijão cozi-
do, com o caldo, mas sem tem-
pero (deixe para temperar na
hora, fica fresquinho!). Para
descongelar, deixe na geladei-
ra do dia para a noite ou, em
caso de necessidade, leve dire-
to para a panela.
Filé de frango (ou bovino).
Disponha os filés (sem tempe-


ro), um a um, numa assadeira e
leve ao freezer por cerca de
duas horas, até congelar. Só
então transfira para sacos com
fechamento do tipo zip.
Filé de peixe. Use a mesma
técnica para congelar filés de
frango ou separe as postas do
peixe com papel vegetal ou fo-
lhas de plástico para evitar que
grudem.
Carne moída. Congele por-
ções de, no máximo, 500 gra-
mas. Quanto mais magra a car-
ne, melhor.
Carne seca. Dá para congelar
em cubos ou desfiada, já cozi-
da, mas sem tempero.
Nhoque. Congele as bolinhas
ainda cruas (esparrame numa
assadeira e, depois de congela-
das, transfira para um saqui-
nho plástico). Vai do freezer
para a água fervente – quando
as bolinhas emergirem, está
pronto!
Legumes e verduras. Nem
tudo pode ser congelado (leia
o tópico “Não congele”); o que
for congelar, prefira branquear
antes para que suas cores se
mantenham vivas.
Ervas. Lave, seque, pique e
congele salsinha, coentro e ce-
bolinha em potes de vidro ou
saquinhos com fechamento
tipo zip. Na hora de usar, tire o
punhado necessário (se for pre-
ciso, raspe com uma colher) e
incremente receitas quentes.
Não use in natura.
Molhos e sopas. Preencha
saquinhos com fechamento

tipo zip até a metade, tire o ar e
leve-os ao freezer “deitados”
em uma assadeira. Depois de
congelado, o líquido assume a
forma fininha e plana do saco e
não ocupa muito espaço no
freezer.
Caldos. Um bom caldo leva
horas para ficar pronto, então,
convém preparar uma boa
quantidade de uma só vez e
congelar a sobra em fôrmas
para gelo. Desenforme os cu-
bos e mantenha-os no freezer
dentro de um saco plástico. Na
hora de usar, jogue direto na
panela.
Clara de ovo. A receita pedia
muitas gemas, mas dispensava
as claras? Em vez de jogar fora,
congele em embalagem hermé-
tica ou numa fôrma de gelo –
não se esqueça de marcar quan-
tas claras exatamente foram
congeladas. Descongele na ge-
ladeira e use imediatamente.
Pão. Corte-o em fatias e aco-
mode-as separadamente em
sacos plásticos com fechamen-
to tipo zip. Quando for comer,
basta aquecer na torradeira, na
frigideira ou no forno bem
quente.
Não congele. Frutas para con-
sumir in natura; vegetais com
muita água (rabanete, pepino,
chuchu); folhas delicadas (alfa-
ce, rúcula, agrião, escarola);
batata, ovo com casca ou gema
crua; maionese, creme de leite
(se ele fizer parte de uma recei-
ta, prefira adicioná-lo depois,
na hora de esquentar e servir).

MANUAL


Comer*


Técnica. Congele filés separadamente e só depois os transfira para saquinhos plásticos

Ganhe tempo. Ervas frescas picadas e congeladas vão direto do freezer para a panela

Porção para muitos. Dobre a receita do nhoque e leve o excedente ao freezer ainda cru

Paladar


ARTE ESTADÃO

Fôrmas de gelo. Use para congelar caldos, claras e leite
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