O Estado de São Paulo (2020-06-07)

(Antfer) #1

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O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 7 DE JUNHO DE 2020 Especial H5


Caderno 2


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‘O FANTASMA DA


ÓPERA’

WOOHAE CHO/THE NEW YORK TIMES

O que o teatro pode aprender com o musical que sobreviveu


à pandemia e agora está em Seul em turnê mundial? Público. ‘Fantasma’ deve ir até agosto, mas turnê de ‘War Horse’ no mesmo teatro foi cancelada


Jennifer Schuessler
Su-Hyun Lee / NYT


O Fantasma da Ópera é conside-
rado o espetáculo que mais per-
maneceu em cartaz na história
da Broadway. Mas nos últimos
meses também fez jus a outro
título: o musical inovador da
era da covid-19. Em um momen-
to em que os teatros de todo o
globo eram fechados, a turnê
mundial do Fantasma conti-
nuou fazendo sucesso em Seul,
na Coreia do Sul. E atraiu pla-
teias numerosas, mesmo de-
pois que um surto obrigou o
conjunto a fechar as portas por
três semanas, em abril.
O musical com 126 integran-
tes é considerado a única super-
produção em língua inglesa
apresentada em qualquer outra
parte do mundo. E ficou no ar
durante as medidas de distan-
ciamento social graças a rigoro-
sas normas de higiene.
Na opinião do seu composi-
tor, Andrew Lloyd Webber, o
show poderá apontar o cami-
nho para todo o ambiente tea-
tral, o que ele vai revelar em Lon-
dres em um laboratório sobre
lições aprendidas em Seul.
“Não devemos ficar sentados di-
zendo: ‘É uma grande tragédia,
não podemos fazer nada’”, afir-
mou. “Precisamos fazer todo es-
forço possível para que os tea-
tros sejam seguros para todos”.
E a Coreia do Sul, ele prosse-
guiu, mostra que isso é viável.
O fato de o espetáculo ter segui-
do é um testemunho não só
dos protocolos do teatro, mas
do rigoroso sistema de testes e
quarentena da Coreia do Sul,
que manteve o vírus em grande
parte sob controle. Foi tam-
bém uma questão de timing e
de sorte, embora inicialmente
não parecesse.
Quando a turnê esteve em Bu-
san, a segunda maior cidade da
Coreia do Sul, em fevereiro, o
país era o mais recente epicen-
tro da pandemia. A maior parte
da companhia voltou para casa
para um descanso: Grã-Breta-
nha, Itália, América do Norte,
Austrália e em outros países.
No retorno da companhia a
Seul, Matt Leisy, que faz o papel
de Raoul, disse: “Foi bastante
assustador nos convencermos
a voltar. Quem poderia saber
que estávamos indo para o lu-
gar mais seguro do mundo?”.
Os protocolos, adotados pe-
los Centros Coreanos de Con-
trole e Prevenção de Doenças,
são rigorosos, mas não se refe-
rem particularmente ao espaço
e aos idosos. Antes de entrar no
teatro, o público recebe uma né-
voa de desinfetante, sensores
térmicos tomam a temperatura
e todos preenchem um questio-
nário sobre sintomas e lugares
recentes visitados, de modo
que podem ser notificados de
qualquer exposição que pos-
sam ter tido pelo aplicativo de
contato do país.
Entretanto, alguns fãs acha-
ram que as incertezas da pande-
mia esfriaram um pouco os es-
píritos. In-hae Bae, de 36 anos,
gerente de recursos humanos
que estava assistindo ao musi-
cal pela sexta vez, disse que os
atores, assim que se abraçavam,
o vírus pulava na sua cabeça,
além disso, observou que os
aplausos no fim pareceram tími-
dos. “Era muito calmo”, ela afir-
mou se referindo ao público.
“Fiquei pensando: o coronaví-
rus deve ter estrangulado as
nossas paixões também.” /
TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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