O Estado de São Paulo (2020-06-07)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:A-7:20200607:
O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO, 7 DE JUNHO DE 2020 Política A


J. R.


GUZZO


E


stá em discussão, ou pelo
menos senadores e deputa-
dos dizem que está, mais um
desses projetos de lei que fazem do
Brasil um país realmente fora de
série. É a lei das chamadas “fake
news”, que se propõe a obrigar os
brasileiros, a partir de sua aprova-
ção, a dizerem só a verdade nas co-
municações que fazem pela inter-
net – nada menos que isso. Se publi-
carem alguma “notícia falsa” nas
redes sociais, ou alguma “desinfor-
mação”, serão castigados. Ainda
não se sabe direito quais seriam os
castigos, mas a ideia geral é essa:

banir a circulação de mentiras, nos
meios de comunicação eletrônicos,
em todo o território nacional.
Nunca se viu nada parecido neste
país, em seus 520 anos de história ofi-
cial: políticos querendo que se diga a
verdade. Num primeiro momento,
tentou-se aprovar o projeto por “tele-
conferência”, sem reunião do plená-
rio do Senado, sem aprovação prévia
nas comissões técnicas, sem ouvir
ninguém – nem os próprios senado-
res. Alguém lembrou que seria preci-
so dizer quem, exatamente, vai deci-
dir sobre a aplicação das penas; ao que
parece, estão pensando em dar esse

serviço para os 18 mil juízes brasilei-
ros. Foi apontado, também, que a cor-
reria para a aprovação da nova lei era
incompreensível: não há, simples-
mente, uma emergência nacional ca-
paz de justificar esses extremos de ur-
gência urgentíssima. No fim, adiou-
se a decisão para mais tarde.
Um mínimo de bom senso comum
aconselharia os nossos parlamenta-
res, antes de qualquer outra conside-
ração, a pensarem no seguinte: será
que eles teriam, sinceramente, a capa-

cidade de legislar sobre a verdade?
Mas o bom senso comum nunca foi
um elemento obrigatório na vida po-
lítica nacional – e o resultado, mais
uma vez, está aí. Basta, no caso, fazer
uma pergunta-chave: o que é uma no-
tícia falsa? Só é possível proibir legal-

mente alguma coisa se a lei diz, com
100% de clareza, o que é essa coisa.
Ninguém tem dúvida sobre o que é
um homicídio. O Código Penal, no ar-
tigo 121, diz que homicídio é “matar
alguém”. E “fake news”? O que é?
Na reta final das eleições de 2018,
para citar um acontecimento “top de
linha”, a imprensa divulgou que, se-
gundo as pesquisas de opinião, Jair
Bolsonaro iria perder de “qualquer ou-
tro candidato” no segundo turno. E
então: isso é notícia falsa? Com certe-
za é notícia errada – mas a lei poderia
separar a falsidade do erro? E nesse
caso: falsidade é proibido, mas erro é
permitido? Aparentemente, o que dis-
tingue uma coisa de outra é a intenção
de quem publica a notícia. Mas como
seria possível, na prática, a Justiça des-
cobrir com certeza qual é a intenção
de alguém num caso desses? Ainda ou-
tro dia, o governador de São Paulo dis-
se que a atividade econômica do Esta-
do se mantém por volta de “75%”. Vai
se ver a notícia de perto e descobre-se

que esses 75% se referem aos
CNPJs que continuam ativos em
São Paulo. Isso seria o quê? “Desin-
formação”? Interpretação pessoal
de números? Mais: mentiras ditas
fora das redes sociais, em outras
“plataformas” – a imprensa, por
exemplo – seriam permitidas?
É muito justo, claro, proibir o
uso de “robôs”, identidades falsas
e outras patifarias eletrônicas. Mas
para que todo o resto? A única coisa
boa que poderia acontecer com a
lei das “fake news” é cair no arqui-
vo morto. Notícias falsas, nas re-
des sociais ou em qualquer meio de
comunicação, só podem ter um
juiz: o público. É a ele que cabe deci-
dir se acredita ou não no que lê,
ouve ou vê – e a ele é que cabe punir,
com o seu descrédito, quem está
dizendo a mentira. Não pode ser
tratado como um idiota, incapaz
de julgar as informações que rece-
be. O resto é violar o artigo 5 da
Constituição brasileira.

Rayssa Mota


A Procuradoria-Geral da Repú-
blica (PGR) decidiu dar prosse-
guimento a um pedido de im-
peachment contra o ministro
do Meio Ambiente, Ricardo Sal-


les, apresentado após a divulga-
ção da íntegra da gravação da
reunião ministerial de 22 de
abril. No encontro, uma reu-
nião a portas fechadas com a cú-
pula governista, Salles sugere
aproveitar a “oportunidade” da
pandemia do novo coronavírus
para “ir passando a boiada e mu-
dando todo o regramento e sim-
plificando normas” de prote-
ção ambiental.
A reportagem entrou em con-
tato com o Ministério do Meio
Ambiente, mas não teve respos-

ta até a conclusão desta edição.
Na sexta-feira, o vice-procu-
rador geral da República, Hum-
berto Jaques de Medeiros, de-
terminou a instauração de uma

“notícia de fato”. Isso significa
que a notícia-crime contra o mi-
nistro, apresentada pelo depu-
tado federal Célio Studart (PV-
CE), passou pela análise prévia

da procuradoria, que entendeu
que os fatos narrados podem
configurar ato ilícito e mere-
cem averiguação. Cabe à PGR
apresentar eventual ação penal
contra o ministro junto ao Su-
premo Tribunal federal (STF).
Em nota, Studart afirmou
que as declarações “mostram
que Salles é um inimigo do meio
ambiente e cometeu crime de
responsabilidade passível de
impeachment”.

Pressão. Existe ainda uma se-
gunda ação tramitando no Su-
premo que pede afastamento
de Salles por crime de responsa-
bilidade. Além disso, uma repre-
sentação popular com mais de
160 mil assinaturas foi enviada

ao Ministério Público Federal
de Santa Catarina pedindo aber-
tura de investigação contra o mi-
nistro por improbidade admi-
nistrativa pelas declarações.
Anteontem, a Associação Bra-
sileira dos Membros do Ministé-
rio Público de Meio Ambiente
(Abrampa), organizações não
governamentais e os partidos
PT, PSB, PSOL e Rede anuncia-
ram que vão entrar com outras
três ações no STF e na Justiça
Federal questionando atitudes
e omissões do ministério. A ban-
cada do PV na Câmara articula a
abertura de uma Comissão Par-
lamentar de Inquérito (CPI) pa-
ra investigar o que classifica co-
mo “desmonte ambiental” or-
questrado pelo ministro.

E-MAIL: [email protected]
J.R. GUZZO É JORNALISTA E ESCREVE
AOS DOMINGOS

Breno Pires
André Borges


A Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB) re-
pudiou ontem pedidos de ver-
ba feitos ao governo federal
por uma ala da Igreja Católi-
ca que, em troca, veicularia
notícias favoráveis ao presi-
dente Jair Bolsonaro em ca-
nais de rádio e TV, conforme
revelou reportagem publica-
da ontem pelo Estadão.
Por meio de nota, a CNBB de-
monstrou indignação com a ati-
tude de representantes desses
canais, afirmou que eles não fa-
lam pela instituição e que a Igre-
ja não atua em troca de favores.
“Recebemos com estranheza
e indignação a notícia sobre a
oferta de apoio ao governo por
parte de emissoras de TV em
troca de verbas e solução de pro-
blemas afeitos à comunicação.
A Igreja Católica não faz barga-


nhas”, informou a CNBB. “Não
aprovamos iniciativas como es-
sa, que dificultam a unidade ne-
cessária à Igreja, no cumprimen-
to de sua missão evangelizado-
ra, ‘que é tornar o Reino de
Deus presente no mundo’”, diz
a nota, em citação a discurso do
papa Francisco.
A nota também é assinada pela
Associação Católica Internacio-
nal Signis Brasil e a Rede Católi-
ca de Rádio (CRC). Como mos-
trou ontem a reportagem, pa-
dres e leigos conservadores, liga-
dos a uma ala que diverge da

CNBB e que controla parte do sis-
tema de emissoras católicas, pro-
meteram “mídia positiva” para
ações do governo na pandemia
do novo coronavírus. Em contra-
partida, pediram anúncios esta-
tais e outorgas para expandir sua
rede de comunicação.
A proposta foi feita no dia 21,
em reunião pública, por video-
conferência e transmitida nas
redes sociais, com a participa-
ção de Bolsonaro, sacerdotes,
parlamentares e representan-
tes de alguns dos maiores gru-
pos católicos de comunicação.
Segundo a CNBB, emissoras
intituladas “de inspiração ca-
tólica” possuem naturezas dife-
rentes, podem ser geridas por
associações e organizações reli-
giosas ou por particulares, se-
guindo seus próprios estatutos
e princípios editoriais. “Contu-
do, nenhuma delas e nenhum
de seus membros representa a
Igreja Católica, nem fala em seu

nome e nem da Conferência Na-
cional dos Bispos do Brasil”,
afirmou a instituição.
Ainda de acordo com a nota,
“é urgente que nestes tempos
difíceis em que vivemos, agrava-
dos seriamente pela pandemia
do novo coronavírus, que já reti-
rou a vida de dezenas de milha-
res de pessoas e ainda tirará mui-
to mais, que trabalhemos verda-
deiramente em comunhão, sem-
pre abertos ao diálogo”.
Emissoras de TV ligadas a gru-
pos religiosos receberam, no
ano passado, R$ 4,6 milhões em
pagamentos da Secretaria de
Comunicação da Presidência
da República (Secom) por vei-

culação de comerciais institu-
cionais e de utilidade pública.
Os veículos católicos ficaram
com R$ 2,1 milhões e os protes-
tantes, com R$ 2,2 milhões. Em
2020, emissoras de TV católi-
cas receberam, até agora, R$
160 mil, enquanto as evangéli-
cas, R$ 179 mil, de acordo com
planilhas da Secom.
Também por meio de nota, a
Frente Parlamentar Católica in-
formou que, na reunião, “não se
condicionou verbas de publici-
dade a apoio ao governo, nem
mesmo apoio político pelos
membros da Frente”.
No encontro do dia 21, o pa-
dre Wellinton Silva, da TV Pai

Eterno, ligada ao Santuário Ba-
sílica do Divino Pai Eterno, em
Trindade (GO), disse que a
emissora passa por dificulda-
des e espera uma aproximação
com a Secom para oferecer uma
“pauta positiva das ações do go-
verno” na pandemia da covid-


  1. “Dentro dessa dificuldade,
    estamos precisando mesmo de
    um apoio maior por parte do go-
    verno para que possamos conti-
    nuar comunicando a boa notí-
    cia, levando ao conhecimento
    da população católica, ampla
    maioria desse País, aquilo de
    bom que o governo pode estar
    realizando e fazendo pelo nos-
    so povo”, disse o padre.


GABRIELA BILO/ ESTADÃO

Pedido de impeachment


de Salles avança na PGR


Só se pode proibir legalmente
alguma coisa se a lei diz o que é
essa coisa. O que é ‘fake news’?

O que é falso?


lCrítica

Subprocurador vê


indícios de crime de


responsabilidade em


declaração de ministro


do Meio Ambiente


ntenos.**Rntos: Riviera de São Lourenço, Parque Faber, Espaço Cerâmica, Central Park Guarujá e CidadeTamboré.

Criamos o ImovelWeb,primeiro portal imobiliáriodo Brasil+Implantamos o primeiro departamentoon-linededicado ao setor+Em parceria com aCaixa


Econômica Federal, promovemos o “Vem Que Tem”,primeiro feirão digitalpara o mercado imobiliário, que reuniu 48 incorporadores e 127 empreendimentos

com perfil econômico+ Criamos o bordão “Tijolo Moeda Forte” adotado até hoje pelo setor+Com o cliente Brookfield Incorporações,hoje Tegra,lançamos 63
empreendimentos+Mais de25 milhões**de m^2 lançados para grandes áreas como Tamboré e Riviera de São Lourenço/ Sobloco, entre outros+Mais de 40

empreendimentos lançados em parceria com a Upcon, hoje Gafisa+Prestamos consultoria para o Grupo Estado, reposicionando a plataforma de imóveis do site


Estadão, que conta com uma audiência de mais de45,8 milhõesde impactos em suas plataformas+Junto com os nossos clientes, conquistamos importantes


prêmios, entre eles:ClioAwards, Prêmio Colunistas, Top of Mind, Desafio Estadão que levou a agência aoCannesLions Festival e, também em parceria com

nossos clientes, por25 vezesganhamos o PrêmioMasterImobiliário+de 3000 empreendimentos lançados com campanhas de sucesso.


Off-line+On-line+Below the line+Branding+Consulting =


*Refereneaosúltimos 9 an **Referenteaosempreendiment

Mais de


R$ 20 bilhões*


em VGV


comercializados com


campanhas criadas


e planejadas


pela Archote.


MARCELO CHELLO/CJPRESS - 28/10/

‘Igreja Católica


não faz barganha’,


afirma CNBB


“Recebemos com
estranheza e indignação a
notícia sobre a oferta de
apoio ao governo por parte
de emissoras de TV em
troca de verbas”
TRECHO DE NOTA DA CNBB

Em nota, entidade repudia proposta feita por emissoras religiosas


em reunião com Bolsonaro: apoiar o governo em troca de verba


Ministro.
Salles é alvo
de ação
após falar
em ‘passar a
boiada’ na
legislação
ambiental

Presidente ignora
obrigação de uso

de máscara


Apesar de ser obrigatório o uso de
máscaras em Goiás em razão da
pandemia da covid-19, o presiden-
te Jair Bolsonaro cumprimentou e
abraçou apoiadores ontem sem

proteger o rosto em uma rodovia
próxima a Formosa (GO). Ele esta-
va acompanhado pelo ministro da
Infraestrutura, Tarcísio de Frei-
tas, e pelo pastor Silas Malafaia.
Free download pdf