O Estado de São Paulo (2020-06-08)

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B6 Economia SEGUNDA-FEIRA, 8 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


U


ma pergunta surge no horizonte
com a melhora do humor dos
mercados. Você está se prepa-
rando para a recuperação do mercado?
Com a abertura das economias na Eu-
ropa, entre outras atitudes de gover-
nos e organismos internacionais, está
havendo uma reação positiva do merca-
do de capitais e queda do dólar no cená-
rio internacional. Antecipando um ce-
nário melhor que ainda não encontra-
mos na economia real, sobretudo no
nosso país.
Planejar o que fazer a partir do mo-
mento que sairmos da crise é algo es-
sencial. O momento é de grande incer-
teza, mas justamente por isso temos
de estar mais preparados para o futu-
ro. A crise financeira mundial de 2008
dizimou as poupanças das famílias ao
redor do mundo. Vivemos hoje algu-
mas semelhanças daquele período. As
empresas perderam flexibilidade para
uma ação rápida para enfrentar as
condições difíceis de mercado e incer-
teza irredutível ao longo de dimen-
sões críticas, como potencial deflação
em alguns mercados, taxas de câmbio
com alta volatilidade, nova regula-
mentações e um novo normal trazi-
dos pelos cuidados com a saúde. Além
das usuais fontes de turbulências, en-
volvendo questões geopolítica, inova-
ções tecnológicas e dinâmica competi-
tiva. Na perspectiva das empresas ha-
verá necessidade de elaboração de no-
vas estratégias muito bem definidas.
Mas, além disso, as organizações de-
vem estar abertas a oportunidades que
surgem trazidas pelo ambiente cheio de
incertezas. As empresas devem estar
atentas às mudanças de comportamen-
tos das pessoas, novos produtos e servi-
ços deverão ser criados. As famílias tam-
bém devem estar atentas para oportuni-
dades que devem surgir. Como um ami-
go me fez lembrar nesta semana “a opor-
tunidade é careca na nuca”. Oportunida-
de na mitologia grega era representada
por Kairós – um personagem com tran-
ça na testa e careca na nuca. Isso quer
dizer que a oportunidade só pode ser
“agarrada” quando está vindo, depois
não há como segurá-la.
Obviamente, a análise de investimen-
tos vai exigir mais cuidado, conhecimen-
to e sangue frio nas decisões. As oportu-
nidades irão surgir. Você está atento?

]
FÁBIO GALLO

Thiago Lasco


O isolamento social determi-
nado pela pandemia do coro-
navírus levou pessoas e em-
presas a usarem a tecnologia
para transformar reuniões
presenciais em virtuais. E es-
sa migração para o meio digi-
tal também está chegando ao
mundo dos investimentos.
No dia 14 de maio, a Comis-
são de Valores Mobiliários
(CVM), por meio da instrução
normativa 625, permitiu que
portadores de títulos de dívida
privada, como debêntures, no-
tas promissórias, recebíveis
agrícolas e imobiliários, passas-


sem a se reunir em assembleias
digitais. A tendência é que os
fundos de investimento sigam
o exemplo e também adotem
essa prática.
“As assembleias digitais fo-
ram sendo flexibilizadas com o
passar dos anos, pela simples
constatação de que ninguém
vai às assembleias físicas”, ex-
plica Otávio Yazbek, que foi di-
retor da CVM entre 2009 e


  1. “Isso nos fundos é um pro-
    blema mais grave que nas em-
    presas. Os cotistas investem
    seu capital ali, recebem as con-
    vocações, mas só comparecem
    quando há algum conflito insta-
    lado.”
    Embora a CVM já venha
    abrindo o caminho para a via
    virtual com ajustes normativos
    desde 2011, os gestores dos fun-
    dos nunca abraçaram a ideia.
    Yazbek conta que muitos fica-
    ram perplexos ou reticentes,
    alegando que não sabiam como


essas assembleias poderiam
ser implementadas e alegando
temer custos e complicações.
“Mas, com o coronavírus, há
um fato novo: não dá mais para
fazer assembleia presencial. To-
do mundo precisará se adap-
tar”, ele afirma. “A indústria
dos fundos tem de romper pa-
drões de conduta, repensar pro-
cedimentos e ser mais criativa.
Quando os gestores começa-
rem a fazer virtualmente, verão
que fica muito mais fácil.”
O diretor da Associação Bra-
sileira das Entidades dos Mer-
cados Financeiro e de Capitais
(Anbima), Pedro Rudge, tam-
bém aposta na digitalização
das assembleias dos fundos de
investimento no curto prazo.
“A participação à distância só
era usada por fundos peque-
nos, com cotistas institucio-
nais. Não tenho dúvidas de que
um dos reflexos duradouros
desta crise será uma adoção

mais forte de assembleias onli-
ne”, prevê. “Ferramentas co-
mo o Zoom funcionam bem e
os cotistas não terão dificulda-
de em adotá-las.”
Ele explica que a grande maio-
ria dos fundos já possui as con-
dições necessárias para fazer as-
sembleias remotas imediata-
mente. Eles têm autonomia pa-
ra alterar seus regulamentos,
se for o caso, para incluir a previ-
são dos conclaves virtuais. Não
há necessidade de autorização
ou aval por parte da Anbima ou
mesmo da CVM.
Yazbek ressalva, porém, que
para três tipos de fundos a mi-
gração das assembleias para o
formato à distância não será
tão simples assim: os fundos
imobiliários (FII), os fundos de
participação (FIP) e os fundos
de investimento em direitos
creditórios (FIDC).

Regras. “Esses fundos têm re-
gras próprias, que exigem
nuances de interpretação. Por
isso, demandam uma regula-
mentação mais específica. O
FIDIC, por exemplo, tem atos
típicos da gestão de emergên-
cia que só podem ser realiza-
dos em uma assembleia geral.
Se o gestor precisa vender ati-
vos, por exemplo, fica em uma
situação delicada”, explica o
ex-diretor da CVM.
O advogado Rodrigo Duflo-
th, sócio do escritório CMT
Law, conta que as assembleias
virtuais já fazem parte da reali-

dade de algumas empresas há
um bom tempo. O recurso, que
era possível apenas para as so-
ciedades limitadas e de capital
fechado, foi estendido por
uma medida provisória, em 30
de abril deste ano, também pa-
ra as companhias abertas.
“Quando as assembleias
eram presenciais, saía o edital
de convocação e os acionistas
tinham que comparecer com
documentos de identificação e
votar fisicamente”, conta.
“Agora, quando surge um fato
relevante, a página de relações
com investidores da empresa

divulga um link com orienta-
ções. O acionista só precisa en-
viar os documentos por e-mail
24 horas antes da votação. Ele
entra na plataforma, escuta a
assembleia e lá mesmo vota.”
Ele diz que a novidade deve
ser celebrada, por democrati-
zar o acesso do pequeno inves-
tidor:. “É uma verdadeira revo-
lução ele poder se manifestar.
Dificilmente ele se deslocaria
até o local da assembleia. Com
a ampliação do acesso aos in-
vestidores, haverá melhora
substancial na governança des-
ses fundos.”

lMudança

A assembleia do


seu fundo também


será virtual


Inovação.‘Indústria dos fundos tem de romper padrões de conduta, repensar procedimentos e ser mais criativa’, diz Otávio Yazbek


“Não dá mais
para fazer
assembleia
presencial.
Quando os
gestores
começarem a
fazer
virtualmente,
verão que
ficou muito
mais fácil.”
Otávio Yazbek
EX-DIRETOR DA CVM

Kairós, o deus das


oportunidades


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CVM ampliou em maio


as possibilidades de


reuniões digitais;


pandemia deve


acelerar a migração

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