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O ESTADO DE S. PAULO SEGUNDA-FEIRA, 8 DE JUNHO DE 2020 Especial H5
Levy Teles
ESPECIAL PARA O ESTADO
Solidariedade e fraternidade são
alguns valores que são resgatados
em situações de calamidade – co-
mo durante a crise causada pelo
novo coronavírus. Em quarente-
na, os recursos para fazer a diferen-
ça são mais escassos. Mas a criativi-
dade aparece. E o ambiente digital
se tornou a plataforma também
para divulgar iniciativas de apoio.
Sites de arrecadação online, co-
mo o Vakinha.com, notaram um
aumento significativo no núme-
ro de doações a ações de solidarie-
dade durante a quarentena. O au-
mento no volume médio de doa-
ções subiu mais de 100%: de uma
média de 120 mil doações por
mês para 300 mil. Foram R$ 13,5
mi arrecadados durante um mês
e meio apenas com campanhas
para a covid-19, com uma média
de 2 mil vaquinhas criadas por
dia. “O pessoal viu que era um
momento difícil”, afirma Luiz Fe-
lipe Gheller, fundador e CEO do
Vakinha. “O coronavírus veio e
aflorou um aspecto de solidarie-
dade entre as pessoas.”
E em campanhas de solidarie-
dade, organizações sociais, in-
fluenciadores e cidadãos co-
muns fazem uso de plataformas
como o Instagram para mobili-
zar redes de apoio a pessoas em
situação de vulnerabilidade du-
rante a quarentena.
Esse trabalho não se restringe à
arrecadação. É o caso do grupo
Nós Por Elas, voltado para ensinar
defesa pessoal para mulheres, co-
mandado por Tassia Lindgraf e Fá-
bio Sá. Antes da quarentena, as
ações do grupo eram mais focadas
em palestras e oficinas presenciais
para mulheres. Durante o período
de isolamento, o casal viu a possibi-
lidade de divulgar o conteúdo por
vídeo nas redes sociais.
Uma das motivações do casal
foi o aumento da violência do-
méstica durante o confinamento.
A mudança aumentou o alcance
do Nós Por Elas. “Num seminário
a gente atendia 30, 40 pessoas.
Agora, pelos vídeos, tem 300, 400
pessoas assistindo”, diz Fábio,
que pratica jiu-jitsu há mais de 20
anos. Tassia, por outro lado, nun-
ca havia entrado no tatame antes
de fazer parte do Nós Por Elas. “A
mensagem que ela passa é que vo-
cê não precisa ser uma lutadora pa-
ra aprender a técnica”, salienta Fá-
bio. O casal separou o conteúdo
em três módulos, que avançam de
acordo com a situação de risco
que a mulher pode estar exposta –
seja numa agressão inicial ou em
situação de risco de morte.
Do digital para o real. Dois
anos atrás, a Uneafro – movimen-
to negro que atua em 31 perife-
rias brasileiras oferecendo gra-
tuitamente formação educacio-
nal para milhares de jovens – fez
campanha para comprar mate-
rial didático para os alunos. Fo-
ram R$ 50 mil para a nossa cam-
panha. Durante a pandemia, as
aulas pararam, mas a necessida-
de de ajudar a população vulnerá-
vel continuou. Assim começou
uma campanha nas redes sociais
que arrecadou R$ 500 mil e mais
de 45 toneladas de alimentos pa-
ra ajudar mais de 4 mil famílias
em um mês de campanha.
A iniciativa nasceu de uma va-
quinha online e da percepção do
educador e líder da organização,
Douglas Belchior. “As pessoas,
além de enfrentar a doença, pre-
cisam enfrentar a fome, com um
vírus que contamina com muita
facilidade”, conta. A visibilidade
levou a uma campanha de gran-
des incentivos durante a quaren-
tena e parcerias com outros gru-
pos e empresas.
Uma delas foi com a Alma Pre-
ta, agência de jornalismo especia-
lizado na temática racial, funda-
do por Pedro Borges e Vinícius
de Araujo. O grupo se juntou à
Uneafro e comunidades locais
para uma campanha digital com
o fim de arrecadar alimentos na
região de Brasilândia, na Zona
Norte de São Paulo. A região tem
o maior número de infectados pe-
la covid-19. Já foram arrecadadas
170 cestas básicas. “Nunca duvi-
dei dessa solidariedade. É um
momento difícil, que as pessoas
buscam se apoiar”, conta Pedro.
“Estamos aprendendo como fa-
zer essas campanhas e o volume
de doações impressiona”.
Acolhimento. Mobilizada pela
ONG Nosso Olhar e pelo Instituto
Empathiae, a campanha Minha
Despensa, Sua Despensa come-
çou no campo digital com a meta
de alcançar R$ 10 mil. O objetivo
era oferecer alimentos e produtos
de higiene para populações vulne-
ráveis – e foi alcançado. Entre os
beneficiados pela campanha estão
a Missão Cena, que acolhe pessoas
em situação de rua na Cracolândia.
Essa foi a primeira das ações mo-
bilizadas, que deve continuar. “Já
conversamos com outras ONGs
para fazer parte de uma outra cam-
panha”, conta Thaissa Alvarenga,
fundadora da ONG Nosso Olhar.
“O importante é saber que não é só
com o dinheiro que se pode ajudar.
O conhecimento também é muito
importante nesse período.”
Seja por meio de doações financeiras, de tempo ou habilidades,
plataformas digitais amplificam ações de solidariedade na pandemia
REDES
CORDIAIS
sescsp.org.br
MÚSICA
Carlinhos Antunes
e Gabriel Levy
Dia 10/6. Quarta, 19h
Vidal Assis
Dia 11/6. Quinta, 19h
Ricardo Herz e
Vanille Goovaerts
Dia 8/6. Segunda, 19h
Badi Assad
Dia 9/6. Terça, 19h
SEJA UM DOADOR
DO MESA BRASIL
Há mais de 25 anos o programa funciona como
uma rede de combate à fome e à má distribuição de
alimentos, com parceria entre a sociedade civil, o
empresariado e as instituições sociais.
Levamos alimentos às pessoas atingidas pela crise
do coronavírus: cestas básicas, produtos de higiene
pessoal e limpeza.
Podem doar:
Centrais de abastecimento, produtores,
supermercados atacadistas, padarias, confeitarias,
feiras, indústrias cerealistas, entre outros.
conheça o programa.
saiba como doar:
mesabrasil.sescsp.org.br
Apresentações ao vivo
e inéditas direto
da casa do artista.
Em Casa
com Sesc
/sescaovivo
/sescsp
TEATRO
Matheus Nachtergaele
em Desconscerto
Texto: Maria Cecília Nachtergaele
Dia 10/6. Quarta, 21h30^14
Cláudia Missura
em Paixões da Alma
Direção: Marcelo Romagnoli
Dia 8/6. Segunda, 21h30^14
CINEMA
O Homem da
Cabine
(Dir.: Cristiano Burlan,
Brasil, 2008, 90 min, L)
Mamma Roma
(Dir.: Pasolini, Itália, 1962,
116 min,^14 )
O Pacto de
Adriana
(Dir.: Lissette Orozco,
Chile, 2017, 96 min,^12 )
Historietas
Assombradas - O Filme
(Dir.: Victor-Hugo Borges, Brasil,
2017, 90 min, L)
sescsp.org.br/cinemaemcasa
CRIE SUA CAMPANHA
Solidariedade*
Como fazer as pessoas aderirem
a uma campanha? Lucia Barros,
doutora em Administração, espe-
cialista no tema de doações e
pesquisadora da Fundação Getú-
lio Vargas (FGV), dá dicas:
l Indique o propósito. As pes-
soas doam mais com informa-
ções tangíveis. Por exemplo, o
dinheiro arrecadado será usado
para comprar alimentos (em vez
de apenas “para a ajudar”).
l Qual o tipo? Em plataformas
de crowdfunding, campanhas “tu-
do ou nada” tendem a ser mais
bem sucedidas do que as flexí-
veis. As mais curtas também cos-
tumam ser mais bem-sucedidas.
l Divulgue. O primeiro dia da
campanha é o mais importante.
Quando ele é fraco, a campanha
como um todo tende a fracassar.
NÓS POR ELAS
Visibilidade. Fábio e Tassia, do Nós por Elas: ações amplificadas durante a quarentena