O Estado de São Paulo (2020-06-09)

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O ESTADO DE S. PAULO TERÇA-FEIRA, 9 DE JUNHO DE 2020 Metrópole A


Mateus Vargas / BRASÍLIA


Os dois milhões de comprimi-


dos de hidroxicloroquina doa-


dos ao Brasil pelos Estados


Unidos deverão ser usados,


em parte, como forma de pre-


venir que profissionais da saú-


de sejam contaminados com


a covid-19, segundo consta na


declaração conjunta que for-


malizou o acordo entre os


dois países. A indicação profi-


lática da droga, no entanto,


contraria recomendações


médicas e do próprio Ministé-


rio da Saúde.


“A HCQ (hidroxicloroquina)


será usada como profilático pa-


ra ajudar a defender enfermei-


ros, médicos e profissionais de


saúde do Brasil contra o vírus.


Ela também será utilizada no


tratamento de brasileiros infec-


tados”, anunciaram os países


na semana passada, em nota di-


vulgada pelo Itamaraty.


Não há, até hoje, estudos que


comprovem a eficácia da cloro-


quina e da hidroxicloroquina,


no combate à covid-19. Mesmo


após ampliar a orientação sobre


o uso da droga, o Ministério da


Saúde recomenda que o medica-


mento seja prescrito a pacien-


tes a partir dos primeiros sinto-


mas, não de forma profilática.


O médico que prescrever a


droga fora de regras do Conse-


lho Federal de Medicina tam-


bém pode cometer infração éti-


ca. Ao Estadão o presidente do


Conselho, Mauro Luiz de Britto


Ribeiro, diz que o parecer da en-


tidade sobre o uso da droga não


livra de punição quem a prescre-


ver para o uso preventivo.


A doação dos EUA ao Brasil


foi comemorada pelo chanceler


Ernesto Araújo nas redes so-


ciais. “Cooperação Brasil-EUA


no combate à covid-19 continua


avançando. Chegaram hoje ao


Brasil 2 milhões de doses de hi-


droxicloroquina doadas pelos


EUA. Colaboraremos com os


EUA na pesquisa clínica da hi-


droxicloroquina e no desenvol-


vimento de uma vacina”, escre-


veu em 31 de maio.


O acordo, no entanto, pegou


de surpresa técnicos do Ministé-


rio da Saúde e da Agência Nacio-


nal de Vigilância Sanitária (An-


visa). A droga está parada no Ae-


roporto de Internacional de


São Paulo, em Guarulhos, há


mais de uma semana, aguardan-


do a agência aprovar a licença


de importação. O ministério


também não definiu para quais


locais enviará o produto. O Ita-


maraty afirmou que caberá à


Saúde decidir sobre a doação re-


cebida. “A Agência Brasileira de


Cooperação e o Ministério da


Saúde mantiveram entendi-


mentos nas negociações para o


recebimento da doação”, disse.


No dia seguinte à divulgação


da nota conjunta entre os dois


governos, o ministro interino


da Saúde, Eduardo Pazuello, re-


cebeu o embaixador dos EUA,


Todd Chapman. O Ministério


da Saúde não confirmou o as-


sunto da reunião.


Para o médico, advogado sani-


tarista e pesquisador da Univer-


sidade de São Paulo (USP) Da-


niel Dourado, a distribuição da


cloroquina para uso específico


contra a covid-19 é ilegal, pois


não há protocolo oficial do Mi-


nistério da Saúde de tratamen-


to. “Se o ministério entregar o


medicamento e cada secretaria


usar como desejar, está ok. Mas


se disser que é para covid-19, vai


cometer ilegalidade, pois vai as-


sumir protocolo de medicamen-


to sem registro.”


Médicos podem receitar a clo-


roquina contra a covid-19 de for-


ma “off label”, ou seja, fora da


indicação da bula. Segundo


orientação do CFM, o paciente


deve declarar estar ciente de


que a droga tem efeitos colate-


rais e não apresenta eficácia


comprovada contra o vírus.


Aval. Mesmo doados, os com-


primidos dependem de aval da


Anvisa para serem liberados.


Técnicos da agência e do minis-


tério afirmam, reservadamen-


te, que sequer sabiam quem fa-


brica o produto, e ainda aguar-


dam apresentação de documen-


tos para liberar o medicamento.


O Itamaraty disse ao Esta-


dão que a Sandoz produz a clo-


roquina doada pelos EUA ao


Brasil. O produto deste labora-


tório não tem registro na Anvi-


sa, o que exigirá análise de for-


ma “excepcional” da agência.


A Anvisa costuma ser rigoro-


sa para liberar entrada e distri-


buição de remédios. A agência e


o Ministério da Saúde já tive-


ram conflitos por divergirem so-


bre a liberação de importações.


Como mostrou o Estadão, a An-


visa foi pressionada em março a


liberar produto vindo da China,


mesmo sem registro no País pa-


ra comercialização.


Gonçalo Júnior


Cientistas da Universidade de


Oxford, responsáveis pelos es-


tudos mais promissores na bus-


ca por uma vacina contra a co-


vid-19, estão avançando tam-


bém em estudos paralelos para


um tratamento com anticor-


pos. Segundo pesquisadores, a


terapia deve ser importante pa-


ra idosos, grupo de risco da co-


vid-19, e pessoas que não res-


pondam bem a uma eventual va-


cina, ainda em fase de desenvol-


vimento.


Pascal Soriot, executivo-che-


fe da AstraZeneca, conglomera-


do farmacêutico parceiro da


universidade britânica, descre-


veu o tratamento como uma


“combinação de dois anticor-


pos” ou “anticorpos clonados”


para tentar reduzir o risco de


resistência a um deles. Os cien-


tistas da gigante farmacêutica


no Reino Unido e nos Estados


Unidos afirmam que os testes


estão em “velocidade máxima”


e esperam que o tratamento


possa entrar em produção no


próximo ano.


Tratamentos com anticor-


pos são diferentes de vacinas.


No primeiro caso, a “defesa” do


organismo é injetada direta-


mente no sangue do paciente.


Uma injeção de anticorpos, que


arma o corpo instantaneamen-


te para neutralizar o vírus, pode


ser decisiva nos primeiros está-


gios da covid-19. Já a vacina esti-


mula o sistema imune a produ-


zir sua própria defesa.


Nos dois casos, seja com vaci-


na ou com a terapia com anticor-


pos, a intenção é reduzir ou im-


pedir a replicação do vírus no


organismo, acelerando a recu-


peração. Tratamentos seme-


lhantes com anticorpos já se


mostraram eficientes contra ou-


tras doenças virais, como H1N1.


Embora um tratamento eficaz


com anticorpos possa ser vital,


principalmente para idosos, os


executivos reafirmam a vacina


como uma prioridade. A razão


seriam os custos. Terapias com


anticorpos são mais caras do


que as vacinas.


Nesta semana, a AstraZeneca


anunciou acordos internacio-


nais para a produção de 1,7 bi-


lhão de doses da vacina e conti-


nua em busca de novos parcei-


ros. Os acordos já firmados são


com o Reino Unido, os Estados


Unidos, a Coalition for Epide-


mic Preparedness Innovations


(Cepi), a Aliança de Vacinas


(Gavi) e o Instituto Serum, da


Índia, um dos maiores fabrican-


tes mundiais de vacinas. O insti-


tuto indiano está explorando


parcerias “paralelas” com a As-


traZeneca e pode aumentar o fi-


nanciamento para o tratamen-


to com anticorpos.


Promissora. Das mais de cem


vacinas contra a covid-19 em de-


senvolvimento hoje no mundo,


a de Oxford é a que está na fase


mais avançada de testes, a 3,


que vai aferir a eficácia do imuni-


zante em pelo menos 10 mil pes-


soas. A meta dos pesquisadores


é conseguir antes do fim deste


ano um registro provisório da


vacina e um sinal verde dos ór-


gãos reguladores para seu uso


em caráter emergencial.


A vacina será testada também


no Brasil, em pelo menos dois


mil voluntários. O Brasil é o pri-


meiro país fora do Reino Unido


a participar da testagem. Os tes-


tes serão coordenados pela Uni-


versidade Federal de São Paulo


(Unifesp). Serão mil voluntá-


rios em São Paulo e outros mil


no Rio, os dois Estados que con-


centram a maioria dos casos


brasileiros da covid-19.


O País foi escolhido para par-


ticipar do teste porque a epide-


mia ainda está em ascensão por


aqui – diferentemente do que


ocorre no Reino Unido. O Bra-


sil está em negociações para se


tornar um dos produtores mun-


diais da vacina. A produção bra-


sileira abasteceria toda a Améri-


ca Latina. O acordo do governo


com a iniciativa privada coloca-


ria o País na dianteira, em um


momento em que corria o risco


de estar no fim da fila da vacina.


lVoluntários


Remédio enviado pelos EUA deve ser usado para evitar que profissionais adoeçam, segundo o Itamaraty; indicação contraria recomendações


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


FIABCI-BRASIL e Secovi-SP promoveram


um encontro virtual no último dia 3 de junho com


sócios da KPMG, que analisaram os cenários e as


perspectivas para o mercado imobiliário residencial


global. Valiosos insights foram oferecidos pela


KPMG, que, neste ano, assumiu a presidência da


Comissão Julgadora do Prêmio Master Imobiliário


através de Carlos Pires, sócio de Auditoria no


Brasil e América do Sul e membro do Comitê


Global de Auditoria da KPMG.


Apesar do foco no cenário brasileiro, a Live


com os especialistas abordou também o âmbito


internacional, diante de realidades tão diversas


geradas pela evolução da pandemia de Covid-19 em


todo o mundo.


Ao discorrer sobre as Américas, Eduardo


Tomazelli Remedi, sócio do Departamento de


Auditoria da KPMG e membro do grupo de


Financial Services da KPMG, destacou que a


avaliação do mercado e de analistas da região aponta


para uma recuperação em médio prazo.


Neste cenário, é preciso consi-


derar o crescimento da população


mais velha, que poderá gerar uma


alta significativa de oferta de imóveis


residenciais voltados a esse públi-


co na próxima década. Além disso,


a pandemia levantou novas neces-


sidades no cotidiano das famílias


americanas, que envolvem, por exemplo, a impor-


tância de espaços no domicílio para home office. A


expectativa da KPMG é que esse cenário resulte em


um aumento na demanda de apartamentos maiores


localizados em áreas suburbanas.


Por sua vez, na Europa, o mercado imobiliário


residencial tem uma expectativa de recuperação de


longo prazo. O cenário europeu é mais negativo


devido à significativa queda registrada no volume de


transações no continente. A estimativa, inclusive, é


que o índice de transações comerciais seja reduzido


ao nível de 2009, um dos piores anos da história


recente do continente europeu.


No velho continente, a KPMG observa potencial


oportunidade para os investidores que desejam


apostar na expansão habitacional em áreas urbanas


centrais. A migração de habitantes do interior para


zonas centrais deve impulsionar esse mercado em


países como França, Portugal e Espanha.


Na região asiática, considerando principalmente


Japão, China e Austrália, a expectativa de


recuperação também adota um prazo mais extenso.


Os australianos enfrentam sua primeira recessão em


quase quatro décadas, gerando uma desaceleração


significativa no mercado imobiliário do país. Os


japoneses registram maior resiliência no segmento


imobiliário residencial, embora a economia


nacional ainda se esforce para absorver os impactos


do adiamento dos Jogos Olímpicos.


Sobre a China, um dado que


certamente chama a atenção é a


parcela do PIB que está diretamente


relacionada ao mercado imobiliário


nacional (residencial e comercial):


25%. Não obstante, devido às


restrições políticas impostas aos


cidadãos, a maior parte dos chineses não tem


a opção de investir em ativos no exterior. Dessa


forma, cerca de 80% da riqueza dos chineses


está, de alguma forma, alocada em imóveis. E,


desse montante, mais da metade está ligada aos


residenciais, segundo a KPMG.


O impacto da pandemia nos chineses, no entanto,


é significativo. No âmbito imobiliário, o cenário pós


Covid-19 aponta para a estagnação do mercado e


cautela por parte dos consumidores. Justamente


num momento em que o setor do país apresentava


otimismo, com a possibilidade de reduzir restrições


a vendedores e compradores.


As análises e avaliações sobre o mercado


imobiliário brasileiro e global nãoficarão restritas a


esta Live, já que a FIABCI-BRASIL e o Secovi-SP


planejam outros dois encontros virtuais, com foco


em outros segmentos dentro do setor.


COLUNA FIABCI-BRASIL INFORME PUBLICITÁRIO


Encontro virtual


promovido pela


FIABCI-BRASIL


e Secovi-SP apresenta


análises da KPMG


para o setor


SÃO PAULO, 09/06/


Coluna publicada às terças-feiras sob responsabilidade da


FIABCI-BRASIL (Federação Internacional Imobiliária)


Rua Dr. Bacelar, 1.043 - CEP: 04026-002 - São Paulo/SP


Tel: (11) 5078-7778 - http://www.fiabci.com.br


Produção gráfica: Publicidade Archote


Perspectivas para o mercado


imobiliário residencial no mundo


Foto: Divulgação

Corrida. Busca por vacina contra a covid está acelerada


10 mil


É o número de voluntários que


receberão as primeiras doses da


vacina contra a covid desenvolvi-


da pela Universidade de Oxford.


No Brasil, serão 2 mil – metade


em São Paulo e metade no Rio


Terapia arma o corpo


instantaneamente para


neutralizar o vírus e pode


ser decisiva nos estágios


iniciais da doença


Oxford avança em


pesquisa sobre injeção


de anticorpos


PARA LEMBRAR


Estudo foi


tirado do ar


Na semana passada, um es-


tudo publicado na revista


The Lancet sobre os efeitos


do uso da cloroquina e da


hidroxicloroquina foi retira-


do do ar após uma série de


questionamentos sobre a


veracidade dos dados. A pes-


quisa, realizada com mais de


96 mil pacientes, apontava


risco maior de morte e de


arritmia cardíaca nos infec-


tados pela covid-19 que fo-


ram tratados com os medica-


mentos. Apesar da suspen-


são deste estudo, não existe


ainda nenhuma pesquisa


que comprove que a substân-


cia tenha efeitos positivos


no tratamento de infecta-


dos pelo novo coronavírus.


GEORGE FREY/REUTERS-27/5/

Cloroquina doada será para ‘prevenção’


Risco. Comprimidos de hidroxicloroquina que foi enviados pelos EUA para o Brasil: droga ainda está parada no aeroporto


RONALD WITTEK/EFE
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