O Estado de São Paulo (2020-06-09)

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A6 Política TERÇA-FEIRA, 9 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


CALENDÁRIO


TSE julga ações contra


chapa Bolsonaro-Mourão


O Senado adiou mais uma vez


a votação do projeto de comba-


ter a fake news nas redes so-


ciais. O governo atuou para


barrar a votação – o argumento


é de que a regulamentação po-


de resultar em censura. Havia


uma expectativa de que o proje-


to fosse votado até amanhã,


mas não houve acordo em tor-


no do tema. Na semana passa-


da, a votação já havia sido adia-


da após uma versão do parecer


do senador Angelo Coronel


(PSD-BA) causar polêmica en-


tre entidades de proteção a


usuários na internet.


CONGRESSO


O promotor Paulo Destro, do


Ministério Público de São Pau-


lo, determinou ontem a abertu-


ra de um inquérito contra o


deputado estadual Douglas


Garcia (PSL). A investigação


vai apurar suposta utilização de


equipamentos públicos da As-


sembleia Legislativa para ela-


borar um dossiê com cerca de


mil nomes, fotos e dados pes-


soais de manifestantes que par-


ticiparam de ato contra o presi-


dente Jair Bolsonaro em 31 de


maio. O parlamentar afirmou


que não vai se manifestar até


ter acesso ao inquérito.


“É


inaceitável tentar envolver as


Forças Armadas em uma ruptu-


ra.” A frase foi dita pelo tenen-


te-brigadeiro Sérgio Xavier Ferolla, mas


lembra o exemplo de outras, ouvidas nos


Estados Unidos: “Quando me tornei mili-


tar, há 50 anos, fiz um juramento de apoi-


ar e defender a Constituição”. Ela prosse-


gue. “Nunca sonhei que tropas que fize-


ram o mesmo juramento que eu pudes-


sem receber a ordem, sob quaisquer cir-


cunstâncias, de violar os direitos consti-


tucionais de seus compatriotas.” Quem


as disse foi o general James Mattis, ex-se-


cretário da Defesa de Donald Trump. Pe-


la primeira vez na história recente dos


EUA, um presidente quis usar o Exército


para controlar manifestações populares,


garantidas pela Primeira Emenda. O


exemplo de Mattis frutificou. Quase


uma centena de líderes militares assi-


nou manifesto contra Trump.


Desde que começaram os atritos de


Bolsonaro com o Supremo Tribunal Fe-


deral ou desde que seus filhos e amigos


são alvo de investigações, quase duas de-


zenas de manifestos foram feitos por mi-


litares brasileiros que só tiveram olhos


para decisões do STF, mas não disseram


palavra sobre as denúncias contra o bol-


sonarismo. É nesse contexto que surge o


exemplo do tenente-brigadeiro Ferolla.


Ex-presidente do Superior Tribunal Mili-


tar, ele mandou mensagens aos amigos,


alertando-os sobre as iniciativas dos mi-


litares ligados ao Planalto. “Quem gera


as crises é o presidente.” Ferolla repre-


senta o distanciamento do governo de


parte dos brigadeiros, ainda mais após o


decreto, que acabou revogado, que dava


ao Exército o direito de ter aviação de


asa fixa, enquanto os aviões da FAB fi-


cam em solo por falta de combustível.


Ferolla conta sua impressão sobre o


vídeo da reunião ministerial de 22 de


abril: “Dentro de um prostíbulo seria


imoral”. E Ferolla explica por quê.


“Cria-se um ambiente em que ninguém


respeita nada. Isso é falta de liderança.


O chefe tem de dar o exemplo.” É aqui


onde Trump e Bolsonaro falham misera-


velmente: o exemplo. O caso de Bolsona-


ro seria agravado por lideranças milita-


res que o cercam e assistem a tudo em


silêncio. Esse é o caso da pasta da Saúde,


onde está o general Eduardo Pazuello,


que parece acreditar que a Nação não


precisa saber da gravidade do momento.


Para tanto, alguém lhe deu o “bizu” de


que bastaria não contar os mortos pelo


coronavírus ou contar de forma diferen-


te. Esse é o exemplo que Bolsonaro dá à


Nação. E, assim, as críticas ao presiden-


te vão se avolumando entre os militares.


BRASÍLIA


O Tribunal Superior Eleitoral


(TSE) começa a julgar hoje


ações que pedem a cassação da


chapa que elegeu o presidente


Jair Bolsonaro e o vice, Hamil-


ton Mourão, em 2018. As duas


primeiras a entrar na pauta tra-


tam sobre ataques cibernéticos


a um grupo de Facebook que te-


ria favorecido Bolsonaro.


A avaliação na Corte eleito-


ral, porém, é a de que estes ques-


tionamentos têm pouca chance


de ir adiante – mas ainda há ou-


tras ações na lista para serem


julgadas que preocupam mais o


Planalto, como as que tratam


de disparos de mensagens em


massa pelo WhatsApp.


Nas duas Ações de Investiga-


ção Judicial Eleitoral previstas


para ir a julgamento hoje, os en-


tão candidatos Marina Silva (Re-


de) e Guilherme Boulos (P-


SOL) alegam que, durante a


campanha, em setembro de


2018, o grupo virtual “Mulheres


Unidas contra Bolsonaro”, que


reunia mais de 2,7 milhões de


pessoas, sofreu ataque que alte-


rou o conteúdo da página. As in-


terferências atingiram o visual


e o nome do grupo, que passou


ser chamado de “Mulheres com


Bolsonaro #17”. O então candi-


dato beneficiado com a mudan-


ça compartilhou a imagem alte-


rada. Para os adversários, a ati-


tude configura abuso eleitoral.


O relator do caso no TSE, mi-


nistro Og Fernandes, já votou


contra os pedidos de Marina e


Boulos em novembro passado,


mas o ministro Edson Fachin pe-


diu vista – mais prazo para anali-


sar o processo. O julgamento se-


rá retomado pelo voto-vista de


Fachin. Outras seis ações estão


em andamento no TSE. Quatro


delas, ainda sem data para julga-


mento, apuram irregularidades


na contratação do serviço de dis-


paros em massa de mensagens


pelo aplicativo WhatsApp du-


rante a campanha eleitoral.


Marcelo Godoy


Roberto Godoy


O presidente Jair Bolsonaro


revogou o decreto que autori-


zava o Exército a ter sua avia-


ção de asa fixa depois de a me-


dida despertar críticas de ofi-


ciais da Força Aérea Brasilei-


ra (FAB), conforme mostrou


o Estadão. A mais forte delas


foi feita pelo ex-comandante


da FAB, tenente-brigadeiro


Nivaldo Rossato.


Rossato comandou a FAB até



  1. Ele escreveu em documen-


to enviado a brigadeiros que


“alocar recursos de dezenas de


milhões de dólares para treinar


tripulações, adquirir e adequar


aeronaves para o Exército en-


quanto dezenas de aeronaves


da Força Aérea estão paradas


por falta destes mesmos recur-


sos chega a ser um acinte no mo-


mento em que as dificuldades


orçamentárias comprometem


a missão das Forças Armadas”.


O Ministério da Defesa não


se manifestou sobre a carta de


Rossato. Em nota, a pasta infor-


mou ter constatado, após a pu-


blicação do decreto, que a reda-


ção usada “permitia entendi-


mentos diversos e não deseja-


dos na proposição da medida”.


Oficiais da Aeronáutica disse-


ram que o decreto era tão abran-


gente que permitia ao Exército


ter qualquer tipo de aeronave


de asa fixa, até aviação de caça.


A nota do ministério concluiu


afirmando que, “a fim de promo-


ver o reestudo da proposta, o


MD solicitou, de forma imedia-


ta, sua revogação”. Assim, a si-


tuação voltou à definida pelo de-


creto anterior, de 1986, que au-


toriza ao Exército ter apenas he-


licópteros. Brigadeiros ouvidos


pelo Estadão comemoraram a


revogação do decreto.


A Defesa não disse por que o


parecer feito em 2016 pelo gene-


ral Carlos Alberto dos Santos


Cruz, que aconselhava o Exérci-


to a renovar seus helicópteros


Puma em vez de comprar aviões


foi deixado de lado. Embora a


medida tenha sido submetida à


aprovação do comando da FAB,


ela acabou – nas palavras de um


tenente-brigadeiro –, apenas


“deglutida” pela Força.


Surpresa. Entre os esquadrões


operacionais do Comando de


Aviação do Exército (Cavex), o


decreto presidencial, que permi-


tiria o uso de aviões, além da


atual frota de helicópteros, foi


recebido com surpresa. O assun-


to não estava sendo discutido na


organização e, segundo um líder


de equipe ouvido pelo Estadão,


é considerado necessário, mas


não prioritário. De acordo com


um outro oficial da área, “seria


mais importante no momento a


aquisição de um certo número


de helicópteros de ataque, arti-


lhados com canhões, capazes de


disparar foguetes e mísseis”.


Um ex-integrante do Cavex


lembrou que a pretensão de


manter uma frota de aeronaves


de carga leve própria da Força


Terrestre é antiga. Pouco de-


pois da 2.ª Guerra, os EUA cede-


ram ao Brasil um certo número


de cargueiros bimotores. O


Exército apresentou um projeto


para montar uma frota de trans-


porte aéreo. A iniciativa não


prosperou. Atualmente, o Co-


mando do Exército mantém um


plano de aperfeiçoamento em


todas as áreas que toma como


meta de referência a segunda


metade dos anos 2030. Em rela-


ção à aviação, o documento con-


templa a possibilidade do em-


prego de aviões pelo Exército.


A curto prazo, entretanto, há


um problema a ser resolvido,


destacou um integrante do Alto


Comando: dar capacidade de


pronta resposta ao atendimen-


to das necessidades logísticas


da Força em locais como as fron-


teiras da Amazônia. Dois casos


são emblemáticos. Na região de


São Gabriel da Cachoeira, no


Amazonas, fronteira do Brasil


com a Colômbia e a Venezuela,


estão sete Pelotões de Frontei-


ra. Em Tabatinga, há outros três.


“Estão isolados, sem possibi-


lidade de acesso por terra e com


grandes limitações de navega-


ção nos rios”, disse o militar. Su-


primentos, correspondência e


insumos médicos só chegam a


esse pessoal pelo ar. “A FAB faz


esse trabalho abrigado em sua


agenda, mas, com o investimen-


to de uma fração do que custa-


ria criar um novo serviço, pode-


ria expandir enormemente o


atendimento ao Exército, den-


tro do princípio da interoperabi-


lidade.” /COLABOROU LUCI RIBEIRO


O ministro Celso de Mello, do


Supremo Tribunal Federal, au-


torizou a prorrogação, por


mais 30 dias, do inquérito que


apura suposta tentativa de in-


terferência política do presi-


dente Jair Bolsonaro na Polícia


Federal. A medida se dá a pedi-


do da delegada Christiane Cor-


rea Machado, responsável pela


condução do inquérito na PF, e


tem “expressa concordância”


da Procuradoria-Geral da Re-


pública. No pedido, a PF sinali-


zou a necessidade de novas dili-


gências, e indicou ainda que


pretendia tomar o depoimento


do presidente Jair Bolsonaro –


que tem prerrogativa de depor


por escrito. Na quarta-feira


passada, o presidente afirmou


que pode prestar depoimento


presencialmente à PF.


ASSEMBLEIA


Brigadeiro segue


exemplo americano


e culpa presidente


l Reavaliação


lCompra


Em 2018, foi


anunciada a


intenção do


Exército de


comprar oito


aviões Sherpa


Short C-23,


bimotores des-


mobilizados


pelos EUA,


que transpor-


tam 3,5 tonela-


das de carga.


A compra não


se confirmou.


lJustiça Eleitoral


Vinícius Valfré / BRASÍLIA


A ministra da Mulher, da Famí-


lia e dos Direitos Humanos, Da-


mares Alves, anulou anistias po-


líticas concedidas a 295 ex-ca-


bos da Força Aérea Brasileira


(FAB) após concluir que o desli-


gamento deles das Forças Arma-


das não se deu por motivos po-


líticos. A determinação é um


desdobramento de decisão do


Supremo Tribunal Federal


(STF) que autorizou a revisão


de anistias concedidas a 2,5 mil


militares da Aeronáutica.


As anulações foram publica-


da ontem em portarias que ale-


gam “ausência de comprovação


da existência de perseguição ex-


clusivamente política no ato


concessivo”. Os militares não


vão precisar devolver as verbas


recebidas.


As anistias contestadas fo-


ram concedidas com base em


um portaria de outubro de 1964,


do então Ministério da Aeronáu-


tica. Ela determinava que após


oito anos de serviço os milita-


res eram automaticamente des-


ligados, condição dos 2,5 mil


submetidos ao pente-fino do


ministério. Por mês, a Aeronáu-


tica paga a eles R$ 31,5 milhões


em indenizações.


‘Luz’. A Comissão de Anistia, li-


gada à pasta de Damares, é o co-


legiado ao qual cabe a análise


dos pedidos de reparação por


perseguições políticas entre


1946 e 1988. Não há prazo limite


para as solicitações. “Sempre


conduzimos os trabalhos neste


âmbito de forma muito transpa-


rente, e com muito respeito aos


anistiados. Repudiamos o que


foi feito no passado. Advogados


ficaram ricos. Uma militância


absurda. Mas, agora, queremos


conduzir tudo, de fato, à luz dos


direitos humanos. E respeitan-


do a dignidade do anistiado, es-


pecialmente daqueles que já es-


tão idosos”, afirmou a ministra.


Até o governo de Michel Te-


mer, a Comissão de Anistia era


ligada ao Ministério da Justiça.


lFrota


Integrantes da FAB haviam criticado a ‘oportunidade da medida’,


em um período de crise financeira e de verba escassa para Defesa


Assessor ‘olavista’ ganha


autonomia no governo


Um dos expoentes da chamada


ala ideológica do governo, Fili-


pe Martins, de 31 anos, foi pro-


movido pelo presidente Jair


Bolsonaro ontem e se tornou


assessor-chefe da Assessoria


de Assuntos Internacionais.


Antes, Martins tinha o cargo


assessor adjunto na mesma


área, atualmente ligada à Secre-


taria Especial de Assuntos Es-


tratégicos. Com a mudança, o


seguidor do escritor Olavo de


Carvalho, ganha mais autono-


mia e espaço político no mo-


mento em que crescem movi-


mentos contrários ao governo.


FILIPE MARTINS


O presidente da Câmara, Rodri-


go Maia (DEM-RJ), disse on-


tem em entrevista à CNN que


quer decidir sobre adiar ou não


as eleições municipais de outu-


bro até o fim de junho. “Que a


gente (líderes do Congresso) de-


cida e, a partir daí, possa apro-


var uma emenda constitucio-


nal”, afirmou. O deputado vol-


tou a dizer que há um consen-


so sobre adiar a disputa sem


prorrogar mandatos. “Precisa-


mos respeitar o resultado das


urnas que garantiu o mandato


de quatro anos aos prefeitos e


vereadores”, declarou.


Maia quer decisão sobre


eleição até o fim de junho


Senado adia de novo


votação sobre fake news


SUPREMO


Celso de Mello autoriza prorrogação de


inquérito que apura interferência na PF


MP abre inquérito contra


deputado por ‘dossiê’


]


ANÁLISE: Marcelo Godoy


Anterior. Com recuo, volta a valer decreto que permite ao Exército ter apenas helicópteros


PAULO LIEBERT/ESTADÃO-19/06/

“(O decreto) permitia


entendimentos não desejados


(...) A fim de promover o


reestudo da proposta, o MD


solicitou sua revogação.”


Ministério da Defesa


EM NOTA


9


ações, pelo menos, que


pedem a cassação da chapa


Bolsonaro-Mourão tramitam


no Tribunal Superior Eleitoral


atualmente. Hoje, o TSE começa


a julgar duas delas.


Segundo Ministério da


Família e dos Direitos


Humanos, desligamentos


de 295 ex-militares não


foram por motivo político


Damares anula anistia


a cabos da Aeronáutica


DIDA SAMPAIO/ESTADÃO- 1/10/

100


aviões de


transporte tem


a frota da Força


Aérea, com


potencial de


voar acima


de 50 mil


horas/ano.


Mas, por falta


de recursos,


consegue voar


pouco mais da


metade deste


esforço, disse o


ex-comandante


da FAB Nivaldo


Rossato.


Governo revoga


decreto de avião


para Exército

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