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O ESTADO DE S. PAULO TERÇA-FEIRA, 9 DE JUNHO DE 2020 A
Internacional
A
prefeitura de Barcelo-
na, na Espanha, come-
çou ontem a instalar
câmeras para monitorar em
tempo real a ocupação das
dez praias da cidade. O objeti-
vo é que as distâncias de segu-
rança indicadas para evitar o
contágio do novo coronaví-
rus sejam respeitadas.
A instalação de 18 equipa-
mentos está prevista para acon-
tecer ao longo desta semana e
começou no primeiro dia de au-
torização para frequentar as
praias. Ontem, no entanto, as
temperaturas estavam baixas, o
que afastou os banhistas.
As autoridades locais conside-
ram que, com as medidas de dis-
tanciamento, a capacidade das
faixas de areia seja de no máxi-
mo 38 mil pessoas, número sufi-
ciente para que, se os banhistas
estiverem distribuídos ao longo
da costa, não haja aglomeração.
As câmeras fornecerão infor-
mações em tempo real sobre o
grau de ocupação de cada praia.
Os moradores de Barcelona te-
rão acesso às imagens por meio
do site da prefeitura, o que per-
mitirá evitar, com antecedên-
cia, a ida aos locais que estive-
rem muito movimentados.
As autoridades querem tam-
bém conseguir, com as ima-
gens, fazer um trabalho de cons-
cientização dos banhistas, caso
haja uma lotação acima do que
considerem razoável.
De acordo com a prefeitura de
Barcelona, os equipamentos cap-
turam um quadro a cada cinco
minutos, que é enviado para um
computador central. Por meio
de inteligência artificial e algorit-
mos de processamento de ima-
gem, é possível verificar o nível
de ocupação da praia.
Ainda ontem, Madri retomou
parte de suas atividades. A capi-
tal espanhola reabriu as escolas
do ensino primário e também
para cursos pré-vestibulares.
Outras regiões do país estão per-
mitindo que alunos de faixas
etárias diferentes retomem as
aulas de forma gradual.
Os clubes noturnos reabri-
ram na maior parte da Espanha,
mas os profissionais de saúde
pedem cautela para os frequen-
tadores desses locais.
As touradas também volta-
ram a ser permitidas, mas como
o público será limitado a 400
pessoas estes espetáculos serão
financeiramente inviáveis por
ora. “Precisamos de uma pla-
teia de 1,5 mil pessoas para fazer
funcionar”, disse Javier Go-
mez, membro de um sindicato
de touradas. / REUTERS e EFE Olho vivo. Câmera é instalada em praia de Barcelona
CÂMERAS EVITARÃO
PRAIAS LOTADAS
NACHO DOCE/REUTERS
Site mostrará como está o movimento na areia
Proposta apresentada por parlamentares democratas, que inclui rastreamento e julgamento rápido de agentes violentos, deve passar
rápido pela Câmara, onde a oposição tem maioria, mas ainda não se sabe como o Senado, com mais republicanos, reagirá ao projeto
WASHINGTON
Deputados e senadores demo-
cratas apresentaram ontem
um projeto de lei que preten-
de coibir o uso de força exces-
sivo pela polícia e facilitar a
identificação, rastreamento
e julgamento de agentes vio-
lentos. O projeto é uma repos-
ta às mortes de negros desar-
mados por policiais e ainda
aos protestos que tomaram
conta do país desde a morte
de George Floyd, no dia 25 de
maio, asfixiado por um poli-
cial branco, em Minneapolis.
A proposta parlamentar é a
mais abrangente reforma das
forças de segurança já feita pelo
Congresso. A medida restringi-
ria as proteções legais que bar-
ram processos movidos contra
policiais acusados de conduta
inadequada. Um dos pontos
centrais da iniciativa é dar fim a
técnicas de imobilização que en-
volvam asfixia do suspeito, co-
mo ocorreu com Floyd.
Outra abordagem que seria ve-
tada é a invasão de casas sem que
os agentes batam na porta – uma
mulher negra foi morta por poli-
ciais dentro de sua residência,
em março, em Louisville, Ken-
tucky, com oito tiros, em uma
ação policial muito questionada.
Na apresentação da proposta,
os congressistas se ajoelharam
na Sala da Emancipação do Capi-
tólio, que homenageia os escra-
vos que construíram o prédio,
por 8 minutos e 46 segundos, o
mesmo tempo que Floyd foi asfi-
xiado, e todos usavam um cache-
col de kente, tecido tradicional
africano. “Nunca mais o mundo
deveria estar sujeito a testemu-
nhar o que vimos nas ruas de
Minneapolis, o lento assassina-
to de um indivíduo por um poli-
cial uniformizado”, disse a depu-
tada Karen Bass, presidente do
Comissão Parlamentar de Ne-
gros do Congresso.
Ainda não está claro como os
republicanos e o presidente Do-
nald Trump receberão a propos-
ta. No entanto, a presidente da
Câmara, Nancy Pelosi, prometeu
aprovar rapidamente a matéria –
a Casa hoje tem maioria democra-
ta. “O presidente (Trump) não
deve ficar no caminho da justiça.”
Trump falou pouco sobre o
assunto, exceto para reiterar
no Twitter seu apoio “à lei e à
ordem”. O procurador-geral
da República, William Barr, e o
secretário interino de Seguran-
ça Interna, Chad Wolf, disse-
ram que não acreditam que ha-
ja um problema com o racismo
sistêmico dentro das polícias.
O diretor do centro de estu-
dos sobre a polícia na Universi-
dade de New Haven, Lorenzo
Boyd, vê a proposta com ceticis-
mo. “Temos 400 anos de histó-
ria do policiamento que me di-
zem que as coisas tendem a não
mudar”, disse.
Ontem, no dia do funeral de
Floyd, em Houston, no Texas, o
policial Derek Chauvin, acusa-
do pela morte, teve a fiança fixa-
da em US$ 1, 2 milhão (R$ 5,
milhões). / THE W. POST e NYT
Após pressão de protestos, Congresso
dos EUA discutirá reforma na polícia
Vigilância
NOVA YORK
Cem dias depois de ter o primei-
ro caso de coronavírus confir-
mado, a cidade de Nova York,
que se tornou o epicentro da
pandemia, deu os primeiros pas-
sos para reabrir ontem.
Chegar até aqui demandou o
sacrifício de milhões de pes-
soas que aprenderam a viver de
forma muito diferente. Na cida-
de, mais de 205 mil foram infec-
tados e quase 22 mil morreram.
Cerca de 400 mil trabalhado-
res retornam aos canteiros de
obras da construção civil, em
fábricas e em lojas de varejo na
primeira fase de reabertura da
cidade – um cenário que parecia
quase inconcebível semanas
atrás, quando os hospitais esta-
vam abarrotados e até 800 pes-
soas morriam de covid-19 em
um único dia.
Autoridades estaduais e mu-
nicipais disseram estar otimis-
tas sobre o recomeço. Os testes
são numerosos – cerca de 33 mil
pessoas por dia. Agora, as novas
infecções caíram para cerca de
500 diárias – metade das regis-
tradas apenas algumas sema-
nas atrás.
“O início de qualquer progra-
ma é desafiador”, disse Jay Var-
ma, consultor do prefeito demo-
crata Bill de Blasio em saúde pú-
blica. “Mas as pessoas estão dis-
postas a participar e a fornecer
informações sobre suas condi-
ções de saúde e sobre seus con-
tatos próximos.” Ainda assim,
um salto nos casos pode sobre-
carregar o sistema, como acon-
teceu no início da pandemia em
março. As autoridades estão ob-
servando os dados de perto: des-
de novos testes positivos até in-
formações sobre a lotação de
unidades de saúde para identifi-
car qualquer sinal de que a cur-
va de infecção volte a subir.
O caminho de volta será desa-
fiador. Mais de 885 mil empre-
gos foram perdidos durante o
surto e fortes ganhos não são
esperados para a cidade até
- O orçamento municipal
perdeu arrecadação e fechará o
ano com um déficit de US$ 9
bilhões (R$ 43 bilhões) no
próximo ano.
“Estávamos planejando fa-
zer muito barulho dizendo:
‘Ei, estamos de volta’”, disse
Ken Giddon, sócio da Ro-
thmans, uma pequena cadeia
de roupas perto da Union Squa-
re. “Agora não achamos que is-
so seria apropriado. Nova
York precisa de uma semana
ou duas de cura antes de uma
semana ou duas de vendas.”
Na construção civil, pelo me-
nos 32 mil obras reabriram. Se-
gundo Gary LaBarbera, presi-
dente do Conselho de Constru-
ção e Comércio da Grande No-
va York, que representa 100 mil
trabalhadores, o objetivo no
momento é garantir a seguran-
ça dos funcionários no retorno
ao trabalho, com máscaras e
equipamentos de proteção.
Autoridades de saúde pública
ainda estão preocupadas com o
fato de o cronograma de abertu-
ra ser ambicioso demais. Eles te-
mem que as infecções aumen-
tem à medida que as pessoas re-
tornem ao trabalho e comecem
a pegar o metrô e os ônibus no-
vamente. No entanto, a Autori-
dade Metropolitana de Trans-
portes disse acreditar que a ocu-
pação dos veículos não passe de
70% por enquanto. / NYT
GODOFREDO A. VASQUEZ/EFE
lApelo
Nova York inicia reabertura depois de 100 dias de bloqueio
ESPECIAL
CORONAVÍRUS
Minneapolis diz
que vai acabar
com a polícia local
lRastreamento
Cerimônia. Mulheres choram ao lado do caixão de George Floyd: policial acusado teve fiança fixada em US$ 1,2 milhão
“Nunca mais o mundo
deveria estar sujeito a
testemunhar o que
vimos nas ruas de
Minneapolis, o lento
assassinato de um
indivíduo por um policial
uniformizado”
Karen Bass
DEPUTADA FEDERAL
Ao menos 400 mil
podem voltar ao trabalho
presencial, com uma
atenção redobrada das
autoridades sanitárias
lApós a morte de George Floyd
e as manifestações que se segui-
ram, autoridades de todo os EUA
têm anunciado planos de cortes
orçamentários e reformas em
suas polícias.
Em Minneapolis, onde Floyd foi
morto após ficar sob o joelho de
um policial por quase nove minu-
tos até ser asfixiado, nove dos 13
membros do Conselho da cidade
- o equivalente às câmaras muni-
cipais brasileiras – prometeram
acabar com o departamento de
polícia local e criar um novo siste-
ma de segurança. Embora o pre-
feito Jacob Frey tenha expressa-
do reservas, os conselheiros dis-
seram que tinham votos suficien-
tes para anular qualquer veto do
Executivo e seguiriam com a pro-
posta nesta semana.
Em Nova York, o prefeito Bill
de Blasio prometeu cortar o orça-
mento da polícia e gastar mais
em serviços sociais. O chefe do
Executivo não disse quanto plane-
java realocar do atual orçamento
anual do departamento de polí-
cia, que hoje está em US$ 6 bi-
lhões (R$ 29 bilhões) e represen-
ta mais de 6% da receita de toda
a cidade, de US$ 90 bilhões (R$
436 bilhões).
O prefeito Eric Garcetti, de Los
Angeles, também anunciou que
cortaria até US$ 150 milhões (R$
727 milhões) de um aumento pla-
nejado no orçamento de seu de-
partamento de polícia. / NYT
“O início de qualquer
programa é desafiador. Mas
as pessoas estão dispostas
a fornecer informações
sobre a sua saúde”
Jay Varma
CONSULTOR DE SAÚDE DA
PREFEITURA DE NOVA YORK