Valor Econômico (2020-06-09)

(Antfer) #1

JornalValor--- Página 3 da edição"09/06/20201a CADA" ---- Impressa por ccassianoàs 08/06/2020@21:17:4 2


Te rça-feira, 9 dejunhode (^2020) |Valor|A
Brasil
IMPACTOSDO
CORONAVÍRUS
ConjunturaEstudodoIbremostraqueproporçãode
empresassematividadefoiseisvezesacimadamédia
Paralisação em abril
foi a maior da história
para setor industrial
Renata deMelloFranco:“Agenteolhaosdadoscommuitacautela;nãoé a recuperaçãoquese viunagreve doscaminhoneiros”
DIVULGAÇÃO
AnaConceição
DeSãoPaulo
Emabril,segundomêsdapan-
demia de covid-19no Brasil,a
proporçãode empresas do setor
industrialque estevecom as ati-
vidadesparalisadas foi seis vezes
maiorque amédia históricado
setor. Em maio,asituaçãome-
lhorou, mas ociosidade segue
muito alta, o que gera preocupa-
ção quanto ao ritmode recupe-
raçãoda indústria, de acordo
comum levantamentoespecial
realizado pelo Instituto Brasilei-
ro de Economiada Fundação Ge-
tulioVargas(Ibre-FGV).
Oestudo, feitoapartir de mi-
crodados das sondagens men-
sais realizadaspelainstituição,
também mostra que a retomada
entre os setores,em maio, é mui-
to heterogênea.
Emmaio,9,5%detodaaindús-
triadetransformaçãoestavacom
as atividades totalmente parali-
sadas, percentual menorque os
14,4% de abril,mas cincovezes
maiorque amédia históricado
período, de 1,8%.O resultadoen-
tre os segmentos, contudo, éhe-
terogêneo. “A gente já viu isso
nos dadosda PIM-PF[produção
industrial, do IBGE] de abril.Al-
guns setoresforam bemmais
atingidos.Cadaum está enfren-
tandoacrisedeformadiferente”,
diz RenataMelloFranco, pesqui-
sadora do Ibre-FGV, responsável
pelolevantamento.
Ossegmentosdeveículosauto-
motores,produtosdemetalemá-
quinase materiaiselétricos fo-
ram os que tiveram maisfábricas
reabertas, quandocomparamos
os valores observadosem abril e
maioemrelação àmédiahistóri-
ca.No caso do setor automotivo,
59,5% das fábricas estavam fecha-
dasemabril, percentual que caiu
para 22,2% em meio.Emprodu-
tosdemetal,nenhumafábricaes-
tavaparada,ante15%delasfecha-
dasemabril. Eemmáquinase
materiais elétricos a fatia caiu de
15,5%para4,9%.
Vestuário (de 34,1% para
69,3%), couroecalçados(38,9%
para 49,8%)e outros equipamen-
tos de transporte (de 7,1%para
30,7%), ocaminhofoi ocontrá-
rio,com maisfábricasfechadas
emmaioqueemabril.
Coma reaberturadas fábricas,
onível de utilização da capaci-
dadeinstalada (Nuci)da indús-
tria de transformação aumen-
tou, na média, da mínimahistó-
rica de 57,3% em abril,para
60,3%, segundo menorpatamar
da sérieda FGV,que começaem
2001.Até março,antes dos efei-
tos maispesados da pandemia,a
média de utilizaçãodaindústria
era de 79,8%.
A sondagem industrial de
maio, quandoo Nucié apurado,
mostraquehouvemaisumacali-
bragem das expectativasdas em-
presasdo que realmente um au-
mentoconsistentede confiança,
diz Renata.“A genteolhaos da-
dos com muita cautela.Não é a
recuperaçãoque agenteobser-
vou na grevedos caminhonei-
ros”, diz. Naquelemomento, em
maiode 2018, a produção indus-
triallevouum tombo, mas logo
no mês seguintea alta foi expres-
siva,emboraalgunssegmentos
não tenhamretomado o nívelde
antes.Um dadopositivoéque as
empresasencerrammaiomenos
estocadasquenoiníciodomês.
Renataaindadestaca que ape-
sar da ligeira melhora,a ociosi-
dadedaindústriaémuito gran-
de. “Em maio, a reabertura de fá-
bricas édeterminante para o de-
sempenhodosetor,masofatode
o Nucidas empresasque efetiva-
menteestãoproduzindo se en-
contraraindaem níveistão bai-
xos acendesinalde alertapara o
ritmoderecuperação”, afirma.
Em maio, aponta,olevanta-
mento, aparceladas que esta-
vamoperandocomaté 39% da
capacidade,ou seja, maisde 60%
de ociosidade,era de 14,1%,con-
tra médiahistóricade apenas
1,5%nomesmoperíodo.
Aquitambémhá muitahete-
rogeneidade entreos segmentos
industriais. Ode celulose papel,
comNucide 87,0%,a indústria
farmacêutica(78,6%)eade ali-
mentos(76,8%)apresentaram os
melhoresresultados, emboraos
dois primeiros tenhamreduzido
ligeiramente autilização nos
dois últimos meses.“Desde o co-
meçoda pandemia,essesseg-
mentostêm sidomenosafeta-
dos, de formaque seus respecti-
vos Nuci’s permaneceram em ní-
veis elevados em relação ao res-
tantedo setorerelativamente
próximosàsua médiahistórica”,
dizRenata,
No extremooposto, vestuário
(14,1%), outrosequipamentosde
transporte (24,7%)eveículosau-
tomotores (25,1%)estavamnas
últimasposições em termosde
utilização de capacidade em
maioe são os que registramas
maioresdiferençasem relaçãoàs
suas médiashistóricas. Mas em-
boraaindaestivesseem situação
muito ruimem maio, aindústria
automotiva conseguiurecuperar
12 pontospercentuaisna utiliza-
çãodecapacidade.
O segmentotêxtilfoi bastante
afetadodurante apandemia por
causa dos problemasnas impor-
taçõesde insumos.A indústria
têxtil está com uma utilização da
capacidade 50 pontos percen-
tuais abaixo de sua média histó-
rica. O mesmoocorre com couro
e calçados. Nenhumoutroseg-
mento exibiu comportamento
tão desfavorável quanto esses
dois,dizRenata.
Investimento teve queda recorde em abril, aponta Ipea
Alessandra Saraiva
DoRio
Acrise na economia causada
por avançoda covid-19no país
levoua quedarecordenos inves-
timentosna economia em abril,
segundo o Indicador Ipea de For-
mação Bruta de Capital Fixo
(FBCF),do Institutode Pesquisa
EconômicaAplicada(Ipea).
O índicecaiu 27,5% em abril
antemarço, na sériecom ajuste
sazonal.Foiamaisintensaqueda
desde inícioda série,em 1996,
informouodiretorde Estudose
Políticas Macroeconômicas do
Ipea,José Ronaldo SouzaJúnior.
No trimestre móvelfinalizado
em abril,houve quedade 11% no
indicador, também apior da sé-
rie,acrescentouele.
Paraoespecialista,aindanãoé
possível dizercom certeza que o
mês de abrilfoi o fundodo poço
para os investimentosna econo-
mia.No entanto, ele comentou
que há chances de recuperação
na margem,nos mesesde maioe
junho no indicador, comas re-
centes propostasde gradual
aberturada economia sinaliza-
das por algumas prefeituras para
ospróximosmeses.
Aofalarsobreoscomponentes
do indicadorde abril, o técnico
informoutambémrecordes ne-
gativos nas quedasde consumo
aparente de máquinase equipa-
mentos(produçãonacionalao
mercadointernomais importa-
ções), de 39,4%em abril ante
março,ede 11,3%no trimestre
móvelfinalizado emabril.No
consumoaparente,aprodução
nacional de máquinas eequipa-
mentosrecuou 43,4%em abril,e
aimportaçãocaiu27,6%,nomes-
moperíododecomparação.
Ao comentaro quadrodesfa-
vorável em abrildelineadopelos
resultados,elelembrouqueacri-
se atualtem características dis-
tintasdas anteriores.Diferente-
mentedo que ocorreuno passa-
do, o que se tem hoje éuma crise
com choquede oferta echoque
de demanda,ao mesmotempo,
notouele.
SouzaJúnior observou que,
comas restriçõesde circulação
de pessoase de suspensãode ati-
vidadesde serviços, ademanda
interna caiude formaintensa.
Porsua vez, os empresários,in-
certos sobrenegócios nos próxi-
mos meses,se mostrarammenos
propensos a investimentos na
produção,comentouotécnico.
Alémdisso, comoas ações de
isolamento foraminiciadas em
meadosde março,abril foi opri-
meiro resultado de mês “cheio”
dasrestrições—oquecontribuiu
paraprofundidadedorecuo.“Es-
ta crise é algo muitodiferentedo
queestamosacostumadosaver.”
Ao ser questionadosobrea
trajetóriafuturado indicador,o
especialistafoicauteloso.Semte-
cer projeções certeirasse haverá
piora ou melhoranos investi-
mentosna economia, ele comen-
tou que, por efeitosestatísticos,
há perspectiva de recuperação
do índice,na margem.Isso por-
que os recentesanúnciosde rea-
berturagradualda economiaem
maioe em junhoconduzirãoao
retorno de váriasatividadesde
serviços, setor que representa
maisde70%doPIB.
Assim, na prática, comoos me-
sesde maioede junho contarão
commaiorpartedeserviçosaber-
tosem relação aabril, issovai
conduzir a melhoranamargem,
por uso de base de comparação
muitobaixa,referenteaabril.
Ele informouaindaque oIpea
deve divulgarnestasemanada-
dos que sinalizam“recuperação
pequena” na atividade em maio,
emrelaçãoaabril.
Mas,aindaassim,odesempe-
nho do indicadorFBCFem abril
comprovagravidadedaatualcri-
se nos investimentos. “Abril foi
um mês muitoruim”, reconhe-
ceuotécnico.
OIpea informouainda que o
indicador de construção civil
caiu 19,6%em abrilante março.
Nacomparaçãocomabrildoano
passado,aquedafoide25,6%.No
trimestre móvelencerradoem
abril,orecuofoide9,9%.
JoséRonaldoSouzaJúnior,doIpea:“Esta criseé algomuito diferentedoqueestamosacostumadosa ver”
LEO PINHEIRO/VALOR
Instruçãovaisuspendermultasaplicadas
pelopoderpúblicoa fornecedores
Fa bioGraner
DeBrasília
O governopublicará Instrução
Normativa permitindoasuspen-
são eoparcelamento de multas
aplicadas pelo setor público a seus
fornecedores.Amedida faz parte
das ações de combate aos efeitos
econômicos do coronavírus,mas
também tem aspecto estrutural, já
que amaior partedas regras que a
IN trará continuará existindo após
ofim da calamidade pública, ex-
plicou aoValorosecretário de
Gestão,CristianoHeckert.
“Antes não existia apossibilida-
de de negociar administrativa-
menteascondiçõesdepagamento
destas multas”,afirmouHeckert.
Segundo ele, estainiciativa pode
ajudar os fornecedores a mante-
remempregosduranteacrise.
A IN permitiráoparcelamento
total ou parcial de multaadminis-
trativas (por exemplo, por atraso
de entrega)em até 12 parcelas
mensais, comincidência de Selic
acumulada, maisumataxa de 1%.
AparcelamínimaserádeR$500.
A outra hipóteseéa suspensão
da dívida pelo período de duração
da calamidade pública, prevista
paraterminarem31dedezembro.
Os interessados deverão solicitaro
adiamentoda cobrança paraaté
60 dias após o término do estado
deemergência
Umaoutra regradefinidapela
INtratadacompensaçãodosdébi-
tos comrecursos areceber pelos
fornecedores.Assim, se ogoverno
tem R$ 100 mil apagar, mas R$ 5
mil a receber por multa adminis-
trativadada ao fornecedor, oges-
tor público poderá repassarR$ 95
mil.Adecisão édogestor, mas o
fornecedor podenegociar eeven-
tualmente pediroparcelamento
oususpensão.
“Esta é umamedida vantajosa
tantopara aadministração quan-
to paraos fornecedores. Apartir
destanovaregra,será possível de-
duzirovalor da multadevida de
umpróximopagamentoaserfeito
paraaempresacontratada, geran-
doeconomicidadeparaaadminis-
traçãopública”, explicaHeckert.
Segundo ele, ogovernoainda
vai deixar de cobrardívidas admi-
nistrativas inferioresaR$1mil.Es-
sesvaloresnãoserãoperdoados.Se
os fornecedores foremreinciden-
tes e adívida acumulada passar
dessevalor,acobrançaseráfeita.
O governofederal realiza em
torno de 103 mil processosde
compras para a aquisição de bens,
serviços e tambémde obras. Cerca
de 47 mil destas aquisiçõessão
realizadas com Micro ePequenas
Empresas (MPE).A medida tam-
bém poderá ser acionadapor Esta-
doseMunicípios.
Para grandesbancos,fundodopoçofoi
emabril,mascenárioaindatraz riscos
AnaïsFernandes
DeSãoPaulo
Indicadores preliminares de
maio ejunho sinalizam que o
fundo dopoço paraaeconomia
brasileirafoiemabril,masaprin-
cipal incógnita para as projeções
ainda diz respeito à evoluçãodo-
méstica da pandemia,afirmam
os economistas-chefes dos três
maioresbancosprivadosdopaís.
“Abril foi o fundodo poço e ele
foi bem profundo.Agora, começa-
mos aver sinais de recuperação,
emboraa gente tenhadificuldade
de interpretar adicotomia entre a
evolução da doença eoimpacto
sobrea atividade”, disse Ana Paula
Vescovi, economista-chefe do San-
tander Brasil. AnaPaula, Fernando
Honorato, do Bradesco, e Mario
Mesquita, do Itaú Unibanco, parti-
ciparam ontem de debate virtual
promovido pelo Insper,com me-
diação do presidente da institui-
ção,MarcosLisboa.
Emboraoimpactodapandemia
já tenhase mostrado brutal na ati-
vidade, Honoratoponderaque ele
pode ter sido “um pouco maisra-
so” do que o estimadoinicialmen-
te.“A quedadaindústriafoimonu-
mental, só que agenteprojetava
30% e está caindo 20%”, exemplifi-
cou, referindo-se aos dados da
produçãoindustrialemabril.
Na ausência, até o momento,
de um remédio eficaz paraa co-
vid-19,porém,ocomportamento
dos consumidoreséoutrogati-
lho de incerteza, segundoHono-
rato. “A grande incógnitaéocon-
trole da pandemia. Não dá para
pensar em recuperaçãoforte da
economiacomessadúvida”,disse
MarioMesquita,doItaú.
Outrofatordeterminantepara
aretomadaéocomprometimen-
to dos governantesno âmbito
fiscal,já que opaís precisaam-
pliargastosna esteirade déficits
primários consecutivos e com
uma relaçãodívida/PIBque deve
rondar100%nopróximoano.
Para endereçaraquestão,“não
tembaladeprata”,disseAnaPaula,
que citou aimportância do tetode
gastose de um conjunto crível de
medidas.“Nãotematalhonemsaí-
da fácil, não vai ser reserva [cam-
bial], não vai ser monetização pelo
BancoCentral. Nãoteremos como
evitar a guerrapesada contra des-
pesas”,afirmouMesquita.
Honorato avalia que seria possí-
vel “aproveitar”omomento para
“repactuardesigualdades”, como
no sistematributário, no acesso a
serviços básicos(comosaneamen-
to) e na estrutura administrativa.
“Se nós não fizermosisso, as taxas
de juros não vão ficar baixas por
período prolongado earecupera-
çãodaeconomiaestarásobrisco.”
By_LuCh@QuE
By_Lu
Ch@Qu£

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