O Estado de São Paulo (2020-06-10)

(Antfer) #1

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A4 QUARTA-FEIRA, 10 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política


»SINAIS PARTICULARES.
Rodrigo Maia,
presidente da Câmara
dos Deputados

»Falso. Não bastasse Bol-
sonaro fugir da responsabili-
dade (e do ônus político), a
ação conferiu status de fake
news ao conteúdo porque
ele “viralizou” nas redes
como informação inverídi-
ca, manipulada com eviden-
te tendência política.

»Verdadeiro. A decisão do
STF assegurou aos Estados
e municípios autonomia
para medidas que tenham
como objetivo conter a
doença. Não livra, porém, a
União de realizar ações e
coordenar trabalhos.

»Cobertor... O anúncio de
que São Paulo poderá rea-
brir o comércio de rua e os
shopping centers contra-
riou os prefeitos do Grande
ABC, que temem prejuízos
tanto sanitários quanto eco-
nômicos com a medida.

»...curto. Para eles, João
Doria ouviu apenas o prefei-
to da capital paulista, Bru-
no Covas. Ressaltam que as
cidades da importante re-
gião apresentam índices me-
lhores ou iguais a São Pau-
lo, o que não justificaria a
decisão heterogênea toma-
da pelo governo estadual.

»Expectativa. Os prefeitos
da região esperam que Do-
ria anuncie na coletiva à
imprensa de hoje a mudan-
ça de fase de restrição para
que se igualem a São Paulo.

»Erudito e enigmático.
Quando questionado sobre
impeachment, Rodrigo
Maia cita à exaustão uma
frase do grande abolicionis-
ta Joaquim Nabuco: “O tem-
po não perdoa quem faz as
coisas sem ele”.

»Pauta. A Frente Parla-
mentar Ambientalista se
reúne ainda hoje para discu-
tir a nomeação do subpro-
curador Juliano Baiocchi
como coordenador da 4.ª
Câmara de Meio Ambiente
do Ministério Público. Ele
defendeu a polêmica MP da
regularização fundiária.

»Lobby verde. Coordena-
dor da frente, o deputado
Rodrigo Agostinho (PSB-
SP) protocolou ofício com
16 propostas prioritárias da
bancada verde ao presiden-
te da Câmara, Rodrigo
Maia, para o pós-pandemia.
Entre os mais importantes:
desmatamento ilegal zero e
proibição da grilagem de
terras no País.

»Sinal... A Associação dos
Magistrados Brasileiros e o
CNJ lançam hoje campanha
para incentivar mulheres
vigiadas a denunciar violên-
cia doméstica. Elas poderão
reportar os casos a mais de
10 mil farmácias pelo País.

»...vermelho. As vítimas
poderão desenhar um “X”
na mão e exibi-lo para os
atendentes, que farão a co-
municação com a polícia.
Para a presidente da AMB,
Renata Gil, a campanha vi-
sa ajudar todas as mulheres
que têm dificuldade de pres-
tar queixas nestes casos.

COM MARIANA HAUBERT E
MARIANNA HOLANDA

Q


uase imediatamente após Jair Bolsonaro ter usado
o Twitter para distorcer decisão do STF ao dizer
que as ações de combate à covid-19 “ficaram sob
total responsabilidade dos governadores e dos prefeitos”,
“cards” com praticamente o mesmo conteúdo infestaram
as redes sociais (incluindo grupos de WhatsApp). Os dis-
paros, segundo quem entende do assunto, ao que tudo in-
dica contaram com a ajuda de robôs, numa ação coordena-
da que indignou governadores e parlamentares. Mais uma
vez, eles enxergam digitais do famoso “gabinete do ódio”.

Post de Jair Bolsonaro


viraliza como fake news


ALBERTO BOMBIG
TWITTER: @COLUNADOESTADAO
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POLITICA.ESTADAO.COM.BR/BLOGS/COLUNA-DO-ESTADAO/

KLEBER SALES/ESTADÃO

MPF dá aval a compartilhar


provas com ação eleitoral


Breno Pires / BRASÍLIA
Rayssa Motta

A Procuradoria-Geral Eleito-
ral encaminhou ontem ao Tri-
bunal Superior Eleitoral pare-
cer favorável ao compartilha-
mento de provas do inquéri-
to das fake news, em tramita-
ção no Supremo Tribunal Fe-
deral, com ações que buscam
a cassação da chapa presiden-
cial de Jair Bolsonaro e Hamil-
ton Mourão. O pedido foi fei-
to pela coligação do PT.
Mesmo assim, a Procuradoria
foi contra o pedido para que os
conteúdos da CPI das Fake
News, no Congresso, sejam em-
prestados às ações judiciais de in-
vestigação eleitoral. No docu-
mento, a PGE afirma que as inves-
tigações da comissão parlamen-
tar estão em “estágio inicial”.
Na manifestação em que con-
corda com o envio de cópia do
inquérito das fake news ao TSE,
o vice-procurador-geral eleito-
ral, Renato Brill de Góes, citou
um despacho de Alexandre de
Moraes, relator do caso no STF.
Nele, Moraes mencionou “in-
formações de que os empresá-
rios aqui investigados integra-
riam um grupo autodenomina-
do de ‘Brasil 200 Empresarial’,
em que os participantes colabo-
ram entre si para impulsionar
vídeos e materiais contendo
ofensas e notícias falsas com o
objetivo de desestabilizar as ins-
tituições democráticas e a inde-
pendência dos Poderes”.
Para Brill de Góes, as investi-
gações do inquérito das fake

news “poderão vir a demons-
trar a origem do financiamento
das práticas abusivas e ilegais
imputadas à campanha” bolso-
narista em 2018. Na noite de on-
tem, Bolsonaro acompanhou
do Planalto a sessão do TSE que
retomou o julgamento de ações
contra a chapa Bolsonaro-Mou-
rão. Um pedido de vista de Mo-
raes, no entanto, suspendeu
mais uma vez o julgamento.
A atuação do empresário Lu-
ciano Hang nessa “rede de pro-
pagação de mensagens falsas ou
agressivas” é investigada nas
duas frentes, TSE e STF. Na vi-
são da Procuradoria, a coinci-
dência do alvo corrobora a deci-
são pelo compartilhamento das
provas em posse do Supremo. O
dono das lojas Havan chegou a
ter celular e documentos apreen-
didos por ordem de Moraes.
O Estadão apurou que a chan-
ce de o pedido ser aceito é gran-
de. “Não há como olvidar que
os elementos de informação de-
correntes das diligências deter-
minadas na decisão proferida
pelo ministro Alexandre de Mo-
raes podem ‘desvelar fatos que
se relacionem com a questão
discutida’ nestes autos”, escre-
veu o vice-procurador-geral.
A decisão de autorizar a cópia
do inquérito do STF cabe ao cor-
regedor-geral eleitoral do TSE,
ministro Og Fernandes. Ele po-
de decidir sozinho ou levar a ple-
nário. Se rejeitar o pedido de com-
partilhamento, cabe recurso.
As duas ações tratam do dis-
paro de mensagens em massa
pelo WhatsApp na campanha

de 2018 e são consideradas co-
mo as que oferecem maior risco
a Bolsonaro. A inclusão de no-
vas provas do controverso in-
quérito do STF é vista como al-
go que pode pavimentar o cami-
nho da cassação do presidente e
do vice no TSE. Como o Esta-
dão mostrou, a avaliação entre
ministros do tribunal é de que o
compartilhamento deve dar no-
vo fôlego às investigações que
apuram os disparos em massa.
A defesa de Bolsonaro havia
pedido ao TSE que rejeitasse a
inclusão dos conteúdos – do in-
quérito do STF e da CPI das
Fake News – nos processos elei-
torais que buscam a cassação da
chapa presidencial eleita em


  1. Para a advogada Karina
    Kufa, os pedidos devem ser ne-
    gados porque não têm relação
    com o objeto original da ação de
    investigação judicial eleitoral.


Precedente. O compartilha-
mento de provas do STF com o
TSE já ocorreu nas ações que in-
vestigaram a chapa presiden-
cial de Dilma Rousseff e Michel
Temer, eleita em 2014. Na oca-
sião, os depoimentos de delato-

res da Odebrecht e do casal de
marqueteiros João Santana e
Mônica Moura incrementaram
as ações, que apuravam suposto
abuso de poder político e econô-
mico. A maioria dos ministros,
no entanto, desconsiderou as
provas colhidas nas delações,
por concluir que elas eram
“alheias” ao objeto inicial da in-
vestigação – a chapa Dilma-Te-
mer foi absolvida por 4 votos a 3.
Desta vez, porém, ex-minis-
tros do TSE e advogados eleito-
rais ouvidos pelo Estadão apon-
tam que as provas colhidas no
inquérito das fake news têm,
sim, relação com as investiga-
ções na Justiça Eleitoral. Até ago-
ra, as acusações de disparo de
mensagens em massa não estão
comprovadas, de acordo com a
Procuradoria-Geral da Repúbli-
ca. Um ex-ministro do TSE argu-
mentou, no entanto, que não
basta identificar a irregularida-
de, mas considerar a sua escala.
Por se tratar de campanha presi-
dencial, a dimensão da irregula-
ridade deveria ser alta o suficien-
te para se constatar a quebra da
normalidade da disputa, justifi-
cando, dessa forma, a cassação.
O Planalto não quis comen-
tar o assunto. A defesa de Lucia-
no Hang afirmou que o empre-
sário “jamais financiou disparo
de mensagens durante a campa-
nha eleitoral de 2018 ou contra
o STF” e que o compartilhamen-
to de informações do inquérito
do STF “seria mais uma viola-
ção aos direitos fundamentais”
de Hang, “já que os processos
têm objetos distintos”.

Investigação. Procuradoria dá parecer favorável ao uso de material do inquérito das fake


news, no Supremo, com processos que pedem cassação da chapa Bolsonaro-Mourão no TSE


Daniel Weterman / BRASÍLIA

Em mais uma tentativa para en-
quadrar o Palácio do Planalto e
mirar no “gabinete do ódio”, o
projeto de lei das fake news que
tramita no Senado busca agora
cassar o uso de CPFs “laranjas”
e aumentar a pena de crimes
contra a honra cometidos pela
internet. O relator do projeto,
senador Ângelo Coronel (PSD)


  • que preside a CPI das Fake


News –, prepara um parecer en-
durecendo a proposta.
O projeto já teve a votação
adiada duas vezes, nas últimas
duas semanas, e enfrenta resis-
tências não só pelo potencial de
atingir publicações favoráveis
ao governo do presidente Jair
Bolsonaro, mas também as re-
des sociais ligadas à oposição.
O presidente da CPI vê possi-
bilidade de chegar à autoria dos
crimes cibernéticos por meio da
identificação dos usuários de ce-
lular, por onde as mensagens
são transmitidas. Coronel ante-
cipou que o seu parecer vai obri-
gar as companhias telefônicas
no País a recadastrar todos os
chips de celular pré-pago para
identificar o dono de cada linha.

A intenção é evitar o uso de
“CPFs laranjas”, ou seja, em no-
me de terceiros, para a produ-
ção e disseminação de notícias
falsas pelas redes. Atualmente,
o consumidor precisa fornecer
um CPF para ativar uma linha
de celular. O projeto pode obri-
gar empresas de telefonia mó-
vel a validar a informação forne-
cida pelo usuário, confirmando
que o comprador não está forne-
cendo dados de outra pessoa.
Se a proposta for aprovada, a
mesma obrigação valerá para
plataformas de redes sociais,
que já pedem informações pes-
soais como número de celular e
CPF aos usuários. O presidente
da CPI das Fake News acredita
que, com a autenticação pelas
operadoras, é possível identifi-
car o autor de ofensas, calúnias
e difamações em eventual que-
bra de sigilo telefônico. “Os por-
tadores ou encomendadores de
CPFs frios estarão com seus

dias contados. A raiz das fake
news é essa”, afirmou Coronel.
A disseminação de informa-
ções por contas falsas de agen-
tes públicos é classificada como
improbidade administrativa no
projeto, que proíbe o uso de “ro-
bôs” e limita disparos em massa
de mensagens por aplicativos.
A proposta é vista como vacina
contra o “gabinete do ódio”, gru-
po de assessores do Planalto co-
mandado pelo vereador Carlos
Bolsonaro (Republicanos-RJ).
A existência desse grupo foi re-
velada pelo Estadão.
Aliados do Planalto tentam
barrar o avanço da proposta.
“Na medida em que não houver
a possibilidade de patrocínio
oculto da rede eletrônica artifi-
cial de distribuição e contas fal-
sas, não haverá a atuação de es-
truturas como essa do gabinete
do ódio”, afirmou o senador
Alessandro Vieira (Cidadania-
SE), autor do projeto.

Paula Belmonte

Relator endurece sanções


em projeto das fake news


BOMBOU NAS REDES!

l‘Origem’

Projeto de lei busca
cassar CPFs ‘laranjas’ e
aumentar pena de
crimes contra a honra
cometidos na internet

“A redução salarial nos Três Poderes é a oportunida-
de dos representantes do povo de fazer a vontade da
população. Tem o meu total apoio.”

Deputada federal (Cidadania-DF)

“(Investigações do inquérito
das fake news) poderão vir a
demonstrar a origem do
financiamento das práticas
abusivas e ilegais imputadas
à campanha (de Bolsonaro).”
Renato Brill de Góes
VICE-PROCURADOR-GERAL ELEITORAL

»CLICK. O MDB Afro rea-
lizará nesta quarta uma
manifestação contra o
racismo em Salvador. O
anúncio foi feito pelo pre-
sidente do partido, o de-
putado Baleia Rossi.

COLUNA DO ESTADÃO

Apoio. Manifestantes contra e pró-governo em frente ao TSE; Corte começa a julgar ações contra chapa Bolsonaro-Mourão

FOTOS: DIDA SAMPAIO/ESTADAO
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