O Estado de São Paulo (2020-06-10)

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A8 QUARTA-FEIRA, 10 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


SERGIO


CIMERMAN


Bruno Ribeiro
Paloma Cotes
Márcia de Chiara


A Prefeitura de São Paulo libe-
ra a partir de hoje o funciona-
mento de lojas de rua e imobi-
liárias, fechadas desde 20 de
março, quando foi decretada
a quarentena. A medida faz
parte do plano de retomada
econômica do Estado e o fun-
cionamento será em horário
reduzido. No último dia 5, es-
critórios e concessionárias já
haviam recebido aval para
reabrir. A autorização para
shoppings deve valer a partir
de amanhã – depende de o Mu-
nicípio fechar acordo com o
setor. Médicos veem com res-
salvas a flexibilização em
meio ao recorde de confirma-
ção de mortes no Estado e
com 67% das UTIs ocupados
na capital (leia mais ao lado).
O plano estadual de reabertu-
ra econômica, da gestão João
Doria (PSDB), vale desde o dia
1.º. Pelo modelo, a retomada
dos setores será em fases e dife-
rente em cada região. A capital
foi colocada no nível dois (de
cinco possíveis) de relaxamen-
to da quarentena, o que permite
reabrir lojas e shoppings. A clas-
sificação da fase, diz o governo,
depende da análise de fatores
como a ocupação de UTIs e o
número de infectados. Se o qua-
dro piora depois da reabertura,
a região pode regredir de fase.
A informação da retomada do
comércio – às vésperas do Dia
dos Namorados – é importante
para o varejo. Lojas e imobiliá-
rias poderão funcionar por, no
máximo, quatro horas por dia.
O funcionamento não poderá
coincidir com o horário de pico
do trânsito (7h às 10h e 17h às
19h). As lojas se compromete-
ram a abrir das 11h às 15h. As
imobiliárias não definiram um
turno padrão.
Os estabelecimentos tam-
bém terão de respeitar lotação
máxima de 20% da capacidade e
adotar medidas sanitárias, co-
mo oferecer álcool em gel, man-
ter distância de um metro entre
os clientes e orientá-los para evi-
tar aglomerações. Representan-
tes de 27 entidades de setores
comerciais assinaram acordo


com a gestão Bruno Covas
(PSDB).
“A expectativa agora é que
amanhã (hoje), a gente também
consiga assinar com o setor de

shoppings centers para que tam-
bém possam votar a funcionar a
partir de quinta-feira (amanhã)
e, com isso, já teremos assinado
com cinco setores”, disse Co-

vas, conforme nota divulgada
pela Prefeitura ontem. Ainda se-
gundo o Município, as entida-
des se comprometeram a dar
apoio a funcionárias e funcioná-
rios “que não tenham quem cui-
de de seus dependentes incapa-
zes no período em que estive-
rem fechadas as creches, esco-
las e abrigos – especialmente as
mulheres, que são mães”.
Em alguns shoppings, gesto-
res já instalaram câmeras com
detecção de temperatura nas
entradas, para evitar o acesso
de pessoas com sintomas da co-
vid-19. Separadores de filas,
com locais delimitados para ga-
rantir distanciamento de um
metro entre os clientes, tam-
bém estão sendo instalados.
“É melhor abrir assim do que
não reabrir”, diz Alfredo Cotait,
presidente da Associação Co-

mercial de São Paulo. Ele admi-
tiu ainda que nem todas as lojas
estão preparadas para seguir as
regras.

Testagem. Covas disse ainda
que os setores se compromete-
ram a arcar com a testagem de
funcionários com sintomas. Co-
tait, porém, diz que o protocolo
da Prefeitura sugere que as lo-
jas testem os funcionários, mas
não obriga. Esse foi um dos pon-
tos de impasse na negociação
entre Prefeitura e empresários.
Ricardo Patah, do Sindicato
dos Comerciários, diz negociar
com as empresas a possibilida-
de de testar os trabalhadores pa-
ra identificar casos assintomáti-
cos. A testagem é considerada
importante para detectar rapi-
damente infectados e conter
possíveis novos surtos.

T


odos os dias recebo inúme-
ras ligações, mensagens por
WhatsApp e pedidos em re-
des sociais me arguindo: quando re-
tornaremos ao convívio social e ati-
vidades diárias? Na verdade, não te-
mos respostas para essas inquietu-
des. Estamos aprendendo a cada dia
com o novo coronavírus.
Em alguns países, pensávamos es-
tar controlada a situação, novos ca-
sos surgiram e novas medidas de
contenção têm sido realizadas, com
fechamento de estabelecimentos
comerciais e escolas. Por aqui, o no-
vo epicentro da doença, com quase
700 mil pessoas contaminadas, esta-
mos iniciando a flexibilização em de-
corrência da situação epidemiológi-
ca de cada Estado e município. Em
determinadas regiões a reabertura
da economia se mostra já em ação e
tantas outras estão por vir.
A questão primordial seria ter-

mos, neste momento, um Ministério
da Saúde atuante oferecendo diretri-
zes aos Estados e municípios, para que
não fossem tomadas ações isoladas.
Mas, como não provemos disso neste
momento, temos de encarar o traba-
lho técnico e a seriedade de cada gover-
nante. Temos obrigação de trazer à luz
das pessoas conhecimentos médicos.
Ainda mais com a omissão de novos
casos confirmados e óbitos de modo
total, o que não demonstra transparên-
cia e confiabilidade.
Muito se comenta sobre fazer mais
testes para, assim, isolar casos positi-
vos mais precocemente e, consequen-
temente, diminuir a transmissão. Isso
seria o mundo ideal. Para isso, temos
de ter elo entre serviços de saúde para
realizar busca ativa de contactantes.
Como fazer isso em um país de área
territorial imensa e com população
que supera 200 milhões de pessoas?
Os estatísticos e epidemiologistas

não conseguem nos dar respostas por-
que é difícil mesmo. Os testes apresen-
tam sensibilidade duvidosa, com resul-
tado falso negativo e que geram mais
dúvidas, atrapalhando condutas a se-
rem seguidas. É sabido que vamos me-
lhorar a sensibilidade dos testes, que
serão feitos em larga escala e serão
mais rápidos ainda. Mas, neste momen-
to, engatinhamos. Aqui não é culpa do
Brasil e, sim, do mundo todo, que foi
pego de surpresa com a pandemia.
Em São Paulo, sofremos com o
maior número de casos e mortes do
País, e já estamos entrando na fase de
abertura da economia. É uma tentativa
justa e aceitável. Claro que para isso
ser efetivo terá de existir queda do nú-
mero de casos, menor número de inter-
nações em UTI e enfermarias, menor
número de óbitos para que não tenha-
mos de regredir. A compra de novos
respiradores no Estado de São Paulo
poderá ser um divisor de águas levan-
do à sustentação do sistema de saúde,
sem colapsar, e gerando tranquilidade
para os profissionais da saúde pode-
rem gerir os casos que chegarão. A ne-
cessidade de recursos humanos se faz
imperante e já se nota contratação de
profissionais em caráter emergencial.
Os governantes têm de ter em mente
que a qualquer sinal negativo deve-se
cancelar e propor nova atitude. A aber-

tura do comércio, sobretudo, deve ser
feita mediante protocolos rígidos de
distanciamento social e medidas não
farmacológicas já muito bem conheci-
das pela população. O uso de másca-
ras, álcool em gel em 70%, escala rotati-
va de funcionários, dentre outras medi-
das a fim de se buscar sucesso. A rotina
das pessoas deve voltar, porém, com as
ressalvas para evitar situações desagra-
dáveis. Outra situação que merece des-
taque: o retorno das aulas. Projeções
são feitas, mas efetivamente como
manter distanciamento em salas de au-

la? Usar algum anteparo? Dividir as tur-
mas pela metade? Teremos de escutar
os educadores para compreender as
melhores opções. É fato que o aprendi-
zado será extremamente prejudicado
devendo ser reparado no ano vindouro
com reforços em todas as matérias.
Além de retorno dos vários setores
da economia, devemos pensar em reto-
mar as consultas médicas de rotina, os
procedimentos cirúrgicos (já existe no-
ta técnica da Anvisa de 29 de maio),
manter os tratamentos oncológicos e
de diálises, dentre outros. Vamos vol-

tando ao normal, mas os grandes
eventos sociais só devem ser incor-
porados ao cotidiano bem mais à
frente. Nós, como cidadãos, deve-
mos nos policiar em relação a essas
atitudes. Regras para os esportes co-
letivos estão sendo encorajadas pa-
ra que, por exemplo, o futebol possa
retornar aos campeonatos esta-
duais sem a presença de torcedores.
O esquema de concentração mais
prolongado e realização de exames
da covid-19 previamente às partidas
podem ser incorporados para segu-
rança dos atletas.
Até quando? Se flexibilizamos in-
corremos na possibilidade de nova
onda do vírus levando a mais inter-
nações e mortes. Se fazemos o lock-
down, destruímos a economia, gera-
mos pobreza, as pessoas não terão o
que comer, suicídios e violência po-
dem ser inevitáveis. Atentem para a
dificuldade de decisões. Temos de
aprender mais ainda com a covid-


  1. Reinfecção, que é uma possibili-
    dade não descartada, e vacina, que
    ainda está em horizonte longínquo,
    nos fazem ficar atentos e seguir me-
    didas preventivas já conhecidas.


]
EX-PRESIDENTE DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE INFECTOLOGIA

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Capital teve


177 mortes na


última semana


Até quando?


Brasil tem 1.185 novas mortes. Pág. A9 }


SP reabre lojas de rua e imobiliárias


hoje; shoppings devem voltar amanhã


Prefeitura dá aval para retomada após 82 dias de comércio fechado; estabelecimentos deverão funcionar em horário reduzido apenas


com 20% da capacidade. Especialistas veem com ressalvas flexibilização da quarentena após recorde de óbitos confirmados no Estado


AS REGRAS

ESCREVE QUINZENALMENTE

Renato Vieira

Infectologistas ouvidos pelo Es-
tadão dizem que o relaxamen-
to da quarentena em São Paulo
deve ser feito de forma gradual,
acompanhando os números de
infecção e óbitos para definir se
o processo deve ser aprofunda-
do ou suspenso. Para especialis-
tas, é essencial monitorar esta
contabilidade nas próximas
duas semanas. Entre os dias 2 e
8, a cidade teve 177 mortes.
Segundo dados da Prefeitura,
ainda em atualização, de 8 de
maio a 8 de junho houve 2.
óbitos por covid-19, segundo a
data em que ocorreu a morte. O
pico no período foi em 8 de
maio, quando houve 114 óbitos.
Desde o início da pandemia, fo-
ram registrados 4.588 óbitos
suspeitos, 485 deles este mês. A
confirmação de diagnósticos,
porém, tem atrasado por dificul-
dades de testagem.
“Pelos dados que tenho visto
no Estado, a situação está está-
vel nos últimos dez dias, sem
diminuição de óbitos e casos.
Na minha opinião, a gente deve-
ria aguardar um pouco o declí-
nio dos números”, diz o profes-
sor de Saúde Pública da USP Eli-
seu Waldman. O Estado assiste
ao avanço da pandemia no inte-
rior e teve recorde de óbitos
(334) confirmados ontem.
Celso Granato, diretor clíni-
co do Fleury, diz que a reabertu-
ra tem de ser de forma estuda-
da, com foco em dados levanta-
dos por região. “É preciso moni-
torização, não é coisa de curto
prazo. Uma liberação com con-
forto provavelmente só deve
ocorrer em muitos meses.”
A Prefeitura enfrenta dificul-
dades para manter protocolos
sanitários, como fazer com que
ônibus circulem só com passa-
geiros sentados. A gestão Covas
tem dito que a cidade ampliou a
estrutura de saúde e pode alu-
gar leitos privados, se preciso.

Metrópole


A abertura do comércio deve
ser feita com protocolos
rígidos de distanciamento

TIAGO QUEIROZ /ESTADÃO

Limpeza. Funcionária varre entrada de loja na Rua Oscar Freire: retorno no Dia dos Namorados é importante para o varejo

l Horário
Lojas e imobiliárias deverão res-
peitar o limite de funcionamento
máximo de 4 horas por dia. Em
relação às lojas, há acordo para
que abram das 11h às 15 h, como
forma de evitar o horário de pico.

l Capacidade
Os estabelecimentos também
terão de respeitar uma lotação
máxima de 20% da capacidade.
Em caso de fila, deve haver dis-

tância de 1 metro entre clientes.

l Higiene
Será preciso adotar medidas de
higiene, como oferecer álcool em
gel, e orientar os clientes para
que evitem aglomerações.

l Testes
Segundo Covas, os setores se
comprometeram a pagar testes
de funcionários. As entidades
dizem que isso não é obrigatório.
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