Estado de Minas (2020-06-10)

(Antfer) #1
CULTURA
6

Diretorade An açãoque nãoesperou por Deusafirmaque povosindíge nas têm direitoà


tecnologia eàuniversidade.Ela éaconvidada de hojedaliv edo projetoCine104em casa


❚CINEMA


PEDROGALVÃO

Além de interromper as
aglomeraçõesurbanas,oisola-
mentosocialtambémafetou
queméacostumadoapassaro
tempoemcontato comanatu-
reza.Comastrilhassuspensas
pelapandemia,aescritafoio
caminhoencontradopeloguia
Roger Pixixopara revisitar
umadesuaspaisagenspreferi-
dasemMinas.EmDaLapinha
aTabuleiro(EditoraLucel, 120
páginas),eleconta ahistória da
famosatravessiafeitaportan-
tosturistasdurante todooano,
deLapinhadaSerra(município
deSantanadoRiacho)aTabu-
leirodoMatoDentro(municí-
piodeConceiçãodoMato Den-
tro),naregiãopróximaàSerra
doCipó.Alémderesgataras
origensdopercurso,ele procu-
ra ofereceraoleitorumpasseio
imaginário pelolocalemtem-
posdequarentena.
“Minhaideiaétornaressa
história conhecida.Muitagente
passaporlá,masnãosabeque


aquelecaminhotemumahis-
tória,comocomeçou.Desdea
primeiravezquepasseiporlá,
tinhaessacuriosidade,pesqui-
seieagoracontosobreesseca-
minho, atéparavalorizaratra-
vessiaeconscientizarainda
mais osvisitantessobreaim-
portância dapreservação”,ex-
plicaoautor,quedizjá tercom-
pletado16vezesos 42 quilôme-
trosdatravessia,feitaemtrês
diasdecaminhada.
Otrabalhoreúnedeinfor-
maçõescolhidasemlivrose
publicaçõescientíficassobrea
regiãoatéconversascomos
moradoresmais antigosdolo-
cal,comoseuZéD’Olinta,um
dosveteranosdodistritodeTa-
buleirodoMatoDentro.Anar-
rativacomeçacomumavia-
gemnotempo,quepartedo
CiclodoOuro,quandoovilare-
jofoifundado.Ostropeiros
criaramumcaminhopelaser-
ra,maisdifícil,porémmais
curto,parachegaratéSantana
doRiacho.“ALapinhaeraum
pontodeapoioealgumasfa-

míliasfixarammoradiaali”,de-
talhaRogerPixixo.
Alémdopassado,ele falado
presente,esmiuçandoosbelos
atrativosnaturaisdaregiãoe
destacandoaimportância de
secuidardolocal.“Apreserva-
çãoéumobjetivodolivro.Fa-
çoatrilhacomfrequência e, in-
felizmente,semprenotamos
queaindahágente mal-educa-
da,compoucaconsciência.Ao
longodosanos,apreservação
foidesenvolvidanaregião,são
trêsunidadesdeconservação
(ÁreadeProteçãoAmbiental
MorrodaPedreira,ParqueEs-
tadualdaSerradoIntendente e
ParqueMunicipalNaturaldo
Tabuleiro).Nolivroconto sobre
osurgimentodelas,comoéa

atuação,alémdecoisasquevi
evivinatravessia,comoéaca-
minhada,comoépassartrês
diasnatrilha, sealimentar,o
queosvisitantespodemver”,
descreveoguia.
Oautordizqueapublicação
é“umincentivoparaquem
nuncafezatravessiaepara
quemjá foipoderveratrilha
comoutrosolhos;éumcami-
nhodiferenteparafazeresse
percurso,ocaminhodaleitura”.
Pixixo, quecomeçouafazertri-
lhassozinhoedespretensiosa-
mente,háoitoanos,acabouse
especializandoevirandoguia
profissional.Jáatravessoual-
gunsdoscaminhosmais procu-
radosnaAméricadoSul. Suas
andançasincluemaChapada

Diamantina, naBahia,easubi-
daaoMonte Roraima, nafron-
teiracomaVenezuela.

OUTRAS TRILHASÉosegundo
livrosobretrilhasescritopor
ele. Noanterior,Notasde 1634
quilômetros(2017),Rogercon-
tousobrecomofoiocontato
comesseuniversoeoscami-
nhospercorridosnosprimeiros
anosdedicadosaoofício.
“Noexterior,sãomaisco-
munspublicaçõessobremon-
tanhismo,trekkingecoisasdo
tipo.Aqui, nossabibliografiaé
pequena, mesmocomtantos
lugaresincríveis.Pretendopu-
blicarsobreoutrastrilhasetra-
vessiasdoBrasil,comoasda
ChapadaDiamantina”,afirma.

Pixixoencontrounolança-
mentoumaalternativaparao
períododeinatividadetrilheira
durante aquarentena. “Foi ojei-
todememanterpróximoda
naturezaecomacabeçaocupa-
da,enquanto nãopodemosvol-
tarparaas trilhas”,afirma.

Histórias


entreLapinha


eTabuleiro


DELAPINHAATABULEIRO
●De Roger Pixixo
●EditoraLucal
●120 páginas
●R$ 30
●Exemplares podemser
encomendadospor e-mail
([email protected])

LUCAL/REPRODUÇÃO

LIVRO Paisagens
mineiras ganham
destaqueno
livrodotrilheiro
RogerPixixo


LuciaMurat defende


aliberdade dos ín dios


FERNANDAGOMES*

Achegadadatecnologiaàtri-
boprejudicaaculturadospovos
indígenas?Essaéumadasper-
guntasqueodocumentárioA
naçãoquenãoesperouporDeus
(2015),deRodrigoHinrichsene
LuciaMurat, tenta responder.
Integrantedaprogramação
doprojetoCine104emcasa,o
filmecontaahistória dopovo
kadiwéu,quevivenafronteira
doMato GrossodoSulcomoPa-
raguai.Elepodeserconferido
gratuitamente,apartirdas12h
destaquarta-feira(10),pelolink
disponível noFacebook(centoe-
quatro),Instagram(@centoe-
quatrobh)enosite do 104
(www.centoequatro.org).Ficará
disponível por 48 horas.
“Índionãoésóarcoeflecha. É
preconceitoacharqueelenão
podetermotoetelevisãopor-
queissosignificaofimdacultu-
ra indígena. Ofatodeanovage-
raçãotercontatocomohomem
brancoeirparaauniversidade
nãoéruim”,afirmaacineasta
LuciaMurat.
Nesta quarta-feira (10), às
19h30,adiretoraparticipadeba-
te-papo/livenoInstagrampro-
movidopeloCine104emcasa.
Luciacontaque,durantemuito
tempo,alínguanativadopovo
kadiwéuficouperdida.Foiresga-
tadagraçasajovensqueaestu-
daramnauniversidade.“Émui-
topositivoparaajuventudeter
essecontato.Osindígenasde-
vemterautonomiaparafazero
quequiseremdavidadeles”,de-
fendeadiretora.
OprimeirocontatodeLucia
comopovokadiwéuocorreuem
1996,quandoelavisitouaaldeia.
“Queria subverteraimagemdos
indígenas,sempreapresentados
comaquelahistória decoloniza-
çãopacífica.Queria muitofazer
umfilmecomeles,mascoma
contribuiçãodeles.”Essesencon-


trosderamorigemaodocumen-
tárioBravagentebrasileira,lan-
çadoem1999.
“Daliparaafrente,nuncaperdi
ocontatocomeles.Vo ltei depois
de 10 anosepenseiemfazerum
filmesobreachegadadatecnolo-
gia.Oskadiwéuviviamoproces-
soderetomadadepartedaterra
deles,quehaviasidoocupadapor
fazendeiros.Ocacique,queco-
nhecibemjovem,com 15 anos,li-
deravaaretomada”,lembra.Essa
história estáemAnaçãoquenão
esperouporDeus.
Durante asfilmagens,desco-
briu-sequeautoridadeslocaisha-
viampermitidoquefazendeiros
ocupassemilegalmente parteda
reserva, aocontrário daorienta-
çãodogovernofederal.“Hoje,vo-
cê tempraticamente todososgo-
vernosdandoaberturatotalpara

aextinçãodeterrasedacultura
indígena”,adverteMurat.
Deacordocomela,apesarde
tudo,aculturaindígenacontinua
forte.“Umamigodiziaquenão
existiamaisculturaindígena,
pois,comacolonização,osportu-
guesesacabaramcomtudo.Vis-
tadefora,acomunidadeka-
diwéuparecepobre.Masquando
você começaaseaproximar,per-
cebeoquantosãoricasacultura
eahistória deles”,diz Lucia.
Ocontatocomopovoka-
diwéufoiimportanteparapôr
fimapreconceitosdaprópria ci-
neasta.“Vocêsedeparacomou-
tracabeça.Tínhamosmedodeal-
gumascoisasqueelesfaziam,
mas, naverdade,eramgestosex-
tremamentesdelicadosdirecio-
nadosparaagente”,conta.

FAZENDALuciaMuratpassaa
quarentenaaoladodafamília
emumafazendanointeriorde
SãoPaulo.“Tenhotrabalhado
bastante”,diz,revelandoquejá
estáfinalizadoofilmeAna.Sem
título,sobreasartesplásticasla-
tino-americanas,rodadoemvá-
riospaíses–Cuba,México,Brasil,
ArgentinaeChile.
Adiretoratambémtrabalha
noroteirodeOmensageiro,so-
breasrelaçõeshumanasemsi-
tuaçõeslimite,comoaditadura
militar.Lucia sedizempenhada
emlutarpelocinemabrasileiro,
boicotadopelogovernofederal.
TambémdefendeaCinemateca
Brasileira,ameaçadadeextinção.

*Estagiáriasob supervisãoda
editora-assistenteÂng ela Faria

Cena deAnaçãoque nãoesperou por Deus,sobreopovokadiwéu

RAFAEL BATISTAPEREIRA/DIVULGAÇÃO

AcineastaLucia
Murat fezvários
filmessobreos
índios brasileiros

BETO NOVAES/EM/D.A PRESS

VITRINE FILMES
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