O Estado de São Paulo (2020-06-11)

(Antfer) #1

A16 Metrópole QUINTA-FEIRA, 11 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Em um dia de novo recorde
de mortes no Estado de São
Paulo, com 340 óbitos em 24
horas, a gestão João Doria
(PSDB) decidiu que as cida-
des das regiões de Barretos e
Presidente Prudente, no inte-
rior, terão de adotar regras
mais rígidas de isolamento so-
cial por causa do aumento de
casos de coronavírus. Em um
movimento oposto, a Grande
São Paulo, a Baixada Santista
e a região de Registro (Vale
do Ribeira) terão a primeira
flexibilização autorizada.
As mudanças de classificação
das regiões fazem parte do Pla-
no São Paulo de reabertura eco-
nômica, que começou a vigorar
no dia 1.º de junho. Por esse pla-
nejamento, as regiões são classi-
ficadas em fases de abertura,
descritas por cores. A mais rígi-
da (vermelha) só permite ativi-
dades essenciais, como super-
mercados e farmácias. A fase 2
(laranja) autoriza a abertura do
comércio de rua e shoppings, e
a 3 (amarela) permite abrir,
além de lojas, salões de beleza,
bares e restaurantes.
A partir da próxima segunda-
feira, as regiões de Barretos e
Presidente Prudente saem da
zona amarela e migram para a
zona vermelha. Ribeirão Preto,
que era laranja, também recua-
rá para a restrição total. Já a
Grande São Paulo, a Baixada
Santista e Registro, que concen-
tram 26% da população do Esta-
do, migraram da zona vermelha
para a laranja após redução do
número de novos casos da co-
vid-19 e aumento de leitos. “A
epidemia desacelerou”, disse o
secretário de Desenvolvimento
Regional, Marco Vinholi.
O total de mortos no Estado
ontem chegou a 9.862 e o de ca-
sos confirmados passou de
150.138 para 156.316 em 24 ho-
ras. Autoridades destacaram


que o crescimento está dentro
das projeções. O Plano São Pau-
lo classifica as regiões adminis-
trativas com base em cinco cri-
térios: taxa de ocupação dos lei-
tos de UTI, quantidade de lei-
tos de UTI por 100 mil habitan-
tes, variação do número de ca-
sos, mortes e internações.
Outras regiões, como Bauru e
Araraquara, que eram amare-
las, migraram para laranja, que
permite a abertura do comércio
por quatro horas por dia e com
limite de 20% de capacidade.
Por causa da adição de novos
leitos de UTI no Estado e a esta-
bilização de casos da Grande
São Paulo, a taxa de ocupação
dos leitos caiu de 72,6% para
69,1%.
A secretária de Desenvolvi-
mento Econômico, Patrícia El-
len, destacou que, mesmo com
a classificação vermelha em
três regiões, em nenhuma fal-
tam leitos de UTI. “Se esse fos-
se o único critério, todo o Esta-
do estaria na classificação ver-
de (de maior abertura), disse ela.
O secretário executivo do
Centro de Contingência do Co-
roravírus em São Paulo, João
Gabbardo, destacou que a redu-
ção do distanciamento social
no interior pode ser uma das
causas para o aumento de casos
nas regiões que recuaram no
plano de flexibilização. Mas ele
diz que pode haver mais fato-
res. “O vírus às vezes tem uma
evolução que foge da nossa ca-
pacidade de projeção. A mudan-
ça não está só relacionada à di-
minuição do isolamento.”
Os prefeitos de Barretos e Pre-
sidente Prudente informaram
ontem que vão pedir revisão
dos critérios usados para a mu-
dança de faixa. O prefeito de
Barretos, Guilherme Ávila
(PSDB), alega que houve erro e
que vai comprovar que a cidade
tem índices favoráveis para

manter o comércio funcionan-
do de forma restrita.
O prefeito de Presidente Pru-
dente, Nelson Bugalho (PTB),
disse que recebeu o anúncio
com surpresa e que, com outros
prefeitos da região, vai cobrar
para que a reclassificação acon-
teça, ao menos, para a fase laran-
ja. “Não esperávamos que a re-
gião fosse regredir duas fases e
ficamos preocupados com a mu-

dança radical. Muitas empresas
fizeram estoque e recontrata-
ram funcionários. Esperáva-
mos permanecer como a maior
parte do Estado.”

Internações. Regiões que fo-
ram classificadas no início de ju-
nho como áreas da cor amarela
e que, por isso, puderam ter
maior reabertura comercial na
semana passada, enfrentaram
aumento do número de interna-
ções por covid-19 em porcen-
tuais de até dez vezes maiores
do que a média do Estado, se-
gundo dados da Fundação Esta-
dual Sistema de Análise de Da-
dos (Seade), do governo paulis-
ta, compilados pelo Estadão.
Nos sete dias anteriores ao
dia 31, véspera do início do Pla-
no São Paulo, quando todo o Es-
tado seguia as mesmas regras
de quarentena, a região de Bar-
retos, por exemplo, registrou 45
internações de pacientes com
os sintomas do coronavírus. Na
semana posterior, com lojas de
rua, shoppings, bares, restau-

rantes e cabeleireiros reaber-
tos, houve outras 81 interna-
ções. É um aumento de 80%.
Em Presidente Prudente, a
mesma comparação mostra um
aumento de 75,6%, passando de
41 para 72 internações por sema-
na. As duas outras regiões que
também tiveram a classificação
amarela, Bauru e Araraquara, ti-
veram aumento de 34,5% e
27,1%, respectivamente.
Em entrevista coletiva no Pa-
lácio dos Bandeirantes ontem,
Doria foi questionado sobre o
fato de as regiões de Barretos e
Prudente, reclassificadas como
zonas de restrição máxima, te-
rem começado o plano no nível
amarelo. “Não houve erro al-
gum (na classificação). Nós se-
guimos os índices e a orienta-
ção da ciência. Não seguimos
pressões políticas”, respondeu.
Segundo o governador, a rea-
bertura será conduzida com fir-
meza, mas haverá firmeza “tam-
bém para recuar”. /BRUNO
RIBEIRO, MARINA ARAGÃO, PALOMA
COTES e JOSÉ MARIA TOMAZELA

Estado pode ter


22 mil mortes


até o fim do mês


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


FONTE:GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO INFOGRÁFICO/ESTADÃO


PLANEJAMENTO


Panorama do Estado de São Paulo – visão por Departamento Regional de Saúde (DRS)
FASE 1 FASE 2 FASE 3 FASE 4 FASE 5

SÃO PAULO

GRANDE
SÃO PAULO

CAMPINAS

PIRACICABA
BAURU

RIBEIRÃO
PRETO

BARRETOSFRANCA

SÃO JOÃO
DA BOA
VISTA

SOROCABA

PRESIDENTE
PRUDENTE

ARAÇATUBA

SÃO JOSÉ
DO RIO PRETO

MARÍLIA

TAUBATÉ

REGISTRO

BAIXADA
SANTISTA

ARARAQUARA/
SÃO CARLOS

Em 27/5 Em 10/

SÃO PAULO

GRANDE
SÃO PAULO

CAMPINAS

PIRACICABA
BAURU

RIBEIRÃO
PRETO

BARRETOSFRANCA

SÃO JOÃO
DA BOA
VISTA

SOROCABA

PRESIDENTE
PRUDENTE

ARAÇATUBA

SÃO JOSÉ
DO RIO PRETO

MARÍLIA

TAUBATÉ

REGISTRO

BAIXADA
SANTISTA

ARARAQUARA/
SÃO CARLOS

Normal controlado
Fase de controle da doença, liberação de
todas as atividades com protocolos

Alerta Máximo
Fase de contaminação, com liberação
apenas para serviços essenciais

FAS E 1


Controle
Fase de atenção, com
eventuais liberações

FAS E 2


Flexibilização
Fase controlada, com maior
liberação de atividades

FAS E 3


Abertura parcial
Fase decrescente, com
menores restrições

FAS E 4


FAS E 5


O governo de São Paulo projeta
que ao menos mais 11 mil pes-
soas devem morrer por causa
do novo coronavírus nos próxi-
mos 18 dias. A revelação foi feita
ontem pelo coordenador do
Centro de Contingência do Co-
ronavírus, o infectologista Car-
los Carvalho. Dessa forma, o to-
tal de mortes pode chegar a até
22 mil ainda neste mês.
Ontem, o Estado bateu, pelo
segundo dia seguido, o recorde
estabelecido até então de mor-
tes nas últimas 24 horas, com
340 óbitos. O recorde anterior,
de terça-feira, 9, era de 334. An-
tes disso, o recorde era do dia 2
de junho, com 327 registros.
“Está projetado para até o fim
de junho, dia 28, uma expectati-
va de 200 mil casos, variando
entre 190 mil a 265 mil, se a po-
pulação do município e da re-
gião se mantiver com pelo me-
nos 50% de isolamento social”,
disse Carvalho, citando dado já
divulgado na semana passada.
Agora, ele complementou. “A
perspectiva de óbitos a que tal-
vez nós cheguemos no fim do
mês, se continuar nessa mesma
proporção, é na faixa de 20 mil
ao fim do mês, variando de 16
mil a 22 mil. Isso sempre man-
tendo essa faixa de isolamen-
to”, disse, ainda citando a casa
dos 50% de isolamento.
Carvalho afirmou ao Esta-
dão que a reavaliação de cada
cidade, que era semanal, será fei-
ta de forma diária pelo Centro
de Contingência do Coronaví-
rus. Assim, a área médica pode-
rá determinar o fechamento de
uma região todos os dias, caso
os indicadores apontem, e não
semanalmente, como as secre-
tarias de Desenvolvimento Eco-
nômico e de Desenvolvimento
Regional haviam divulgado.
O infectologista disse que só
a prática dirá como os índices
de isolamento social, vitais pa-
ra o controle da doença, vão se
comportar diante da liberação
da abertura. “Temos de monito-
rar. É preciso ver se, com a libe-
ração, as pessoas vão para as
ruas e as lojas, porque não
aguentam mais (ficar em casa),
ou se vão continuar em casa,
porque têm medo da doença.”
As áreas econômicas vão ava-
liar os dados semanalmente. A
cada semana, a avaliação será
para decidir se a região mantém
a classificação de cor ou se preci-
sa retornar à anterior. A cada
duas semanas, se continua na
mesma cor ou se pode avançar
para a seguinte na escala de libe-
ração. / B.R.

Governo errou


na retomada,


diz especialista


lRepercussão

Ribeirão Preto, Presidente Prudente e


Barretos voltaram à fase de maior restrição


Shoppings vão reabrir 4 horas por dia. Pág. A17 }


Para Paulo Lotufo, professor da
Faculdade de Medicina da Uni-
versidade de São Paulo (USP),
o governo paulista errou no pro-
cesso de retomada econômica.
Na opinião do especialista, a
abertura no interior do Estado
ocorreu antes do que deveria.
“Já existia indicação de au-
mento de casos em cidades co-
mo Campinas, Ribeirão Preto e
Presidente Prudente. Mas a
pressão foi grande para abrir.
Não havia nenhum indicador


mostrando que era hora de
abrir, ao contrário.”
Ainda segundo Lotufo, dife-
renciar as zonas de flexibiliza-
ção entre a capital e a Grande
São Paulo foi outra falha, por se
tratar da mesma mancha urba-
na. “Em locais como a (Rua) 25
de Março (no centro paulistano),
por exemplo, as pessoas estão
correndo risco.”
Para o professor Domingos
Alves, professor da Faculdade
de Medicina da USP Ribeirão
Preto, o Estado não está seguin-
do os parâmetros da Organiza-
ção Mundial da Saúde (OMS)
para iniciar o afrouxamento da
quarentena. As diretrizes deter-
minam que o número de casos e
mortes por covid-19 diminua

de modo sustentável por, no
mínimo, duas semanas. “Uma
reabertura mais segura tem de
seguir as evidências coletadas
no mundo inteiro. Itália e Ale-
manha fizeram isso. Não há ne-
nhum país que trabalhou com
quarentena e relaxamento de
mobilidade simultaneamente.”
Ele alerta que, com o comér-
cio aberto na capital, o transpor-
te público será grande foco de
transmissão. “Não se pode ga-
rantir controle de transmissão
com gente dentro do ônibus.”
A Prefeitura de São Paulo tem
enfrentado dificuldades nos úl-
timos dias para garantir que só
circulem ônibus com passagei-
ros sentados, para evitar aglo-
merações. / RENATO VIEIRA

CÉLIO MESSIAS/UAI FOTO/ESTADÃO

Doria abre


Grande SP,


mas fecha


interior


“Estudos indicavam que os
casos iriam se estabilizar
na região metropolitana e
aumentar no interior. Foi
o que aconteceu.”
João Doria
GOVERNADOR DE SÃO PAULO

“Tínhamos acertado o
retorno dos funcionários.
Ficou tudo na incerteza.”
Catarina Daher
COMERCIANTE EM
PRESIDENTE PRUDENTE

Controle. Motoristas de caminhões e ônibus fazem teste da covid-19 em Ribeirão Preto
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