O Estado de São Paulo (2020-06-11)

(Antfer) #1

O ESTADO DE S. PAULO QUINTA-FEIRA, 11 DE JUNHO DE 2020 Metrópole A


Shoppings da capital paulista
poderão reabrir a partir de ho-
je após acordo de entidades
do setor com a Prefeitura. Os
estabelecimentos agora po-
dem funcionar quatro horas
por dia, com até 20% da capa-
cidade e oferta de álcool em
gel a clientes. Os estabeleci-
mentos ficaram fechados por
83 dias. A Associação Brasilei-
ra de Shoppings Centers (A-
brasce) prevê que 46 dos 53
centros de compras na cida-
de reabram hoje – e os outros
a partir de amanhã.
Os shoppings terão de funcio-
nar fora do horário de pico do
trânsito – há opção para que fi-
quem abertos das 16 horas às 20


horas ou das 6 horas às 10 horas.
O estabelecimento que optar
por um horário terá de se man-
ter fechado no outro. O comér-
cio de rua, que reabriu ontem
na capital, também está com o
funcionamento diário limitado
a quatro horas – das 11 horas às
15 horas.
Os shoppings terão de contro-
lar o acesso de clientes, de mo-
do a garantir que a lotação atin-
ja só 20% da capacidade de cada
prédio. Além oferecer álcool
em gel e medir a temperatura
dos clientes, terão de agir para
evitar que ocorra aglomeração
dentro dos estabelecimentos.
Especialistas têm visto com
ressalvas a flexibilização da qua-

rentena antes de uma queda
consistente do número de infec-
ções e mortes pelo novo corona-
vírus. Entre os dias 2 e 8, a capi-
tal registrou 177 óbitos. A ges-
tão Bruno Covas (PSDB) diz
que as decisões são tomadas
com base em critérios científi-
cos e afirma que a cidade conse-
guiu ampliar a estrutura hospi-
talar durante a pandemia.
“Ainda estamos em quarente-
na, peço para a população utili-
zar máscara, evitar aglomera-
ção e sair de casa. Essa forma
encontrada pela Prefeitura, de
discutir protocolos com os seto-
res, é a que dá mais tranquilida-
de que não vamos retroceder à
fase anterior”, disse Covas.

O modelo estadual de reaber-
tura gradual da economia prevê
cinco fases. Cada região é classi-
ficada em um nível, conforme a
evolução de casos de covid-19 e
a taxa de ocupação de UTIs. Se
há piora de quadro após a rea-
bertura, a região pode voltar a
uma fase mais restritiva. A capi-
tal está no nível 2, que permite
reabrir shoppings, lojas de rua,
imobiliárias, concessionárias e
escritórios. Restaurantes, aca-
demias e salões de beleza só
abrem em fases seguintes.

Preparação. Os estabeleci-
mentos começaram a se prepa-
rar nos últimos dias para rea-
brir. O Pátio Higienópolis, na re-

gião central, informou que vai
usar câmeras com inteligência
artificial para aferir a tempera-
tura, botoeiras “no touch” para
chamar elevadores, contagem
eletrônica de ocupação e tapete
para desinfectar calçados.
“É claro que os lojistas não
vão conseguir o retorno econô-
mico de antes com jornada re-
duzida”, diz o presidente da
Abrasce, Glauco Humai. “Mas,
antes, o lojista estava com ze-
ro.” A Associação Brasileira de
Lojistas de Shopping (Alshop)
calcula prejuízos de R$ 27 bi-
lhões no País durante a quaren-
tena e mais de 120 mil desem-
pregados. /BRUNO RIBEIRO, PAULA
FELIX e ERIKA MOTODA

WERTHER SANTANA/ESTADÃO

Movimento foi intenso no


1º dia da 25 de Março


reaberta; lojas funcionam


só 4 horas por dia e com


20% da capacidade


Comércio popular dá álcool em gel, mas tem fila na porta


Consumidor na rua. Movimento na 25 de Março foi intenso no primeiro dia de reabertura das lojas e a cena de pessoas com sacolas voltou a ser comum


Oscar Freire e Bom Retiro


em clima de quarentena


Gonçalo Júnior


Após mais de dois meses fecha-
do para evitar a propagação do
novo coronavírus, o comércio
de rua na cidade de São Paulo
voltou a funcionar ontem com
movimento intenso nos princi-
pais centros populares de ven-
das. As lojas cumpriram as medi-
das preventivas, como colocar
máscaras à disposição de clien-
tes e colaboradores, medição


de temperatura com termôme-
tro digital e o fornecimento de
álcool em gel na porta. Por ou-
tro lado, houve filas e aglomera-
ções na entrada dos estabeleci-
mentos.
As regras acordadas entre a
Prefeitura e entidades do setor
de varejo que viabilizaram a rea-
bertura do comércio mudaram
a dinâmica de atendimento.
Um dos pontos foi a limitação
da capacidade das lojas a 20%
do público, para evitar aglome-
ração interna. A maioria dos es-
tabelecimentos cumpriu as de-
terminações. Mas, em algumas
lojas, longas filas se formaram.
Era mais demorado entrar do
que fazer a compra.
Esse foi o cenário da Rua 25

de Março, um dos principais
centros de comércio popular da
cidade. A loja Armarinhos Am-
bar, por exemplo, destacou um
funcionário para controlar a en-
trada de clientes. Só cinco por
vez. Com a demora para as com-
pras, com a escolha do produto
e pagamento no caixa, as filas se
estenderam do lado de fora.
Apesar da orientação dos fun-
cionários, as pessoas ficavam
próximas umas das outras.
A dona de casa Maria Apareci-
da Tomazzi, de 64 anos, passou
20 minutos na fila e apenas cin-
co para comprar lãs para produ-
zir agasalhos para doação.
“Meu estoque de lã acabou, mas
vim correndo, de carro, toman-
do todos os cuidados”, diz a mo-

radora da Vila Maria, zona nor-
te. “Existem mais pessoas na fi-
la, na entrada da loja, do que
dentro. Mas é melhor abrir as-
sim do que não abrir”, opina
Guilherme Ambar, dono da lo-

ja, que registrou perdas de ape-
nas 30% nas vendas durante a
quarentena por causa do estí-
mulo às vendas online.
Na loja Armarinhos Fernan-
do, as filas foram ainda maiores
e dobraram os quarteirões da
Rua Afonso Kherlakian. Ali, o
controle de entrada foi feito
por meio de fichas. Eram 500 ao
todo. Uma delas estava com a
auxiliar de escritório Bianca Ri-
beiro, que foi comprar material
de escritório para a empresa de
brindes onde trabalha na Aveni-
da Tiradentes. Como eles não
fizeram home office, o estoque
acabou durante a quarentena.
“Nesse primeiro dia, houve
uma procura por quase tudo, de
brinquedos a perfumaria”, dis-

se Ondamar Ferreira, gerente
da loja há 17 anos.

Entra e sai. Muita gente deci-
diu encarar esse entra e sai das
lojas ontem atrás de promo-
ções. A decoradora Mariana Di-
niz, moradora de Jandira, na
Grande São Paulo, queria obje-
tos para a festa junina que não
encontrou pela internet. Mas
não foi possível encontrá-los
facilmente. Uma das recomen-
dações da Prefeitura foi o adia-
mento de queimas de estoque
para evitar aglomerações.
O protocolo prevê que, nes-
ta fase inicial, classificada co-
mo laranja, as lojas respeitem
o limite de funcionamento
máximo de quatro horas por
dia e se comprometam a abrir
das 11 horas às 15 horas. O horá-
rio não poderia coincidir com
os de pico do trânsito (das 7
horas às 10 horas e das 17 horas
às 19 horas).
Na região do Brás, isso ficou
na teoria. Muitas lojas abriram
antes do prazo, como na Rua
Valtier. Horas antes da reaber-
tura já havia filas e aglomera-
ções. Outros lojistas tentaram
disfarçar e abriram apenas
meia porta. Ambulantes, que
também foram incluídos no
protocolo de reabertura do co-
mércio de rua, vendiam roupas
nas calçadas e no meio das
vias. Máscaras? Quase sempre
na orelha ou no queixo.
Para controlar o distancia-
mento dentro das lojas, foi pre-
ciso improviso e criatividade.
Em várias lojas, foram comuns
as marcações no chão com fita
adesiva, nem sempre na distân-
cia padronizada.
Embora destaquem a neces-
sidade de retomada dos negó-
cios, muitos lojistas se preocu-
pam com a reabertura no mo-
mento em que o número de
mortes pelo coronavírus no Es-
tado de São Paulo bateu recor-
de pelo segundo dia seguido on-
tem, com 340 mortes registra-
das em 24 horas. É o caso da
gerente de loja de fantasias Ma-
ria de Assumpção Bezerra, que
trabalha há 30 anos na Ladeira
Porto Geral. “Quatro horas é
um tempo pequeno para uma
loja. Por outro lado, é um tem-
po enorme para todos ficarem
expostos, mesmo com todos
os cuidados”, diz a gestora de
59 anos.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


REGRAS

O tumulto da 25 de Março, no
centro de São Paulo, destoou da
calmaria de outros endereços
tradicionais do comércio na ca-
pital. Na Rua Oscar Freire, por
exemplo, templo dos artigos de
luxo, boa parte das lojas simples-
mente não abriu. O Bom Retiro
também estava vazio.
Representantes da associa-


ção de lojistas da Oscar Freire
disseram que vão esperar a rea-
bertura apenas na próxima se-
gunda-feira. Por isso, decidiram
não abrir na véspera do feriado.
As lojas abertas foram exceção.
Uma delas foi a Recco, espe-
cializada em moda íntima. A su-
pervisora Luciana Gonçalves
não se arrependeu. “Foi acima
da nossa expectativa. Tínha-
mos um consumo represado”,
disse ela, que contabilizou que-
da de 60% nas vendas no mês de
maio, mas afirma que já come-
çou a recuperação.
Na loja Munny, na mesma cal-
çada, a gerente Marta Rodri-

gues também estava otimista.
“Ainda não estamos no melhor
momento da pandemia, pois as
mortes ainda estão subindo,
mas essa data pode ser um bom
recomeço. Já perdemos o Dia
das Mães, que era a data mais
importante. Vamos tentar recu-
perar a partir de agora”, disse a
gestora da loja de roupas. Na lo-
ja Yndú, até espumante – ao la-
do do álcool em gel – era ofereci-
do para atrair a clientela.
Apesar da aposta, as previ-
sões apontam forte retração em
relação aos anos anteriores. Es-
tudo da Confederação Nacio-
nal do Comércio (CNC) proje-
ta queda histórica de 43% nas
vendas para a data no País. É
maior retração já registrada pa-
ra a data desde o início da série
de vendas, em 2004.
As ruas do Bom Retiro, região
tradicionalmente dedicada às

confecções e às lojas de vestuá-
rio, também estiveram vazias no
primeiro dia de reabertura do co-
mércio. Nem de longe a Rua José
Paulino resgatou o movimento
do período anterior à pandemia.
Ali, muitos imóveis exibiam
faixas de “aluga-se” ou “vende-
se”, dando mostras da gravidade
da crise. As poucas lojas abertas
já se adaptam aos protocolos.
Uma das mudanças mais impor-
tantes é a necessidade de man-
ter provadores fechados e proi-
bir a prova de roupas, calçados e
acessórios no estabelecimento.
A gerente Carla Campos, da
Cia Ypslon, disse que as pes-
soas vão se adaptar aos poucos.
Ontem, ela ainda permitia o uso
do provador, desde que a “pes-
soa tivesse certeza de que leva-
ria o produto”. Ela não soube
explicar o que faria se o cliente
desistisse da compra. / G. J.

lDivisão

Brasil supera EUA e Reino Unido e é o primeiro em óbitos diários. Pág. A18}


Lojas de luxo vão esperar


a próxima semana para


reabrir; José Paulino


está cheia de faixas de


‘aluga-se’ e ‘vende-se’


Shoppings vão reabrir 4 horas por dia


l Horários
Os shoppings poderão funcionar
por 4 horas por dia e podem esco-
lher entre abrir de 16 horas às
20 horas ou de 6h às 10h.

l Capacidade
Não será permitida lotação além
de 20% da capacidade e aglome-
rações terão de ser contidas.

l Higiene
Os shoppings deverão oferecer
álcool em gel e medir a
temperatura de clientes

Em SP, 46 centros de compras preveem retomada com ações sanitárias e controle de acesso; turno pode ser das 6h às 10h ou 16h às 20h


Luxo. Loja dos Jardins oferece álcool em gel e espumante

VALERIA GONCALVEZ/ESTADÃO

“Quatro horas é
um tempo pequeno
para uma loja. Por
outro lado, é um tempo
enorme para todos
ficarem expostos,
mesmo com todos
os cuidados”
Maria de Assumpção Bezerra
GERENTE DE LOJA DE FANTASIAS NA
REGIÃO CENTRAL DE SÃO PAULO
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