O Estado de São Paulo (2020-06-11)

A20 Esportes QUINTA-FEIRA, 11 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO

Ciro Campos

A Confederação Brasileira de
Futebol (CBF) concluiu no
início deste mês nova versão
de um guia para nortear a vol-
ta dos times aos treinos e jo-
gos após a paralisação causa-
da pela pandemia do corona-
vírus. O documento obtido
pelo Estadão traz detalhes
sobre a retomada das ativida-
des, em especial sobre a roti-
na dos jogadores. Eles não po-
derão mais cuspir no chão em
treinos e partidas oficiais,
quando elas voltarem – um
hábito comum entre atletas,
vez ou outra flagrado pelas
imagens da transmissão. Do
refeitório ao banho e do uni-
forme às unhas, tudo ganhará
atenção especial.
Quem apresentou o guia à re-
portagem e contou detalhes so-
bre o processo de produção do
material foi o ortopedista e
coordenador médico da sele-
ção brasileira de futebol femini-
no, Nemi Sabeh Júnior. O médi-
co é um dos responsáveis pelo
Guia Médico de Sugestões Pro-
tetivas para o retorno das ativi-
dades do futebol brasileiro. O

documento tem 32 páginas e en-

volveu o trabalho cuidadoso de

17 médicos, entre ortopedistas,

infectologistas e especialistas

em bioinformática.

Segundo Sabeh, o guia foi pro-

duzido ao longo de um mês. A

primeira reunião para definir

seu conteúdo contou com 150

médicos e uma discussão de

quatro horas de duração. O

coordenador do trabalho é o di-

retor médico da CBF, Jorge Pa-

gura, responsável direto tam-

bém por levar o material ao Mi-

nistério da Saúde. “O protocolo

foi feito inteiramente com a

orientação e anuência do Minis-

tério da Saúde”, explicou.

O guia divide a retomada do

futebol em cinco diferentes es-

tágios, com início na fase de trei-

namentos em casa até uma eta-

pa final, voltada ao acompanha-

mento após o retorno do calen-

dário. O ponto mais delicado é

justamente o retorno dos atle-

tas aos CTs, quando a rotina pre-

vê a medição diária de tempera-

tura e uma série de cuidados no

cotidiano. O futebol como to-

dos conheciam vai mudar.

Em um primeiro momento,

os jogadores deverão evitar o

vestiário e irem ao local de trei-

nos já com o uniforme de traba-

lho. Os banhos terão de ser to-

mados em casa e não mais no

vestiário. Já em uma etapa se-

guinte, será permitido o traba-

lho em grupo com o atendimen-

to a outros cuidados de seguran-

ça. Será preciso ter um reveza-

mento de banhos, os roupeiros

deverão separar uniformes em

sacos individuais e a utilização

de piscinas estará proibida.

Outro cuidado será com as re-

feições. Os clubes não vão mais

servir comida em bufês, mas em

pratos feitos especificamente

para cada jogador, uma espécie

de marmitex. “O prato terá de

ser entregue já montado, na co-

zinha. Um prato para cada um.

Teremos mudanças importan-

tes, mas que são complexas e

cuidadosas na execução, princi-

palmente para quem cuida da

alimentação”, diz o médico da

CBF. Futuramente, quando os

times voltarem a viajar, os ho-

téis deverão ter um esquema es-

pecial de cuidados também,

sem serviço de quarto ou de lim-

peza nos quartos para evitar o

contato com outras pessoas.

Para reforçar a higiene, a CBF

recomenda que os atletas man-

tenham as unhas cortadas e evi-

tem sair de casa. “O retorno dos

times para as competições não

pode ser imediato. Precisa ter

uma fase anterior de treinamen-

to físico, para evitar lesões. Se

não fizéssemos o documento, a

volta seria de forma aleatória”,

disse Sabeh. Porém, a cartilha

não estipula prazos. Tal defini-

ção caberá aos órgãos de saúde.

Cafezinho e cravo. O guia fei-

to pela CBF recomenda que os

clubes façam testes contínuos

para monitorar possíveis casos

de covid-19. “Cada clube, pelo

menos dois dias antes de um jo-

go, vai realizar testes para que

possa ser feita a partida”, afir-

mou o médico. Fora o exame da

coleta de secreção nasal, o texto

sugere a realização de prova

mais simples: um teste com ca-

fé em pó ou cravo. Caso alguém

relate que perdeu a sensibilida-

de do olfato, a recomendação é

fazer a pessoa cheirar uma por-

ção dessas duas substâncias. Se

ainda assim não conseguir sen-

tir o cheiro, ele será encaminha-

do para exames detalhados.

“Cerca de 80% das pessoas que

têm covid-19 apresentam dimi-

nuição do olfato. Se você for tes-

tar a pessoa, tem de tirar o san-

gue. Mas o ‘teste do cafezinho’ é

mais fácil e barato. Claro que

tem uma margem de erro, mas

funciona como um aviso.”

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS

SENSIBILIDADE

PAULO WHITAKER REUTERS

Guia veta

cusparada

e pede unha

cortada

Futebol. Nova versão do protocolo da CBF

recomenda teste do olfato com cravo e café

Não pode mais. Robinho cospe água durante treinamento com a seleção brasileira na Copa América de 2011, na Argentina

Nemi Sabeh Júnior

MÉDICO DA CBF

‘Cerca de 80%

das pessoas com

covid-19 têm

diminuição do

olfato. Se você for

testar, tem de tirar

o sangue. Mas o

‘teste do cafezinho’

é mais fácil e

barato. Tem uma

margem de erro,

mas ele funciona

como um aviso’