O Estado de São Paulo (2020-06-12)

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A10 Metrópole SEXTA-FEIRA, 12 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Falecimentos


Mateus Vargas / BRASÍLIA


Indígenas que vivem no Vale do
Javari, no extremo oeste do
Amazonas, região com maior
número de grupos isolados e de
recente contato do mundo, afir-
mam que foram contaminados
por covid-19 por meio de agen-
tes de saúde do governo. Pelo
menos 20 indígenas da região já
contraíram a doença, segundo
informações do governo do
Amazonas.
“Suspeita-se que seja através
dos profissionais da saúde ou
funcionários do DSEI (Distrito
Sanitário Especial Indígena), co-
mo aconteceu com nossos pa-
rentes da região do Solimões”,


afirma a União dos Povos Indíge-
nas do Vale do Javari (Univaja),
em nota divulgada no domingo
passado, em que também pede
“socorro” e “pronta resposta” a
autoridades para o atendimen-
to da população indígena.
A região é a segunda maior ter-
ra indígena demarcada do Bra-
sil, atrás da Yanomami, e faz
fronteira com o Peru. A suspeita
dos indígenas é reforçada pelo
analista pericial em antropolo-
gia do Ministério Público Fede-
ral Walter Coutinho Jr., em in-
formações enviadas à Procura-
doria-Geral da República (P-
GR). “Há fortes evidências de
que a doença possa ser (ou já te-
nha sido) introduzida entre os
povos indígenas do DSEI Vale
do Javari – assim como ocorreu,
de fato, no DSEI Alto Rio So-
limões – pelos profissionais de
saúde e/ou funcionários do pró-
prio Distrito Sanitário”, escre-
veu ele na sexta-feira passada.
Além da covid-19, a região en-

frenta alta de casos da malária.
A Univaja aponta falta de barrei-
ra sanitária e locais de quarente-
na na região, além da escassez
de testes para diagnóstico e me-
dicamentos.
A aceleração da covid-19 preo-
cupa lideranças indígenas e au-
toridades. Em 19 de maio, a Or-
ganização Pan-Americana de
Saúde (Opas) alertou sobre o
impacto “desproporcional” da
pandemia em povos indígenas
e mulheres nas Américas. Na-
quela data, segundo o Ministé-
rio da Saúde, havia 489 casos
acumulados entre indígenas no
Brasil e 25 mortos. Em 9 de ju-
nho, o número de casos subiu a
2.328 e 85 morreram pelo vírus.
Lideranças indígenas e o
MPF apontam, ainda, falta de
transparência na divulgação de
dados sobre a covid-19 entre
moradores da terra indígena e
profissionais de saúde não indí-
genas. A suposta falta de infor-
mações faz circular boatos, en-

tre pessoas que acompanham
as discussões, de que mais de
uma dezena de profissionais
testou positivo recentemente
para a doença e, antes, esteve
no Vale do Javari.

Procurado, o Ministério da
Saúde não informou quantos
agentes de saúde que estiveram
no local estão infectados. A pas-
ta apenas confirmou, em 4 de
junho, que quatro agentes de
saúde testaram positivo, mas
não sabia como haviam sido in-
fectados.
Após denúncias dos indíge-
nas, o MPF fez recomendações
no domingo à Secretaria Espe-
cial de Saúde Indígena, do Mi-
nistério da Saúde, à Fundação
Nacional do Índio (Funai), ao
governo do Amazonas e à Prefei-

tura de Tabatinga.

Insumos. Procuradores reco-
mendam compra urgente de in-
sumos para tratamento da co-
vid-19, além da instalação de lo-
cais adequados de quarentena
para profissionais de saúde e in-
dígenas contaminados ou com
sintomas do vírus.
A recomendação costuma ser
a etapa anterior à apresentação
de uma ação judicial, caso o pro-
blema não se resolva. O MPF
aponta ainda “contínuo desapa-
relhamento da Funai”, até mes-
mo no Vale do Javari.
Após três meses de pande-
mia, Funai e ministérios dos Di-
reitos Humanos e da Saúde fala-
ram à imprensa na terça-feira
sobre combate ao vírus em co-
munidades tradicionais e indí-
genas.
O Ministério da Saúde nega
que agentes do governo tenham
levado a doença para a terra indí-
gena. Em nota enviada à reporta-
gem, a pasta afirma que a “região
tem como característica a passa-
gem de comerciantes e pescado-
res” e já cumpre recomendação
do MPF de testar profissionais
para a covid-19 antes de enviá-
los a campo.

Paloma Cotes
Sandy Oliveira


O Brasil ultrapassou ontem a
marca das 40 mil mortes e dos
800 mil casos do novo corona-
vírus – agora são 41.058 víti-
mas entre 805.649 infectados.
De acordo com dados do con-
sórcio de veículos de comuni-
cação formado por ‘Estadão’,
G1, O Globo, Extra, Folha e
UOL, o País somou 1.261 no-
vos óbitos e 30.465 novos in-
fectados nas últimas 24 horas.
No Estado de São Paulo, as
mortes já são mais de 10 mil.
Em números absolutos, São
Paulo é o Estado com maior
quantidade de mortes e casos
confirmados no País (10,1 mil
mortes e 162,5 mil casos). Em
seguida na lista dos mais afeta-
dos estão o Rio de Janeiro (7,
mil mortes e 75,7 mil casos) e o
Ceará (4,7 mil mortes e 74,6 mil
casos). A situação é considera-
da grave também no Pará (4 mil
mortes e 65,1 mil casos) e no
Amazonas (2,4 mil mortes e
53,9 mil casos).
Na manhã de ontem, a praia
de Copacabana foi palco de um
protesto contra a atuação do go-
verno federal diante da crise
provocada pela pandemia. A
ONG Rio de Paz organizou a
abertura de cem covas rasas e
posicionou cruzes na areia da
praia, simbolizando as mortes
pela covid-19.


Os organizadores do protes-
to argumentam que houve uma
“sucessão de erros” cometidos
pelo governo federal na condu-
ção da crise sanitária e pedem
mudanças na posição do presi-
dente Jair Bolsonaro.
Pouco tempo depois, a insta-
lação acabou vandalizada por
agressores que derrubaram as
cruzes. Elas foram recolocadas
de pé por um senhor que passa-
va pelo local e, emocionado e
indignado, informou ter perdi-
do um filho de 25 anos para o
coronavírus.
O Brasil segue como o tercei-
ro país do mundo com mais óbi-
tos pela covid-19, atrás apenas
dos Estados Unidos e do Reino
Unido, que registraram até ago-
ra 113,6 mil e 41,3 mil vítimas,
respectivamente, de acordo
com dados compilados pela
Universidade Johns Hopkins.

São Paulo. A marca em São
Paulo ocorre em um momento
que o governo local implemen-
ta a flexibilização das medidas
de distanciamento social, per-
mitindo a reabertura do comér-
cio. Na capital, os shoppings rea-
briram ontem (leia mais na pági-
na A11). Na previsão do governo
paulista, o patamar de mortos
pode dobrar até o fim do mês.
A projeção é feita com base
em uma taxa de isolamento so-
cial de 50%. Mas a taxa vem fi-
cando abaixo desse patamar no
Estado. Anteontem, a capital
paulista registrou 48% de isola-
mento e o Estado esteve com a
taxa de 46%.
Pela atualização do plano de
abertura divulgada anteontem,
e que passa a valer na próxima
segunda-feira, as cidades das re-
giões de Barretos, Ribeirão Pre-
to e Presidente Prudente, no in-

terior, terão de adotar regras
mais rígidas por causa do au-
mento de casos de coronavírus.
Essas regiões saíram da zona
“amarela” e migram para a zona
“vermelha” do Plano São Paulo.
Já as regiões da Grande São
Paulo, da Baixada Santista e de
Registro (no Vale do Ribeira),
que concentram 26% da popula-
ção do Estado, migraram da clas-
sificação “vermelha” para a “la-
ranja” após redução do número
de novos casos e aumento do nú-
mero de leitos de internação.

Transparência. O balanço de
óbitos e casos é resultado da par-
ceria entre os jornalistas dos
seis meios de comunicação,
que uniram forças para coletar
informações junto às secreta-
rias estaduais de Saúde e divul-
gar números totais de mortos e
contaminados. A iniciativa
inédita é uma resposta à deci-
são do governo Jair Bolsonaro
de restringir o acesso a dados
sobre a pandemia, o que ocor-
reu a partir da semana passada.
Com esse consórcio dos veí-
culos de imprensa, o objetivo é
informar os brasileiros sobre a
evolução da covid-19 no País,
cumprindo o papel de dar trans-
parência aos dados públicos. Se-
gundo balanço divulgado pelo
Ministério da Saúde no início da
noite de ontem, foram notifica-
dos no País em 24 horas novos
1.239 óbitos e 30.412 infectados.
/ COLABOROU DANIELA AMORIM

Indígenas denunciam infecção


por meio de agentes de saúde


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


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lDoze Estados brasileiros já pos-
suem estratégias de saída da qua-
rentena, de acordo com estudo
do Instituto de Pesquisa Econômi-
ca Aplicada (Ipea) divulgado na
quarta-feira. Em tendência que
surgiu a partir do início do mês,
alguns Estados realizam a reaber-
tura mesmo diante de um núme-
ro crescente de mortes, como
ocorre em São Paulo, no Ceará e

no Pará. Isso tem ligação com
consequências econômicas e des-
gastes políticos, aponta o Ipea.
A nota técnica do instituto é
assinada pelo pesquisador Rodri-
go Fracalossi de Moraes, que
analisou as medidas de distancia-
mento social entre 25 de maio e
7 de junho. O estudo mostra que
Acre, Amazonas, Ceará, Espírito
Santo, Maranhão, Minas, Pará,
Pernambuco, Rio Grande do Sul,
Rondônia, Santa Catarina e São
Paulo possuem estratégia de saí-
da da quarentena.
Moraes escreve que essas estra-
tégias têm por base “critérios obje-

tivos de saúde pública, relaciona-
dos à evolução do número de ca-
sos e/ou à infraestrutura hospitalar
existente”. Mas, em vários casos,
pondera, “decisões por ampliar ou
diminuir o rigor ocorreram em fun-
ção de pressões de associações
de classe ou da emulação do com-
portamento de outros governos”.
O mês de junho marca a queda
no rigor das medidas de distan-
ciamento, que vinham se manten-
do estáveis ao longo de maio. “A
partir de um certo ponto, passa a
ser difícil sustentá-las, ainda que
a epidemia se mantenha grave.”
/MARCO ANTÔNIO CARVALHO

lDados


lReação

Na reabertura, shoppings de SP têm baixa procura. Pág. A11 }


Enedite Barbosa dos Santos
Nunes dos Santos – Dia 7, aos
76 anos. Era viúva. Deixa o filho
Valter Barbosa Alves. O enterro
foi realizado no Cemitério e Cre-
matório Primaveras.
Eunice Cortez Duarte – Dia 3,
aos 68 anos. Deixa os filhos Ander-


son, Andréia, parentes e amigos.
A cerimônia de cremação foi reali-
zada no Cemitério e Crematório
Primaveras.
Zilda Ferreira Pereira – Dia 6,
aos 52 anos. Era casada com Fran-
cisco de Assis Gonçalves Pereira.
Deixa os filhos Wesley e Welling-

ton. A cerimônia de cremação foi
realizada no Cemitério e Cremató-
rio Primaveras.
Ailton da Conceição – Dia 6, aos
94 anos. Era viúvo. Deixa os filhos
José Carlos, Maria Cristina, Francis-
co e Linda Cristina. A cerimônia de
cremação foi realizada no Cemité-

rio e Crematório Primaveras.
Sokichi Suzuki – Dia 7, aos 89
anos. Era viúvo. Deixa os filhos Tati,
Milton, parentes e amigos. O enter-
ro foi realizado no Cemitério e Cre-
matório Primaveras.
Milton Teixeira Gripho – Dia 8,
aos 81 anos. Era casado Lucélia

Araújo Brito. Deixa os filhos Alvaro
e Marcia. O enterro foi realizado no
Cemitério e Crematório Primaveras.
Wilson Ribeiro de Almeida –
Dia 5, aos 79 anos. Era casado com
Venina Anna de Godoy Almeida. Dei-
xa os filhos Wilson, Maria Cristiane
e Marta Cristina. A cerimônia de cre-

mação foi realizada no Cemitério e
Crematório Primaveras.
Luiz Antonio Loyola – Dia 4, aos
76 anos. Era casado com Ana Fer-
reira Loyola. Deixa os filhos Rodrigo
e Luiz Antonio. A cerimônia de cre-
mação foi realizada no Cemitério e
Crematório Primaveras.

Doze Estados já


têm estratégia de


saída da quarentena



  1. é o total de casos do novo corona-
    vírus reportado pelos Estados
    até a noite de ontem. O total de
    mortes chegou a 41.058.


TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO - 29/4/

São Paulo. Estado tem 162,5 mil casos e 10,1 mil mortos, que podem dobrar até o fim do mês

WILTON JUNIOR / ESTADÃO

País chega a


40 mil óbitos


e 800 mil


infectados


Em São Paulo, Estado mais afetado, o


número de mortes chegou a 10 mil


Ato. ONG abriu covas rasas e posicionou cruzes em protesto contra a atuação do governo federal. Instalação foi vandalizada

“As equipes de saúde estão
despreparadas e entrando
em área desrespeitando as
estratégias de isolamento.”
NOTA DA COORDENAÇÃO DAS
ORGANIZAÇÕES INDÍGENAS (COIAB)

RAIMUNDO PACCÓ/FRAMEPHOTO

Doença teria sido levada


ao Vale do Javari, no


oeste do Amazonas, por


servidores; Ministério da


Saúde nega suspeita


Aldeia. Analista do MPF reforça suspeitas de indígenas
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