O Estado de São Paulo (2020-06-12)

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B6 Economia SEXTA-FEIRA, 12 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Empresário, que já


foi o homem mais rico


do Brasil, foi acusado


de manipulação do


mercado financeiro


Eike Batista é condenado a 8 anos de prisão


O empresário Eike Batista, que
já foi considerado o homem
mais rico do Brasil, foi condena-
do a 8 anos de prisão em regime
semiaberto por manipulação
do mercado financeiro, em deci-
são proferida pela juíza federal
Rosália Monteiro Figueira, da
3ª Vara Federal Criminal do
Rio, na última terça-feira.
Dono do grupo X – antigo im-
pério integrado de infraestrutu-
ra, mineração e commodities –,
Batista também foi condenado


a pagar 10.500 salários míni-
mos de multa pelos crimes. Ele
poderá recorrer da sentença da
juíza em liberdade.
Também foram condenados
dois executivos da OGX: Marce-
lo Faber Torres, sentenciado a 5
anos, e 7 meses de reclusão em
regime semiaberto, mais paga-
mento de multa; e Paulo Ma-
nuel Mendes De Mendonça,
condenado a 5 anos e 10 meses
de prisão em regime semiaber-
to e pagamento de multa. Am-
bos também poderão recorrer
da sentença em liberdade.
Os três foram acusados de te-
rem manipulado o mercado de
capitais, mediante a divulgação
de informações falsas em aviso
na forma de Fato Relevante so-
bre a estimativa de “bilhões de

barris” de petróleo potencial-
mente extraível em poços, ain-
da em fase de perfuração, de
áreas do pré-sal na Bacia de
Campos e na Bacia de Santos.

Os direitos de concessão, à
época, pertenciam à empresa
OGX. A decisão judicial lembra
que os poços de petróleo foram
devolvidos à Agência Nacional

do Petróleo, Gás Natural e Bio-
combustíveis (ANP) “sem pro-
duzir sequer uma gota de óleo”.
Segundo a decisão judicial, as
informações ao mercado finan-
ceiro tinham como propósito
elevar as cotações das participa-
ções acionárias e outros ativos
vinculados à OGX, “levando in-
vestidores a erro e causando
prejuízos difusos”.
A ação penal foi movida pelo
Ministério Público Federal e pe-
la Associação dos Investidores
Minoritários (Aidmin).

Já condenado. Batista já tinha
sido condenado em setembro
do ano passado a 8 anos e 7 me-
ses de prisão, além de pagar mul-
ta de R$ 82,8 milhões, por usar
informações privilegiadas e por
manipular o mercado financei-
ro nas negociações de papéis da
OSX.
Eike Batista fechou recente-

mente um acordo de delação
premiada com a Procuradoria-
Geral da República (PGR). No
entanto, a ministra Rosa We-
ber, do Supremo Tribunal Fede-
ral (STF), determinou em maio
ajustes nesse contrato.
O empresário já esteve preso
por duas vezes – em 2017, quan-
do foi alvo da Operação Eficiên-
cia e, em 2019, na Operação Se-
gredo de Midas. / DANIELA
AMORIM, MARIANA DURÃO E LUIZ
VASSALO

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Ajuda oficial. Companhias aéreas como a Gol negociam um pacote de ajuda do BNDES que deve chegar a R$ 2 bilhões

PEDRO


DORIA


Associação projeta perdas de US$ 4 bi


este ano para aéreas da América Latina


Vice-presidente regional da Iata para as Américas pediu que os governos da região adotem protocolos de segurança para que operações


domésticas possam voltar até julho; representante alertou para a possibilidade de mais pedidos de recuperação judicial no setor


BRUNO ESCOLASTICO/PHOTOPRESS - 2/4/
Simone Cavalcanti


A Associação Internacional
de Transporte Aéreo (Iata, na
sigla em inglês) apresentou
ontem estimativas de perdas
financeiras de US$ 4 bilhões
(quase R$ 20 bilhões) para as
companhias aéreas na Améri-
ca Latina neste ano. Global-
mente, o prejuízo deve che-
gar a US$ 84,3 bilhões em ra-
zão de medidas como o fecha-
mento de fronteiras para ten-
tar conter a pandemia do no-
vo coronavírus.
O vice-presidente regional
das Américas, Peter Cerdá, fez
um apelo para que protocolos
de segurança sejam adotados ra-
pidamente pelos governos e
afirmou que as aeronaves já es-
tão se adaptando na questão de
segurança, para que no mais tar-
dar em julho as operações pos-
sam voltar a ocorrer primeira-
mente em nível doméstico e,
em no máximo três meses, inter-
nacional.
A avaliação é a de que, entre
todos os setores econômicos,
as aéreas são as mais prejudica-
das e, se a situação perdurar
mais, muito mais companhias
podem entrar com pedidos de
recuperação judicial.
“Hoje Ásia, Europa estão
abrindo pouco a pouco, ao con-
trário do que está ocorrendo na
América Latina, epicentro da
pandemia. Há quatro meses o
setor está praticamente para-
do. É uma tremenda desvanta-


gem não só para o setor, mas
para a economia dos países”.
O representante da Iata tam-
bém alertou para o fato de que
alguns governos da América La-
tina, como Colômbia, Chile, Pa-
namá e Peru, ainda não agiram
no sentido de oferecer suporte
econômico às companhias. “Sa-
bemos que sempre haverá limi-
tações, mas é preciso haver
uma ajuda governamental às
empresas, uma vez que cerca de

93% das operações não estão
ocorrendo por causa das pre-
cauções com a pandemia, como
o fechamento das fronteiras”.
No fim de maio, o grupo La-
tam e suas afiliadas no Chile, no
Peru, na Colômbia, no Equador
e nos Estados Unidos entraram
com pedido de recuperação ju-
dicial (Chapter 11) nos Estados
Unidos. Foi a segunda aérea da
América Latina a fazer a solicita-
ção em meio à crise da pande-

mia da covid-19. Semanas an-
tes, a Avianca Holdings fez pedi-
do similar.
Sobre o Brasil, Cerdá afir-
mou que a ajuda financeira do
governo às companhias aéreas
é positiva. O Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico
e Social (BNDES) tem negocia-
do com as três principais empre-
sas aéreas do País, Gol, Azul e a
operação brasileira da Latam,
um apoio emergencial. A capita-

lização, que deve levantar recur-
sos de R$ 2 bilhões para cada
companhia, tem apoio de um
grupo de bancos e está prevista
para sair ainda este mês.

Folha de pagamentos. No Bra-
sil, as aéreas têm se esforçado
para reduzir o seu custo com fo-
lha de pagamento. Nesta sema-
na, a Azul apresentou proposta
ao Sindicato Nacional dos Aero-
nautas (SNA) para garantir a es-

tabilidade dos empregos de pilo-
tos e comissários por 18 meses,
mediante redução de salário.
A proposta ainda precisa pas-
sar por votação, mas traz cortes
na casa de 40% na remuneração
(parte será compensada com be-
nefícios). A oferta veio na estei-
ra do anúncio da Gol, que na se-
mana passada fechou acordo
com a categoria com a mesma
validade. O entrave é a Latam,
que afirmou ter intenção de alte-
rar permanentemente o contra-
to de trabalho, algo que os sindi-
calistas disseram ser inviável.
O cenário para as aéreas é de-
safiador. Em videoconferên-
cias recentes, a SNA mostrou à
categoria uma queda significati-
va na necessidade de tripulan-
tes nas cabines para as três prin-
cipais aéreas. Com menos de-
manda e restrições de voos, par-
te significativa da frota conti-
nua no chão. Para a Latam, por
exemplo, o número de tripulan-
tes de cabine necessários para a
operação entre julho e setem-
bro de 2020 é 61% menor do
que o quadro da empresa.
Para a Gol, a estimativa é de
excesso médio de 33% entre o
terceiro trimestre de 2020 e o
quarto trimestre de 2021, quan-
do o porcentual ficará negativo
em 10% – no pico, a empresa
superou 60% de ociosidade. Pa-
ra a Azul, os valores são negati-
vos na casa de 49% em janeiro
de 2021 e 16% em novembro de


  1. / COLABORARAM FERNANDA
    GUIMARÃES e CRISTIAN FAVARO


Grupo X. Eike poderá recorrer da sentença em liberdade

É


hora de começar a prestar
atenção no Zoom. Não no
aplicativo, mas na empresa.
Nos últimos poucos meses, o funda-
dor da companhia, Eric Yuan, se tor-
nou um dos homens mais ricos do
mundo, múltiplas vezes bilionário.
O aplicativo era um que ninguém
realmente conhecia. Agora, tornou-
se substantivo comum de uso cor-
rente — vamos fazer um Zoom? Po-
de parecer uma história de sucesso,
mas ainda é cedo. E este será um

teste importantíssimo para o Vale do
Silício.
Yuan, que é chinês, se mudou para os
EUA no final dos anos 1990 para se jun-
tar à Webex, uma jovem startup do Vale
do Silício que construiu um dos primei-
ros sistemas de teleconferência. No iní-
cio, não tinha vídeo. Mas permitia com-
partilhar a tela do computador enquan-
to, via telefone, as pessoas conversa-
vam em reuniões por áudio. Foi naque-
le tempo pré-bolha, no qual se tinha
ponto com no nome havia a promessa

de tornar qualquer um milionário.
Pois é — e fez. A Cisco, maior fabri-
cante americana de equipamentos de
infraestrutura de rede, comprou a star-
tup. Yuan fez algum bom dinheiro, em-
bora não tanto quanto os fundadores.
E foi ficando, se habituando à estrutu-
ra de uma empresa gigante quando sua
única experiência era com a aventura
de começar um negócio.
É um sujeito respeitado. Um ex-exe-
cutivo da Cisco e o fundador da Webex
estão entre os investidores iniciais da
Zoom. Sugere confiança de quem tra-
balhou com ele. Embora não fosse o
plano, a lógica que seguiu para desen-
volver seu produto está diretamente
ligada à explosão, ao sucesso quando
veio a pandemia.
Zoom, claro, é a plataforma de vídeo
que todos usamos para conversar com
gente querida enquanto estamos em
casa. Mas nasceu como um sistema vol-
tado para empresas. Não é um merca-
do simples, este de negócios e grandes
contratos. Para ele, a Microsoft tem

um produto e Webex ainda é usado por
muitos.
Dois truques do Zoom, porém, lhe
permitiram crescimento. O primeiro é
que é simples de usar. Basta gerar um
link, enviar, e pronto. Basta clicar e a
pessoa já está dentro da conversa, mes-
mo que não tenha o aplicativo. Por trás
há uma engenharia pesada, que man-
tém fluido o envio para a nuvem de
imagens de vídeo em HD de, às vezes,
centenas de pessoas simultaneamen-
te. É simples, pois. O outro truque foi
de marketing — a ideia de que os pri-
meiros 40 minutos são gratuitos. As-
sim, fizeram guerra de guerrilha. Por
vezes as empresas tinham a licença de
um software, mas os funcionários lan-
çavam mão do Zoom porque era sim-
ples, porque era fácil e, ora, era só uma
conversa rapidinha. Criou hábitos.
Quando viemos todos para casa,
ocorreu de haver muita gente que co-
nhecia o software e foi usando para
também encontros pessoais. O boca a
boca pegou o Vale do Silício todo de

surpresa. Google e Facebook têm
sistemas para uso pessoal de video-
conferência, além de os profissio-
nais estarem também circulando
por aí. Porém foi um outrora desco-
nhecido que disparou.
A beleza do mundo da tecnologia
é justamente essa: alguém miúdo e
fora do radar, no momento da neces-
sidade, tem uma solução melhor e
em pouco tempo larga na frente dos
tubarões.
O problema é que esta ‘meritocra-
cia’ valia noutros tempos. Confor-
me o Vale do Silício dominou o mun-
do, as regras mudaram. As gigantes
são tão gigantes, que esmagam qual-
quer novo concorrente de uma de
duas maneiras. Ou compram a em-
presa jovem, ou então copiam na ca-
ra dura os recursos que fazem de seu
produto um sucesso. Assim, garan-
tem o monopólio.
Mas há governos de olho nas práti-
cas monopolistas. O que acontece-
rá com o Zoom é um teste.

Negócios

10,5 mil
é o valor, em salários mínimos,
das multas que o empresário
terá de pagar; No ano passado,
Batista já tinha sido condenado a
pagar R$ 82,8 milhões por uso
de informações privilegiadas

lMultas

UESLEI MARCELINO / REUTERS - 8/8/

Bike elétrica vira alternativa de transporte pós-quarentena nos EUA. Pág. B8 }


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PEDRO DORIA ESCREVE ÀS SEXTAS-FEIRAS

Zoom: teste para


o Vale do Silício

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