O Estado de São Paulo (2020-06-12)

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A2 Espaçoaberto SEXTA-FEIRA, 12 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO






A Prefeitura de São Paulo
anunciou um acordo para o re-
torno da Ciclofaixa de Lazer
por meio de uma parceria
com a Uber. Segundo a Prefei-
tura, a empresa irá operar 117
quilômetros da Ciclofaixa de
Lazer sem custos para o po-
der público. A iniciativa está
programada para começar


em 19 de julho.
“A Uber vai investir R$ 11,
milhões para cuidar das ciclo-
faixas”, disse o prefeito Bruno
Covas. “A área da Saúde já deu
o OK. Não há problema ne-
nhum por causa da pande-
mia.”

http://www.estadao.com.br/e/ciclofaixa

“E


conhecereis a verda-
de e a verdade vos li-
bertará.” Bolsonaro
venceu as eleições citando
com frequência esse versículo
de João. No entanto, não se co-
nhece na História moderna do
Brasil um governo que tenha
combatido a verdade em to-
dos os níveis.
Os números do desempre-
go, compilados pelo IBGE de
acordo com métodos interna-
cionalmente reconhecidos, fo-
ram negados por Bolsonaro.
O índice de desmatamento na
Amazônia obtido com ajuda
de satélites foi contestado por
Bolsonaro e o cientista Ricar-
do Galvão, demitido. Pesqui-
sas da Fundação Oswaldo
Cruz sobre consumo de dro-
gas no Brasil foram engaveta-
das porque não atendiam às
expectativas do governo.
A briga contra os dados não
se limitou ao choque contra o
trabalho científico. Ela se es-
tendeu de forma perigosa con-
tra a própria possibilidade de
acesso às informações oficiais.
Com a anuência de Bolsona-
ro, o general Hamilton Mou-
rão tentou fazer passar uma di-
retiva que permitia a funcioná-
rios de segundo escalão deter-
minar o que era ou não passí-
vel de ser classificado como
material secreto. A diretiva de
Mourão caiu no Congresso.
Mal começou a pandemia,
Bolsonaro, usando-a como
pretexto, queria suspender
parcialmente a Lei de Acesso
à Informação. De novo foi der-
rotado, dessa vez no Supremo
Tribunal Federal
A apoteose dessa medida
obscurantista foi na semana
que passou, com a decisão de
censurar as informações so-
bre a pandemia de covid-19.
Inicialmente, um homem
chamado Carlos Wizard, um
bilionário que supõe entender
de tudo, disse, em nome do go-
verno, que os números de
mortos estavam sendo infla-
cionados nos Estados e muni-
cípios porque os gestores que-
riam mais dinheiro.
Wizard foi para o espaço no
momento em que se articula-
va na rede um boicote a suas

atividades empresariais, incluí-
das as de greenwashing, aque-
las em que você ganha dinhei-
ro fingindo que protege o
meio ambiente. Mas foi Bolso-
naro que, radicalizando sua
política de negação da pande-
mia, ordenou que as notícias
diárias sobre mortes e conta-
minações não poderiam ser di-
vulgadas antes dos jornais no-
turnos de TV. E, mais ainda,
ordenou que o número de
mortos não poderia ultrapas-
sar mil, sem explicar como
combinaria com o vírus. Feliz-
mente, as emissoras se deram
conta e passaram a divulgar as
notícias em plantões espe-
ciais, com audiência até maior
que no início da noite.
O site do Ministério da Saú-
de saiu do ar. Voltou sem o nú-
mero total de mortos. O gover-
no queria baixar esse número
e divulgar apenas a quantidade

de óbitos nas últimas 24 horas,
sepultando o resultado do exa-
me de outras mortes que não
ficaram prontos no mesmo
dia. Com esse expediente, o
número de mortos iria baixar,
pois nem todos os exames fi-
cam prontos no mesmo dia.
Felizmente, todos percebe-
ram. Uma onda de protesto
percorreu o País, unindo Esta-
dos, Congresso, TCU, órgãos
de informação, cientistas e
opinião pública. A repercus-
são internacional também foi
imediata. Jornais europeus cri-
ticaram, a própria OMS se pro-
nunciou pela transparência.
O que aconteceu de forma
escandalosa nesse momento é
apenas resultado da luta de
Bolsonaro contra a verdade,
palavra que usou na campa-
nha para enganar os eleitores,
revestindo-a com um invólu-
cro religioso.
A luta permanente contra a
transparência é uma luta con-
tra a democracia. Os milita-
res, no período ditatorial, ten-
taram esconder um surto de

meningite. Mas os tempos
são outros.
A mais recente investida de
Bolsonaro contra a realidade
se deu na arena em que ele es-
tá apanhando muito dela: a do
avanço da pandemia do coro-
navírus. Ele começou tachan-
do-a de uma gripezinha. Não
era. Questionou o isolamento
social, o número de mortos, a
existência de outras doenças
entre os que foram levados pe-
la covid-19. Um diretor da Polí-
cia Rodoviária Federal caiu
porque lamentou em nota a
morte por covid-19 de um de
seus comandados.
Diante da morte real, bolso-
naristas começaram a contes-
tar o conteúdo dos caixões.
Houve vídeos afirmando que
os caixões estavam cheios de
tijolos. A deputada Zambelli
chegou a insinuar que um cai-
xão no Ceará estava vazio – é
a mesma deputada intimada a
depor sobre fake news e a mes-
ma que aparece na internet,
durante a campanha, dizendo
que as lojas Havan perten-
ciam à filha de Dilma. Olha
que audácia, refletia ela, usam
o nome de Havan em homena-
gem a Cuba e erguem uma Es-
tátua da Liberdade.
Mais tarde, ficou claro para
o Brasil quem é dono da Ha-
van. Aliás é impossível ignorá-
lo, com sua cabeça reluzente,
vestido de verde e amarelo É
desses seres que você não pre-
cisa perguntar quem é seu lí-
der, pois sabe que ele o levará
direto ao Palácio do Planalto.
Ao lado do armamento da
população, essa luta contra a
verdade é um passo decisivo
rumo a um governo autoritá-
rio. Uma espontânea frente pe-
la transparência se formou
nesta semana. Exatamente na
semana em que as pessoas,
apesar da pandemia, foram às
ruas com a imensa faixa “to-
dos pela democracia”.
Parece vago, dizem alguns
políticos. Calma, digo eu. Da-
qui a pouco tudo fica mais cla-
ro. Na luta comum, aparecem
as respostas.

]
JORNALISTA

Para Caio Fernandez, cami-
nho está em liquidez, ações
desvalorizadas e reserva.

http://www.estadao.com.br/e/einvestidor

SÃO PAULO


Ciclofaixa de Lazer volta em julho


Tenista sérvio diz que restri-
ções impostas para disputa
do torneio em Nova York
seriam ‘extremas’ e ‘insus-
tentáveis’.

http://www.estadao.com.br/e/djokovic

l“Até o momento, a China vem atuando de forma promissora no desen-
volvimento da vacina. Não entendo a revolta.”
DANIEL OLIVEIRA

l“Mas a droga ainda está em testes, por que ele anuncia já uma fabrica-
ção futura?”
MARCO ANTONIO BRASIO

l“Toda ajuda é bem-vinda. Quanto mais a vacina estiver despolariza-
da, mais rápido esse inferno acaba.”
ALYSSON MAURICIO

l“Com essa flexibilização em plena curva ascendente.... Vai precisar
e muito.”
ANA ORDONEZ

INTERAÇÕES

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO
PRESIDENTE: ROBERTO CRISSIUMA MESQUITA
MEMBROS
FERNANDO C. MESQUITA
FERNÃO LARA MESQUITA
FRANCISCO MESQUITA NETO
GETULIO LUIZ DE ALENCAR
JÚLIO CÉSAR MESQUITA

TÊNIS
Djokovic não deve
disputar US Open

Será a 1.ª etapa da competi-
ção a receber público e so-
mente mil convidados, to-
dos militares, poderão acom-
panhar no autódromo.

http://www.estadao.com.br/e/nascar

JERRY MARKLAND/AFP

Espaço Aberto


S


empre se compara a tra-
gédia do coronavírus
com a da gripe espanho-
la, de 1918, mas a comparação
mais significativa é com a Re-
volta da Vacina, de 1904. Foi
um ano em que a ciência foi
para a berlinda, os políticos
brigaram por ela e o povo saiu
de seu desespero para as ruas.
Tal como hoje, o Rio de Ja-
neiro era dividido entre um pe-
queno oásis onde viviam as eli-
tes políticas e econômicas e o
povão – uma multidão de pes-
soas aglomeradas nos morros
e cortiços, ex-escravos, mesti-
ços e imigrantes, a maioria
sem emprego regular, vivendo
em péssimas condições, viti-
madas pelas epidemias recor-
rentes de peste bubônica, fe-
bre amarela, tuberculose e va-
ríola e vivendo em constante
revolta e conflitos com a polí-
cia. Na política, vivia-se o con-
fronto entre, de um lado, os
florianistas e jacobinos – mili-
tares e civis, sobretudo do Rio
de Janeiro, que haviam inscri-
to o lema dos positivistas, “or-
dem e progresso”, na Bandei-
ra Nacional – e, de outro, as
oligarquias dos republicanos
paulistas e mineiros que ha-
viam enriquecido com o café e
também se haviam mobiliza-
do para derrubar o Império, 15
anos antes.
Olhando para trás, vem a
tentação de classificar um ou
outro lado como de esquerda
ou de direita, mas, então co-
mo hoje, não é nada fácil. Os
jacobinos tinham um discur-
so radical contra as antigas oli-
garquias e defendiam um Esta-
do moderno, eficiente e auto-
ritário, com um discurso a fa-
vor da educação popular e da
ciência, tal como havia defen-
dido seu guru Augusto Com-
te, mas eram contra a pesqui-
sa científica e as universida-
des. Depois de alguns anos co-
mandando a República, tive-
ram de dar lugar aos republi-
canos paulistas e seus presi-
dentes – Prudente de Morais,
Campos Sales e Rodrigues Al-
ves –, que tinham sua própria
versão de como o País deveria
modernizar-se e se desenvol-
ver. Para estes, era preciso li-


vrar os portos das doenças
contagiosas que afastavam os
navios de outros países, de-
senvolver o transporte ferro-
viário para escoar as safras e
modernizar as cidades, tiran-
do os pobres e miseráveis da
vista e abrindo espaço para
centros e bairros elegantes,
onde o governo e os endinhei-
rados pudessem construir
seus prédios e mansões.
É no governo de Campos Sa-
les, em 1902, que começa a
grande obra de modernização
do Rio de Janeiro, liderada pe-
lo arquiteto Pereira Passos,
inspirado na reforma de Paris
de 50 anos antes. A cidade por-
tuguesa de ruelas e prédios an-
tigos é substituída por gran-
des avenidas e edifícios de esti-
lo parisiense, os rios que per-
corriam a cidade são canaliza-
dos e a população miserável
que vivia na região central é

expulsa para a periferia ou for-
çada a subir os morros.
Feito o trabalho dos enge-
nheiros, chegou a vez dos sa-
nitaristas, que dez anos an-
tes, liderados por Adolfo
Lutz, haviam conseguido con-
trolar as epidemias de febre
amarela e peste bubônica em
São Paulo e Santos. No Rio,
Oswaldo Cruz, com suas bri-
gadas de mata-mosquitos, co-
meça a percorrer os bairros,
invadindo as casas, desinfe-
tando e destruindo as instala-
ções insalubres. A febre ama-
rela foi sendo controlada,
mas era ainda necessário ata-
car a varíola, que se espalhava
com facilidade e matava uma
em cada três pessoas contami-
nadas. O governo decidiu tor-
nar a vacina obrigatória. E a
revolta explodiu.
A vacina contra a varíola já
era conhecida havia mais de
cem anos, mas serviu de pre-
texto para uma grande mobili-
zação dos jacobinos contra o
governo de Rodrigues Alves.
Ao mesmo tempo que tenta-

vam um golpe de Estado, mo-
bilizavam as populações em-
pobrecidas dos morros e das
periferias contra mais essa vio-
lência modernizadora do go-
verno. Os argumentos contra
a vacina obrigatória, que apa-
reciam em panfletos, jornais e
discursos, incluíam acusações
de que se tratava de uma cons-
piração para infectar e matar
as pessoas, ou de uma manei-
ra de forçar as mulheres a se
desnudar diante agentes de
saúde, ou ainda, para intelec-
tuais mais refinados como Rui
Barbosa, um atentado à liber-
dade individual de se vacinar
ou não. Os cadetes da Praia
Vermelha tentaram ocupar o
Palácio do Catete, o povo foi
para as ruas, queimando bon-
des, quebrando lampiões e fa-
zendo barricadas. E a revolta
só foi controlada à custa de
muita violência.
Terminada a revolta, o go-
verno desistiu da vacinação,
os políticos e militares revol-
tosos foram anistiados e co-
meçou a repressão à popula-
ção que se havia rebelado.
Centenas foram presos, envia-
dos para a Ilha das Cobras ou
deportados para o Acre, e nos
anos seguintes milhares de
pessoas continuaram morren-
do anualmente de varíola no
Rio de Janeiro.
Hoje podemos ver que to-
dos perderam. Os governan-
tes tinham a ciência da vacina
a seu lado, mas, para eles, a
questão social era um caso de
polícia e não foram capazes
de ir além da maquiagem mo-
dernizadora do velho Rio. Os
jacobinos defendiam e insufla-
vam os pobres das favelas e
cortiços, mas não tinham na-
da de fato para lhes oferecer,
e acabaram jogando-os na fo-
gueira da repressão. E o po-
vão, antes como agora, conti-
nuou com sua miséria e suas
epidemias, sem os benefícios
da ciência, sem recursos e
sem esperanças. Paralelos
com a crise do coronavírus fi-
cam por conta dos leitores.

]
SOCIÓLOGO, É MEMBRO DA ACADE-
MIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS

PUBLICADO DESDE 1875

LUIZ CARLOS MESQUITA (1952-1970)
JOSÉ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1988)
JULIO DE MESQUITA NETO (1948-1996)
LUIZ VIEIRA DE CARVALHO MESQUITA (1947-1997)
RUY MESQUITA (1947-2013)

FRANCISCO MESQUITA NETO / DIRETOR PRESIDENTE
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EUA
Só militares poderão
ver prova de Nascar

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]
Simon Schwartzman


Tema do dia


Karina Oliani, brasileira mais
jovem a escalar o Everest,
atende pacientes de covid-19.

http://www.estadao.com.br/e/karinaoliani

A Revolta


da Vacina


Hoje podemos ver
que todos perderam.
Paralelos com a
crise do coronavírus...

O capitão combate


a verdade


Ao lado do armamento
da população, esse é um
passo decisivo rumo a
um governo autoritário

AMÉRICO DE CAMPOS (1875-1884)
FRANCISCO RANGEL PESTANA (1875-1890)
JULIO MESQUITA (1885-1927)
JULIO DE MESQUITA FILHO (1915-1969)
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PREÇOS ASSINATURAS: DE SEGUNDA A DOMINGO


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    LOCALIDADES E CONDIÇÕES SOB CONSULTA.
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SP anuncia parceria


para vacina contra


covid-


Ainda em testes, droga será produzida
pelo Instituto Butantan em conjunto
com laboratório chinês

]
Fernando Gabeira

FELIPE RAU/ESTADÃO

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CEO dá 3 dicas de
finanças contra crise

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