O Estado de São Paulo (2020-06-12)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:A-2:20200612:
H2 Especial SEXTA-FEIRA, 12 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


SONIA RACY


DIRETO DA FONTE


Pedro Venceslau


Quem matou (e mandou matar)
Jeffrey Epstein? Desde que o fi-
nancista milionário amigo de po-
líticos e celebridades foi encon-
trado morto na cela de uma pri-
são federal norte-americana, em
agosto do ano passado, essa per-
gunta passou a frequentar o fas-
cinante universo das teorias da
conspiração. Seu crime: abusar
de menores e liderar um esque-
ma internacional de prostitui-
ção. Depois de muitas idas e vin-
das sobre o caso, a versão oficial
de suicídio foi colocada definiti-
vamente em xeque na minis-
série documental da Netflix Jef-
frey Epstein: Poder e Perversão.
Com apenas quatro episó-
dios, o documentário mostra
que é inconcebível que alguém
tire a própria vida em uma pri-
são federal que abrigava terro-
ristas e o narcotraficante do cali-
bre de El Chapo, e que tinha câ-
meras e guardas por todas as
partes. Os relatórios indicaram
que Epstein amarrou um lençol
ao redor do pescoço preso à ca-
ma e se jogou para frente, que-
brando o próprio pescoço. Se-


ria um esforço descomunal.
Ao se acreditar na versão ofi-
cial, o episódio escancarou o
fiasco do sistema prisional fede-
ral norte-americano. Os ingre-
dientes que alimentam o moi-
nho conspiratório são muitos.
O financista era um arquivo vi-
vo com potencial de abalar a re-
pública. Seu círculo de amigos
íntimo incluía personalidades
como o presidente dos Estados
Unidos Donald Trump, o ex-
presidente Bill Clinton, o prínci-
pe britânico Andrew e Harvey
Weinstein, o produtor de cine-
ma americano condenado por
assédio sexual.
A série revela que Epstein
mantinha uma esquema de mo-
nitoramento e gravação de tu-
do que acontecia nos quartos
de seus imóveis, onde seus “ami-
gos” se encontravam com garo-
tas de até 12 anos de idade. A
história parte de uma reporta-
gem da jornalista Vicky Ward,
da Vanity Fair, que teve acesso
às primeiras vítimas.
Vicky conta que a pauta ini-
cial era um perfil despretensio-
so do discreto operador que cir-
culava pela alta sociedade de
Manhattan. Ela acabou sendo
impedida no primeiro momen-
to de publicar a história por fal-

ta de provas concretas. Quando
as vítimas se uniram para de-
nunciá-lo, Epstein, que se julga-
va intocável, acionou sua rede
de influência para se livrar de
crimes sexuais que cometeu du-
rante décadas.
O documentário mostra a tra-

jetória obscura do operador e
revela um perfil de sociopata.
Com base em mentiras sobre
seu currículo, foi trabalhar em
Wall Street nos anos 1980. Lo-
go, ele se aproximou e ganhou a
confiança de Les Wexner, bilio-
nário do mercado da moda que

afirma que o financista desviou
US$ 46 milhões de sua fortuna
na época, quando Epstein cuida-
va de seus negócios.
Em tempos de crescimento
da militância feminista, o docu-
mentário joga luz sobre os ami-
gos, aliados e cúmplices de Eps-

tein que saíram ilesos do proces-
so. O único desdobramento
concreto atingiu o príncipe An-
drew, terceiro neto da rainha
Elizabeth e duque de York. Ele
se afastou dos deveres reais de-
vido às repercussões de sua ami-
zade com o financista.
O grande trunfo do filme, po-
rém, está nos depoimentos
inéditos das vítimas de Epstein.
Os produtores levaram uma de-
las para a paradisíaca ilha no Ca-
ribe que pertencia ao financista
e era usada como uma espécie
de prisão de luxo. No local, fre-
quentado por todo tipo de cele-
bridades, as garotas ficavam dis-
poníveis aos caprichos do bilio-
nário e seus convidados.
As vítimas contam como o ca-
so abalou suas vidas e falam so-
bre a frustração pelo fato de que
o agressor tenha, mais uma vez,
fugido da Justiça ao suposta-
mente se matar.

FAKE NEWS

QUEM MATOU


‘A VERDADE NÃO É


SEMPRE CRISTALINA’


Trajetória. Shawna Rivera e outras vítimas da rede do magnata contam suas histórias no documentário de quatro episódios

Existe definição jurídica do
que é fake news? Se a impren-
sa registra, por exemplo, que
o governo vai tributar merca-
do de ações – medida que me-
xe diretamente com cotações
em bolsa – e ela é suspensa,
isso pode ser considerado
fake news? Afinal, investido-
res têm ganhos, outros têm
prejuízos. Culpado é o gover-
no? É a imprensa? O resulta-
do deste tipo de dúvida aca-
bou transformado em vários
projetos de lei apresentados
no Congresso, propondo com-
bate à desinformação. Entre-
tanto, especialistas como o
desembargador carioca An-
dré Gustavo Corrêa de An-

drade – autor do livro Liber-
dade de Expressão em Tempos
de Cólera – condenam a apro-
vação de lei para resolver es-
sa indefinição. “Não pode o
Congresso enfraquecer um
princípio constitucional. Por
isso meu ceticismo em rela-
ção à leis para regular as fake
news”, diz o desembargador,
que também é diretor-geral
da Escola da Magistratura do
Estado do Rio de Janeiro (E-
MERJ). Trechos da conversa:

lComo resolver este problema
de indefinição?
Debati esse tema com espe-
cialistas e chegamos à conclu-
são que fake news não se con-

fundem com notícias que não
representam a verdade. Mui-
tas vezes, essa falta de corres-
pondência não significa que a
notícia foi deliberadamente
falsa. A maneira como a expres-
são fake news é utilizada hoje
traz a ideia de notícia fabrica-
da, deliberadamente falsa e
com finalidade de enganar. Os
propósitos podem ser econô-
micos, políticos... É a mentira
deliberada, aquela que tem a
finalidade de desinformar. Ain-
da mais com a internet, em
que usam robôs pra disparar
notícias falsas.

lE quem julgar isso?
É difícil. E mais difícil ainda é
pretender criar uma lei para
regular o que deve e o que
não deve ser punido como
fake news. Imagina então co-
locar nas mãos do poder pú-
blico a decisão sobre o que é

e o que não é fake news. E
quem controla o controlador?
Sou cético em relação a esse
tipo de lei.

lExistem leis lá fora regulando
isso?
Na Alemanha publicaram uma
lei que foi objeto de muitas críti-
cas pela grande abertura que dá
a esse discricionarismo. A verda-
de não é sempre cristalina.

lComo proceder?
Sou defensor da liberdade
expressão e de imprensa. Te-
mos que tomar cuidado por-
que a democracia depende
disso. Me preocupo com es-
sas leis porque tudo isso me-
xe com princípios constitucio-
nais muito importantes.

lSeu livro é muito atual para
esse debate...
Meu tema principal é o dis-

curso de ódio, mas falo sobre
as fake news. É muito perigo-
so definir de forma muito qua-
dradinha, o que elas são. No
meu livro, eu discuto a liber-
dade de expressão. Temos
duas correntes: a norte-ameri-
cana, que é muito liberal, e a
corrente europeia, capitanea-
da pela Alemanha, muito
mais restritiva em relação à
liberdade de expressão.
Acho que estamos no
meio do caminho.

lO que o Brasil deve-
ria adotar?
Defendo criação de
parâmetros pela
jurisprudência,
principalmente
pelo STF. Não
tem como
deixar isso
na mão do le-
gislador.

Colaboração
Cecília Ramos [email protected]
Marcela Paes [email protected]

EPSTEIN?

Série documental coloca em xeque o suicídio do financista,


líder de uma rede de prostituição com clientes poderosos


Caderno 2


POLAROID


NETFLIX

Para o Dia dos Namorados, o casal
André Frateschi e Miranda Kassin
gravou, sob encomenda, vídeos
exclusivos cantando músicas
escolhidas pelos clientes – com
direito à dedicatória. De acordo com
a dupla, a demanda foi tão grande
que foram necessárias algumas
madrugadas gravando as canções.
Ambos mantém sua programação de
lives semanais: Miranda, às quintas,
e André, aos sábados. “Receber as
mensagens de amor em tempos
sombrios mantém acesa a
esperança de dias e pessoas
melhores. Só o amor salva”, diz
André.

Blog: estadão.com.br/diretodafonte Facebook: facebook.com/SoniaRacyEstadao Instagram: @colunadiretodafonte

O convidado


Persio Arida participou, quar-
ta-feira, da reunião quinzenal
do Comitê Empresarial Econô-
mico, montado por Doria.

Traçou ali, para os 137 empre-
sários participantes, um para-
lelo do Plano São Paulo com o
Plano Real, dizendo que am-
bos foram estruturados em fa-
ses, com indicadores transpa-
rentes e preanunciados para
passar de uma fase para outra.

Convidado 2


O economista disse ainda que
o novo plano do governo paulis-
ta permite respeitar os limites
da capacidade hospitalar ao me-
nor custo social possível, la-
mentando a falta de ajuda do
governo federal para as empre-
sas. Ressaltou, também, a im-
portância de testes em massa
para dar segurança na mudan-
ça de uma fase para outra.

Salvamento


Petição direcionada à Secreta-
ria Especial de Cultura pede
ajuda para a Cinemateca. Mais
de 18 mil pessoas já assinaram
o documento – que conta com
apoio de nomes como Lygia
Fagundes Telles e Ismail Xa-
vier, além de associações liga-
das ao audiovisual.

O vereador Gilberto Natalini
também solicita que a Enel dê
um prazo maior para o paga-
mento da luz da Cinemateca, e
está acionando o ministro do
Turismo e a Câmara Municipal
de SP – entre outros órgãos.

Explodindo


Em tempos de pandemia, o cora-
ção é importante...O arquiteto
Guto Requena, em parceria com
o MidiaDub, desenvolveu um
aplicativo que coleta batimentos
cardíacos e os envia para quem vo-
cê ama. Por meio do celular.

Amizades. Trump e Clinton faziam parte do círculo de Epstein


ARQUIVO PESSOAL

AP

IARA MORSELLI/ESTADÃO
Free download pdf