O Estado de São Paulo (2020-06-12)

(Antfer) #1

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A4 SEXTA-FEIRA, 12 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


COLUNA DO


ESTADÃO


Política

»SINAIS
PARTICULARES.
Jair Bolsonaro,
presidente da
República

»Bônus. Há outras com-
pensações: com Faria, o or-
çamento de publicidade es-
taria livre das críticas dos
militares palacianos. Se vai
dar certo ou não, só o tem-
po dirá. O efeito colateral já
é conhecido: ruídos de des-
contentamento na base de
apoio bolsonarista.

»Capivara. Na vida pre-
gressa de Faria (PSD-RN),
há fotos com Dilma Rous-
seff e Lula, trechos de dela-
ção da Odebrecht e até o
projeto de lei que exige vin-
culação de um CPF para a
criação de conta em rede
social, algo caro à militân-
cia digital bolsonarista.

»Pano. Em defesa de Fa-
ria, Carla Zambelli (PSL-
SP) disse em um vídeo: “To-
do mundo foi de esquerda
um dia (...). Essa questão
de direita e esquerda é mui-
to jovem no Brasil”.

»BFF. Os “Fábios” (Faria
e Wajngarten) ficaram mui-
to amigos desde o advento
do governo Jair Bolsonaro.

»Ops. Para exemplificar
como andava ruim a rela-
ção entre Fábio Wajngarten
e Braga Netto, um aliado
do titular da Secom diz que
o ministro da Casa Civil es-
tava cada dia mais parecido
com Santos Cruz. Não foi
um elogio, longe disso.

»E aí? Quem convivia com
os dois no Planalto conta
que o general era duro nas
reclamações e cobranças
com Wajngarten.

»Mais um. Incomodada
com a aproximação de Feli-
pe Francischini (PR), novo
líder do PSL, com o Planal-
to, a ala mais de oposição
do partido já promete um
novo racha se ele resolver
negociar cargos e emendas
em nome da sigla. Quem
comanda o PSL ainda é a
ala “bivarista”, ligada ao de-
putado Luciano Bivar (PE).

»Até... Faltando pouco
mais de três meses para as
eleições municipais (se não
houver adiamento), a cadei-
ra reservada a um candida-
to 100% bolsonarista em
São Paulo ainda está vazia.

»...quando? Com Bolsona-
ro sob forte ataque, não são
poucos os que aconselham
o presidente a buscar um
nome fechado com ele pa-
ra, ao menos, defendê-lo
nos debates eleitorais. Caso
contrário, vai virar saco de
pancadas da ex-aliada Joice
Hasselmann e da esquerda
em geral: Jilmar Tatto, Gui-
lherme Boulos, Márcio
França, Marta Suplicy...

»Fica... As exportações do
agronegócio brasileiro para
a China, nos primeiros cin-
co meses do ano, equiva-
lem à soma das exporta-
ções para Europa, América
do Norte, América Latina e
Caribe, África e Oriente Mé-
dio: US$ 16,51 bilhões. Um
recorde para o período.

»...a dica. Imagina o estra-
go, diz um interlocutor do
Ministério da Agricultura, se
alas do governo entrassem
na onda de Abraham Wein-
traub (Educação) e Eduardo
Bolsonaro e resolvessem
externar em redes sociais e
afins seu antagonismo com
relação à China.

COM MARIANA HAUBERT E
MARIANNA HOLANDA

A


despeito da incoerência para com seu mantra (aca-
bar com a “velha política”), a recriação do Ministé-
rio das Comunicações com Fábio Faria à frente
tem tudo para ser uma das (raras) boas jogadas políticas
de Jair Bolsonaro. Além de fechar ainda mais a casinha em
torno do presidente no Congresso, a mexida de peças po-
de blindar o Planalto. Informações às quais o entorno de
Bolsonaro teve acesso indicam investigações consisten-
tes sobre o uso da verba publicitária. Sumir com a Secom
do palácio seria uma maneira fácil de blindar Bolsonaro.

Raro lance de habilidade


tenta blindar Bolsonaro


ALBERTO BOMBIG
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KLEBER SALES/ESTADÃO

Governo revê comunicação


ao decidir recriar ministério


Executivo. Novo ministro Fábio Faria é incumbido de melhorar a imagem das ações da


gestão Jair Bolsonaro em um momento em que cresce o discurso pró-impeachment


BRASÍLIA

Ao recriar o Ministério das
Comunicações, o presidente
Jair Bolsonaro tinha um obje-
tivo: resolver o que ele consi-
dera ser um “gargalo” em seu
governo, a comunicação so-
cial. Mais do que atuar nas po-
líticas para o setor de radiodi-
fusão, atribuição de um minis-
tro dessa área, o presidente
quer que o deputado federal
Fábio Faria (PSD-RN) ajude a
melhorar a imagem do gover-
no e a impor uma narrativa fa-
vorável a ele no momento em
que o discurso pró-impeach-
ment começa a se impor.
O Ministério das Comunica-
ções sempre foi considerado es-
tratégico pelos governos. Des-
de o período militar, quando o
setor de telecomunicações cres-
ceu muito, a pasta já foi coman-
dada por nomes poderosos da
República como coronel Eucli-
des Quandt de Oliveira, no go-
verno Ernesto Geisel, e Antonio
Carlos Magalhães e Sérgio Mo-
ta, nas gestões de José Sarney e
Fernando Henrique Cardoso.
Muito além de responder pe-
la mídia institucional do gover-
no, a área que foi ministério até
o final da gestão de Michel Te-
mer foi marcada por ser uma
simbiose entre o Planalto, o
Congresso e o setor privado de
radiodifusão. Entre as atribui-
ções da pasta está a de distri-
buir concessões, outorgas e re-
gulação do setor.
Tradicionalmente, o respon-
sável pela comunicação social é
o chefe da secretaria de comuni-

cação (Secom), e não o minis-
tro das Comunicações. Até ago-
ra, Bolsonaro teve dois secretá-
rios de comunicação, mas am-
bos atuavam à sombra do “gabi-
nete do ódio” e dos generais
que ocupam a maioria dos car-
gos no Palácio do Planalto e ten-
tavam controlar essa área tam-
bém, que tem como missão di-
vulgar os atos do governo.
A queda de braço fez com que
a comunicação do governo fi-
casse limitada à atuação do “ga-
binete do ódio” nas redes so-
ciais. O grupo comandado pelo
vereador Carlos Bolsonaro (Re-
publicanos-RJ), filho do presi-
dente, age de forma a atacar fe-
rozmente qualquer adversário
do governo, deixando em segun-
do plano a divulgação sobre as
ações dos ministérios.
A mudança, no entanto, não
deve mexer com a estrutura do
grupo que é ligado diretamente
ao gabinete presidencial. Nem
mesmo representa uma derro-
ta para o time de Carlos, atual-
mente alvo de um inquérito do
Supremo Tribunal Federal e da
CPI das Fake News. O movi-
mento foi mesmo um baque pa-
ra a ala militar. A Secom era su-
bordinada ao general Luiz
Eduardo Ramos, ministro da Se-
cretaria de Governo.
A troca ocorreu após o chefe
da Secom e secretário executivo
da nova pasta, Fábio Wajngar-
ten, ser “esvaziado” pelo minis-
tro da Casa Civil, general Walter
Braga Netto, que montou uma
estrutura de comunicação para-
lela, com militares na função de
produzir vídeos, divulgar relea-

ses e coordenar entrevistas prin-
cipalmente sobre o enfrenta-
mento do coronavírus, mas tam-
bém de outras ações do gover-
no. Com o rearranjo, pelos me-
nos dois generais deverão per-
der seus postos: o porta-voz da
Presidência, general Otávio do
Rêgo Barros, e o presidente da
Empresa Brasil de Comunica-
ção (EBC), o também general
Luiz Carlos Pereira Gomes.

Relação. Ainda de madrugada,
Bolsonaro explicou a mudança:
“Ele (Fabio Faria) não é profis-
sional do setor, mas tem conhe-
cimento até pela vida que tem
junto a família do Silvio Santos.
A intenção é botar o ministério

pra funcionar nessa área que es-
tamos devendo há muito tem-
po uma melhor informação.”
Faria é casado com Patrícia
Abravanel, filha do empresário
Silvio Santos, dono do SBT. O
novo ministro também já foi do-
no de uma rádio no Rio Grande
do Norte, mas se afastou ainda
em 2013. Ontem, ao tratar do
assunto em sua “live” semanal
nas redes sociais, Bolsonaro vol-
tou a indicar o descontentamen-
to com a área. “Vamos tentar
melhorar a comunicação do go-
verno”, afirmou.
O ex-ministro da Justiça Sérgio
Moro apelidou a nova pasta de
“Ministério da Propaganda”. “Re-
criado o Ministério da Propagan-
da. Quais serão os próximos?”,
perguntou ele no Twitter (mais in-
formações na página ao lado).
Durante a campanha, Bolso-
naro dizia que queria ter um go-
verno com 15 ministérios. Ao re-
criar o seu 23.º ministério, disse
que “exagerou” ao fazer essa
promessa.
A entrada de Faria no governo
leva o Centrão a assumir seu pri-
meiro ministério. O PSD coman-
dava a pasta das Comunicações
no governo Temer com Gilber-
to Kassab. O grupo nega que a
indicação signifique a entrada
no primeiro escalão do governo.
“Eu nem lembro qual o partido
dele. É um deputado federal.
Não teve acordo com ninguém.
A aceitação foi excepcional,
uma pessoa que sabe se relacio-
nar e acho que vai dar conta do
recado”, disse o presidente. /
FELIPE FRAZÃO, JUSSARA SOARES,
TÂNIA MONTEIRO e VERA ROSA

Tabata Amaral

ENTREVISTA

BOMBOU NAS REDES!

Maia elogia e diz que


presidente ‘começa


a fazer política’


BRASÍLIA

Novo ministro das Comunica-
ções, Fábio Faria (PSD-RN)
tem vínculos familiares com o
canal de TV SBT e as rádios
Agreste, no Rio Grande do Nor-
te, que poderão limitar a sua

atuação, por conflito de inte-
resses. A avaliação é do advoga-
do Mauro Menezes, mestre em
Direito Público e ex-presiden-
te da Comissão de Ética Públi-
ca da Presidência da Repúbli-
ca. O órgão é responsável por
analisar e julgar os casos de au-
toridades políticas.

lA família do ministro Fábio Fa-
ria controla rádios – ele foi sócio
de uma – e a mulher é dona do
SBT. Ele pode assumir?
Ele assumiu e agora tem prazo
de 10 dias para prestar infor-

mações à Comissão de Ética
Pública. Não é mau ele vir do
setor. Ele é um parlamentar,
tem experiência, pode assumir
o cargo, não tem problema. O
problema seria a aquisição de
vantagens ou lucros. O proble-
ma maior não é nem a empre-
sa de rádio, mas sim a empresa
da família da esposa que é um
conglomerado com interesses
vastos e que provavelmente se
conectam com decisões do mi-
nistério.

lA Comissão de Ética pode limi-
tar a atuação do ministro?
Ela pode exigir, tem o poder le-
gal de estabelecer limites e res-
trições. Por exemplo, “não de-
cida nada que se refira ao gru-
po de comunicação SBT ou
afaste-se de interesses ou ga-
nhos da sua empresa de comu-

nicação”. Ele vai ter que se con-
siderar não isento para tomar
decisões que afetem o conglo-
merado ao qual a família dele é
ligada. Ele pode ser um ótimo
ministro e bom gestor, só não
pode ficar à frente desse tipo
de decisão.

lExistem precedentes?
Dizer que se afastou da empre-
sa não basta. Houve ministros,
como Arthur Chioro (ex-titu-
lar da Saúde no governo Dilma
Rousseff). Ele tinha uma clínica
na região do ABC paulista e, pa-
ra assumir o ministério, se afas-
tou da direção e colocou a mu-
lher. A Comissão de Ética dis-
se: “Negativo, não satisfaz, é
preciso afastamento comple-
to”. Aí as atividades da clínica
ficaram suspensas no período
em que ele foi ministro. / F.F.

ADRIANO MACHADO/REUTERS

Presidente. Bolsonaro deixa o Palácio do Planalto após anúncio da nomeação de Faria para ministério das Comunicações

“Minha solidariedade às famílias das 40.276 vítimas.
Meu repúdio ao fisiologismo, triste dia”, sobre as fata-
lidades do vírus e a volta do Ministério das Comunicações.

Deputada federal (PDT-SP)

lO presidente da Câmara dos
Deputados, Rodrigo Maia (DEM-
RJ), elogiou ontem a escolha de
Fábio Faria (PSD-RN) para o novo
Ministério das Comunicações e
disse que é preciso “aplaudir” o
fato de o presidente Bolsonaro ter
começado a “fazer política”. “Fa-
ria é uma boa escolha. É um políti-
co que tem uma boa relação”,
disse Maia em entrevista ao site
Jota. Para ele, no entanto, o “for-
mato” da escolha não foi o me-
lhor. “Poderia ter feito uma reu-
nião com os presidentes desses
partidos”, disse / BIANCA GOMES

»CLICK. O deputado Ale-
xis Fonteyne (Novo-SP)
assumiu a presidência
da frente parlamentar da
bioeconomia, em video-
conferência com o minis-
tro Marcos Pontes.

COLUNA DO ESTADÃO

‘Dizer que se afastou da


empresa não basta’


Para advogado, vínculos
familiares com canal de
TV e rádios limitam
atuação de ministro
das Comunicações

Mauro Menezes, ex-presidente da Comissão de Ética da Presidência
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