O Estado de São Paulo (2020-06-12)

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O ESTADO DE S. PAULO SEXTA-FEIRA, 12 DE JUNHO DE 2020 A


Internacional

UE barrará visitantes de países fora de


controle e Brasil pode entrar na lista


MOHAMMED BADRA/EFE

Só de longe. Torre Eiffel abrirá para o público no dia 25 depois de três meses de quarentena; UE divulga novas medidas para combater o coronavírus

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


BRUXELAS


Países da União Europeia vão
impedir a entrada de viajan-
tes que vivem em locais em
que a pandemia do novo coro-
navírus não está controlada,
quando reabrirem oficialmen-
te suas fronteiras externas, o
que está previsto para 1.º de ju-
lho. Pelos critérios que serão
adotados, brasileiros prova-
velmente não poderão entrar
na União Europeia.
A Comissão Europeia divul-
gou ontem um documento em
que prevê uma série de regras
para permitir ou impedir a en-
trada de viajantes do exterior,
além de estimativas de novas in-
fecções, a tendência de a epide-
mia aumentar ou ser controla-
da, e as políticas dos governos
para combater o novo coronaví-
rus, como testes, rastreamento
de contatos e medidas de pre-
venção de contágio.
Atualmente, a América Lati-
na é o novo epicentro da covid-
19, com quase 72 mil mortos
(com 40.919 só no Brasil) e 1,
milhão de infectados. Segundo
dados da Organização Mundial
da Saúde (OMS), o número de
óbitos diários no Brasil tem si-
do maior do que o registrado
nos EUA e no Reino Unido.
A lista de países que terão en-
trada permitida começaria a ser
elaborada ontem com base no
documento oficial que estabele-
ce as diretrizes para a liberação.
Apesar de a UE não ter informa-
do ainda os países vetados, os
residentes no território brasilei-
ro devem ser impedidos de en-
trar na Europa enquanto o Bra-
sil não controlar a doença.
Ao anunciar o documento, a
comissária para Assuntos Inter-
nos, Ylva Johansson, disse que
“como a situação da saúde em
certos países permanece críti-
ca, a comissão não propõe um


levantamento geral da restri-
ção de viagens nesta fase. A res-
trição deve ser levantada para
os países selecionados com ba-
se em um conjunto de princí-
pios e critérios objetivos”.

Pelo comunicado da Comis-
são Europeia, a situação da pan-
demia de cada nação será o prin-
cipal critério de decisão sobre
quem terá acesso ao território
europeu, e a lista será produzi-
da aos poucos.
No mesmo documento, a Co-
missão Europeia pediu aos Esta-
dos-membros que revoguem as
restrições de viagens para todos
os países do bloco e aos que ade-
riram ao Tratado de Schengen
(Islândia, Liechtenstein, Norue-
ga e Suíça) a partir de segunda-
feira. A chanceler espanhola,
Arancha González Laya, disse

ontem que a Espanha adiará até
o final do mês a abertura de suas
fronteiras internas.
Para os países que permane-
cerão na lista de restrições, a co-
missão propõe uma ampliação
gradual por categorias de viajan-
tes, incluindo, por exemplo,
uma liberação para estudantes
internacionais. Bruxelas ainda
propõe a criação de uma lista
detalhada de todos os requisi-
tos para facilitar que os Esta-
dos-membros tenham posi-
ções iguais na retomada.
“É recomendado que seja fei-
to de maneira coordenada e se-

jam aplicadas, de maneira uni-
forme, em todo o território da
União Europeia”, disse Johans-
son. As fronteiras europeias fo-
ram fechadas em 17 de março e,
desde o fim do mês passado, al-
gumas nações já começaram a re-
laxar os controles fronteiriços.
Em 24 de maio, o governo
americano proibiu a entrada de
viajantes estrangeiros prove-
nientes do Brasil. Os EUA limi-
taram voos vindos do País, uma
medida que vinha sendo men-
cionada publicamente pelo pre-
sidente americano, Donald
Trump, desde o final de abril.

A medida também proíbe a en-
trada nos EUA de estrangeiros
que estiveram no Brasil nos últi-
mos 14 dias. Pode entrar nos
EUA quem tem residência per-
manente, além de cônjuges, fi-
lhos e irmãos de americanos e
de residentes permanentes.
Estrangeiros que possuem vis-
to específicos, como os que re-
presentam outros governos,
também estarão excluídos da
restrição. Trump é considerado
o principal aliado internacional
do presidente Jair Bolsonaro,
mas deixou claro que não poupa-
ria o País. / AFP, NYT e EFE

Comissão Europeia divulgou documento em que prevê regras para permitir ou impedir entrada de viajantes a partir do dia 1º de julho e


está analisando quais nações serão liberadas; abertura das fronteiras de todos os Estados-membros do bloco começa na segunda-feira


BUENOS AIRES


Após uma rígida quarentena de
80 dias, o governo argentino li-
berou ruas e parques de Buenos
Aires na segunda-feira à noite
para atividades ao ar livre. As
cenas de multidões aglomera-
das e sem máscaras fizeram o
presidente Alberto Fernández
escrever alarmado para o prefei-


to da cidade, Horacio Larreta
Rodríguez: “Está mal, não pode
continuar”, disse Fernández.
O temor do governo argenti-
no é com a disparada no núme-
ro de casos de coronavírus. O
país registrou ontem mais um
recorde diário de infecções,
com 1.226 nas últimas 24 horas,
o que elevou o total desde o co-
meço da pandemia para 25.987.

Segundo o relatório do Minis-
tério da Saúde argentino, 735
pessoas morreram até agora de
covid-19, 18 delas nos últimos
dois dias. O foco da pandemia
continua sendo a Área Metropo-
litana de Buenos Aires (Amba),
com um total de 12.487 casos.
O aumento no número de
casos ocorre em meio à reaber-
tura de províncias. Diante da

velocidade de contágio, o pre-
sidente já avalia acionar o re-
torno à fase 1 da quarentena,
ou seja, com um bloqueio
mais rigoroso.
Escolas permanecem fecha-
das e estão proibidos eventos
esportivos ou culturais. Voos
comerciais só serão retomados
em 1.º de setembro. Mas houve
permissão para a retomada das

atividades físicas, à noite, e a li-
beração de algumas ruas e par-
ques. Esse processo foi o que
irritou Fernández.
“Se digo que podem passear
por uma praça, saem para cor-
rer e lotam a praça. A dúvida é se
a solução é abrir mais praças. Se
faço isso, estou convidando
mais gente a correr”, disse em
uma entrevista à Radio Mitre.
Diferentemente do Brasil, na
Argentina os Estados são cha-
mados de “províncias” e pos-
suem ministros específicos. O

ministro da Saúde da Província
de Buenos Aires, Daniel Gollán,
alertou ontem sobre os riscos
da reabertura obrigatória.
“Se a quarentena for suspen-
sa, em 15 ou 20 dias começare-
mos a ver as imagens de Nova
York, Manaus, Itália ou Espa-
nha, com cadáveres empilha-
dos em câmaras frigoríficas ou
em residências de idosos”, afir-
mou Gollán. “Você precisa re-
troceder de fase. Estamos na
parte ascendente da curva.” /
AFP e REUTERS

WASHINGTON


O comandante das Forças Arma-
das dos Estados Unidos, gene-
ral Mark Milley, pediu descul-
pas ontem por participar de
uma caminhada, ao lado do pre-
sidente Donald Trump, da Casa
Branca até a Praça Lafayette, on-


de o republicano tirou uma foto
com a Bíblia em frente a uma
igreja que tinha sido danificada
por manifestantes durante atos
antirracismo pela morte do ex-
segurança George Floyd, asfixia-
do por um policial branco, em
Minneapolis.
Para que Trump pudesse che-
gar até o local, no dia 1.º, a polícia
usou uma força desproporcional
contra manifestantes pacíficos,
que estavam na frente da residên-
cia oficial do presidente. “Apren-
di com o erro”, disse Milley, que
foi criticado por atrelar as Forças
Armadas a um evento político.

Em um discurso gravado para
alunos da Universidade de Defe-
sa Nacional, da Escola Nacional
de Guerra, ele aconselhou os
graduandos a apresentar “um
profundo senso de consciên-
cia”, que ele diz não ter conse-
guido se atentar quando cami-
nhava até a praça, com unifor-
me de combate, ao lado do presi-
dente, do secretário de Defesa,
Mark Esper, e outros secretá-
rios de Estado.
“O resultado da minha foto
na Praça Lafayette foi visto por
todos vocês. Aquilo provocou
um debate nacional sobre o pa-
pel das Forças Armadas na socie-
dade civil”, disse Milley. “Eu
não deveria estar lá. Minha pre-
sença naquele momento e na-
quele ambiente criou a percep-
ção de que os militares estão en-
volvidos na política doméstica.”
O pedido de desculpas foi fei-
to após uma forte reação de mui-
tos oficiais aposentados, inclu-

indo Jim Mattis, que foi o pri-
meiro secretário de Defesa da
gestão Trump.
Mattis, um general aposenta-
do do Corpo de Fuzileiros Na-
vais, criticou o presidente por
trabalhar para dividir o país. Ele

afirmou ainda ter ficado “horro-
rizado” com a aparição de Mil-
ley em um evento que, segundo
os críticos, fazia parecer que
Trump poderia usar as Forças
Armadas contra seus adversá-
rios políticos. As críticas de Mat-

tis ainda ganharam mais con-
tundência pelo fato de ele ter
dito que era seu “dever” ficar
fora da política após sua renún-
cia como chefe do Pentágono
em 2018.
Oficiais da Defesa, falando
sob anonimato, disseram que
Milley e Esper não sabiam que
Trump tinha planos de seguir
até a Igreja Episcopal de St. John
após caminhar pela Praça Lafa-
yette. Apesar de insistentes pedi-
dos, Milley não apareceu em ne-
nhuma foto ao lado do presiden-
te em frente ao templo. Mas, na-
quele dia, os dois trabalharam
para demover o presidente de
usar o Exército contra as mani-
festações que cresciam em todo
o país e chegavam até diante da
Casa Branca.
O pedido de desculpas de Mil-
ley foi feito ao final do discurso
em que ele classificou a morte de
Floyd como um “assassinato bru-
tal e sem sentido”. / W. POST

lPrecaução

Argentina pode voltar à quarentena mais dura


General se desculpa


por participar de ato


político com Trump


“Como a situação da saúde
em certos países permanece
crítica, a Comissão não
propõe um levantamento
geral da restrição de viagens.”
Ylva Johansson
COMISSÁRIA DE ASSUNTOS INTERNOS

T.J. KIRKPATRICK/THE NEW YORK TIMES

Protesto pacífico foi


reprimido para que o


presidente fizesse foto


em frente a Igreja


perto da Casa Branca


Arrependido. Mark Milley diz que ‘não deveria estar lá’
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