O Estado de São Paulo (2020-06-13)

(Antfer) #1

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A10 Política SÁBADO, 13 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


JOÃO GABRIEL


DE LIMA


BRASÍLIA


O corregedor-geral da Justiça
Eleitoral, ministro Og Fernan-
des, negou recurso da defesa do
presidente Jair Bolsonaro e do
vice, Hamilton Mourão, e admi-
tiu que provas do inquérito das
fake news, em tramitação no Su-
premo Tribunal Federal (STF),
sejam compartilhadas com as
ações de investigação judicial
eleitoral (Aijes) que miram a
cassação da chapa presidencial
vitoriosa nas eleições de 2018.
Og Fernandes atribuiu ao re-
lator do inquérito das fake news
do Supremo, ministro Alexan-
dre de Moraes, a missão de ava-


liar se, no estágio atual, os con-
teúdos da investigação crimi-
nal têm conexão ou não com os
processos eleitorais que investi-
gam o disparo de mensagens
em massa na campanha presi-
dencial de 2018 via WhatsApp.
Na prática, Moraes tem o sinal
verde dado pelo corregedor elei-
toral para compartilhar o inquéri-
to com a Justiça Eleitoral, caso
entenda pertinente. O pedido de
compartilhamento foi feito pela
coligação do candidato Fernan-
do Haddad, do PT, derrotado
nas urnas. Moraes é também mi-
nistro do Tribunal Superior Elei-
toral e participará, mais adiante,
do julgamento das ações.
A decisão do ministro Og Fer-
nandes encontra respaldo no
parecer da Procuradoria-Geral
Eleitoral, encaminhado na ter-
ça-feira passada ao TSE. O vice-
procurador-geral eleitoral, Re-
nato Brill de Góes, disse que a
investigação pode “desvelar fa-

tos que se relacionem com a
questão discutida” nas ações
que buscam cassar a chapa de
Bolsonaro e Mourão.
A atuação do empresário Lu-
ciano Hang nessa “rede de propa-
gação de mensagens falsas ou
agressivas”, palavras de Góes, é o
que une as investigações do STF
e do TSE e justifica o compartilha-
mento, na visão da Procuradoria.
O dono das Lojas Havan chegou a
ter celular e documentos apreen-
didos por determinação do minis-
tro Alexandre de Moraes.
Em outra frente, a Receita Fe-
deral apontou que a rede de lo-
jas Havan, de Luciano Hang, so-
negou R$ 2,5 milhões em contri-
buições previdenciárias (mais
informações na pág. A14)
Og Fernandes ressaltou a pre-
sença de Hang tanto na investi-
gação do Supremo como na Jus-
tiça Eleitoral, e disse que os
equipamentos, documentos e
dados fiscais e bancários em
análise no inquérito das fake
news podem contribuir com in-
formações sobre fatos ocorri-
dos durante a campanha eleito-
ral, a partir de julho de 2018.” É
inegável que as diligências ence-
tadas no bojo do Inquérito nº
4.781/DF podem ter relação de
identidade com o objeto da pre-
sente AIJE, em que se apura a

ocorrência de atos de abuso
de poder econômico e uso in-
devido de veículos e de
meios de comunicação por
suposta compra, por empre-
sários apoiadores dos então
candidatos requeridos, de pa-
cotes de disparo em massa
de mensagens falsas contra a
coligação requerente, pelo
aplicativo WhatsApp, duran-
te a campanha eleitoral de
2018”, disse Og Fernandes.
No cenário atual, a inclu-
são de novas provas do in-
quérito do STF pode pavi-
mentar o caminho para a cas-
sação do presidente e do vice
no TSE. Como o Estadão
mostrou, a avaliação entre
ministros do tribunal é que o
compartilhamento deve dar
fôlego às investigações.
Og Fernandes, no entanto,
rejeitou o pedido da coliga-
ção petista para que os con-
teúdos da Comissão Parla-
mentar Mista (CPI Mista)
das Fake News, em tramita-
ção no Congresso, fossem
compartilhados às ações judi-
ciais de investigação eleitoral
(AIJEs). Ele concordou com
o posicionamento do vice-
procurador-geral eleitoral.
O inquérito das fake news,
aberto por uma portaria do
presidente do STF, Dias Tof-
foli, em março de 2019, está
tendo sua legalidade analisa-
da em um julgamento que co-
meçou na quarta-feira passa-
da, e será retomado na próxi-
ma semana. Autor do único
voto até aqui, o ministro Ed-
son Fachin se manifestou pe-
la continuidade da investiga-
ção, mas com alguns limites
em sua abrangência.
Ao fundamentar o aval ao
compartilhamento, Og Fer-
nandes frisou que, como até
o momento não foi declara-
da nulidade do inquérito, de-
ve-se presumir que ele é le-
gal. “Não cabe a este relator
presumi-lo nulo”, afirmou.
O ministro advertiu que, se
Moraes concordar com o com-
partilhamento, devem ser en-
caminhadas ao TSE apenas os
“elementos de prova que even-
tualmente guardem pertinên-
cia com o objeto da presente
demanda, segundo análise ex-
clusiva do relator Ministro
Alexandre de Moraes, conhe-
cedor do inteiro teor da prova
lá produzida”. /B.P.

C


açadores de androides zigue-
zagueiam entre arranha-
céus, em seus carros voado-
res. Telões trepidantes iluminam
gente amontoada entre barracas de
espaguete. Anos atrás, quando pen-
sávamos no futuro das cidades, uma
imagem recorrente era a bagunça ur-
bana do filme “Blade Runner”, de
Ridley Scott – tirando, claro, a parte
dos androides (os carros voadores
continuam sendo um sonho...).
Não fosse o coronavírus, estaría-

mos todos, a esta altura de junho, falan-
do sobre as eleições municipais. E discu-
tindo o futuro de nossas cidades. Mas
será que pandemia e metrópoles não
podem ser parte da mesma conversa?
Um programa de debates na TV fran-
cesa defendeu que as cidades poderão
sair até melhores da era do coronaví-
rus. Mais gente trabalhando de casa.
Menos trânsito. A prefeitura de Paris
aproveitou a quarentena para aumen-
tar o número de ciclovias. A realidade
aqui no hemisfério sul, no entanto, es-

tá mais para Blade Runner mesmo.
Metrópoles – como explica o econo-
mista Edward Glaeser, professor de
Harvard, em seu clássico O Triunfo da
Cidade – são, antes de tudo, pontos de
encontro. De pessoas, culturas, negó-
cios. Mas as metrópoles brasileiras, ao
contrário das europeias, ainda não fize-
ram a lição de casa do encontro – ou
adensamento, na linguagem dos urba-
nistas. Adensar significa que residên-
cias, escritórios e serviços devem con-
viver nos mesmos espaços — como em
Paris. Em vez disso, vivemos em gue-
tos. Moradias de um lado, empregos
do outro. Pobres de um lado, ricos do
outro. A fazer a ponte entre tais univer-
sos, sistemas de transporte abarrota-
dos e falidos.
A pandemia tornou essa realidade
mais dramática e desafiadora. O traba-
lho remoto, por aqui, ainda será por
muito tempo um luxo do circuito Le-
blon-Higienópolis-Corredor da Vitó-
ria-Lago Sul-etc. Numa reunião entre
secretários de planejamento de várias

capitais, constatou-se que passaremos
ainda muitos meses, talvez mais de
ano, no entra e sai de quarentenas e
lockouts. Lidaremos, no período, com
nossas mazelas recorrentes, elevadas
ao cubo pelo coronavírus – bairros-dor-
mitório abarrotados, saneamento defi-
ciente, ônibus cheios. E os novos pre-
feitos terão que lidar com isso.

A reunião dos secretários serviu pa-
ra pautar um ciclo de webinários a ser
promovido pelo Laboratório
Arq.Futuro de Cidades do Insper. A
ideia é iniciar um debate sério sobre as
cidades brasileiras no pós-pandemia,
com a participação do Lincoln Institu-
te, de Cambridge, um importante cen-
tro de estudos de questões urbanas.
Trata-se de um encontro oportuno en-
tre política – secretários – e conheci-

mento – academia.
Política, conhecimento – e nós, os
cidadãos. Os links dos webinários
(em julho) serão postados aqui. A
ideia é começar uma conversa. Você
tem sites, podcasts, papers, bases
de dados sobre cidades para suge-
rir? Mande para o e-mail acima. No
âmbito da coluna digital, eles irão
alimentar lives, debates – e outros
textos como este.
Bangcoc, capital da Tailândia, gos-
ta tanto de ser comparada a um cená-
rio de Ridley Scott que batizou um
de seus corredores urbanos de “Bla-
de Runner Alley”. As velhas barra-
cas de comida convivem com um
metrô aéreo – o “skytrain” – que ser-
penteia entre os arranha-céus de
uma cidade cada vez mais densa e
interconectada.
Bangcoc se tornou recentemente
um dos principais destinos turísti-
cos do planeta, superando Paris. Se
eles conseguiram melhorar, por que
não nós?

Breno Pires /BRASÍLIA
Rayssa Motta
Pepita Ortega


O ministro Luiz Fux, do Su-
premo Tribunal Federal
(STF), disciplinou regras de
atuação das Forças Armadas
conforme a Constituição em
uma liminar proferida on-
tem em ação movida pelo
PDT contra “eventual inter-
venção militar”.
Na decisão, Fux afirmou que o
poder de “chefia das Forças Arma-
das é limitado” e que não há qual-
quer margem para interpreta-
ções que permitam sua utilização
para “indevidas intromissões”
no funcionamento dos outros Po-


deres. Para o ministro, as Forças
não são “poder moderador”.
“A missão institucional das
Forças Armadas na defesa da Pá-
tria, na garantia dos poderes cons-
titucionais e na garantia da lei e
da ordem não acomoda o exercí-
cio de poder moderador entre os
poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário”, escreveu o ministro.
Fux destacou ainda que a prer-
rogativa do presidente de autori-
zar o emprego das Forças Arma-
das, por iniciativa própria ou a pe-
dido do STF ou Congresso Nacio-
nal, não pode ser exercida contra
os próprios Poderes entre si.
“O emprego das Forças Arma-
das para a ‘garantia da lei e da
ordem’, embora não se limite às

hipóteses de intervenção fede-
ral, de estados de defesa e de
estado sítio, presta-se ao excep-
cional enfrentamento de grave
e concreta violação à segurança
pública interna, em caráter sub-
sidiário, após o esgotamento
dos mecanismos ordinários e
preferenciais de preservação da
ordem pública e da incolumida-
de das pessoas e do patrimônio,
mediante a atuação colaborati-
va das instituições estatais e su-
jeita ao controle permanente
dos demais poderes”, concluiu.
Anteontem, o PDT havia entra-
do com uma ação direta de in-
constitucionalidade (ADI) no
STF contra a Lei Complementar
97/1997, que disciplina o empre-

go das Forças Armadas e repete o
artigo 142 da Constituição, com
o objetivo de definir os limites do
poder militar. O partido alegava
que o dispositivo tem sido usado
para defender uma eventual in-
tervenção militar contra o Con-
gresso e o Supremo.
Com a sucessão de derrotas
impostas ao Planalto pelo Supre-
mo, apoiadores do presidente

Jair Bolsonaro (sem partido) pas-
saram a repetir nas últimas sema-
nas o discurso da “intervenção
das Forças Armadas como poder
moderador” para enfrentar o
STF. Para isso, aliados bolsona-
ristas se valem justamente desse
dispositivo constitucional.

Toffoli. No início da semana, o
presidente do STF, ministro
Dias Toffoli, já havia rebatido as
interpretações da militância
pró-governo. “As Forças Arma-
das sabem muito bem que o Art.
142 da Constituição não lhes dá
o papel de poder moderador”,
disse o presidente do Supremo.
Em entrevista ao Estadão no
último sábado, o colega Gilmar

Mendes foi na mesma linha ao
classificar como inconstitucio-
nal a ideia de um autogolpe a
partir do artigo.
“O artigo 142 é bastante claro
ao dizer que cumpre às Forças
Armadas o poder de institui-
ções de Estado e que cabe a elas
proteger os poderes constitucio-
nais e atuar na defesa da lei e da
ordem. Daí a derivar-se para in-
térprete da Constituição, me pa-
rece que vai uma distância abis-
sal. Se alguém falou que o 142
permite o autogolpe, isso seria
absolutamente inconstitucio-
nal. Não tem nada a ver com a
Constituição. Golpe é inconsti-
tucional – isso tem de ficar mui-
to claro”, declarou ao jornal.

Fachin mantém


Weintraub em


caso das fake news


l O ministro Edson Fachin, do
Supremo Tribunal Federal, votou
por não conhecer o habeas cor-
pus impetrado pelo ministro da
Justiça, André Mendonça, em
favor do ministro da Educação,
Abraham Weintraub, no inquérito
das fake news.
Relator do processo na Supre-
mo, Fachin considerou que há
jurisprudência consolidada no
Supremo no sentido de que não
cabe habeas corpus contra ato
de ministro do STF – no caso, do
ministro Alexandre de Moraes,
que determinou a oitiva de Wein-
traub em razão de declarações
feitas na reunião ministerial de
22 de abril.
“Botava esses vagabundos
todos na cadeia, começando no
STF”, disse o ministro da Educa-
ção no encontro.
O habeas corpus de Weintraub
é analisado em sessão virtual
que teve início ontem e deve ser
finalizada na próxima sexta-feira.
/FAUSTO MACEDO E P.O.

ROBERTO JAYME/ASCOM/TSE-8/8/

E-MAIL: [email protected]
JOÃO GABRIEL DE LIMA ESCREVE AOS SÁBADOS

Avaliação do


governo fica


estável, diz XP


Vivemos em guetos. Moradias de
um lado, empregos do outro.
Pobres de um lado, ricos do outro

Ministro Og Fernandes,


corregedor da Justiça


Eleitoral, nega recurso da


chapa Bolsonaro-Mourão


e remete caso ao Supremo


Relator no TSE deixa


com Moraes decisão de


compartilhar provas


TSE.
Ministro Og
Fernandes,
corregedor-
geral da
Justiça
Eleitoral

Somos Bangcoc,


não Paris


NA WEB
Despacho.
Leia a decisão do
ministro Fux

estadao.com.br/e/fuxliminarpdt
6

Fux delimita uso das Forças Armadas


Ministro concede liminar em ação sobre ‘eventual intervenção’ e diz que presidente não pode acionar militares contra o STF ou Congresso


Elizabeth Lopes

Pesquisa XP/Ipespe realizada
neste mês mostra que o gover-
no do presidente Jair Bolsona-
ro começa a recuperar fôlego. A
mostra confirma a interrupção
na deterioração da imagem do
governo, intensificada após a
saída do ex-ministro da Justiça
Sérgio Moro, no final de abril, e
perdurou até meados de maio.
No levantamento, feito entre
os dias 9 e 11 de junho, com mil
entrevistas de abrangência na-
cional e margem de erro de 3,
pontos porcentuais para mais e
para menos, o grupo que consi-
dera a administração ruim ou
péssima oscilou um ponto para
menos em comparação com o
mês anterior, de 49% para 48%,
enquanto o que avalia o gover-
no como ótimo ou bom oscilou
dois pontos para mais, indo de
26% a 28%.
Apesar de estarem dentro de
margem de erro, a XP/Ipespe
considera que essas duas avalia-
ções representam a interrup-
ção na deterioração da imagem
do atual governo porque é o se-
gundo movimento seguido na
mesma direção. “De maneira se-
melhante, houve oscilações po-
sitivas na expectativa para o res-
tante do mandato, com ótimo e
bom passando de 27% para
29%, e ruim e péssimo indo de
48% para 46%, diz o instituto.
Na percepção sobre a direção
da política econômica do gover-
no, os que acham que está no
caminho certo passaram de
27% para 29%.
Em relação ao momento da
crise relacionada à pandemia
do novo coronavírus, 31% di-
zem que o pior já passou – em
maio eram 22%. Na pesquisa,
52% concordam com a flexibili-
zação do isolamento social que
está sendo praticada, enquanto
44% discordam da reabertura
da economia.
Entre os governadores, a ava-
liação ótimo e bom caiu de 42%
em maio para 38% neste mês,
fora da margem de erro; a de re-
gular oscilou negativamente de
34% para 33% e a de ruim e péssi-
mo oscilou de 23% para 25%.
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