O Estado de São Paulo (2020-06-13)

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O ESTADO DE S. PAULO SÁBADO, 13 DE JUNHO DE 2020 A


Internacional


Trump planeja tornar permanentes


políticas restritivas de imigração


Texas e Flórida registram


recordes de novos casos


PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


WASHINGTON


Sob o manto da pandemia e
do caos causado pelos protes-
tos contra o racismo, o gover-
no Trump segue endurecen-
do as políticas de restrição à
imigração legal, interrompen-
do o fluxo de trabalhadores
estrangeiros e tornando mais
criteriosa a aceitação de soli-
citantes de asilo que buscam
refúgio nos Estados Unidos.
Nesta semana, funcionários
do governo propuseram um me-
canismo secundário para quan-
do for necessária a suspensão
das regras de fechamento
“emergencial” da fronteira por
causa do coronavírus, com re-
gras que dificultam a comprova-
ção dos pedidos de asilo dos imi-
grantes, permitindo que os juí-
zes encarregados neguem as so-
licitações sem dar aos imigran-
tes uma oportunidade de depor
no tribunal.
Se adotadas, as regras criarão
uma estrutura de políticas res-
tritivas à imigração que podem
ser continuadas mesmo após a
suspensão das iniciativas toma-
das em decorrência da pande-
mia. No mês passado, o gover-
no prorrogou uma medida de
fronteira adotada por causa do
coronavírus que, na prática, im-
pediu milhares de imigrantes
de pedirem asilo.
Em abril, o presidente Donald
Trump assinou um decreto sus-
pendendo temporariamente a
emissão de green cards e espe-
ra-se que ele limite a liberação
de determinados vistos volta-
dos para imigrantes que buscam
trabalho temporário no país.
Na terça-feira, a secretária da
Educação, Betsy DeVos, baixou
uma norma emergencial impe-
dindo as universidades de conce-
der fundos de ajuda contra o ví-
rus para estudantes estrangei-
ros e sem documentação, inclu-
indo milhares de pessoas prote-
gidas pelo programa Ação Diferi-
da para Chegadas na Infância
(Daca, na sigla em inglês), que
impede que filhos de imigrantes
nascidos dos EUA sejam depor-
tados. O governo avalia ainda a
possibilidade de restrições à
emissão de novos vistos H-1B,
voltados para imigrantes com
habilidades especiais, nas próxi-
mas semanas.
“É provável que, em breve, te-
nhamos mais notícias para vo-
cês a esse respeito”, disse Kenne-
th Cuccinelli, vice-secretário in-
terino do Departamento de Se-
gurança Interna, em evento or-


ganizado pela Heritage Founda-
tion na quarta-feira, quando
questionado a respeito das auto-
rizações para não imigrantes.
No mês passado, funcioná-
rios do alto escalão do governo,
entre eles Stephen Miller, im-
portante assessor da Casa Bran-
ca e arquiteto da rigorosa políti-
ca de combate à imigração de
Trump, debateram formas de
dar sequência ao decreto de ve-
to aos green cards.
Em reunião realizada neste
mês, Miller pressionou Trump
e o secretário do Trabalho, Eu-
gene Scalia, a reduzir significa-
tivamente o número de traba-
lhadores estrangeiros que en-
tram no país. Mas as autorida-
des enfatizaram que o decreto
mais restritivo, que deve ser
anunciado na próxima sema-
na, ainda não está pronto. É im-
provável, porém, que quem já
tem vistos atualmente nos
EUA seja afetado.
“Seja com as restrições à imi-
gração legal ou com novos ata-
ques contra o sistema de asilo, o
objetivo de reduzir a imigração
ao nível mais baixo possível se-
gue como prioridade nas deci-
sões deste governo”, disse Aa-
ron Reichlin-Melnick, diretor
de políticas do Conselho Ameri-
cano de Imigração.
Ao defender o decreto inicial
e as restrições para a fronteira,
funcionários da Casa Branca dis-
seram que tais medidas eram ne-
cessárias para conservar empre-
gos nos EUA e impedir poten-
ciais surtos durante uma pande-
mia que deixou milhões de pes-
soas desempregadas e devastou
a economia, apesar de múltiplos
estudos mostrando que a pre-
sença dos imigrantes melhora a
situação econômica. Muito an-
tes do coronavírus, Miller ten-
tou usar as autoridades de saúde
para vetar a entrada de estrangei-
ros na fronteira.
O Departamento de Seguran-
ça Interna usou a pandemia co-
mo razão para “expulsar” mais
de 20 mil imigrantes para o
México e seus países de origem
sem respeitar seu direito de soli-
citar asilo. Nos próximos dias, a

agência de proteção da fronteira
e alfândega deve anunciar um au-
mento no número de imigran-
tes que tiveram a entrada recusa-
da por causa da nova política,
que deve ser mantida enquanto
durar a crise sanitária.
De acordo com as regras que
devem ser apresentadas, o go-
verno Trump poderá negar o pe-
dido de asilo de imigrantes que
tenham passado 14 dias em ou-
tro país sem terem solicitado
proteção ali durante sua jornada
rumo aos EUA, reforçando uma
medida semelhante a anuncia-
da há um ano. Ainda não está cla-
ro até que ponto a regra seria
aplicada às solicitações em anda-
mento. O governo disse repeti-
das vezes que o sistema de asilo
deveria ser simplificado, diante
de uma fila de mais de 1 milhão
de pedidos.
Outra medida controvertida
de Trump é enviar o imigrante
que é detido na fronteira para
um terceiro país, como ocorre
com os brasileiros. Ao serem pre-
sos tentando entrar ilegalmente
nos EUA, eles agora são deporta-
dos para o México, até que consi-
gam retornar ao País. A iniciati-
va, criticada por entidades que
defendem os imigrantes, tem o
apoio do México, que recebe es-
ses deportados e os mantêm em
péssimas condições em abrigos
na fronteira. / NYT

Em meio à pandemia e aos protestos antirracismo, foram apresentadas nesta semana regras que dificultam a comprovação dos pedidos


de asilo, permitindo que os juízes encarregados neguem as solicitações sem dar aos imigrantes uma oportunidade de depor no tribunal


lPrioridade

WASHINGTON


Dois dos Estados mais populo-
sos dos EUA, Texas e Flórida,
registraram nesta semana re-
cordes diários de infecção pelo
novo coronavírus, um sinal alar-
mante enquanto todos os 50 Es-
tados americanos se preparam
para reduzir as restrições de dis-
tanciamento social e permitir a
reabertura de negócios.
O aumento ajuda a explicar
por que os EUA continuam regis-
trando o recorde de mais de 20
mil novos casos por dia, apesar
de alguns epicentros, como No-
va York, estarem vendo uma
drástica redução. Enquanto os
funcionários de alguns Estados
atribuem os aumentos a uma


maior quantidade de testes, e o
número de casos per capita no
Texas e na Flórida continua bai-
xo, alguns especialistas em saú-
de veem sinais preocupantes de
que o vírus continua avançando.
O Texas, que evitou o pior da
pandemia quando ela começou
e foi um dos primeiros Estados
a reabrir sua economia, identifi-
cou mais de 2 mil novos casos
na quarta e na quinta-feira. Con-
dados como Houston e Dallas
reportaram o maior número de
contaminações em um único
dia nos EUA. Os casos também
são crescentes em Fort Worth,
San Antonio, Austin, Lubbock,
McAllen e Midland.
A Flórida registrou mais de
mil novos casos na terça, na

quarta e na quinta-feira. On-
tem, o Estado registrou seu re-
corde diário de 1.902 novas noti-
ficações da doença.
O governador da Flórida, o re-
publicano Ron DeSantis, disse
estar feliz em ver a redução de
hospitalizações em algumas par-
tes do Estado e atribuiu o au-
mento de novos casos em algu-
mas cidades a um maior núme-
ro de testes, mas também às co-
munidades agrícolas, principal-
mente as fazendas de melan-
cias, que empregam imigrantes
nas colheitas. “Esses trabalhado-
res ficam muito perto uns dos
outros”, disse.
Mas a Flórida mantém seus
planos de reabertura e na quin-
ta-feira o Comitê Nacional Re-
publicano anunciou que o presi-
dente Donald Trump pretende
fazer o discurso da convenção
partidária em Jacksonville, em
um estádio com capacidade pa-
ra 15 mil pessoas. / NYT

JOSE LUIS GONZALEZ/REUTERS

‘Operação abraço’. Imigrantes nos Estados Unidos reveem parentes deportados às margens do Rio Bravo, em Ciudad Juárez

“O objetivo de reduzir a
imigração ao nível mais
baixo possível segue como
prioridade do governo”
Aaron Reichlin-Melnick
DIRETOR DE POLÍTICAS DO CONSELHO
AMERICANO DE IMIGRAÇÃO
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