O Estado de São Paulo (2020-06-13)

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O ESTADO DE S. PAULO SÁBADO, 13 DE JUNHO DE 2020 A23


Esportes


F-1 SEM MAIS 3 GPS: JAPÃO,
CINGAPURA E AZERBAIJÃO

Ciro Campos


Os cuidados na Alemanha pa-
ra retomar o futebol durante
a paralisação pela pandemia
do coronavírus vão bem além
de não ter comemorações de
gols, com abraços proibidos,
partidas com estádios vazios,
sem torcedores, ou de colo-
car os reservas com máscara
no banco. O país disputa nes-
te fim de semana a sexta roda-
da depois da retomada do ca-
lendário com um protocolo
rígido em práticas e preocu-
pações desde a hospedagem e
deslocamento do elenco até a
marcação dos locais de ba-
nho no vestiário.
Quem contou todos esses de-
talhes ao Estadão em entrevis-
ta nesta semana foi o atacante
Victor Sá, titular do Wolfsburg.
O jogador de 26 anos foi reve-
lado no Primeira Camisa, proje-
to comandado pelo ex-zagueiro
Roque Júnior, e ainda passou pe-
la base do Palmeiras e por al-
guns times do interior paulista
antes de se transferir para a Áus-
tria, onde ficou quatro anos.
No meio do ano passado, Vic-
tor se mandou para o clube ale-
mão, localizado na cidade mais
rica da Alemanha e conhecida
por ser a sede da Volkswagen.
Com 28 partidas disputadas
pelo time nesta bagunçada tem-
porada por causa da doença
mundial, Victor afirmou que já
está acostumado com o rigor e
os cuidados da nova era do fute-
bol. “Em um dos nossos jogos,
nesses mais recentes, fizemos
um gol e o time quase não come-
morou. Parecia treino. Queren-
do ou não, já estamos fazendo
as coisas no automático. A reco-
mendação é não ter abraços, en-
tão a gente respeita”, afirmou.
O atacante nascido em São Jo-
sé dos Campos (SP) revelou
que, antes do reinício da compe-
tição, todos os colegas de time
ficaram fechados em um hotel
por duas semanas. Ninguém po-
dia sair ou entrar. Os jogadores
e familiares foram testados pa-


ra conferir se havia casos de con-
taminação pelo novo coronaví-
rus. A rotina de checagem conti-
nua até hoje e, sempre na véspe-
ra de cada jogo, o elenco precisa
realizar nova bateria de testes.
O ritual nos dias que antece-
dem as partidas do Campeona-
to Alemão também mudou bas-
tante para o Wolfsburg. Não é
mais como era antes. Nada. Em
confrontos fora de casa, a equi-
pe viaja em uma avião fretado,
com os jogadores de máscara e
distribuídos dentro do espaço
da aeronave para não ficarem
próximos uns dos outros. Ao
chegarem ao hotel usado como
concentração, os cuidados con-

tinuam. “Geralmente é um ho-
tel com um andar só para nossa
delegação. Até a entrada do ti-
me é diferente, por outras por-
tas e caminhos. Não há contato.
Quando a gente chega ao hotel,
nós temos um cardápio com
uma lista do que escolher para
comer nas refeições”, afirma.
A oferta de um cardápio em
vez do tradicional bufê é uma
forma de evitar a contaminação
também. Na hora das refeições,
cada jogador tem um local de-
terminado para se sentar e já en-
contra no seu lugar o prato mon-
tado, com o pedido escolhido
previamente – seja para o café
da manhã ou para o jantar. Ge-

ralmente as mesas são grandes
e, apesar de comportarem até
mais pessoas, só três jogadores
se acomodam por vez, conta, pa-
ra respeitar o distanciamento.
Quando chega a hora de ir ao
estádio, a delegação do Wolfs-
burg cumpre mais uma série de
requisitos de prevenção. A Ale-
manha foi o primeiro país das
principais ligas da Europa a
abrir e retomar suas atividades
após controle da covid-19. “Va-
mos aos jogos com dois ônibus,
um para os jogadores e outro
para a comissão técnica. Os ves-
tiários são diferentes para titula-
res e reservas, para evitar de fi-
car perto um do outro. Quem

fica no banco tem de usar más-
cara. A organização do campeo-
nato nos cobra bastante para
que a gente obedeça”, explica.
Depois das partidas, o vestiá-
rio é preparado para que os joga-
dores mantenham o distancia-
mento. O clube exige que os
atletas tomem banho em chu-
veiros distantes um do outro.
“Os locais em geral são espaço-
sos. Então, a gente faz assim:
uma ducha é usada e a outra, ao
lado dela, não é usada. Por ser
alternado, dá para o elenco cum-
prir bem esse cuidado de segu-
rança e depois ir embora para o
hotel”, contou o brasileiro.
Hoje, o Wolfsburg recebe o

Freiburg novamente com to-
dos esses cuidados para evitar a
contaminação pelo vírus e com
Victor Sá em campo. Todos os
adversários são bem recebidos
nos estádios dos mandantes.
O Victor Sá diz que, mesmo
com tantos procedimentos, po-
der jogar novamente é um alí-
vio para quem passou semanas
confinado em casa, sem ativida-
de, treinos e, claro, jogos.
“Quando se falou que ia ter cam-
peonato de novo, fiquei descon-
fiado. Mas depois que vimos os
cuidados, o protocolo e a segu-
rança geral, todos entenderam
a seriedade e atualmente joga-
mos com tranquilidade.”

]A F-1 anunciou ontem o cancela-
mento de mais três GPs: Azerbaijão,
Cingapura e Japão. A decisão já era
esperada e foi tomada em razão da

covid-19. “As decisões foram toma-
das devido aos diferentes desafios
que nossos promotores enfrentam
nesses países”, informou a F-1 em
nota. Sete corridas já foram cancela-
das. Oito estão marcadas para a Euro-
pa a partir de 5 de julho na Áustria.

Victor Sá. Brasileiro do Wolfsburg conta detalhes dos procedimentos adotados pelo seu time na Alemanha

Raul Vitor
ESPECIAL PARA O ESTADÃO

A


s consecutivas mani-
festações antirracis-
tas nos EUA em decor-
rência da morte de George
Floyd, assassinado em abor-
dagem policial, desencadea-
ram o posicionamento de di-
versos esportistas no mun-
do. A pressão proveniente
das redes sociais por uma to-
mada de partido jogou luz a
um debate sobre a necessida-
de de posicionamento políti-
co de atletas. Neymar, por
exemplo, não havia emitido
opinião em relação ao movi-
mento contrário ao racismo
até que o youtuber e influen-
ciador digital Felipe Neto ti-
vesse chamado sua atenção.
Esse tipo de conduta, no
entanto, é novidade. Apesar
de ser comum a necessidade
dos fãs de saber o que pen-
sam seus ídolos, a pressão e o
engajamento das redes para
obter essas respostas são, de
certa forma, recentes.
O Estadão procurou espe-
cialistas de comunicação

com a intenção de entender co-
mo as empresas, que fazem essa
ponte entre ídolo e fã, convi-
vem com a realidade das redes.
Pedro Corrêa, executivo da
Triple Comunicação, agência
que cuida da imagem de mais de
30 atletas de futebol, entre eles
Alisson, Dudu, Rodrigo Caio e
Diego Tardelli, diz que a relação
dos esportistas e seus seguido-
res é construída diariamente, e
as pessoas que os acompanham
sabem de seu histórico de enga-
jamento às causas políticas e so-
ciais. “No geral, a internet e as
redes colocaram fãs e atletas
quase que em contato direto.
Então, quem acompanha deter-
minada personalidade já sabe o
que ela pensa, sua linha de atua-
ção, alguns de seus hábitos. O
seu posicionamento é quase
uma consequência da sua atua-
ção no dia a dia”, diz. “Quem
observa esse histórico não fica
refém de uma hashtag para sa-
ber como seu ídolo pensa, mas
estará seguro e saberá avaliar se
ele é ativo às causas humanitá-
rias, se prefere ficar mais neu-
tro ao que acontece no mundo,
se faz parte de polêmicas ou se,

simplesmente, nem liga para re-
des e suas causas.” Alguns atle-
tas ‘gritaram’ pelas redes no ca-
so de Floyd, como Levis Hamil-
ton, piloto inglês de Fórmula 1.
O comunicador reitera pela li-
berdade de expressão e ponde-
ra que a tomada de posiciona-
mento de um atleta tem um pe-
so grande para seus fãs, diferen-
ciando-se de uma mera opinião.

“Orientamos os nossos clien-
tes a postarem de maneira cons-
ciente e analisar prós e contras
do que cada uma de suas ações
pode lhe causar, seja em dano
de reputação de imagem, prejuí-
zos financeiros e até dores de
cabeça com seus empregado-
res”, ensina Corrêa. “Lembra-
mos sempre que, ao contrário
de pessoas anônimas, a opinião

deles tem peso grande. Não re-
presenta apenas o que ele acha
sobre um determinado assun-
to. Ela carrega o sentimento de
fãs, cores de um time, respeito
aos companheiros, interesses
de dirigentes e patrocinadores.
Nem sempre esse quebra-cabe-
ça de ideias vai na mesma dire-
ção, mas, quando há um enten-
dimento de que o atleta está sen-
do honesto à sua história e seus
valores, o que é primordial, seu
posicionamento será bem rece-
bido por grande parte dos fãs.”
Outro fator que fez com que o
debate em torno dessa temáti-
ca se aflorasse nos últimos me-
ses foi o silêncio de Michael Jor-
dan em relação a apoiar ou não a
candidatura de Harvey Gantt,
em 1990. Isso porque o quinto
episódio da série “The Last Dan-
ce”, lançado em maio, recordou
o episódio na década de 90.
Gantt, na época, tentava ser o
primeiro senador negro da Ca-
rolina do Norte, pelo partido de-
mocrata, e tinha como seu ad-
versário Jesse Helms, favorável
à segregação racial, pelo parti-
do republicano. No documentá-
rio, Jordan alegou à sua mãe
que não defenderia publicamen-
te alguém que não conhece, em-
bora tenha dito que ajudou o
candidato em sua campanha.
Além do caso de Jordan, ou-
tro episódio do passado que en-
grossa o caldo do debate é a reto-
mada de movimentos oriundos
do futebol pela democracia.
Com Sócrates, Casagrande e
Wladimir no comando, o Brasil

conheceu a Democracia Co-
rintiana dos anos 80.
Acaz Fellagger, da assesso-
ria Fellegger Und Fellegger,
com mais de 20 anos no mer-
cado e que contempla atletas
como Daniel Alves e treina-
dores como Luiz Felipe Sco-
lari, diz que no passado não
havia uma cobrança exacer-
bada por posicionamento,
mas com as mídias sociais,
iniciou-se um processo de pa-
trulhamento das personali-
dades. “Nem sempre o atleta
tem opinião formada ou pos-
sui competência intelectual
para falar sobre determina-
do tema. Há casos em que ele
não quer se posicionar. Mas
você é chamado a se manifes-
tar. Sempre haverá três lados
no engajamento: a favor, con-
tra e neutro e por mais que se
posicione em qualquer um
desses espectros, você será
cobrado”, diz o especialista,
que alerta para a falta de pro-
fundidade das discussões.
“É uma discussão rasa. É
diferente de ouvir um Afonsi-
nho ou um Sócrates nos anos
70 e 80. A internet te obriga,
mas todos devem ser respei-
tados. Se um atleta quer se
posicionar, nós procuramos
saber se ele tem conhecimen-
to do assunto e alertamos
que sua fala irá gerar conse-
quências. A palavra final é de-
le.” De modo geral, todos
concordam que é positivo se
manifestar em causas. E que
o processo é sem volta.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


No ‘novo futebol’, tudo é individual


Alemanha. Victor Sá, do Wolfsburg, revela bastidores da preparação para os times viajarem e entrarem em campo durante a pandemia


Na volta do futebol


na Itália, Juventus


avança na Copa


COMO USAR AS REDES


POLITICAMENTE?


ALBERT GEA/REUTERS - 28/2/2020

WOLFSBURG

lA Juventus garantiu vaga na
final da Copa da Itália após em-
pate sem gols com o Milan. No
primeiro jogo, em fevereiro, no
Estádio San Siro, em Milão, os
rivais haviam empatado, mas por
1 a 1. O gol fora de casa foi deter-
minante para a classificação na
retomada do futebol no país, um
dos mais castigados pela covid.
Com o resultado, o time de Cris-
tiano Ronaldo, que perdeu pênal-
ti, vai jogar a decisão na quarta-
feira, em Roma, diante do vence-
dor de Napoli e Internazionale,
que jogam hoje, em Nápoles.
O time napolitano venceu o pri-
meiro duelo, em Milão, por 1 a 0.
Logo após essa jogada, o Milan
perdeu o atacante croata Ante
Rebic, expulso por causa de uma
falta violenta em Danilo.
Os dois técnicos aproveitaram as
novas regras por causa da pande-
mia do novo coronavírus e fize-
ram nove alterações durante o
jogo, conforme aprovado pela
Fifa. Foram quatro na Juventus e
cinco no Milan. Não havia torce-
dor no estádio em Turim.

REUTERS

Mídias

Neymar. Redes sociais ativas e chamado a se manifestar

Especialistas contam ao ‘Estadão’ como orientam


seus clientes esportistas a se posicionar

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