O Estado de São Paulo (2020-06-13)

(Antfer) #1

%HermesFileInfo:B-1:20200613:B1 SÁBADO, 13 DE JUNHO DE 2020 INCLUI CLASSIFICADOS O ESTADO DE S. PAULO


E&N


ECONOMIA & NEGÓCIOS


Dia de leve recuperação no mercado


global amortece perdas do Ibovespa


Principal índice da Bolsa registrou baixa de 2% ontem, queda inferior a de seus pares internacionais na quinta-feira, quando o aumento do


receio de uma 2ª onda da covid-19 derrubou bolsas do mundo inteiro; previsões negativas para economia dos EUA preocupam investidores


‘São 3 anos de juros


zero, ninguém terá


renda financeira’


Após uma quinta-feira de pâ-
nico nos mercados interna-
cionais e de feriado no Brasil,
a Bolsa conseguiu ontem con-
ter as perdas – na compara-
ção com o desempenho dos
seus pares globais na véspera



  • em função de uma tímida re-
    cuperação no exterior. Em
    um dia marcado pelo vaivém
    dos ativos e que começou
    com uma forte expectativa de
    queda, o Ibovespa (principal
    índice da B3) recuou 2,00%,
    chegando aos 92.795 pontos.
    Já o dólar à vista fechou em
    alta de 2,17%, cotado a R$
    5,04.
    Na semana, a queda acumula-
    da do Ibovespa é de 1,95%, en-
    quanto a moeda americana teve
    alta de 1,04% no período.
    Na última quinta-feira, o medo
    de uma nova onda de contágio da
    covid-19 tomou conta dos merca-
    dos internacionais. Referência
    para o mercado americano, o
    índice Dow Jones despencou. Le-
    vou um tombo de quase 7%,
    maior queda porcentual em qua-
    se três meses. Além disso, o Fed
    (o BC dos dos EUA) divulgou pre-
    visões pessimistas para econo-
    mia do país. No Brasil, a Bolsa
    não operou, por conta do feriado
    de Corpus Christi e era esperada
    uma forte queda ontem.
    Já ontem, o mercado america-
    no recuperou parte das perdas.
    Ao fim da sessão, o índice Dow
    Jones subiu 1,90%, o S&P 500,
    1,31%, e o Nasdaq, 1,01%. As bol-
    sas de Paris, Londres e Milão
    também fecharam no azul.
    “Considerando o quanto No-
    va York caiu na quinta-feira, até
    que o Ibovespa resistiu bem on-
    tem, e o fato de muito dinheiro
    estrangeiro ter saído da B3 este
    ano acaba ajudando”, avalia Ma-
    theus Soares, analista da Rico
    Investimentos, para quem o
    ajuste da Bolsa tende a ser de
    curto prazo, na medida em que
    ainda não há clareza quanto a
    uma segunda onda da covid-19.
    “Estados americanos, como
    Texas, Arizona e Flórida, tive-
    ram aumentos de casos, mas é
    preciso cautela. A evolução do
    coronavírus vai continuar sen-


do acompanhada de perto pe-
los investidores”, aponta Soa-
res. Ele acrescenta que as mani-
festações antirracistas resulta-
ram em aglomerações no exte-
rior, o que pode ter tido efeito
sobre a curva de contágio.
Houve uma virada de humor,
contudo, por meio de uma de-
clarações de líderes da Organi-
zação Mundial da Saúde
(OMS), que afirmaram que os
países “não necessariamente”

enfrentarão uma segunda onda
de novos casos de covid-19.
Nos Estados Unidos, o presi-
dente do Fed de Richmond,
Thomas Barkin, também cha-
mou atenção para o endivida-
mento gerado pela crise e disse
que muitos empregos podem
nunca voltar. Os comentários
sobre a economia americana
são apenas os mais recentes de
uma série de declarações caute-
losas de autoridades do banco.

A previsão da instituição é de
que o desemprego nos EUA fe-
che o ano em nível elevado, de
9,3%, e que o Produto Interno
Bruto (PIB) do país deve ter
contração de 6,5% em 2020.

Ajustes. O economista-chefe
da Necton, André Perfeito, lem-
bra que os mercados caíram for-
temente na quinta-feira, mas
voltaram rápido. “Essa história
de uma segunda onda de covid-

19 é menos central do que se
imagina. A questão principal é a
alta liquidez: quando se tem
muito dinheiro na mesa, se man-
tém a perspectiva de alta das
ações, o que gera volatilidade.”
Ele ressalta que o movimento
desta semana é normal e que o
mercado de capitais não reflete
a economia real, mas uma parte
da economia. “Não dá para
olhar o comportamento dos
mercados como um sinal claro
de que tudo está melhorando.
Há ações de setores, como o de
turismo, que ainda sofrem.”
Ontem, as perdas na B3 atin-
giram com especial vigor o se-
tor de viagens e turismo, que vi-
nha em recuperação com a rea-
bertura gradual das economias.
Assim, CVC fechou em baixa de
9,44% e a Gol, (-8,40%). Ações
de commodities, bancos, side-
rúrgicas e de infraestrutura tam-
bém tiveram perdas, como Pe-
trobras PN (-3,74%), Usiminas
(-6,97%), Banco do Brasil (-
2,51%) e Cemig (-4,17%).
No mercado de juros, as taxas
pouco se mexeram, já em com-
passo de espera em relação à pe-
sada agenda da próxima sema-
na, quando o Comitê de Políti-
cas Monetárias (Copom), do
Banco Central, vai se reunir pa-
ra definir os juros básicos. A ex-
pectativa é de um novo corte,
de 3% para 2,25% ao ano.
O investidor doméstico ago-
ra deve ficar de olho na reabertu-
ra gradual do comércio nas cida-
des brasileiras e na retomada
aos poucos da atividade econô-
mica no Brasil, além da evolu-
ção nos números da pandemia
do novo coronavírus no País.
Os ativos domésticos segui-
ram também de olho na política
local, onde o cenário acabou se
desanuviando um pouco, com a
aproximação entre o presiden-
te Jair Bolsonaro (sem partido)
e os parlamentares do chamado
Centrão, após a indicação do de-
putado federal Fábio Faria
(PSD-RN) para comandar o re-
criado Ministério das Comuni-
cações. / ALTAMIRO SILVA JÚNIOR,
DENISE ABARCA, DOUGLAS GAVRAS e
LUÍS EDUARDO LEAL

ENTREVISTA


Para o ex-presidente do Banco
Nacional do Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES)
e ex-ministro das Comunica-
ções, Luiz Carlos Mendonça
de Barros, os últimos dias de
turbulência e quedas nos mer-
cados ao redor do mundo com-
provam a falta de previsibilida-
de da crise econômica causada
pela pandemia da covid-19.


Ele ressalta que o investidor,
agora, precisa ter sangue frio.
A seguir, os principais trechos
da entrevista ao Estadão.

lA última quinta-feira foi um dia
tenso nos mercados. Bolsas do
mundo todo caíram, muito pelo
temor de uma nova onda da pan-
demia da covid-19. Como nave-
gar em um cenário tão incerto?
Essa é a grande questão. Esta-
mos vivendo uma situação na
economia mundial que é com-
pletamente desconhecida. Pe-
la natureza atípica da crise
atual, não se consegue produ-
zir e nem consumir nada e, co-
mo o Produto Interno Bruto é

a soma dessa atividade, ele te-
rá forte retração este ano. Não
é por acaso que a OCDE (orga-
nização apelidada de clube dos
países ricos) disse que a de-
pressão econômica deste ano
vai ser a maior em um século.

lIsso quer dizer os mercados
devem reagir mal a cada expecta-
tiva de retorno da doença?

É preciso entender a cabeça do
investidor, que tem de operar
em um ambiente de muitas in-
certezas. Essa correlação entre
normalizar a atividade econô-
mica e o temor de voltar ao iso-
lamento ainda não é uma coisa
equilibrada. E o mercado aca-
ba reagindo às notícias que
chegam, é a história do apressa-
do que acaba comendo cru.

lSe o futuro ainda é incerto, há
indicadores de mais longo prazo
que devem ser observados?
Há um cenário de juros que es-
tá mais complicado ainda. O
Fed (banco central americano)
sinalizou esta semana que
manterá os juros em zero por
três anos. Isso é uma coisa que
eu nunca tinha visto antes.
Quer dizer que ninguém vai
ter renda financeira em três
anos. Esse conflito é parte do
que vimos no pânico dos mer-
cados na quinta-feira, depois
da reunião do Fed.

lO investidor vai acabar tendo
de fazer escolhas mais difíceis
nos próximos anos?
Quem investe tem de escolher
entre ter um risco na carteira
de ações ou não ter risco e fi-
car sem ganhos. O investidor
tem uma escolha de Sofia: ou
ele corre o risco de perder capi-
tal ou faz uma carteira de
ações que devem sofrer me-
nos. São três anos de juros ze-
ro, como é que faz?

lO Ibovespa, principal índice da
Bolsa brasileira, teve a primeira
semana de perdas após três se-
manas de ganhos. Parecia desco-
lado das incertezas quanto ao
agravamento da pandemia. Isso
está mudando agora?
Hoje, eu trabalho com a pers-
pectiva de que o Ibovespa fi-
que entre 90 mil e 92 mil pon-
tos. Agora, a cada mês que pas-
sa, você vai conseguindo ter
uma visão mais clara do tama-
nho do problema. A gente nun-
ca passou por nada parecido e
o investidor precisa ter paciên-
cia e procurar orientação de
analistas experientes.

lDá para ser otimista?
O sistema capitalista não vai
acabar por causa do coronaví-
rus, as economias vão se nor-
malizar um dia. Hoje, as expec-
tativas estão depositadas na
descoberta da vacina. Na hora
em que ela chegar, resolve o
problema. A única certeza que
temos agora é que a crise é gra-
ve, o resto é dúvida. / D.G.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


Fôlego. Depois de forte queda na véspera, bolsas europeias, como a de Frankfurt, tiveram ontem um dia mais tranquilo

Crise da covid vai testar as áreas de cobrança de bancos. Pág. B3}

STRINGER / REUTERS

lAlívio

EVELSON DE FREITAS/ESTADÂO - 8/1/2015

Uma certeza. Nunca vi uma crise como esta, diz Mendonça

Para ex-presidente do


BNDES, imprevisibilidade
explica o pânico do


mercado: ‘a única certeza


é que a crise é grave’


Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES


MERCADO TENSO

FONTE: BROADCAST INFOGRÁFICO/ESTADÃO

Dólar
EM REAIS

Ibovespa
EM PONTOS

2
JAN
2020

3
FEV

2
MAR

4
MAI

60.000

80.000

100.000

120.000

140.000

4,000

4,500

5,000

5,500

6,000


JUN


ABR

12

118.573

4,0242

NO DIA

VARIAÇÃO

-2,0%
2,2%

NO ANO
-19,8%
30,4%

Bolsa

Dólar

5,0426

Bolsas no mundo
VARIAÇÃO NO DIA, EM PORCENTAGEM

0

92.795

1,9

1,31
1,01

0,49 0,47 0,43

-0,18
DAX
(FRANK-
FURT)

NASDAQ
(NOVA
YORK)

S&P 500
(NOVA
YORK)

FTSE
100
(LONDRES)

FTSE
MIB
(MILÃO)

CAC 40
(PARIS)

DOW
JONES
(N. YORK)

“Considerando o quanto
Nova York caiu na
quinta-feira, até que o
Ibovespa resistiu bem, e o
fato de muito dinheiro
estrangeiro já ter saído da
B3 este ano acaba ajudando
nessas horas.”
Matheus Soares
ANALISTA DA RICO INVESTIMENTOS
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