O Estado de São Paulo (2020-06-13)

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B4 Economia SÁBADO, 13 DE JUNHO DE 2020 O ESTADO DE S. PAULO


Canais de TV paga têm


de fazer parte de pacote
de operadora, embora


Netflix já faça venda da


própria programação


Anatel poderá liberar produtores a vender conteúdo


Anne Warth / BRASÍLIA


Uma definição que pode mudar
profundamente a relação dos
consumidores com os serviços
de TV por assinatura está nas
mãos da Agência Nacional de
Telecomunicações (Anatel). O
órgão regulador deve definir
em breve se produtoras podem
vender seu conteúdo direta-
mente para os clientes pela in-


ternet, fora de pacotes de TV
oferecidos por empresas de tele-
comunicações.
De um lado está a Claro, líder
isolada nos serviços de TV paga,
com 7,5 milhões de assinantes.
Esse serviço, no entanto, está
em queda. Depois do pico de 19,8
milhões de clientes, registrado
em novembro de 2014, a base de
assinantes fechou abril deste
ano em 15,3 milhões.
Do outro está a Disney, uma
das maiores produtoras de con-
teúdo do mundo. Além de dona
da Fox, a empresa detém os fil-
mes da Marvel, a saga Star Wars
e os Simpsons, além da platafor-
ma de streaming Hulu. A empre-
sa já lançou o serviço Disney+

nos Estados Unidos, Canadá, No-
va Zelândia e Japão e projeta tra-
zê-lo ao Brasil ainda neste ano.
Tudo começou no ano passa-
do, quando a Claro pediu – e ob-
teve – uma cautelar (decisão
provisória) na Anatel para impe-
dir a venda do serviço Fox+ dire-
tamente a consumidores.
Diferentemente de serviços
de streaming como o Netflix,
que funcionam como uma “lo-
cadora virtual”, o Fox+ fornece-
ria conteúdo programado, com
grande horária, a exemplo de
um canal de TV. A empresa con-
seguiu derrubar a medida, mas
o tema se tornou um processo
muito maior e que já chegou ao
Congresso e ao Supremo Tribu-

nal Federal (STF).
O debate foi o estopim de
uma guerra dentro da agência.
A cautelar foi dada pela área téc-
nica, sem que o Conselho Dire-
tor fosse ouvido. Esse tema de-
ve voltar à Anatel nas próximas

semanas. Embora trate de for-
ma específica da Claro e da Dis-
ney, o assunto interessa tam-
bém às principais redes de TV
brasileiras, como a Globo, que,
hoje, não consegue vender ca-
nais como Multishow e Globo-
sat fora de pacotes oferecidos
pelas teles.
Sob relatoria do conselheiro
Vicente Aquino, a Anatel vai de-
cidir se canais lineares transmi-
tidos pela internet, com progra-
mação fixa e grade horária, de-
vem se submeter à mesma lei
que rege a TV por assinatura – a
Lei do Serviço de Acesso Condi-
cionado, de 2011.
Essa legislação submete as te-
les à regulação da Anatel e obri-

ga as empresas a cumprirem al-
gumas exigências, como o carre-
gamento de canais obrigatórios
sem custo – além dos abertos,
como Globo, Record, Band, SBT
e Cultura, os religiosos, comuni-
tários, legislativos e universitá-
rios. A lei obriga ainda as teles a
atender a cotas de conteúdo na-
cional no empacotamento de ca-
nais. Sobre o serviço de TV por
assinatura, há incidência de
ICMS (imposto estadual), com
alíquotas entre 12% a 15%.
A Claro quer que os canais li-
neares se submetam a essas
mesmas regras, disse o vice-pre-
sidente Jurídico e Regulatório
da empresa, Oscar Peterson.
Procurada, a Associação Brasi-
leira de Emissoras de Rádio e
Televisão (Abert) não infor-
mou seu posicionamento sobre
o tema.

Cleide Silva


A crise provocada pelo coro-
navírus está acelerando o seg-
mento de locação de cami-
nhões e contribuindo com
montadoras na retomada da
produção. Diante da falta de
liquidez no mercado em ra-
zão da insegurança do setor
financeiro em liberar crédi-
to, várias empresas estão op-
tando por essa modalidade.
Segundo locadoras, além de
não imobilizar capital, o alu-
guel dispensa a empresa de ser-
viços de manutenção. Para as fa-
bricantes dos veículos, ajuda a
amenizar a alta ociosidade das
fábricas, que este ano deve ficar
em cerca de 80% da capacidade
instalada.
A Ouro Verde, de Curitiba
(PR), é dona de uma frota de 5
mil caminhões e 3 mil equipa-
mentos (carrocerias, máquinas
agrícolas e para construção),
dos quais 94% estão alugados.
Neste ano, a empresa já regis-
trou crescimento de 30% nos ne-
gócios em relação ao ano passa-
do, impulsionado pelo setor do
agronegócio, rodoviário, elétri-
co e de saneamento, informa o


diretor comercial Manuel Silva.
“Neste período de pande-
mia, e com o consequente im-
pacto negativo no caixa, a des-
mobilização dos ativos e o alu-
guel são demandas recorrentes
para melhorar a situação das
empresas”, afirma Silva. A em-
presa também opera com a cha-
mada “Sale Lease Back”, moda-
lidade de compra de frotas usa-
das para ser alugada aos anti-
gos donos. “A empresa tem pla-
nos ambiciosos de ampliação
da frota ainda neste ano, apro-
veitando a demanda e as boas
oportunidades no mercado,
bem como sua capacidade de
investimento.”
A procura pela locação de ca-
minhões começou a ganhar for-
ça nos últimos dois anos e teve
empurrão extra na pandemia.
“A crise atual acelerou a deman-
da por locação de caminhões, já
que as empresas se viram obri-
gadas a estudar soluções para o
curto prazo que pudessem redu-
zir custos e reforçar o caixa,
sem afetar suas operações”, afir-
ma Renato Vaz, diretor da Mar-
bor Frotas Corporativas, de Mo-
gi das Cruzes (SP), que tem 100
veículos alugados.

A também empresa lançou na
semana seu plano de “Lease
Back”, com pagamento à vista.
“Compramos a frota e os clien-
tes passam a alugar os veículos
que antes eram próprios”, expli-
ca Vaz. “É uma forma de ajudar
as empresas a recompor o caixa
na crise.” Segundo a Marbor,
nos últimos 12 meses o volume
de locação de caminhões e utili-
tários aumentou 40%. O plano
da Marbor é ampliar sua frota
para 500 veículos em 2021, en-
tre caminhões, vans e empilha-
deiras.
Com 13,5 mil unidades para lo-
cação, o Grupo Vamos, da JSL,
foi responsável nos últimos 12
meses por 4% das vendas de ca-
minhões das montadoras, infor-
ma Gustavo Couto, presidente
da locadora, a maior do Brasil
no segmento. Criada no fim de
2015 em São Paulo, a empresa
registrou crescimento de 30%
ao ano, ritmo mantido mesmo
no período de pandemia.

1% alugada. Couto afirma que,
da frota total de caminhões em
circulação no País, apenas 1% é
alugada. Ele acredita que a parti-
cipação da modalidade vai cres-

cer, pois as empresas estão per-
cebendo que não é preciso “car-
regar o custo de ter a proprieda-
de do caminhão”, que implica,
por exemplo, em ter equipe para
administrar a frota e sua manu-
tenção. Cálculos indicam que o
custo do aluguel chega a ser 30%
menor que o da aquisição.
O grupo tem mais de 400 con-
tratos e também atua na loca-
ção de máquinas agrícolas. Os
setores que mais demandam o
serviço, segundo Couto, são os
de agronegócio, logística e
transporte, varejo e serviços co-
mo de telefonia, distribuição de
energia e coleta de lixo. Os pre-

ços de locação partem de R$ 3
mil ao mês.
Um dos principais fornecedo-
res do Grupo Vamos, a Volkswa-
gen Caminhões e Ônibus tem
cerca de 15% de sua produção
voltada às locadoras. Em 27 de
abril, a empresa e a Scania fo-
ram as primeiras montadoras a
retomar atividades após as para-
das de mais de um mês em ra-
zão da pandemia.
O presidente da VWCO, Ro-
berto Cortes, diz que a locação
“está ganhando terreno em ra-
zão da falta de liquidez das em-
presas” para adquirir veículos
próprios neste momento. O
complexo da empresa em Re-
sende (RJ) emprega 4,5 mil pes-
soas, e apenas 1 mil voltaram ao
trabalho por enquanto.
A Mercedes-Benz espera um
aumento de mais de 50% nas
vendas de caminhões para clien-
tes de locadoras neste ano em
relação a 2019. Roberto Leonci-
ni, vice-presidente da divisão
de caminhões, afirma que a de-
manda está aquecida pois vá-
rias empresas passaram a ver o
aluguel como nova alternativa.
“O aluguel de caminhões torna-
se opção para empresas com ca-

pacidade de caixa impactada
neste momento para investi-
mentos.” Em sua opinião, a de-
manda deve vir de atividades
básicas como coleta de lixo, lim-
peza urbana e empresas de dis-
tribuição de energia, que preci-
sam de caminhões para manter
suas atividades.
A Scania informa que têm re-
cebido muitas consultas de loca-
doras mas não fechou nenhum
negócio ainda. A empresa reto-
mou atividades com equipe
completa, dividida em dois tur-
nos. Na semana passada, rece-
beu da PepsiCo encomenda de
18 caminhões movidos a GNV
e/ou biometano, tecnologia lan-
çada recentemente. As primei-
ras entregas estão previstas pa-
ra agosto.
O presidente da Associação
Brasileira de Locadoras de Au-
tomóveis (Abla), Paulo Miguel
Junior, não tem números espe-
cíficos da locação de cami-
nhões neste ano, mas afirma
que o segmento está crescendo
bastante. Um dos setores que
tem usado a modalidade, diz, é
o da construção civil, que não
suspendeu atividades na qua-
rentena.

Além de caminhões, as fábricas
de veículos pesados produzem
ônibus, o segmento do setor au-
tomotivo mais castigado na
atual crise provocada pela pan-
demia da covid-19. “Setores
mais conectados às pessoas, co-
mo aviação, ônibus, táxis e apli-
cativos tiveram a maior depres-
são”, afirma Paulo Arabian, dire-


tor comercial de ônibus da Vol-
vo, com fábrica em Curitiba.
De janeiro a maio as vendas
de caminhões caíram 26% ante
2019, e as de ônibus, 42,7%. As
de automóveis e comerciais le-
ves tiveram retração de 38%, se-
gundo a Associação Nacional
dos fabricantes de Veículos Au-
tomotores (Anfavea).
Segundo Arabian, o que está
movimentando a produção
atualmente é a demanda para
ônibus fretados, que represen-
tam de 12% a 15% do mercado.
Empresas que já operavam com
os fretados para transportar os
funcionários estão encomen-

dando novas unidades para
atender as normas de manter os
passageiros afastados, ou seja,
um em cada banco, e intercala-
dos nas fileiras. Arabian ressal-
ta que as encomendas estão che-
gando porque várias empresas
e escritórios estão retomando
atividades. Os ônibus vão mais
vazios, mas são necessárias
mais unidades para transportar
o mesmo número de pessoas.
No caso da Volkswagen Cami-
nhões e Ônibus, a licitação ven-
cida no ano passado para forne-

cer cerca de 3,6 mil ônibus para
prefeituras dentro do progra-
ma Caminho da Escola, voltado
ao transporte de estudantes em
áreas rurais, é o que tem dado
fôlego mínimo à linha de produ-
ção em Resende (RJ). “Temos
de produzir em média 300 uni-
dades por mês, com ou sem cri-
se, pois temos um ano para en-
tregar”, afirma Roberto Cortes,
presidente da empresa.
A maior fabricante de ônibus
do País, a Mercedes-Benz tam-
bém tem o fretamento como

segmento menos impactado
nas vendas em relação aos de-
mais. Um dos setores que tem
exigido mais demanda, segun-
do a empresa, é o de celulose,
que cresceu nos últimos meses
e tem feito novos contratos
com empresas de fretamento.
Em abril a empresa vendeu 18
ônibus para fretamento e, em
maio, 24, ou seja, um aumento
de 33% de um mês para outro.
A Scania, por sua vez, informa
que algumas empresas de ônibus
urbanos de São Paulo voltaram a

fazer cotações, aparentemente
por causa da proibição de passa-
geiros viajarem em pé, o que exi-
ge mais unidades nas ruas.
Em situação mais confortá-
vel, a Marcopolo, maior fabri-
cante de carrocerias no País, fe-
chou as portas por apenas 20
dias na quarentena e retomou
atividades em abril. O diretor
Rodrigo Pikussa informa que a
empresa opera com nível de ati-
vidade de 50% nas fábricas no
Rio Grande do Sul e Rio de Janei-
ro, e de 100% no Espírito Santo.
No caso do mercado brasilei-
ro, segundo ele, as vendas no pri-
meiro trimestre registraram
crescimento tanto no segmen-
to de urbanos como rodoviá-
rios, de mais de 50% em relação
ao mesmo período de 2019. Des-
de abril, a empresa tem registra-
do maior procura por modelos
urbanos, micro-ônibus e de fre-
tamento. Já os rodoviários es-
tão com demanda bem inferior
ao habitual. /C.S.

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


lEm baixa

lCustos e caixa

Empresas optam pelo aluguel por causa das dificuldades de crédito; ação favorece montadoras que amenizam ociosidade das fábricas


Oportunidade. Com 13,5 mil unidades para locação, grupo Vamos, da JSL, a maior do Brasil no segmento, foi responsável por 4% das vendas de caminhão das montadoras em 12 meses


Fôlego. Ônibus do programa Caminho da Escola dão fôlego para a unidade da Volks

Guedes acena com crédito para empresas de saúde e educação. Pág. B5 }


15,3 milhões
era base de assinantes de TV por
assinatura no País, em abril

19,8 milhões
foi o número pico de assinantes,
registrado em novembro de 2014

GRUPO VAMOS

Pandemia acelera locação de caminhões


“A crise atual acelerou a
demanda por locação de
caminhões, já que as
empresas se viram
obrigadas a estudar
soluções para o curto prazo
que pudessem reduzir
custos e reforçar o caixa,
sem afetar suas operações.”
Renato Vaz
DIRETOR DA MARBOR FROTAS
CORPORATIVAS

VWCO/MAN - 10/6/2020

De janeiro a maio, vendas


de ônibus tiveram recuo
de 42,7% em relação ao


mesmo período do ano


passado


Produção de ônibus


para fretamento


mantém atividade

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