O Estado de São Paulo (2020-06-13)

(Antfer) #1

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O ESTADO DE S. PAULO SÁBADO, 13 DE JUNHO DE 2020 Economia B5


Guedes acena


com crédito para


saúde e educação


l]
PAULO ANDRÉ
JORGE GERMANOS e
ROMEU CHAP CHAP

Em encontro com empresários, ministro


reconheceu falta de atenção aos setores


S


ó evoluiremos se soubermos
aprender com a adversidade.
E estamos aprendendo muito
nesta pandemia. Aprendemos a
exercitar a gratidão, como aquela
enorme que devotamos aos que tra-
balham nos hospitais, arriscando
suas vidas para salvar outras tantas;
a prestar solidariedade àqueles que
mais têm necessidades.
Outra lição nos impactou, quan-
do já estávamos acostumados a
olhar diariamente para coisas inacei-
táveis, sem enxergar de fato sua real
brutalidade: enfim nos demos con-
ta de que não mais podemos tolerar
a desigualdade perversa dentro da

sociedade brasileira.
Não podemos mais aceitar passiva-
mente que existam famílias em habita-
ções precárias, em grandes ocupações
urbanas totalmente desprovidas de sa-
neamento básico e sem acesso a servi-
ços essenciais.
Como isso se produziu, resultando
num número vergonhoso e intolerável
de sub-habitações?
Tomemos o exemplo da maior cida-
de do País, a capital de São Paulo. Até a
década de 60 do século passado, o dese-
nho urbano foi produzido pelos lotea-
mentos projetados e implantados den-
tro da lei.
Os trabalhadores conseguiam ad-
quirir um lote, pagando seu valor a pra-
zo e neles edificavam suas casas. Ou-
tros, adquiriam casas ou apartamen-
tos em raros edifícios multifamiliares,
sem que ainda houvesse um sistema
financeiro de habitação estruturado

para o pagamento a longo prazo. Nos
chamados bairros operários, havia
mais casas próprias frente a casas alu-
gadas, em situação inversa à dos bair-
ros mais centrais.
Com o esgotamento de grandes gle-
bas dentro do espaço urbano, não mais
se aprovaram novos loteamentos, que
desapareceram totalmente depois de
1971 (Plano Diretor) e 1972 (Lei de Uso
e Ocupação do Solo Urbano), na ges-
tão do prefeito Figueiredo Ferraz, cujo
objetivo declarado era interromper o
crescimento da cidade.
Concomitantemente, floresceram
loteamentos clandestinos, ocupações
desordenadas e até ocupações inten-
cionalmente ordenadas, afrontando a
legislação vigente sob as vistas do po-
der público, incapaz de exercer sua fun-
ção de polícia e de exigência da obe-
diência à lei.
Sem outra opção, os trabalhadores,
que até então tinham a oportunidade
de adquirir um lote oficialmente pro-
duzido ou de alugar uma casa também
construída de acordo com a legislação,

submeteram-se a viver com suas famí-
lias em barracos desumanos.
É preciso entender que esta situação
tem de ser enfrentada em todo o espa-
ço nacional, onde a população urbana
aumenta a cada ano. As cidades tem de
crescer e se organizar para abrigar de-
centemente a habitação, o trabalho e a
vida dos brasileiros.
Quando elevamos nossa voz em de-
fesa da simplificação das aprovações
para toda e qualquer atividade a ser
exercida dentro da lei, com integral res-
peito ao meio ambiente e às exigências
urbanísticas, é porque há licenças que
levam anos para serem outorgadas.
Só quem tem espírito empreende-
dor e teimosamente se submete à lei
sabe o quanto no Brasil é penoso e di-
fícil obter uma licença, tendo de en-
frentar o emaranhado burocrático e a
resistência corporativa daqueles que
se aproveitam desta situação, tanto pa-
ra garantir nichos de “especialistas”
ou de “facilitadores”, quanto para pra-
ticar extorsão.
Outra notável lição foi tomar cons-

ciência de que o Estado, ao abrigar
toda uma casta privilegiada, tor-
nou-se um fim em si mesmo, deixan-
do de atender adequadamente à
multidão dos contribuintes que o
mantém, tornando inexorável re-
conduzi-lo a seu papel verdadeiro
de um ente a serviço da Nação.
Já vigora a Lei de Liberdade Eco-
nômica e se faz necessário aplicá-la,
para soltar as amarras do empreen-
dimento à espera de voltar a crescer
solidamente.
Sairemos maiores e melhores des-
ta quadra angustiante se soubermos
vencer os obstáculos que impedem o
trabalho consciente e diligente, le-
vando assim toda nossa população à
condição de dignidade humana que
merece e à qual tem absoluto direito.
E serão esta tomada de consciên-
cia e as ações dela decorrentes a
maior lição da pandemia.

]
EX-PRESIDENTES E MEMBROS DO CONSE-
LHO CONSULTIVO DO SECOVI-SP

Idiana Tomazelli / BRASÍLIA


O ministro da Economia, Pau-
lo Guedes, sinalizou em reu-
nião com empresários de co-
mércio e serviços para a possi-
bilidade de discutir linhas de


crédito específicas para os se-
tores de saúde e educação co-
mo uma forma de minimizar
o impacto da pandemia do no-
vo coronavírus sobre esses
segmentos.
Segundo relatos de dois parti-

cipantes, o ministro reconhe-
ceu que os setores ficaram sem
atenção do governo num pri-
meiro momento e demonstrou
preocupação com a elevada ina-
dimplência relatada pelos re-
presentantes dessas atividades.
Como mostrou o Estadão, a
inadimplência no pagamento
de mensalidades do ensino su-
perior subiu 75% entre abril e
maio, de acordo com uma pes-
quisa realizada pela Associação
Brasileira das Mantenedoras de
Ensino Superior (Abmes) em
parceria com a consultoria Edu-
ca Insights.
Hospitais privados também
sentiram a crise por meio do au-
mento do custo com insumos e
da queda nas receitas devido à
redução no número de atendi-
mentos, diante da recomenda-
ção do Ministério da Saúde para
adiar cirurgias e exames sem ur-

gência ou relação com a covid-
19.
Guedes então propôs a cria-
ção de grupos de trabalho para
debater a viabilidade de con-
templar os setores com linhas
de crédito especiais, sem citar
detalhes de como elas pode-
riam funcionar. A princípio se-
riam três grupos, um para saú-
de e dois para educação (um pa-
ra empresas com faturamento

até R$ 300 milhões e outro para
companhias com receita bruta
acima disso).

Receio por irmã. Ainda de acor-
do com os relatos, o ministro
disse que ficou com receio de
agir mais cedo para ajudar esses
setores e ser acusado de favore-
cer um segmento no qual já in-
vestiu (educação) e que reúne
pessoas próximas a ele. A presi-
dente da Associação Nacional
das Universidades Particulares
(Anup), Elizabeth Guedes, é ir-
mã do ministro.
Na reunião, o ministro tam-
bém demonstrou preocupação
com a situação dos estudantes
que contrataram financiamen-
tos estudantis para poder fre-
quentar a universidade. O te-
mor é de que esses jovens, ao se
graduarem, enfrentem maior di-
ficuldade para encontrar em-

prego e obter renda para pagar a
dívida contraída.
Guedes voltou a defender a
retirada de encargos sobre a fo-
lha de pagamento como medi-
da para alavancar contratações
no pós-crise.
O ministro também acenou
aos empresários com uma pror-
rogação do prazo máximo para
que empresas e trabalhadores
com carteira assinada adotem a
suspensão de contratos ou redu-
ção de jornada e salário, com pa-
gamento de uma compensação
pelo governo.
Como antecipou o Esta-
dão/Broadcast, o prazo da sus-
pensão de contrato deve passar
de 60 dias (dois meses) para
120 dias (quatro meses). Já o pe-
ríodo limite para redução de jor-
nada e salário deve aumentar de
90 dias (três meses) para 120
dias (quatro meses).

PANDEMIA DO CORONAVÍRUS


lInadimplência

Cliente da Vivara troca ouro por prata na pandemia. Pág. B6 }


Lições da pandemia


ARTIGO


75%
foi quanto subiu a inadimplência
no pagamento de mensalidades
do ensino superior entre abril e
maio, segundo pesquisa
da Associação Brasileira das
Mantenedoras de Ensino
Superior (Abmes)
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