O Estado de São Paulo (2020-06-13)

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O ESTADO DE S. PAULO SÁBADO, 13 DE JUNHO DE 2020 NotaseInformações A


N


o julgamento da ação que questio-
na o inquérito das fake news e
ameaças contra ministros do Su-
premo Tribunal Federal (STF), o
procurador-geral da República,
Augusto Aras, disse que as pes-
soas precisam “ter mais cuidado na leitura das
notícias” para não acreditarem em fake news. Se-
gundo Aras, as notícias falsas não estão apenas
em blogs ou em redes sociais. A fala do procura-
dor-geral da República revela uma enorme con-
fusão sobre o que são as fake news e o que é o jor-
nalismo profissional. O caso é especialmente
grave tendo em vista que o tema se relaciona di-
retamente com os direitos e liberdades funda-
mentais, e a missão institucional do Ministério
Público é a defesa da ordem jurídica e do regime
democrático.
“Sabemos que esse fenômeno maligno das fake
news não se resume a blogueiros ou às redes so-
ciais. Ele é estimulado por todos os segmentos
da comunicação moderna, sem teias, sem aquele
respeito que a minha geração aprendeu a ler o jor-
nal, acreditando que aquilo era verdade”, disse
Augusto Aras. “Temos que hoje ter mais cuidado
na leitura das notícias para fazermos um filtro fi-


no para encontrar um mínimo de plausibilidade
em relação a esta campanha de fake news, que
não guarda limites de nenhuma natureza.”
Como se vê, segundo Augusto Aras, as fake news
também são difundidas na imprensa, o que reco-
mendaria cautela na sua leitura. O
procurador-geral da República su-
gere “fazermos um filtro fino”. Ao
falar assim, Aras revela desconhe-
cimento sobre o significado de
fake news. Elas não são apenas
uma informação equivocada, con-
tendo, por exemplo, algum con-
teúdo inexato. Fake news são men-
sagens falsas criadas e dissemina-
das deliberadamente com o objeti-
vo de causar dano. É por isso que
o material produzido pelo jornalis-
mo profissional não tem nenhu-
ma simetria com as fake news. Es-
tas são, por sua própria essência, o antijornalismo.
É evidente que, às vezes, o jornalismo pode er-
rar, cabendo-lhe, por obrigação legal e ética, fazer
a necessária correção. A imprensa não tem ne-
nhum problema em retificar eventual equívoco
cometido. No entanto, isso não tem nenhuma re-

lação com as fake news, cuja natureza é causar da-
no por meio de um erro deliberado. Ou seja, não
faz sentido comparar eventual erro jornalístico
com a deliberada desinformação que é a fake news


  • e isso o procurador-geral da República não po-
    deria desconhecer.
    A radical diferença entre a notí-
    cia produzida pelo jornalismo e as
    fake news ajuda também a enten-
    der por que as fake news não en-
    contram respaldo na liberdade de
    expressão. A difusão de desinfor-
    mação – mensagens falsas produzi-
    das deliberadamente com o objeti-
    vo de causar dano – não está sob a
    proteção constitucional do exercí-
    cio dos direitos e liberdades funda-
    mentais. As fake news são uma
    afronta ao Direito.
    Essa é a razão pela qual existe,
    por exemplo, um inquérito no STF para investi-
    gar a produção e disseminação de fake news con-
    tra os ministros do Supremo. Não é simplesmen-
    te que estejam circulando algumas informações
    inexatas sobre alguns integrantes do Supremo. A
    investigação tem por objeto a criação e a difusão


de mensagens falsas que ameaçam e constran-
gem ministros do Supremo, causando danos ao li-
vre funcionamento da Corte.
O trabalho do jornalismo não tem nenhuma
proximidade ou semelhança com fake news. Por
isso, é extremamente grave que o procurador-ge-
ral da República vincule, como se fossem uma
única coisa, essas duas realidades completamen-
te diferentes. Jornalismo e fake news têm objeti-
vos, métodos e efeitos profundamente distintos,
recebendo, portanto, tratamentos constitucio-
nais muito diferentes. A confusão entre os dois
conceitos contribui para turvar a clareza e o vi-
gor com que a Constituição protege as liberda-
des de expressão e de imprensa. Não é papel do
Ministério Público alimentar tal confusão.
“A imprensa profissional, como o Ministério
Público, não vive de erros, vive de acertos. Quan-
do nós erramos, nós corrigimos o erro, por dever
profissional. Misturar a imprensa, que tem
CNPJ, com ataques anônimos é uma profunda
demonstração de desconhecimento sobre a atua-
ção do jornalismo no mundo todo”, disse Marce-
lo Rech, presidente da Associação Nacional de
Jornais (ANJ). É preciso respeitar a liberdade e a
verdade. É preciso respeitar o jornalismo.

F


estas juninas co-
meçaram mais ce-
do no mercado
brasileiro, com in-
vestidores soltan-
do rojões pelos 2,
milhões de empregos criados
nos Estados Unidos, em maio,
e pela reabertura, ainda gra-
dual, das economias avança-
das. A alegria pode parecer es-
tranha, porque continuam pio-
rando as projeções para o País
em 2020. Pela nova estimativa
do Banco Mundial, recém-
anunciada, o Produto Interno
Bruto (PIB) do Brasil encolhe-
rá 8% neste ano. O cálculo an-
terior, publicado em abril, indi-
cava uma contração de 5%.
Perspectivas piores têm sido
apontadas também por outras
fontes. Em São Paulo, no en-
tanto, a Bolsa de Valores vol-
tou a superar 90 mil pontos e o
dólar chegou a recuar, nos últi-
mos dias, para menos de cinco
reais. Há algo, afinal, para cele-
brar na economia brasileira?
A retração podia ter sido
mais feia, dizem alguns analis-
tas. O pior já passou, susten-
tam outros. O fundo do poço
foi atingido em abril, afirma a
economista-chefe do banco
Santander, Ana Paula Vescovi.
Agora, acrescenta, parecem
surgir alguns sinais de recupe-
ração. Segundo o economista-
chefe do Bradesco, Fernando
Honorato, o impacto econômi-
co do coronavírus foi menos
forte do que se esperava. A pro-
dução industrial caiu cerca de
20%, mas a projeção, de acor-
do com ele, indicava 30%. Pe-
las contas do Bradesco, o PIB
deverá diminuir 5,9% neste
ano, mas a retomada, acrescen-
ta Honorato, poderá ser me-


lhor do que se esperava.
Se o fundo do poço foi atingi-
do em abril só se descobrirá
mais tarde, mas o tombo, pelas
estimativas iniciais, foi mesmo
grande. A economia caiu 7% na-
quele mês, em relação a mar-
ço, segundo a primeira prévia
do Índice de Atividade Econô-
mica produzido pela Fundação
Getúlio Vargas (FGV). A com-
paração com o dado de abril de
2019 mostra uma queda de
10,9%. O confronto dos primei-
ros quatro meses de 2020 com
os primeiros quatro do ano pas-
sado indica um recuo de 2,6%.
A variação acumulada em 12
meses foi nula.
A piora do cenário, em abril,

também fica muito clara quan-
do se consideram os valores tri-
mestrais. No primeiro trimes-
tre, o PIB foi 1,2% inferior ao
do período de outubro a de-
zembro, como já havia divulga-
do o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
Quando se compara o período
fevereiro-abril com o trimestre
novembro-janeiro a queda
mais que quadruplica e chega a
5%. Esse indicador, baseado
nas informações setoriais do
IBGE, ainda será revisto nas
próximas semanas.
O ambiente menos sombrio
dos investidores, indicado pela
valorização das ações e pelo re-
cuo recente do dólar, desapare-
ce, ou pelo menos fica pouco
visível, quando se examinam
as expectativas coletadas pelo

Banco Central (BC) na pesqui-
sa semanal Focus. No último le-
vantamento a estimativa do
PIB caiu pela 17.ª semana con-
secutiva. Agora se calcula uma
contração de 6,48% em 2020,
segundo a mediana das proje-
ções. Quatro semanas antes es-
sa mediana indicava recuo de
4,11%. Também piorou sensi-
velmente a expectativa quanto
à produção industrial. Em qua-
tro semanas a redução estima-
da passou de 3% para 5,35%.
Embora investidores e al-
guns analistas mostrem mais
otimismo, a recuperação proje-
tada para 2021, na pesquisa do
BC, continua longe de espeta-
cular. O crescimento estimado
para o PIB ficou em 3,50% nas
últimas duas pesquisas. Há
quatro semanas estava em
3,20%. Mas o crescimento é
agora calculado sobre uma ba-
se mais baixa que a anterior-
mente prevista.
O risco mais previsível é o
de uma recuperação interrom-
pida por uma piora do quadro
sanitário ou por uma segunda
onda de covid-19. Esse perigo
tem sido apontado por epide-
miologistas e por economistas
atentos a avaliações médicas.
Experiências de outros países,
assim como as avaliações da
Organização Mundial da Saú-
de (OMS), também mostram
os cuidados necessários a uma
retomada segura. Recheada de
assuntos pessoais e eleitorais,
a agenda do presidente Jair Bol-
sonaro continua longe dessas
questões. Resta esperar sensa-
tez de governadores e prefei-
tos, pelo menos daqueles preo-
cupados, ao contrário do presi-
dente, com a saúde e a vida
dos brasileiros.

O


governo voltou
a ser derrotado
na segunda ten-
tativa de res-
tringir, por
meio de uma
medida provisória (MP), a au-
tonomia das universidades fe-
derais em matéria de consulta
à comunidade acadêmica para
a elaboração de listas tríplices
para reitor. A primeira tentati-
va ocorreu no final de 2019,
quando Bolsonaro baixou uma
MP com esse objetivo. Mas, co-
mo não foi votada pelo Con-
gresso em tempo hábil, ela ca-
ducou há alguns dias. A segun-
da tentativa se deu nessa quar-
ta-feira, quando o presidente
baixou uma nova MP com o
mesmo objetivo. Mas, por não
atender aos requisitos consti-
tucionais da urgência e relevân-
cia, ela foi devolvida pelo presi-
dente do Senado, Davi Alco-
lumbre (DEM-AP), ao Executi-
vo. De 1988 até agora, essa é a
quarta MP devolvida.
Quando baixou as duas
MPs, a que caducou e a que foi
devolvida, o governo justificou
a iniciativa – que na prática lhe
dava a prerrogativa de esco-
lher os novos reitores sem
qualquer consulta – em nome
do combate à crise de saúde
pública. A alegação é que a pan-
demia de covid-19 impediria a
presença física de professores,
estudantes e funcionários nas
votações. A justificativa não
procede, pois as universidades
federais há anos já realizam
reuniões virtuais, para agilizar
o processo decisório.
Na realidade, a MP que aca-
ba de ser devolvida é mais um
capítulo da guerra declarada
pelo governo Bolsonaro con-

tra o ensino superior público.
Ela começou no ano passado
quando, em audiência na Câ-
mara, Weintraub acusou as
universidades federais de se-
rem “centros de drogas e bal-
búrdia”. Prosseguiu com o con-
gelamento das verbas orça-
mentárias e tentativas de alte-
rar o peso dos professores, alu-
nos e funcionários na eleição
das listas tríplices para reitor.
Avançou quando o Ministério
da Educação deixou claro que
não escolheria os candidatos
mais votados, caso não fossem
“alinhados ao pensamento de
Bolsonaro”. E culminou neste
ano quando, em nome de um
combate ao que as autoridades

educacionais chamam de “dou-
trinação ideológica”, os Minis-
térios da Educação e da Ciên-
cia, Tecnologia, Inovação e Co-
municações restringiram a con-
cessão de bolsas para a área de
humanidades.
Em resposta, os reitores das
universidades federais criaram
um movimento de resistência.
Primeiro, divulgaram as princi-
pais pesquisas científicas em
andamento e sua importância
para o bem-estar da sociedade.
Depois, acusaram o governo
de obscurantista e chamaram
Weintraub de incompetente.
E, em maio, promoveram uma
“marcha da ciência” realizada
por meios virtuais, que foi apoi-
ada pela comunidade acadêmi-
ca nacional e internacional.
São justamente alguns desses

reitores que o governo quer im-
pedir que se reelejam ou inter-
firam na escolha de seus suces-
sores, para tentar controlar
ideologicamente as 69 universi-
dades mantidas pela União.
Do ponto de vista funcional,
se a nova MP não tivesse sido
devolvida ao Executivo, ela te-
ria acarretado efeitos desastro-
sos para o cotidiano das univer-
sidades federais enquanto não
fosse votada pelo Congresso.
Isso porque ela era uma aberra-
ção jurídica, seja porque coli-
dia frontalmente com o princí-
pio constitucional da autono-
mia universitária, seja porque
violava os limites do processo
legislativo estabelecido pela
Constituição.
Já do ponto de vista político,
a MP devolvida três dias de-
pois de ter sido baixada pode
aumentar as tensões institucio-
nais. Assim que a MP foi baixa-
da, oito partidos impetraram
ação direta de inconstituciona-
lidade no Supremo Tribunal
Federal para derrubá-la. E, co-
mo ela era flagrantemente in-
constitucional, dificilmente a
Corte deixaria de conceder li-
minar, suspendendo os efeitos
da MP. Isso só não ocorreu
porque Alcolumbre fez o que
lhe cabia, de acordo com a
Constituição.
Com a devolução da MP, Bol-
sonaro provavelmente voltará
a afirmar que o Legislativo e o
Judiciário não o deixam gover-
nar. Como o chefe do Executi-
vo talvez não saiba o que signi-
fica governar, os demais Pode-
res estão agindo com sensatez
quando o impedem de abusar
da figura jurídica da MP, disse-
minando insegurança jurídica
e destruindo as instituições.

Falsa simetria


ANTONIO CARLOS PEREIRA / DIRETOR DE OPINIÃO

MP devolvida é mais
um capítulo da guerra
do governo contra o
ensino superior público

Fórum dos Leitores O ESTADO RESERVA-SE O DIREITO DE SELECIONAR E RESUMIR AS CARTAS. CORRESPONDÊNCIA SEM IDENTIFICAÇÃO (NOME, RG, ENDEREÇO E TELEFONE) SERÁ DESCONSIDERADA / E-MAIL: [email protected]


Notas & Informações


Rojões no mercado


Há sinais de otimismo
na bolsa e no câmbio,
mas projeções do PIB
continuam piorando

O governo e as universidades federais


lPandemia
Filmar leitos de UTI?!
É inacreditável que o presiden-
te da República tenha sugerido
a seus apoiadores que bus-
quem uma maneira de entrar
em hospitais para filmar o que
se passa nas UTIs que recebem
pacientes com o coronavírus.
Chega a ser surpreendente essa
incitação a ato que pode ser
considerado criminoso. Tenho
uma sugestão melhor para o sr.
presidente: vá ele próprio visi-
tar os hospitais. Nada de ir ao
Einstein ou ao Sírio. Vá aos hos-
pitais do SUS das Regiões Nor-
te e Nordeste. Se não quiser ou
não puder ir tão longe, visite os
hospitais de São Paulo ou do
Rio, ou talvez aquele de Juiz de
Fora onde foi atendido. Conver-
se com médicos e enfermeiros
que lutam na linha de frente.
Estou certo de que eles lhe da-
rão uma visão real e correta de
tudo o que está acontecendo,
poupando-o de seguir dando
sugestões irresponsáveis e fa-
zer comentários errados sobre
essa pandemia.
MARCOS CANDAU
[email protected]
SÃO PAULO


Loucuras presidenciais
Sabemos da superlotação das
UTIs, mas certamente ainda
haverá vagas de hospício.
ROBERT HALLER
[email protected]
SÃO PAULO

Consórcio
O elogiável consórcio Estado,
G1, O Globo, Extra, Folha e
UOL trouxe à tona que, no go-
verno Bolsonaro, a ordem dos
fatores altera o produto!
FRANCISCO JOSÉ SIDOTI
[email protected]
SÃO PAULO

Saúde do povo
As mortes pela covid-19 no Bra-
sil poderiam ser em números
muito inferiores se os governos
passados tivessem investido
em saneamento básico – meta-
de da população não tem esgo-
to –, na saúde, na educação e
construído hospitais decentes.
Porém esses governos anterio-
res não se importaram com a
saúde do povo. Ao contrário,
implantaram a corrupção gene-
ralizada em todas as estatais,
quebraram a Petrobrás e cons-
truíram estádios desnecessá-

rios a preços superfaturados,
além de outras mazelas. Aliás,
benesses com dinheiro do po-
vo imperam em todos os Pode-
res, que só querem levar vanta-
gem em tudo. Ad exemplum,
salários altíssimos, bonifica-
ções espúrias, como auxílio-mo-
radia, auxílio-alimentação, auxí-
lio-paletó, auxílio-capinha, car-
ro oficial, motorista, passagens
aéreas, plano de saúde e inúme-
ros outros penduricalhos. E ain-
da permanecem as regalias da-
das a ex-presidentes e ex-gover-
nadores. Vergonha nacional!
Então, perguntamos: e o povo?
Ora, o povo morre de covid-19!
WALTER ROSA DE OLIVEIRA
[email protected]
SÃO PAULO

Fundo eleitoral
Segundo noticiado, PT e PSL
receberão singelos R$ 400 mi-
lhões do fundo eleitoral. Essa
aberração seria muito mais
bem aplicada na compra de res-
piradores para os enfermos, no
combate à pandemia do corona-
vírus, em vez de ser usada pela
politicalha para conseguir se
manter respirando na UTI do
Congresso. Ora, que se desli-

guem os tubos dos políticos!
JÚLIO ROBERTO AYRES BRISOLA
[email protected]
SÃO PAULO

Perguntar não ofende
Data venia, o que chegará pri-
meiro: a vacina ou os respirado-
res chineses?
MOISÉS GOLDSTEIN
[email protected]
SÃO PAULO

lInfraestrutura
Apesar de Bolsonaro
Novamente o agronegócio sal-
va o Brasil, conforme editorial
de 11/6 (A3). Acrescento que há
que reconhecer também que,
em meio à pandemia e ao pan-
demônio criado por Bolsonaro,
Weintraub, Salles e outros,
duas ilhas de excelência no go-
verno contribuem para os resul-
tados do agro: Tereza Cristina,
na Agricultura, e Tarcísio de
Freitas, na Infraestrutura. Eles
têm apresentado resultados
concretos na recuperação e du-
plicação de rodovias, no avan-
ço das ferrovias, em privatiza-
ções, já influindo decisivamen-
te nos resultados deste ano
e criando condições para uma

importante redução do custo
Brasil em médio prazo.
CÉSAR GARCIA
[email protected]
SÃO PAULO

lMemória histórica
Devagar com o andor
O assassinato de George Floyd,
nos EUA, reacendeu o revisio-
nismo escravocrata, com exage-
ro. Estátuas derrubadas, outras
próximas disso, mudança do
nome de ruas, tudo isso está
sendo feito em larga escala. Pa-
trulhas ideológicas de plantão
apontam obras de Monteiro Lo-
bato e até Os Sertões, de Eucli-
des da Cunha, como racistas.
Muita calma nessa hora!
J. A. MULLER
[email protected]
AVARÉ

Borba Gato
Sobrou até para o nosso Borba
Gato, que virou alvo de críticos
do racismo e da escravidão,
com os quais ele nada teve que
ver, numa cópia mequetrefe de
procedimentos do exterior por
desorientados tapuias. Bem ele,
o querido e destemido Borba,
homenageado no quarto cente-

nário de São Paulo com uma
estátua de 10 metros de altura
pesando 20 toneladas, sito à
Avenida Santo Amaro, aqui, na
capital. Bandeirante, combaten-
te cercado de índios por todos
os lados, atacado com flechas,
tacapes e bordunas, jamais se
acovardou. Ele os enfrentou e
derrotou em suas incursões
pelo mato do interior do Brasil.
Encontrou ouro e diamantes,
fez de Sabará, em Minas Ge-
rais, na época, uma das maio-
res, se não a maior mina aurífe-
ra, enquanto Portugal deitava e
rolava com esse ouro. Isso até
hoje causa inveja, daí a vingança


  • aliás, se fosse séria, teria na
    fila outras personagens mais
    importantes da nossa História,
    mas falta coragem para acusá-
    los ou, então, não chamam a
    atenção. Portanto, os acusado-
    res que se acalmem, porque o
    corajoso e heroico bandeirante
    paulista tem admiradores que
    o defendem. Gostem ou não,
    sua estátua é prova de seu gi-
    gantismo e um marco de arte
    no acervo da nossa História.
    MARIO COBUCCI JUNIOR
    [email protected]
    SÃO PAULO

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